sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"Em dez anos, a maconha pode gerar US$ 1 trilhão para os EUA",


"Em dez anos, a maconha pode gerar US$ 1 trilhão para os EUA", diz Fine

O jornalista que já escreveu para o Washington Post diz que a legalização do cultivo pode ser um salto para a recuperação norte-americana e gerar US$ 35 bilhões por ano em impostos


Mayara Teixeira , iG São Paulo

Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos, incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais (como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.

Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas (destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.

Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.

Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity, todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta, com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.


Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade, insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de trabalho.


Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.


Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos biocombustíveis.

Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.


Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1 trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga planta.


Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg, talvez.

Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo 29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma delas”.


Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é preciso unir a vida temporal com a energia divina.
O jornalista norte-americano, Doug Fine, chamou atenção com o lançamento de seu novo livro “Too High to Fail – Cannabis and the New Green Economic Revolution” (em tradução livre, Chapado Demais para Fracassar - Maconha e a Nova Revolução Econômica Verde, Editora Penguim/Gotham). Basicamente, Fine que já escreveu para o Washington Post afirma que o cultivo de maconha pode ser um importante aliado na recuperação econômica dos Estados Unidos.
Para escrever o livro, ele passou um ano no condado de Mendocino, ao norte da Califórnia, onde o plantio para fins medicinais era permitido mediante pagamento de taxa. Cada produtor podia plantar no máximo 99 mudas, e ao fim de um ano a maconha foi responsável por 80% da economia local, um montante de US$ 8 bilhões. Porém, neste ano, o licenciamento do cultivo foi interrompido por pressão federal.
O governo americano considera a maconha uma droga ilegal,viciante e sem valor algum para tratamentos médicos, por isso lidera uma guerra contra os 17 estados que a liberaram para uso medicinal. Ainda este ano, nas eleições de novembro, três estados norte-americanos votarão sobre a legalização do uso recreativo para adultos.
Segundo Fine, se o cultivo fosse legalizado, os EUA poderiam arrecadar US$ 35 bilhões por ano em impostos, “uma boa quantia para uma antiga planta”. 

 Leia a entrevista:
iG: A maconha realmente pode ser um salto para a recuperação da economia norte-americana? Como? 
Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos, incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais (como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.

iG: Muitos produtores de maconha não são formalmente registrados. Você acredita que eles oficializariam suas produções se o cultivo para fins medicinais fosse permitido pelo governo?
Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas (destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.

iG: Não é possível que grandes empresas nacionais de cerveja ou tabaco monopolizem o mercado da maconha? 
Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.

iG: Com a legalização, a oferta provavelmente será maior. Não é possível que os preços caiam e o cultivo deixe de ser tão rentável? 
Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity, todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta, com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.

iG: Alguns pesquisadores dizem que apenas 5% do cultivo de maconha é utilizado para fins medicinais. Estimular o plantio, não é indiretamente estimular o uso ilegal da droga? 
Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade, insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de trabalho.

iG: Você é favorável apenas à legalização do cultivo para fins medicinais ou para uso civil também? 
Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.

iG: Quais seriam os benefícios da legalização para o país? 
Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos biocombustíveis.

iG: Qual é o tamanho da produção de maconha nos EUA? 
Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.

iG: A dívida pública norte-americana foi recentemente estimada em pelo menos US$ 16 trilhões. Você acredita que a receita proveniente dos impostos sobre a produção da maconha teria impacto significativo sobre esse valor? 
Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1 trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga planta.

iG: Você é muito bem-humorado em entrevistas. O título do seu livro e seu website também são divertidos. Você não teme não ser levado a sério? 
Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg, talvez.

iG: Você fuma maconha? 
Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo 29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma delas”.

iG: Você acredita que a maconha tem o potencial de aumentar a criatividade? Já escreveu quando estava “chapado”? 
Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é preciso unir a vida temporal com a energia divina.


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