Quando a dor de ser obeso é maior do que o prazer de comer
Patricia
decidiu se livrar da obesidade e já perdeu, sem cirurgia, 50 quilos em um ano
“Assim como um drogado busca a droga, ou um alcoólatra busca a bebida, o obeso busca a comida. Sou igual a um drogado..."
Na contramão dos mais
de 150 mil brasileiros que optaram pela cirurgia de estômago ou
daqueles que lotam os consultórios médicos em busca de uma fórmula para
emagrecer, Patricia Faccio Marques, 37 anos, decidiu encarar a luta contra a
obesidade não com o bisturi, mas com duas armas há tempos recomendadas pelos
médicos: reeducação alimentar e exercícios.
Foi desta forma, e com muita força de vontade, que a professora de química
de sorriso fácil e voz suave conseguiu perder 50 quilos em um ano. Para chegar
à meta ainda faltam mais 30 quilos.
No auge da obesidade,
há dois anos, a balança alcançou os 147 quilos e seu Índice de Massa Corporal
(IMC) era 41. A cirurgia bariátrica é recomendada para obesos com IMC de 40. Mas não foram os
números que a assustaram.
“Eu estava no banheiro de um shopping, e vi uma criança me olhando. Eu
sorri e ela me perguntou: ‘Tia, por que você é assim?’ O que você responde para
uma criança nessa hora?”, relembra.
A pergunta ecoou com mais força ao ver-se em uma foto, durante uma viagem
à Paranapiacaba. “Eu vi o meu tamanho. Não cabia mais nos lugares, ficava
apertada na poltrona do cinema. Deixei de ir a parques de diversão porque não
cabia em nenhum brinquedo, não passava a catraca do ônibus. Quando ia sair,
pensava ‘será que vou caber na cadeira?’”, relata.
Vestir-se também
passou a ser um problema. Usando número 62 de calça, nem nas lojas
especializadas para tamanhos grandes ela encontrava roupas que lhe servissem.
Qualquer peça nova tinha de ser feita sob medida. “A obesidade começou a me
incomodar pela primeira vez na vida”, relata.
Patricia nunca foi uma criança magra. Fez seu primeiro regime aos 5 anos,
quando chegou a tomar remédios. Foi engordando mais em cada fase da vida, mas
sente que perdeu o controle com a separação dos pais, aos 11 anos. Na época,
além da nova situação, teve de assumir os cuidados com a casa e com os irmãos e
a falta de tempo para cuidar de si resultou em quilos a mais. Durante toda a
vida, tentou dietas da
moda, remédios, fórmulas manipuladas, academia de ginástica, caminhadas no parque. O resultado foi o famoso efeito sanfona (engorda-emagrece).
As formas arredondadas, porém, nunca a incomodaram. “Sempre fui gordinha,
sempre fui feliz, tive namorado, casei. Eu ia à praia e usava biquíni porque
aquela era eu, não estava preocupada se as pessoas achavam bonito ou não”,
afirma.
No entanto, a foto e a criança trouxeram à tona o descontentamento com a
figura que naquele momento estava refletida no espelho. “Passei a não gostar do
que via, não me sentia confortável nas minhas roupas. Foi então que decidi
mudar.”
A virada
Aos 35 anos, Patricia
foi demitida da empresa onde trabalhava há 10 anos. O que era para ser um revés
virou uma oportunidade para finalmente olhar para si. Apoiada pelo marido,
decidiu parar de trabalhar para colocar em prática o que sempre não passou de
um projeto: emagrecer. O momento coincidiu com o emagrecimento de uma amiga,
que passou a “fórmula”: alimentação regrada, atividade física intensa e muita
dedicação. Nada de remédios ou dietas milagrosas.
Empolgada com o exemplo e cheia de força de vontade, matriculou-se em uma academia próxima de casa. Com a ajuda de uma professora de educação física e uma nutricionista montou uma rotina de treino de seis horas diárias de exercícios e um cardápio de 1600 calorias.
Empolgada com o exemplo e cheia de força de vontade, matriculou-se em uma academia próxima de casa. Com a ajuda de uma professora de educação física e uma nutricionista montou uma rotina de treino de seis horas diárias de exercícios e um cardápio de 1600 calorias.
Pela manhã, dividia as quatro horas de ginástica entre alongamento,
musculação, hidroginástica e caminhada na esteira. À noite, acompanhada pelo
marido, passava mais duas horas entre a piscina e a esteira.
O desânimo não teve tempo nem espaço nessa nova rotina, já que tanto
sacrifício é, desde o início, rapidamente recompensado. A cada semana, Patricia
perde em torno de um quilo, somando uma média de 4 quilos ou até 6 quilos por
mês. As roupas, que antes não cabiam, passaram a ficar folgadas e ela já
consegue encontrar algumas peças em lojas no shopping. Andar de ônibus não é
mais um problema e a cadeira do cinema passou a acomodá-la sem grandes
preocupações.
Metade do caminho
Hoje, 50 quilos mais magra e 10 manequins a menos, a química voltou ao
mercado de trabalho, e se esforça para manter na agenda pelo menos quatro horas
de exercícios diárias. O objetivo é alcançar os 70kg, menos da metade do seu
peso inicial, até o fim deste ano. “Mas não sei se é o ideal porque nunca fui
magra, não sei como vou ficar”, diz. O caminho até agora foi árduo, não só pela
rotina puxada. A batalha mais complexa ela ainda está travando: precisa
aprender a controlar a compulsão alimentar.
“Assim como um drogado
busca a droga, ou um alcoólatra busca a bebida, o obeso busca a comida.
Sou igual a um drogado. Eu passei por perdas grandes nos últimos meses e muitas
vezes busquei a comida como solução para aquela tristeza. A comida é uma droga,
se usar muito posso ter uma ‘overdose’, que se reflete no meu corpo”, relata.
Para ela, a sociedade encara o gordo como um “folgado e preguiçoso” e não
consegue enxergar que obesidade é uma doença.
“As pessoas entendem quando alguém tira licença do trabalho para cuidar de
uma dor nas costas, ou qualquer outro problema de saúde. Eu tinha IMC de obesidade
mórbida, que poderia me levar à morte. Mas ninguém compreendeu quando eu parei
de trabalhar para cuidar da alimentação e fazer exercícios. E nenhum médico
pensou em me dar um atestado para que eu pudesse passar um tempo me tratando”,
reflete.
Ao ser perguntada de
onde tira tanta determinação para resistir firme às tentações, ela fala com
tristeza. “Quando a dor de ser obesa é maior do que o prazer de comer, você
emagrece.”
Todo minha admiração para esta nossa amiga Patrícia.
ResponderExcluirRealmente ela está de parabéns!
As palavras dela foram muitíssimo bem colocadas e entusiasma quem precisa submeter-se a este processo, bem como a qualquer outro que requira atitude de boa vontade, persistência e determinação.
Um excelente Post.
Abração e TAMUJUNTU.