Consumo
de drogas avança nas escolas
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Correio
Braziliense – Brasil – Mara Puljiz
Pesquisa do Ministério da Justiça revela que alunos das redes pública e particular usaram mais entorpecentes nos últimos seis anos.
Hoje,
faz 25 anos da instituição do Dia Internacional de Combate às Drogas pela
Organização das Nações Unidas (ONU). Passadas duas décadas, no entanto, a
situação se agrava, com o número elevado de dependentes químicos e o
consequente aumento da oferta de entorpecentes por parte dos traficantes.
Para os criminosos, os estudantes dos ensinos fundamental e médio são os
alvos preferidos. O último levantamento feito pela Secretaria Nacional
Antidrogas (Senad), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, mostrou que um
terço dos 2.425 jovens entrevistados nas redes pública e particular do
Distrito Federal — 31,6% — consumiu drogas pelo menos uma vez. Do total de
crianças e adolescentes ouvidos no estudo de 2010, 1,1% admitiu o uso
frequente.
Entre
os que confirmaram ter experimentado pelo menos uma vez na vida, 32,2% eram
do sexo feminino e 30,8%, homens. O estudo mostrou ainda que 10,2% tinham
entre 10 e 12 anos. E 51,3%, entre 16 e 18 anos. Já a proporção de estudantes
brasilienses que consomem cocaína passou de 1,8%, em 2004, para 4,1% em 2010
(leia arte). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o
mundo, há mais de 200 milhões de usuários de drogas — 40 milhões são
dependentes.
Aos 14
anos, Paulo* usou cocaína, maconha e alucinógenos. Ficou viciado aos 12 e
logo começou a traficar para ganhar dinheiro e sustentar o vício. Também
matou um amigo, por dívidas com entorpecentes. O adolescente via a escola
como um lugar lucrativo. Na mochila, escondia maconha, crack e cocaína para
vender aos colegas. “A polícia fazia a revista na gente só na hora da saída,
mas, daí, já tinha acabado tudo. Eu começava vendendo às 6h e só parava às
22h. Em um dia, eu já fiz R$ 1 mil. Durante a madrugada, dava para fazer até
R$ 2 mil”, contou.
Paulo
será pai. A namorada, de 15 anos, está grávida. O jovem contou ao Correio ter
matado mais três pessoas, entre eles, um homem, durante um roubo de carro em
São Sebastião. A vítima estava em um Fiat Uno. Mesmo após tantos
assassinatos, o garoto ficou menos de dois meses internado no Centro de
Atendimento Juvenil Especializado (Caje), em razão do terceiro homicídio.
“Para mim, o que eu passei lá foi muito. Quarenta e cinco dias parecem dois
anos”, disse.
As
drogas também fizeram um estrago na vida de Renato, 14 anos. Ele vive há uma
semana em uma casa de recuperação para se livrar do vício do crack. O consumo
era feito com o próprio pai. “Ele tem uma plantação de maconha em casa e
vende até hoje. Quando o meu pai fumava crack, caíam umas pedrinhas no chão e
eu pegava para fumar também”, contou.
O
menino usa drogas desde os 10 anos. Há menos de um mês, Renato perdeu a irmã.
Um homem entrou na casa onde a família mora e estuprou e matou a jovem. Sob o
efeito de drogas, ninguém da família viu o autor da barbárie. Por causa do
crack e de outras drogas, Renato parou de estudar na 3ª série do ensino
fundamental. “Eu não quero mais isso para mim, não. Quero ser cientista para
acabar com essa droga no mundo”, disse o garoto, que sonha em prestar
vestibular para engenharia.
Prevenção
A chefe do Núcleo de Coordenação de Direitos Humanos da Secretaria de Educação, Maraísa Bezerra Lessa, informou que a prevenção tem sido o foco na política de enfrentamento ao crack nos colégios da capital federal. Um curso de prevenção para 1,5 mil educadores será oferecido em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Senad até julho.
No
último dia 18, uma palestra sobre drogas também foi ministrada para
sensibilizar professores quanto a importância de se tratar o tema em sala de
aula. “A escola tem que incentivar o espírito crítico. A dificuldade de lidar
com a temática é geral por causa do medo, mas, aos poucos, essa postura está
mudando”, acredita Maraísa.
O
secretário de Justiça e Cidadania, Alírio Neto, também destacou que as
secretarias de governo têm trabalhado de maneira integrada e focada na
prevenção. Para 2012, o objetivo é que 300 mil alunos e 70 mil operários recebam
palestras educativas como política de combate às drogas. “As leis que regem o
tráfico de drogas são a da oferta e a da procura. Todo o grupo da comunidade
escolar, pais e amigos da escola, estão sendo orientados sobre o perigo do
consumo. Esse trabalho é a médio prazo. Não dá para imaginar que é possível
combater o tráfico só com a polícia”, destacou.
As
palestras de conscientização incluem crianças de 3 a 7 anos. Para tratamento
dos dependentes, Alírio disse que, desde a instalação do Centro de Atenção
Psicossocial Álcool e Drogas (CapsAD) da Rodoviária do Plano Piloto, mais de
600 dependentes químicos foram atendidos.
* Nomes
fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
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