Trabalho ou jogos podem ser tão viciantes quanto álcool ou drogas
Jogadores
e workaholics enfrentam síndrome de abstinência com sintomas como depressão,
ansiedade e insônia
BBC Brasil | 25/11/2011 10:12
O psicólogo britânico Mark Griffiths, professor da Nottingham Trent University,
vem estudando o jogo compulsivo há 25 anos e diz acreditar
"enfaticamente" que o ato de jogar e apostar, se levado ao extremo, é
tão viciante quanto qualquer droga.
Neste texto escrito para a BBC, ele comenta os resultados de seu trabalho:
"Os efeitos sociais e de saúde da jogatina extremada são muitos e têm
muita coisa em comum com os efeitos de vícios mais tradicionais, entre eles mau
humor, problemas de relacionamento, absenteísmo do trabalho, violência
doméstica e ir à falência.
Os efeitos para a
saúde - para jogadores e seus parceiros e parceiras - incluem ansiedade,
depressão, insônia,
problemas intestinais, enxaquecas, stress, problemas estomacais e pensamentos
suicidas.
Se comportamentos como a jogatina podem se tornar um vício genuíno, não
existe razão em teoria que impediria alguém de se viciar em atividades como
videogames, trabalho ou exercícios físicos.
Pesquisas sobre jogadores compulsivos relatam que eles sofrem ao menos um
efeito colateral quando passam por períodos de abstinência, como insônia, dores
de cabeça, perda de apetite, fraqueza física, palpitações cardíacas, dores
musculares, dificuldades de respiração e calafrios.
Abstinência
Na verdade, jogadores compulsivos aparentam sofrer mais sintomas de
abstinência física quando tentam cortar o vício do que viciados em drogas.
Mas quando é exatamente que um entusiasmo saudável se transforma em um
vício? Comportamento excessivo por si só não significa que alguém seja viciado.
Consigo pensar em muitas pessoas que se envolvem em atividades excessivas, mas
eu não as classificaria como viciadas, já que elas parecem não sofrer qualquer
efeito negativo ao apresentar tal comportamento.
Em essência, a diferença fundamental entre o excesso de entusiasmo e o
vício é que os entusiastas saudáveis adicionam vida às atividades desprovidas
dela.
Para qualquer comportamento ser definido como viciante, é preciso que
existam consequências específicas como se tornar a atividade mais importante na
vida de uma pessoa ou ser o meio pelo qual o humor dela pode melhorar.
Eles podem também começar a precisar fazer mais e mais da atividade ao
longo do tempo para sentir seus efeitos e sentir sintomas físicos e
psicológicos de abstinência se eles não conseguem fazê-lo.
Isso pode levar a conflitos com o trabalho e com responsabilidades
pessoais e muitos podem até viver recaídas se tentam largar o vício.
A maneira pela qual os
vícios se desenvolvem - sejam eles químicos ou comportamentais - é complexa.
Vícios 'ocultos'
O comportamento viciante se desenvolve a partir de uma combinação de predisposição biológica e genética de uma pessoa, o ambiente social em que elas cresceram e sua constituição psicológica, como traços de personalidade, atitudes, experiências e crenças e a própria atividade.
Vícios 'ocultos'
O comportamento viciante se desenvolve a partir de uma combinação de predisposição biológica e genética de uma pessoa, o ambiente social em que elas cresceram e sua constituição psicológica, como traços de personalidade, atitudes, experiências e crenças e a própria atividade.
Muitos vícios comportamentais são vícios ''ocultos''. Diferentemente do
alcoolismo, o viciado em trabalho não apresenta a fala embolada ou sai
tropeçando.
Mas, no entanto, o vício comportamental é um tema relativo a saúde que
precisa ser levado a sério por todos os profissionais das áreas médicas ou de
saúde.
Se o principal objetivo dos profissionais da área médica é garantir a
saúde de seus pacientes, então ter consciência sobre o vício comportamental e
os temas que o cercam deveriam ser tão importantes quanto o conhecimento básico
e o treinamento.
Diversos vícios comportamentais podem ser tão graves quanto vícios em
drogas."
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