Saiba como o álcool afeta o corpo
Além dos efeitos já conhecidos, o consumo excessivo
gera problemas de saúde mental, perda de memória e diminuição da fertilidade
BBC Brasil | 04/10/2011 13:44
Álcool: não há dose segura de
consumo, dizem especialistas
Pesquisas também
associaram o consumo de álcool em doses elevadas à problemas de saúde mental,
perda de memória e diminuição da fertilidade.
Entretanto, estudos também concluíram que, ingerida com moderação, a substância
pode ter um efeito benéfico, ajudando a proteger o coração ao elevar os índices
de bom colesterol no organismo e impedir a formação de coágulos sanguíneos.
As mensagens são contraditórias, levando especialistas ouvidos pela BBC a
recomendar que as autoridades sejam mais claras em suas campanhas de
conscientização. Não existe nível absolutamente seguro de consumo de álcool,
dizem. Mas se você quer beber, não exceda 21 unidades por semana para homens e
14 unidades por semana para mulheres.
Problemas cardíacos e câncer
A ingestão de mais de
três copos de bebida alcoólica por dia prejudica o coração. O consumo excessivo, especialmente a longo
prazo, pode resultar em pressão alta,
cardiomiopatia alcoólica, falência cardíaca e AVCs, além de aumentar a circulação
de gorduras no organismo.
As associações entre o consumo de álcool e o câncer também são bastante
conhecidas. Um estudo publicado no British Medical Journal no ano passado
concluiu que o consumo de álcool provoca pelo menos 13 mil casos de câncer por
ano na Grã-Bretanha, nove mil em homens e quatro mil em mulheres.
O efeito negativo do álcool para a saúde em geral pode estar associado a
uma substância conhecida como acetaldeído – produto em que o álcool é
transformado após ser digerido pelo organismo. Essa substância é tóxica e
experimentos demonstraram que ela danifica o DNA. O cientista KJ Patel, que
trabalha no laboratório de biologia molecular do Medical Research Council, na
Grã-Bretanha, vem pesquisando os efeitos tóxicos do álcool.
"Não há a ocorrência de uma célula cancerosa a não ser que o DNA seja
alterado. Quando você bebe, o acetaldeído está corrompendo o DNA da vida e
colocando você no caminho para o câncer".
Imunidade e fertilidade
Um relatório publicado recentemente na revista científica Bio Med Central
(BMC) Innunology revelou que o álcool afeta a capacidade do organismo de
combater infecções virais. E estudos sobre fertilidade indicam que mesmo o
consumo moderado da substância diminui a probabilidade de uma mulher conceber.
Nos homens, o consumo excessivo diminui a qualidade e quantidade de esperma.
KJ Patel acaba de
completar uma investigação sobre os efeitos tóxicos do álcool sobre ratos. Seu
estudo indica que uma única dose excessiva de álcool durante a gravidez pode
ser suficiente para provocar danos permanentes sobre o genoma do feto. A
Síndrome Alcoólica Fetal, segundo Patel, "pode resultar em crianças com
danos sérios, nascidas com anomalias na cabeça e face e com deficiências
mentais".
Fígado
O médico Nick Sheron, que comanda a unidade de fígado do Southampton
General Hospital, na Inglaterra, disse que os mecanismos por meio dos quais o
álcool prejudica o organismo não são claros.
"A toxicidade do álcool é complexa, mas sabemos que há um
relacionamento próximo e claro".
Quanto maior a ingestão semanal, maior o dano ao fígado e esse efeito
aumenta exponencialmente em alguém que bebe de seis a oito garrafas de vinho –
ou acima disso – nesse período. Segundo Sharon, nas últimas duas ou três
décadas, houve um aumento de 500% no número de mortes por doenças do fígado na
Grã-Bretanha. Dessas, 85% foram provocadas pelo álcool. O ritmo desse
crescimento começou a diminuir, mas muito recentemente.
"O álcool tem um impacto maior sobre a saúde do que o fumo porque ele
mata em uma idade menor". Segundo o especialista, doenças do fígado
provocadas pelo consumo de álcool matam por volta dos 40 anos de idade.
Álcool x heroína, crack e
cocaína
O consumo de álcool é, cada vez mais, um problema de saúde pública. No
início do ano, o serviço nacional de saúde britânico, NHS, anunciou que
internações associadas ao consumo de álcool na Grã-Bretanha atingiram nível
recorde em 2010. Houve mais de um milhão de internações, em comparação com
945.500 em 2008-2009 e 510.800 em 2002-2003. Quase dois terços dos pacientes
eram homens.
Segundo a entidade
beneficente britânica Álcool Concern, há estimativas de que o número de
internações possa alcançar 1,5 milhão por volta de 2015. Quando são
considerados os perigos para o indivíduo e a sociedade como um todo, o álcool é
mais prejudicial do que drogas como
a heroína e o crack – concluiu um estudo publicado no ano passado na revista
científica The Lancet.
O estudo, feito pelo Comitê Científico Independente sobre Drogas, órgão
científico independente que estuda as drogas e seus efeitos, concluiu também
que o álcool é três vezes mais prejudicial do que a cocaína e o tabaco porque é
usado de forma muito mais ampla.
Consumo recomendado
A diretora de pesquisas do Institute of Alcohol Studies, Katherine Brown,
disse que as orientações atuais sobre o consumo de álcool e a forma como essas
diretrizes são comunicadas à população podem estar contribuindo para a
desinformação do público.
"Precisamos ser cuidadosos quando sugerimos que existe um nível
'seguro' de ingestão. Na verdade, precisamos explicar que existem riscos
associados ao consumo do álcool e que quanto menos você bebe, menor seu risco
de desenvolver problemas de saúde".
Para a especialista, é preciso mudar a percepção de que "beber
regularmente é uma prática normal e livre de riscos".
O médico Nick Sheron concorda. "Não existe um nível seguro. As
pessoas apreciam um drinque, mas precisam aceitar que existem riscos e
benefícios".
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