O pau de arara da dupla
Kassab-Alckmin na Cracolândia
05/01/2012 - Wálter Fanganiello Maierovitch – jurista e professor
É inacreditável. Em tempos de Tribunal Penal Internacional e de luta sem
fronteiras por respeito aos direitos humanos e contra a tortura, o
prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o governador do estado paulista,
Geraldo Alckmin, adotam, na conhecida Cracolândia, violência contra dependentes
de crack. A dupla de governantes acaba de oficializar a tortura.
Na quarta-feira (4), por determinação do prefeito da cidade de São Paulo e
do governador do Estado, iniciou-se o denominado “Plano de Ação Integrada
Centro Legal”. Esse plano, consoante anunciado, terá duração indeterminada.
O plano, como explicou o coordenador de políticas de drogas da Secretaria
Estadual de Justiça e Cidadania, Luiz Alberto Chaves de Oliveira, consiste em
obrigar os dependentes que vivem na Cracolândia a buscar ajuda, “pela dor e
sofrimento” decorrentes da abstinência, junto às autoridades sanitárias
ou redes de saúde.
Ao tempo do DOI-CODI, a tortura, como regra mestra, foi largamente
empregada. A regra era torturar, física ou psicologicamente, para obter o
resultado esperado.
Nos campos nazistas, a fome e o abandono levavam à morte. Auxiliavam na
vazão, pois, eram insuficientes em número os fornos crematórios.
A tortura indireta posta em prática pela dupla Kassab-Alckmin tem o mesmo
fundamento dos campos de concentração nazista. E a tortura imperava no
DOI-CODI, de triste memória.
Em nenhum país civilizado emprega-se essa estratégia desumana a
dependentes. Ao contrário, investe-se no convencimento ao tratamento e até nas
salas seguras para uso de drogas.
As federações do comércio e da indústria da Alemanha apoiam os programas
de narcossalas com 1 milhão de euros. E ninguém esquece a lição do professor
Uwe Kemmesies, da Universidade de Frankfurt: “Podemos reconhecer que a oferta
de salas seguras para o consumo de drogas melhorou a expectativa e a qualidade
de vida de muitos toxicodependentes que não desejam ou não conseguem abandonar
as substâncias”:
http://maierovitch.blog.terra.com.br/2011/12/12/novo-perfil-no-ministerio-publico-do-tribunal-penal-internacional-nao-agrada-defensores-de-direitos-humanos/
Desde os anos 90, a cidade convive com a Cracolândia e os governos são
incapazes de adotar políticas adequadas. Nem as delegacias especializadas, tipo
Denarc (delegacia de narcóticos), nem a polícia militar identificaram, até
hoje, a origem do crack que é ofertado. Agora, numa ação policialesca, busca-se
o cerco ao usuário para se chegar ao vendedor da droga. Vendedor que,
evidentemente, não é o operador da rede de abastecimento de crack para as
cracolândias brasileiras.
Uma questão sócio-sanitária, de saúde pública, não pode mais ser
enfrentada com soluções torturantes, como pretendem Alckmin-Kassab.
Pano Rápido. Aguarda-se que a ministra responsável pela Secretaria Nacional de
Direitos Humanos, Maria do Rosário, tome medidas adequadas para suspender
as torturas em São Paulo e o procurador-geral da República, Roberto Gurgel,
inicie apurações criminais. E espera-se que a nova procuradora junto ao
Tribunal Penal Internacional, Fatou Bensouda, natural de Gâmbia (África
Ocidental), levante o que acontece na Cracolândia e enquadre as
irresponsabilidades e desumanidades.
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