quarta-feira, 27 de junho de 2012

Consumo de drogas avança nas escolas


Consumo de drogas avança nas escolas




Correio Braziliense – Brasil – Mara Puljiz

Pesquisa do Ministério da Justiça revela que alunos das redes pública e particular usaram mais entorpecentes nos últimos seis anos.

Hoje, faz 25 anos da instituição do Dia Internacional de Combate às Drogas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Passadas duas décadas, no entanto, a situação se agrava, com o número elevado de dependentes químicos e o consequente aumento da oferta de entorpecentes por parte dos traficantes. Para os criminosos, os estudantes dos ensinos fundamental e médio são os alvos preferidos. O último levantamento feito pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, mostrou que um terço dos 2.425 jovens entrevistados nas redes pública e particular do Distrito Federal — 31,6% — consumiu drogas pelo menos uma vez. Do total de crianças e adolescentes ouvidos no estudo de 2010, 1,1% admitiu o uso frequente.

Entre os que confirmaram ter experimentado pelo menos uma vez na vida, 32,2% eram do sexo feminino e 30,8%, homens. O estudo mostrou ainda que 10,2% tinham entre 10 e 12 anos. E 51,3%, entre 16 e 18 anos. Já a proporção de estudantes brasilienses que consomem cocaína passou de 1,8%, em 2004, para 4,1% em 2010 (leia arte). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), em todo o mundo, há mais de 200 milhões de usuários de drogas — 40 milhões são dependentes.

Aos 14 anos, Paulo* usou cocaína, maconha e alucinógenos. Ficou viciado aos 12 e logo começou a traficar para ganhar dinheiro e sustentar o vício. Também matou um amigo, por dívidas com entorpecentes. O adolescente via a escola como um lugar lucrativo. Na mochila, escondia maconha, crack e cocaína para vender aos colegas. “A polícia fazia a revista na gente só na hora da saída, mas, daí, já tinha acabado tudo. Eu começava vendendo às 6h e só parava às 22h. Em um dia, eu já fiz R$ 1 mil. Durante a madrugada, dava para fazer até R$ 2 mil”, contou.

Paulo será pai. A namorada, de 15 anos, está grávida. O jovem contou ao Correio ter matado mais três pessoas, entre eles, um homem, durante um roubo de carro em São Sebastião. A vítima estava em um Fiat Uno. Mesmo após tantos assassinatos, o garoto ficou menos de dois meses internado no Centro de Atendimento Juvenil Especializado (Caje), em razão do terceiro homicídio. “Para mim, o que eu passei lá foi muito. Quarenta e cinco dias parecem dois anos”, disse.

As drogas também fizeram um estrago na vida de Renato, 14 anos. Ele vive há uma semana em uma casa de recuperação para se livrar do vício do crack. O consumo era feito com o próprio pai. “Ele tem uma plantação de maconha em casa e vende até hoje. Quando o meu pai fumava crack, caíam umas pedrinhas no chão e eu pegava para fumar também”, contou.
O menino usa drogas desde os 10 anos. Há menos de um mês, Renato perdeu a irmã. Um homem entrou na casa onde a família mora e estuprou e matou a jovem. Sob o efeito de drogas, ninguém da família viu o autor da barbárie. Por causa do crack e de outras drogas, Renato parou de estudar na 3ª série do ensino fundamental. “Eu não quero mais isso para mim, não. Quero ser cientista para acabar com essa droga no mundo”, disse o garoto, que sonha em prestar vestibular para engenharia.

Prevenção
A chefe do Núcleo de Coordenação de Direitos Humanos da Secretaria de Educação, Maraísa Bezerra Lessa, informou que a prevenção tem sido o foco na política de enfrentamento ao crack nos colégios da capital federal. Um curso de prevenção para 1,5 mil educadores será oferecido em parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e a Senad até julho.

No último dia 18, uma palestra sobre drogas também foi ministrada para sensibilizar professores quanto a importância de se tratar o tema em sala de aula. “A escola tem que incentivar o espírito crítico. A dificuldade de lidar com a temática é geral por causa do medo, mas, aos poucos, essa postura está mudando”, acredita Maraísa.

O secretário de Justiça e Cidadania, Alírio Neto, também destacou que as secretarias de governo têm trabalhado de maneira integrada e focada na prevenção. Para 2012, o objetivo é que 300 mil alunos e 70 mil operários recebam palestras educativas como política de combate às drogas. “As leis que regem o tráfico de drogas são a da oferta e a da procura. Todo o grupo da comunidade escolar, pais e amigos da escola, estão sendo orientados sobre o perigo do consumo. Esse trabalho é a médio prazo. Não dá para imaginar que é possível combater o tráfico só com a polícia”, destacou. 

As palestras de conscientização incluem crianças de 3 a 7 anos. Para tratamento dos dependentes, Alírio disse que, desde a instalação do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CapsAD) da Rodoviária do Plano Piloto, mais de 600 dependentes químicos foram atendidos.

* Nomes fictícios em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

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