Chá do Santo Daime
ativa áreas da visão e da memória, aponta estudo
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G1
Cientistas apresentam
no interior de SP efeitos da ayahuasca no cérebro.
Bebida alucinógena é usada em rituais religiosos em quase 40 países.
Luna D'AlamaDo G1, em São Paulo
Os efeitos sobre o cérebro causados pela substância alucinógena
ayahuasca, mais conhecida como "chá do Santo Daime", viraram tema
de uma apresentação científica neste sábado (25/08) em Águas de Lindoia, no
interior de São Paulo. Quatro pesquisadores mostraram seus estudos sobre a
bebida na 27ª Reunião Anual das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe),
que ocorre na cidade desde quarta-feira (22/08).
Um dos estudos, conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em
Ribeirão Preto, analisou a atividade cerebral de cinco homens e cinco
mulheres, entre 24 e 48 anos, antes e após 40 minutos da ingestão do chá.
Cada voluntário passou por dois exames de ressonância magnética.
Segundo o professor adjunto do Departamento de Radiologia da Faculdade
de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tiago Sanchez,
que foi co-autor da pesquisa, liderada entre 2007 e 2011 pelo professor
Draulio de Araújo, hoje na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN), a bebida ativa uma região do cérebro relacionada à memória e outra
ligada à visão, mesmo se a pessoa estiver com os olhos fechados.
Isso poderia esclarecer, por exemplo, as visões ou imagens de caráter
espiritual que os praticantes relatam.
"Esse fenômeno, assim como um sonho lúcido, poderia explicar o
caráter realístico e místico das visões durante os rituais com
ayahuasca", afirma Sanchez.
De acordo com ele, estudos anteriores já mostraram que o chá atua nas
mesmas conexões da serotonina, neurotransmissor ligado às sensações de prazer
e bem-estar.
Substâncias do Santo
Daime
Outro palestrante presente no debate sobre os efeitos do chá do Santo Daime no corpo foi o neurocientista e pesquisador da Unifesp Eduardo Schenberg, que pretende iniciar uma pesquisa sobre o tema até o fim do ano, com 18 voluntários.
Schenberg deve analisar as variações nos níveis de cortisol, o
hormônio do estresse, após a ingestão da ayahuasca. Além disso, quer observar
como o organismo humano metaboliza , ou seja, aproveita as substâncias
contidas no chá.
Para isso, será feita uma eletroencefalografia, exame que põe
eletrodos no couro cabeludo e analisa as correntes elétricas do cérebro, após
cada participante ingerir uma cápsula de chá desidratado ou de placebo, que
não tem efeitos químicos sobre o corpo.
"A bebida tem uma farmacologia bem complexa, que inclui pelo
menos quatro substâncias importantes. Três delas atuam no sistema de
transmissão da serotonina e a quarta, chamada de dimetiltriptamina ou DMT,
ativa a área do cérebro que induz a visões de caráter realista", ressalta
Schenberg.
Segundo o neurocientista, a bebida já foi "exportada" pelo
Brasil para 38 países, onde funcionam unidades das igrejas do Santo Daime, da
União do Vegetal e da Barquinha.
O pesquisador ainda procura voluntários para o estudo, e os
interessados podem entrar em contato com o Departamento de Psiquiatria da
Unifesp. É preciso ter mais de 21 anos, já estar iniciado nesse ritual, não
usar drogas, antidepressivos nem ter doenças psiquiátricas ou neurológicas.
Além dos dois trabalhos, apresentaram-se na Fesbe, neste sábado, os
pesquisadores Luis Eduardo Luna e Suely Mizumoto, que falaram,
respectivamente, sobre antropologia e história da ayahuasca e sobre escalas
para avaliar as imagens mentais geradas por ela.
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