Estudo traça perfil de usuários de crack que buscam atendimento nos CAPs
14 de dezembro de 2011 - Fonte: Danielle Monteiro / Agência Fiocruz
Reconhecer o
perfil da população usuária de crack que busca atendimento no sistema público
de saúde, de forma a contribuir para futuros planejamentos na área. Esse é o
principal objetivo do estudo realizado por pesquisadores daUniversidade do Vale do Rio dos Sinos, da Prontamente –
Clínica de Psiquiatria e Psicoterapia e da Universidade Federal de Pelotas. Publicada na edição de
novembro dos Cadernos de Saúde Pública da Escola Nacional de Saúde
Pública (Ensp/Fiocruz), a pesquisa evidencia a existência de algum
tipo de seleção para o acesso de usuários de crack aos serviços do SUS, caracterizada
por especificidades relacionadas à renda e escolaridade. Foram entrevistados 95
usuários de crack atendidos entre agosto de 2009 e março de 2010 em três
Centros de Atenção Psicossocial (Caps) da Região Metropolitana de Porto Alegre.
Os pacientes
passaram por entrevistas compostas por um questionário padronizado, além de
inventários para diagnósticos de dependência e de abuso para drogas ilícitas da Substance Abuse and Mental Health Services Administration (SAMHSA) e um Self-Reporting Questionnaire
(SRQ-20), instrumento de screening de distúrbios psiquiátricos menores (DPM)
sugerido pela Organização Mundial da Saúde. Os resultados indicam
predomínio de pacientes do sexo masculino, jovens adultos, com escolaridade
fundamental e que, embora não tenham ocupação regular, afirmam possuir renda
individual. Grande parte faz uso frequente e pesado da droga há mais de um ano
e se encaixa em critérios para dependência e abuso do crack além de possuir
índices elevados de SRQ-20. O estudo também revela predomínio de indivíduos
solteiros, que não coabitam com companheiro/a e vivem em habitações com duas a
quatro pessoas. Somente 5,3% dos usuários mora sozinho e nenhum afirmou estar
em condição de rua. A maioria dos que possui filhos (72,5%) afirmou não morar
com eles.
A cada episódio de consumo, o número de pedras foi igual ou
superior a dez em 69,5% dos casos e as substâncias mais usadas antes do crack
ou juntamente com a droga foram a Nicotina, o álcool e a maconha,
respectivamente, sendo que esta última foi, entre as três, a substância com o
menor percentual de usuários que desejam cessar o consumo (24%). De acordo com
os estudiosos, os estudos de base comunitária, ao contrário dos artigos que
descrevem usuários em atendimento, revelam uma quase totalidade de usuários de
crack composta por homens muito jovens, pobres, analfabetos e de famílias
desestruturadas, indicando diferenças no perfil socioeconômico dos usuários de
acordo com o tipo de pesquisa realizada.
“As diferenças em relação aos
estudos de base comunitária sugerem algum tipo de seleção para o acesso de usuários
de crack aos serviços do SUS, como parece ocorrer em outras áreas”, afirmam os
pesquisadores. Diante dos resultados, os estudiosos atentam para necessidade de
maior acesso de usuários de crack aos serviços do Sistema Único de Saúde, uma vez que eventuais seletividades
podem por em risco o princípio da universalidade que rege o SUS. “Pessoas com
maior comprometimento social parecem não chegar às redes de saúde, o que remete
à necessidade dos municípios programarem estratégias de facilitação do acesso,
com maior envolvimento de agentes comunitários de saúde, com os Programas de Redução de Danos (PRD), consultórios de rua ou
outras ações de aproximação entre comunidade e serviços”, alertam.
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