Ações
"do mal" superam ações "do bem" em 2011
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Fundo de empresas de cigarros, armas, jogos e bebidas tem retorno
maior do que fundos católicos e socialmente responsáveis
Olívia
Alonso, iG São Paulo
Os chamados “fundos de vício”, ou “do pecado”, que reúnem ações de empresas
dos setores de bebidas, cigarros, armamentos, cassinos e defesa, têm fama de
serem bons para momentos de crise. De fato, desde o início deste ano, o
retorno do mais famoso fundo de vícios do mundo, o Vicex, supera não só o
índice de referência S&P 500, mas também o desempenho dos "fundos do
bem" Pax World Balance, que investe em empresas socialmente
responsáveis, e Ave Maria Catholic Values Fund, que compra ações de
companhias que respeitam critérios da igreja católica.
Em 2011, ano ruim para as bolsas de valores globais, o Vicex subiu
2,25%. Administrado pela US Mutual, o fundo tem ações de empresas como a
fabricante de cigarros inglesa Lorillard e a Diageo, de bebidas. Enquanto
isso, o Pax World Balance caiu 5,59%. Criado pela gestora de recursos Pax
World Investmentes, que foi fundada em 1971 por dois fiéis da Igreja
Metodista dos Estados Unidos, o produto investe em companhias como Google e
IBM. Já o Ave Maria Catholic Values Fund, da gestora Ave Maria Funds, teve
uma perda de 4,51%. No portifolio estão a varejista Chico´s FAZ, a The
Western Union, entre outras. No mesmo intervalo, o S&P 500 desvalorizou
4,77%.
O raciocínio dos fundos de vício é o de que as pessoas não vão deixar
de beber, fumar ou jogar quando estão com problemas. Pelo contrário. Em
momentos de tensão e desespero, os consumidores tendem a beber, fumar e
apostar ainda mais. Por trás desta ideia, segundo os economistas, está a
chamada “demanda inelástica” das empresas que fazem parte dos setores de
tabaco, bebidas, jogos e armamentos, conceito que quer dizer que suas
receitas não flutuam com acontecimentos econômicos.
Lucro
da Ambev cresce 24% no semestre, para R$ 3,9 bilhões
Economistas afirmam que a idéia faz sentido e acrescentam que as empresas dos setores de vício também tendem a ter uma geração de caixa boa e bastante previsível. No entanto, ressalvam que outros fatores também influenciam as ações. “Entre os aspectos a serem avaliados, estão a situação do mercado em que as companhias atuam, a necessidade de investimentos, as tributações e os preços que pagam por matérias primas,” diz Rodolfo Amstalden, analista da Empiricus Research.
Uma empresa de bebidas, como a brasileira AmBev, por exemplo, pode ser
afetada por preços do açúcar e o aço das latinhas, comenta o analista da
Empiricus. Enquanto isso, companhias de cigarros podem ser prejudicadas por
elevações de tributações. Por isso, antes de sair comprando ações do pecado
para se proteger da crise, investidores devem conhecer bem as companhias.
Gerry Sullivan, gestor do Vicex, afirma que o fundo “tende” a ter um
desempenho melhor do que o dos índices de referência do mercado em momentos
de queda dos mercados financeiros. “Por isso, deve estar nas carteiras dos
investidores como uma opção de diversificação e proteção,” afirma. No
entanto, ele diz que não há garantias de que uma "ação do pecado"
não terá perdas significativas de valor.
Foto: Getty Images
Fábrica da Phillip Morris, nos EUA
Ainda que as ações do vício ganhem das ações do bem no curto prazo e
percam em um período maior, a sugestão para o investidor é sempre avaliar os
fundamentos das empresas e o setor em que atuam, sendo uma ação “do bem”, ou
“do mal” (analistas lembram que "bem" e "mal" devem ser
encarados apenas como uma "brincadeira" e não no sentido literal
das palavras). “As empresas têm características diferentes e o investidor
deve estar atento a todas elas,” afirma segundo Clodoir Vieira,
economista-chefe da Souza Barros Corretora. “Antes de qualquer brincadeira
sobre bem ou mal, o ideal é estudar as companhias, seus setores e o momento
da economia,” acrescenta Amstalden.
Hugo
Penteado, economista-chefe da gestora de recursos do banco Santander e
responsável pelo Fundo Ethical, afirma que os fundos socialmente
responsáveis, apesar de não perseguirem apenas empresas com demanda
inelástica, têm uma importante vantagem em relação aos fundos de vício: a
garantia da boa gestão das empresas. “Em geral, a seleção das ações avalia
perspectivas para longo prazo, boa gestão, boas práticas de governança
corporativa e também as ações da companhia para melhorar o meio ambiente,”
afirma Penteado.
General Dynamics, fabricante de tanques de guerra, aeronaves e submarinos está na carteira do Vicex • As ações do pecado
Entre as ações que compõem o Vicex estão as fabricantes de cigarros
inglesa Lorillard e a norte-americana Phillip Morris, as empresas de bebidas
Carslberg e Diageo, o grupo de cassinos chinês Galaxy Entertainment, as três
aeroespaciais Raytheon, United Technologies e General Dynamics (que também
fabrica tanques de guerras).
Foto: Getty ImagesAmpliar
General Dynamics, fabricante de tanques de guerra, aeronaves e submarinos está na carteira do Vicex
• As ações do bem
Já nas carteiras da Pax World Investments, que administra o Pax World
Balance e outros seis fundos socialmente responsáveis, estão empresas como
Google, IBM, Becton Dickinson, de tecnolgia hospitalar, Thermo Fisher
Scientific, de laboratórios e pesquisas científicas, Qualcomm, de telecomunicações
e Prysmian, fabricante de cabos.
O Ave Maria Fund, por sua vez, reúne ações da Accenture, da empresa de
tecnologia hospitalar Stryker, da varejista Chico´s FAZ, da fabricante de
cabos General Cable, da empresa de tecnologia aeroespacial United Technologies,
da petrolífera Halliburton, da fabricante de computadores HP e da empresa de
serviços de pagamentos The Western Union.
O fundo Ethical, do Santander, possui ações de empresas como Brasil
Foods, Natura, Cemig, Ecorodovias, Gerdau, Lojas Renner, Sabesp, Suzano, Pão
de Açúcar, Odontoprev, Fibria, Marcopolo, entre outras.
Ambev,
Souza Cruz e Forja Taurus
No Brasil, não há fundos de vício, apenas socialmente responsáveis.
“Nosso mercado não chegou a este ponto de sofisticação,” diz Reginaldo
Alexandre, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de
Investimento do Mercado de Capitais em São Paulo.
Mas duas das “ações do pecado” brasileiras, que são representantes dos
setores de bebidas e cigarros, estão entre as quatro maiores altas do Ibovespa,
principal índice da Bolsa de Valores brasileira, desde setembro de 2008,
quando estourou a crise financeira global. Os papéis da Ambev subiram 160,7%,
enquanto as ações da Souza Cruz avançaram 193%, de acordo com dados da
Economática. No mesmo intervalo, o Ibovespa subiu 21,3%. Já a Forja Taurus,
fabricante de armas, viu seu valor crescer aproximadamente 7% na bolsa.
Ações
da Ambev estão entre quatro maiores altas do Ibovespa desde 2008
Analistas lembram que apesar das companhias fazerem parte dos grupos de “pecado” e “vício”, elas geralmente não têm as mesmas características. Como atuam em ramos diferentes, seus desempenhos são influenciados por fatores próprios de cada setor.
No caso da Souza Cruz, por exemplo, que é dona das marcas de cigarros
Free, Derby, Carlton, Charm, Hollywood e Lucky Strike, os bons resultados são
frutos do fato de a empresa ser uma boa pagadora de dividendos – o que atrai
investidores -, além de boa geradora de caixa e de ter gastado menos com
propaganda nos últimos anos, segundo Vieira, da Souza Barros. “A companhia
não dá grandes saltos na Bolsa. Mas como é boa em pagar dividendos, acaba
trazendo um resultado bom quando demais papéis têm uma performance ruim,”
acrescenta a analista Sandra Peres, da Coinvalores.
Já Ambev, que atua em um mercado completamente diferente, teve seus
papéis favorecidos por ter uma demanda que não depende do cenário econômico e
do reajuste preço. Como a empresa é líder no setor de bebidas, consegue
reajustar preço e o mercado acompanha, sem que perca receitas, segundo o
analista da Empiricus Research.
A Forja Taurus, por sua vez, tem seus resultados influenciados pela
demanda do setor de segurança pública. Além disso, a empresa tem uma
participação de 50% no mercado brasileiro de capacetes para motociclistas.
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