Filhos
do crack nascem com má formação e crise de abstinência
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Araraquara Notícias
(Araraquara.com)
EM
ARARAQUARA, ESTUDO DO MÉDICO VALTER CURI RODRIGUES REVELA AS CONSEQUÊNCIAS DO
USO DA DROGA DURANTE A GESTAÇÃO
Por Marco Antonio
dos Santos
Na Maternidade da
Santa Casa de Araraquara, repousa em uma incubadora um menino com três meses
de vida, filho de dois usuários de crack.
A criança nasceu
prematura, ainda no sexto mês de gestação, pesando 900 gramas. O peso ideal
para um recém-nascido, em gestação normal, é três quilos. Não bastasse estar
fora do peso, a criança é cega de um olho, possível consequência da gravidez
embalada pela fumaça da droga inalada pela mãe.
Quando os médicos
revelaram a frágil saúde de menino, os pais preferiram trocar acusações sobre
quem dos dois tinha fumado mais crack durante a gravidez.
Quem revela o caso é
o coordenador do curso de Medicina do Centro Universitário de Araraquara
(Uniara), Valter Curi Rodrigues, que revela que o drama vivido pelo
recém-nascido não é inédito na cidade. "Este ano, fizemos os partos de
três crianças filhas de mães usuárias de crack e todas apresentam
comprometimento de saúde", diz.
Especialista em
pesquisa genética, Rodrigues estuda os efeitos de drogas pesadas como cocaína
e crack sobre a gestação. Segundo o médico, como tudo o que a gestante
consome é transmitido para o bebê, os efeitos da droga também passam para a
criança. "Cocaína e crack são aceleradores do metabolismo e aumentam a
pressão sanguínea, mas imagine o estrago disto em bebês que nem estão com o
sistema circulatório pronto."
Observação
comprovada em crianças nascidas em Araraquara mostram que os filhos de
usuários sofrem de microcefalia, alterações no sistema nervoso, degeneração
ocular e cardiopatia congênita, também apresentada em filhos de alcoólatras.
"As crianças desenvolvem síndrome de abstinência fetal. Elas se tornam
viciadas nos entorpecentes consumidos pelas mães", garante. Isso
significa que têm tremores contínuos e convulsão por falta da droga.
Na fase adulta,
estas crianças são propensas a ter distúrbio de atenção, como hiperatividade.
E, quando os entorpecentes não provocam má formação do feto, podem acelerar
as contrações e causar aborto, explica o médico.
Em uma discussão
polêmica, o médico defende a esterilização de dependentes da droga. "Uma
jovem de 25 anos teve três filhos, todos com problemas, mas, por lei, não
podemos ligar as trompas. Quantas crianças assim ela ainda vai gerar?",
questiona.
Crianças têm distúrbio de atenção
A psicopedagoga
Maria Carla Rodrigues Pereira trabalha diariamente com filhos de usários de
drogas no Jardim das Hortênsias, Região Sudeste de Araraquara, e relata
situações preocupantes. "As crianças são agitadas e não conseguem se
concentrar em nenhuma atividade", revela a educadora.
O que mais
impressiona Maria Carla são os relatos das crianças que assistem aos pais
entorpecerem-se na frente delas com bebidas alcoólicas ou com crack.
"Chegam a oferecer para os filhos e convidá-los para consumir
junto."
Segundo a
psicopedagoga, a maioria destas crianças abandona as escolas devido aos problemas
que enfrentam em casa, tornando seu futuro ainda mais incerto.
Nove em
cada dez pessoas internadas em clínicas de reabilitação em Araraquara são
usuárias de crack. Os outros 10% dividem-se entre álcool, cocaína e óxi
Análise
Droga é o maior desafio dos conselheiros tutelares
"O maior problema que enfrentamos são os casos de crianças e
adolescentes que vivem com pais que são usuários de drogas, em especial o
crack. A gente recebe a denúncia, averígua e, se for o caso, leva os filhos
para um abrigo. O mais importante é não revelar onde fica este lugar para
evitar que os pais tentem recuperá-los. Eles podem exigir a devolução dos
filhos, mas nem sempre têm condição psicológica. Tivemos um caso de uma mãe
que fumou crack na gravidez. Quando a criança nasceu, o Conselho interveio,
tirou a guarda da criança dela e entregou para uma avó. Hoje, ela faz
tratamento e, se provar que está recuperada e não vai ter recaída, terá a
guarda de volta. Mas tudo isto é feito com acompanhamento de assistente
social, psicóloga e médico. Nossa maior preocupação é voltada para os filhos,
para que eles não sejam afetados psicologicamente pelos lares sem estrutura
familiar adequada. E este problema aumenta a cada dia para todos os
Conselhos."
Manoel Novaes
Conselheiro tutelar
Casos são impressionantes
Há duas semanas,
quando foi visitar seu filho recém-nascido na maternidade, o presidente do
Conselho Municipal Antidrogas (Comad), Márcio William Servino, presenciou uma
usuária de crack entregar para doação a criança que tinha acabado de ter.
"Realmente, a situação está ficando cada vez mais triste."
Em Américo
Brasiliense, a assistente social, Walkiria do Amaral trabalha em um abrigo
para crianças onde quatro dos 11 meninos acolhidos vêm de famílias de
usuários de drogas. "Dois têm chance de serem reintegrados às famílias,
mas os outros dois, infelizmente, terão de ir para a adoção."
O delegado da
Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes (Dise), Gerson Matiolli
enxerga piora no quadro. "Estes dias flagrei uma menina com crack ao
lado da filha de 2 anos, é muito triste."
Efeitos do crack nos bebês
- Tremores - Má formação - Metabolismo acelerado - Aumento da pressão sanguínea - Microcefalia - Degeneração ocular - Cardiopatia congênita - Convulsão - Hiperatividade - Déficit de atenção
* As contrações durante a gestação também podem causar aborto
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