Traficantes
precisam de menos folhas de coca para produzir cocaína
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Diário
de Pernambuco - Bolívia
O uso mais eficiente de produtos químicos permitiu ao narcotráfico na Bolívia usar menos folhas de coca para a mesma quantidade de cocaína, disse o representante do Escritório das Nações Unidas contra as Drogas e o Crime (UNODC), César Guedes, em entrevista à AFP.
"A produção sofisticou-se
nos últimos três anos. É necessário agora muito menos folhas de coca para
produzir a mesma quantidade de cocaína. Estamos falando que o rendimento
dobrou", disse o funcionário.
Ele explicou que isso se deve
ao fato de os traficantes "estarem usando produtos químicos mais
eficientes, capazes de extrair de uma forma mais intensa o alcaloide da folha
de coca".
Trata-se de um assunto de
"tecnologia química que não foi desenvolvida para a coca, mas para
outras atividades, como a indústria farmacêutica ou petroquímica, mas que se
aplica no narcotráfico", onde se maximizam seus efeitos.
"A folha de coca não é
droga, mas seu processo de transformação é muito simples. Requer poucos
aditivos para transformar essa folha em entorpecente", afirmou Guedes.
Para a fabricação de cocaína,
é necessário uma mistura de químicos como ácido sulfúrico, acetona, gasolina,
diesel, carbonato de sódio e permanganato de potássio que são utilizados em
diferentes fases, como a obtenção de pasta base de cocaína e depois
cloridrato.
Autoridades bolivianas
afirmaram que os traficantes começaram a usar coca moída e cimento para
fabricar drogas.
Guedes declarou que ainda não
se pode precisar o rendimento dos novos procedimentos químicos, apesar de se
ter certeza de que estão otimizando os reagentes para produzir droga com
menor quantidade da planta milenar.
Segundo as Nações Unidas, são
cultivados na Bolívia 31.000 hectares de coca e a profução da folha de coca
alcança aproximadamente 55.000 toneladas.
O
Departamento de Estado, em um relatório de 2010, afirmava que a Bolívia tinha
a capacidade para produzir cerca de 115 toneladas de cocaína.
O governo boliviano, que nunca reconheceu quanta cocaína é produzida no país, afirmou que suas apreensões de drogas durante 2011 beiram as 31 toneladas, entre pasta base e cloridrato, uma quantidade segundo o governo histórica.
Na Bolívia, a lei permite o
uso de coca em seu estado natural para a mastigação.
As plantações do Chapare, no
centro do país e reduto político de Morales, rendem mais, porque têm mais
espaço para crescer, enquanto que em Yungas, leste de La Paz, rendem menos
por estar em terrenos mais acidentados.
O funcionário das Nações
Unidas afirmou que esse processo de produção mais sofisticada de drogas é
sobretudo resultado da atividade dos traficantes colombianos que transmitiram
"know how" ou conhecimento da fabricação da droga a grupos locais
de Peru e Bolívia, assessorando-os também sobre estratégias de
comercialização.
Há algumas décadas, a coca ou
a pasta de cocaína eram levadas de Peru e Bolívia para a Colômbia para sua
transformação em cocaína, pelo que os traficantes desse país se beneficiavam
diretamente da transformação de uma matéria-prima em produto altamente
rentável.
No entanto, após a perseguição
às máfias colombianas, estas decidiram emigrar, aliando-se a grupos locais em
Peru e Bolívia, possibilitando que as duas nações se tornem também produtores
de cocaína.
A droga de origem peruana é
comercializada nos Estados Unidos, enquanto que a cocaína boliviana é vendida
principalmente no Cone Sul e entra no Brasil, de onde se dirige à Europa, continente
que na última década duplicou seu consumo, sendo Espanha, França,
Grã-Bretanha e Alemanha os principais mercados.
Da AFP Paris
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