Estresse infantil: existe e é mais frequente do que
pensamos
Boletim Plenamente - Silvia P. Ruschel; Maria Alice Fontes
Crianças podem se
estressar como os adultos?
A rigor, pela definição, sim, até mesmo as crianças podem sofrer de
estresse. “O estresse é uma reação do organismo diante de situações ou muito
difíceis ou muito excitantes, que pode ocorrer em qualquer pessoa,
independentemente de idade, raça, sexo e situação econômica” (Lipp, 2003). O
problema é quando alguma adversidade se perpetua por períodos longos, ou mesmo
períodos curtos, mas com tanta intensidade que acabam causando um desequilíbrio
psicológico ou físico do indivíduo. Diagnosticado anteriormente como uma reação
em adultos, atualmente, sabe-se que estresse também ocorre em crianças.
O estresse excessivo
pode ser considerado uma doença infantil?
Segundo Lipp (2003) o estresse infantil não é, em si mesmo, uma doença,
mas quando a reação ao estresse se torna intensa ou prolongada demais, ela pode
enfraquecer o organismo, levando-o a uma condição que propicia uma queda no
funcionamento do sistema imunológico de tal porte que vários sintomas e doenças
podem manifestar-se.
Quais as causas do
estresse infantil?
Podemos identificar fatores externos e internos como desencadeadores de
estresse. Dentre os fatores externos, Lipp (2003) e outros pesquisadores
apontam:
-mudanças significativas ou constantes na rotina de vida;
-responsabilidades em excesso;
-excesso de atividades, incluindo as atividades extra-escolares, ou mesmo
a demanda no horário escolar;
-brigas ou separações dos pais;
-hospitalização, doenças ou mortes na família;
-nascimento de irmãos;
-rejeição por parte de amigos ou colegas na escola.
Além desses fatores, há fatores internos que também podem gerar estresse
na criança, como:
-timidez;
-medo de fracassar;
-ansiedade;
-desejo de agradar;
-insegurança.
Como identificar se
uma criança está estressada?
Em geral, as crianças não conseguem verbalizar com toda clareza quais as
situações e/ou eventos que a deixam sob estresse prolongado, entretanto,
podemos ficar atentos aos sinais que manifestam. O estresse pode se manifestar
através de diferentes sintomas, sejam físicos ou psicológicos, que em algumas
situações se sobrepõem. Dentre os mesmos encontram-se: agressividade,
desobediência exacerbada, choro excessivo, ansiedade, depressão, pesadelos,
insônia, problemas respiratórios, doenças dermatológicas, etc.. De acordo com
Lipp (2003), algum desses sintomas ou problemas isolados não pode ser
interpretado como indicativo de estresse excessivo, pois o que deve servir de
base para o diagnóstico é o conglomerado de sintomas.
Como os pais podem
ajudar as crianças a reagir ao estresse?
Os pais podem ajudar as crianças a reagir ao estresse de formas saudáveis.
Algumas atitudes que podem colocar em prática incluem:
·
Proporcionar um lar seguro e confiável com momentos de convívio calmo e
relaxados com as crianças;
·
Incentivá-las a fazer perguntas e expressarem suas apreensões,
preocupações e medos;
·
Escutar a criança sem criticá-la fortemente;
·
Fomentar a auto-estima da criança. Usar de incentivo e afeto. Tentar
envolvê-la em situações nas quais possa sair-se bem;
·
Incentivá-la positivamente ao invés de com um castigo, quando a criança
(apesar de ter estudado e se preparado) tira notas ruins na escola ou vai mal
em alguma atividade;
·
Permitir que a criança tenha oportunidade de fazer escolhas e ter algum
controle sobre a própria vida;
·
Incentivar a prática de alguma forma de atividade física;
·
Conversar com a criança sobre situações e acontecimentos que sejam
estressantes para ela. Isso diz respeito a novas experiências, medo de
resultados imprevisíveis, sensações desagradáveis, desejos e necessidades não
satisfeitos e perdas, reconhecendo sinais de estresse não resolvido na criança;
·
Manter a criança informada quanto a mudanças antecipadas e necessárias;
·
Buscar ajuda ou aconselhamento profissional quando os sinais de estresse
não diminuem ou não desaparecem normalmente.
Qual o
tratamento/encaminhamento que deve ser dado para o estresse?
Em primeiro lugar, é preciso detectar a causa dos sintomas da criança, sem
simplesmente tentar eliminar o sintoma manifesto. Assim, se ela está extremamente
agressiva, é preciso verificar qual é o estressor (fonte de causa do estresse
excessivo) ao invés de simplesmente tentar deixá-la mais tranquila. Além de
detectar o estressor, é preciso ensinar estratégias de enfrentamento para a
criança, lembrando sempre que fontes externas de estresse têm efeito maior ou
menor em cada indivíduo, dependendo da própria resistência individual. Muitas
vezes, mesmo com a orientação da própria criança, pais e professores, pode ser
benéfico o acompanhamento da criança por um psicólogo.
Podemos prevenir o
estresse excessivo na infância?
Segundo Bignotto (2003), o papel dos pais contribui na prevenção do
estresse infantil, que deve ter início pela realização de uma análise sobre o
estilo de educação que se transmite à criança, ajudando a proporcionar-lhe uma
boa qualidade de vida, mediante equilíbrio e bem-estar, bem como por meio de um
ambiente que possibilite um desenvolvimento adequado. Obviamente, não podemos
superproteger as crianças sem prepará-las para o mundo de hoje, nem tampouco
deixá-las expostas a estressores em demasia ou grandes demais para elas de modo
que não tenham oportunidade de adquirir estratégias de enfrentamento de modo
gradual (Lipp, 2003). Portanto, equilíbrio é a palavra chave quando se fala em
estresse!
Fontes consultadas:
BIGNOTTO, M. M.; TRICOLI, V. A. C. Aprendendo a se estressar na infância.
In: Lipp, M. E. (org). O stress está dentro de você. 5ª ed. São Paulo:
Contexto, 2003.
LIPP, M. E. N.
Crianças estressadas: causas, sintomas e soluções. 2ª ed. Campinas:Editora
Papirus, 2003.
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