Estudo
aponta que 3,6% dos paulistas são dependentes de álcool
ABEAD
O estudo São Paulo Megacity realizado com 5.037
indivíduos adultos da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), aponta que mais
de 10% dos entrevistados preencheram os critérios para abuso e 3,6% receberam
diagnóstico de dependência do álcool. Diferente do esperado, a taxa de abuso
foi maior do que a de dependência - o que reforça a necessidade de investimento
no diagnóstico precoce e conseqüentemente resultaria na diminuição dos
exorbitantes gastos de saúde com os dependentes.
A pesquisa analisou uma amostra representativa
que reúne pessoas de diferentes condições econômicas, educacionais e culturais
para identificar a prevalência de uso, abuso e dependência de álcool nessa
região, assim como as principais características sociodemográficas relacionadas
às transições entre as etapas de uso do álcool. De acordo com a pesquisa, as
porcentagens da taxa de uso de álcool pelo menos uma vez na vida (85,8%) e uso
regular (56,2%) refletem uma considerável exposição à bebida, assim como a
continuação de seu uso em uma proporção significativa da amostra.
O São Paulo Megacity, realizado pelo Núcleo de
Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas
da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é o primeiro a
investigar as idades de início do uso regular, abuso e dependência, transições
entre as etapas do uso de álcool e as possíveis influências de gênero, idade,
escolaridade e estado civil. Além disso, é parte de uma pesquisa global da
Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre estresse, bem-estar e saúde mental
(World Mental Health Survey Initiative).
Idade de início do uso
O primeiro uso na vida ocorre entre os 16 e 26
anos de idade, com mais da metade dos usuários tendo experimentado aos 17 anos.
O São Paulo Megacity mostra ainda que 54% dos entrevistados apresentaram
diagnóstico de abuso antes dos 24 anos, o consumo precoce esteve associado à
transição do uso regular para o abuso e que a maioria dos indivíduos
desenvolveram a dependência do álcool antes dos 35 anos de idade. A pesquisa
ainda apontou que a remissão do abuso e da dependência é menor entre os
indivíduos que iniciam o uso regular do álcool mais precocemente na vida.
“Esses dados comprovam que as políticas públicas voltadas ao consumo do álcool
devem estar orientadas para populações jovens”, analisa a psiquiatra Camila
Magalhães Silveira, autora do estudo.
Nível de escolaridade e situação escolar
Já em relação à situação escolar, estudantes
com baixo nível de escolaridade estiveram consistentemente associados às três
primeiras transições entre os estágios de uso do álcool: da abstinência ao
primeiro uso na vida, depois para o uso regular e finalmente para o abuso.
A importância desta constatação foi confirmada
pelo fato de o baixo nível escolar também ter sido o único correlato
sociodemográfico associado à transição para a dependência do álcool, bem como
para a não remissão do abuso e da dependência, fato que reforça a necessidade
de intervenção para evitar o uso prejudicial do álcool entre os estudantes. “Já
que o nível de escolaridade tem sido amplamente utilizado como um indicador de
status socioeconômico, os resultados também poderiam refletir que indivíduos
com menor escolaridade e nível socioeconômico são mais suscetíveis à exposição
ao álcool, tanto por viverem em uma região com alta concentração de bares, como
por normas sociais menos restritivas com relação ao uso do álcool. Políticas
públicas, voltadas para indivíduos com baixa escolaridade e proveniente de
lares carentes, trariam provável diminuição na progressão do beber para eles”,
diz Dra. Camila.
O fato de o indivíduo ser estudante esteve
fortemente associado à transição do uso regular de álcool para o abuso. “O
Brasil não tem uma idade mínima legal para o consumo de bebidas alcoólicas, a
única restrição relacionada e pouco fiscalizada é a proibição de venda de
bebidas alcoólicas a menores de 18 anos de idade; nenhuma licença especial é
necessária para vender o produto. Além disso, geralmente não há restrições
específicas sobre o uso ou venda dentro dos campi universitários, o que reforça
o consumo do álcool entre os estudantes”, afirma a psiquiatra. Além disso, de
acordo com a Dra. Camila, como o Brasil apresenta uma cultura de consumo de
grandes quantidades de álcool em uma única ocasião; beber em locais públicos e
não ingerir o álcool com as refeições, os estudantes acabam ficando ainda mais
expostos às conseqüências negativas decorrentes do uso do álcool, como
acidentes de trânsito, sexo desprotegido, cardiopatias, doenças
gastroesofágicas e à transição para o abuso do álcool conforme demonstrado nesse
estudo. Diante do exposto, a psiquiatra conclui que com base no cenário acima,
é possível hipotetizar que o padrão de consumo pesado do álcool entre
estudantes os leva à transição do uso regular para o abuso.
Estado Civil
O estado civil é outro fator que influencia o
consumo de álcool nos brasileiros e apresentou associações distintas para cada
um dos estágios de transição. Segundo o São Paulo Megacity, ser solteiro foi
preditor para a primeira transição (da abstinência ao primeiro uso na vida) e
para a segunda (do uso na vida para o uso regular), sugerindo que ser casado é
um fator de proteção. Por outro lado, viúvos ou separados apresentaram maior
risco para a segunda transição (do uso na vida para o uso regular) e terceira
transição (do uso regular para o abuso) do beber que constituem estágios de
maior prejuízo desse comportamento.
Premiação
Recentemente, a Dra. Camila Magalhães Silveira,
autora do São Paulo Megacity, conquistou a primeira colocação do Prêmio
Psiquiatria FMUSP 2011. O estudo foi nomeado como a melhor tese de doutorado,
da área de psiquiatria, de todas apresentadas em 2010 e no ano passado. O
estudo foi orientado pela Profa. Dra. Laura Andrade.
Sobre o São Paulo Megacity
O levantamento é o maior e mais
completo estudo sobre a prevalência de transtornos mentais na população adulta
da Região Metropolitana de São Paulo (cidade de São Paulo mais 38 municípios).
A investigação é parte do estudo global “World Mental Health Survey Initiative
(WHMS)”, um consórcio sob os auspícios da Organização Mundial da Saúde (OMS),
com colaboração das Universidades de Harvard e Michigan, que engloba estudos
epidemiológicos realizados em 28 países representando todas as regiões do
mundo. Todos os estudos preenchem uma série de pré-requisitos rigorosos para a
obtenção de resultados confiáveis e comparáveis entre os países. No total, o
WMHS conta com uma amostra de mais de 170 mil pessoas.
O estudo tem como proposta identificar as taxas de prevalência de transtornos psiquiátricos, avaliar o grau de incapacidade associada a eles e determinar possíveis fatores associados na população residente na Região Metropolitana de São Paulo.
No Brasil, o Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo é responsável pelo estudo São Paulo Megacity, sob coordenação da Profa. Dra. Laura Andrade e da Profa. Dra. Maria Carmem Viana.
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