sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Estresse infantil existe.


Estresse infantil: existe e é mais frequente do que pensamos

Boletim Plenamente - Silvia P. Ruschel; Maria Alice Fontes

Crianças podem se estressar como os adultos?
A rigor, pela definição, sim, até mesmo as crianças podem sofrer de estresse. “O estresse é uma reação do organismo diante de situações ou muito difíceis ou muito excitantes, que pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de idade, raça, sexo e situação econômica” (Lipp, 2003). O problema é quando alguma adversidade se perpetua por períodos longos, ou mesmo períodos curtos, mas com tanta intensidade que acabam causando um desequilíbrio psicológico ou físico do indivíduo. Diagnosticado anteriormente como uma reação em adultos, atualmente, sabe-se que estresse também ocorre em crianças.
O estresse excessivo pode ser considerado uma doença infantil?
Segundo Lipp (2003) o estresse infantil não é, em si mesmo, uma doença, mas quando a reação ao estresse se torna intensa ou prolongada demais, ela pode enfraquecer o organismo, levando-o a uma condição que propicia uma queda no funcionamento do sistema imunológico de tal porte que vários sintomas e doenças podem manifestar-se.
Quais as causas do estresse infantil?
Podemos identificar fatores externos e internos como desencadeadores de estresse. Dentre os fatores externos, Lipp (2003) e outros pesquisadores apontam:
-mudanças significativas ou constantes na rotina de vida;
-responsabilidades em excesso;
-excesso de atividades, incluindo as atividades extra-escolares, ou mesmo a demanda no horário escolar;
-brigas ou separações dos pais;
-hospitalização, doenças ou mortes na família;
-nascimento de irmãos;
-rejeição por parte de amigos ou colegas na escola.
Além desses fatores, há fatores internos que também podem gerar estresse na criança, como:
-timidez;
-medo de fracassar;
-ansiedade;
-desejo de agradar;
-insegurança.
Como identificar se uma criança está estressada?
Em geral, as crianças não conseguem verbalizar com toda clareza quais as situações e/ou eventos que a deixam sob estresse prolongado, entretanto, podemos ficar atentos aos sinais que manifestam. O estresse pode se manifestar através de diferentes sintomas, sejam físicos ou psicológicos, que em algumas situações se sobrepõem. Dentre os mesmos encontram-se: agressividade, desobediência exacerbada, choro excessivo, ansiedade, depressão, pesadelos, insônia, problemas respiratórios, doenças dermatológicas, etc.. De acordo com Lipp (2003), algum desses sintomas ou problemas isolados não pode ser interpretado como indicativo de estresse excessivo, pois o que deve servir de base para o diagnóstico é o conglomerado de sintomas.
Como os pais podem ajudar as crianças a reagir ao estresse?
Os pais podem ajudar as crianças a reagir ao estresse de formas saudáveis. Algumas atitudes que podem colocar em prática incluem:
·         Proporcionar um lar seguro e confiável com momentos de convívio calmo e relaxados com as crianças;
·         Incentivá-las a fazer perguntas e expressarem suas apreensões, preocupações e medos;
·         Escutar a criança sem criticá-la fortemente;
·         Fomentar a auto-estima da criança. Usar de incentivo e afeto. Tentar envolvê-la em situações nas quais possa sair-se bem;
·         Incentivá-la positivamente ao invés de com um castigo, quando a criança (apesar de ter estudado e se preparado) tira notas ruins na escola ou vai mal em alguma atividade;
·         Permitir que a criança tenha oportunidade de fazer escolhas e ter algum controle sobre a própria vida;
·         Incentivar a prática de alguma forma de atividade física;
·         Conversar com a criança sobre situações e acontecimentos que sejam estressantes para ela. Isso diz respeito a novas experiências, medo de resultados imprevisíveis, sensações desagradáveis, desejos e necessidades não satisfeitos e perdas, reconhecendo sinais de estresse não resolvido na criança;
·         Manter a criança informada quanto a mudanças antecipadas e necessárias;
·         Buscar ajuda ou aconselhamento profissional quando os sinais de estresse não diminuem ou não desaparecem normalmente.
Qual o tratamento/encaminhamento que deve ser dado para o estresse?
Em primeiro lugar, é preciso detectar a causa dos sintomas da criança, sem simplesmente tentar eliminar o sintoma manifesto. Assim, se ela está extremamente agressiva, é preciso verificar qual é o estressor (fonte de causa do estresse excessivo) ao invés de simplesmente tentar deixá-la mais tranquila. Além de detectar o estressor, é preciso ensinar estratégias de enfrentamento para a criança, lembrando sempre que fontes externas de estresse têm efeito maior ou menor em cada indivíduo, dependendo da própria resistência individual. Muitas vezes, mesmo com a orientação da própria criança, pais e professores, pode ser benéfico o acompanhamento da criança por um psicólogo.
Podemos prevenir o estresse excessivo na infância?
Segundo Bignotto (2003), o papel dos pais contribui na prevenção do estresse infantil, que deve ter início pela realização de uma análise sobre o estilo de educação que se transmite à criança, ajudando a proporcionar-lhe uma boa qualidade de vida, mediante equilíbrio e bem-estar, bem como por meio de um ambiente que possibilite um desenvolvimento adequado. Obviamente, não podemos superproteger as crianças sem prepará-las para o mundo de hoje, nem tampouco deixá-las expostas a estressores em demasia ou grandes demais para elas de modo que não tenham oportunidade de adquirir estratégias de enfrentamento de modo gradual (Lipp, 2003). Portanto, equilíbrio é a palavra chave quando se fala em estresse!
Fontes consultadas:
BIGNOTTO, M. M.; TRICOLI, V. A. C. Aprendendo a se estressar na infância. In: Lipp, M. E. (org). O stress está dentro de você. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2003.
LIPP, M. E. N. Crianças estressadas: causas, sintomas e soluções. 2ª ed. Campinas:Editora Papirus, 2003.

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