quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Bebês do crack: crianças nascem dependentes

Bebês do crack: triste realidade em Taubaté


Rede Bom Dia
Avanço do consumo da droga por mulheres grávidas é preocupante, crianças nascem dependentes

Agência O Vale / JULIO CODAZZI

O avanço do crack em Taubaté criou um novo grupo de vítimas: os filhos das dependentes dessa droga, em muitos casos, bebês que ainda nem nasceram.
A afirmação é reforçada por relatos de quem trabalha diretamente com essas mulheres. Um dos exemplos vem do Conselho Tutelar.

“De todos os casos que atendo, 40% são de mães usuárias de droga, o crack lidera a lista. Elas usam o filho como ‘ganha pão’: para mendigar, ganhar alguma bolsa auxílio, algo assim. É esse dinheiro que sustenta o vício delas”, afirmou a conselheira Vilma Kawasaki.

“Temos um caso de uma mulher, de cerca de 25 anos, que já tem sete filhos e está para dar à luz ao oitavo. Ela é usuária de crack e fica pelas ruas. Os outros filhos ela abandonou assim que nasceram. Hoje vivem com parentes”, disse a conselheira Elisângela Souza.

A Polícia Civil também registrou aumento no número de casos desse tipo.
"Normalmente, são ocorrências de maus tratos. Devido ao vício, as mães se tornam agressivas e acabam descontando nos filhos", afirmou a delegada Fernanda Brandão, da Delegacia de Defesa da Mulher.

“Outro problema é que essas mães não se previnem, acabam engravidando várias vezes, o que só aumenta o número de vítimas.”

Consequência. Quando o Conselho Tutelar ou a Polícia Civil recebem um caso desses, existem dois tipos de encaminhamento.

A mãe é orientada a procurar tratamento no Caps-AD (Centro de Atenção Psicossocial - Álcool e Drogas).

Além disso, o caso é levado para conhecimento da Justiça. “Dependendo da gravidade da situação, como por exemplo se houver maus tratos ou abandono, podemos destituir essa mãe”, afirmou o juiz Marco Antonio Monteiro, da Vara da Infância e Juventude.

“Infelizmente, o número de casos envolvendo usuárias de crack tem aumentado cada vez mais. Normalmente, as crianças são abandonadas em hospitais ou passadas, de forma clandestina, para outras pessoas”, afirmou o juiz.

“Em caso de adoção, a lei determina que primeiro nós analisemos se existe algum membro da própria família que pode ficar responsável pela criança. Essa é a prioridade. Se não existir essa opção, aí é caso de ser adotada por outros interessados.”

Tratamento. As mães que aceitam ir para o Caps-Ad recebem tratamento para tentar largar o vício. “Aqui não existe internação. O que oferecemos é um tratamento com uma equipe disciplinar, que dispõe de profissionais como clínico geral, psiquiatra e psicólogo”, afirmou a coordenadora do centro, Danielle Prado Braga.

“Uma vez nós atendemos uma usuária de crack que já tinha duas filhas e estava grávida. Ela não tinha feito nenhum pré-natal, e nem sabia o tempo de gestação. Infelizmente, ela abandonou o tratamento”.

Quem aceita o tratamento, participa de terapias em grupo e também pode integrar oficinas de ressocialização.

“Temos um outro caso, de uma usuária que engravidou. Quando recebeu a notícia de que seria mãe, ela conseguiu largar o crack.”

Drogas na gestação provocam problemas
O uso de drogas durante a gestação pode causar danos ao bebê. É o que alertam entidades da região que atendem casos de gravidez de risco.

Entre as principais complicações estão baixa estatura, baixo peso, retardo mental, retardo comportamental e também má formação congênita.

“Em alguns casos, a criança pode até ter crises de abstinência após o parto, pois o organismo já estava acostumado com a droga”, afirmou Ketrin Mara Sampaio, responsável pela Casa da Mãe Taubateana.

Incidência. Em São José dos Campos, 10% dos casos de gravidez atendidos pelo Projeto Casulo, da Secretaria Municipal de Saúde, são de gestantes dependentes químicas. O álcool representa 40% do total. O restante tem relação com outras drogas, como maconha, cocaína e crack.
RAIO-X

MAPA
Um levantamento realizado em parceria entre prefeitura e Polícia Militar já mapeou mais de 80 pontos de consumo de crack em Taubaté.

PERFIL
Cerca de 75% desses pontos são imóveis abandonados, que viraram pequenas cracolândias. Em média, cada espaço concentra cinco usuários do entorpecente.

SOLUÇÃO
Para eliminar esses pontos, a prefeitura tenta, junto à Justiça, autorização para demolir as moradias abandonadas. Além disso, o telefone 199, da Defesa Civil, também recebe denúncias sobre locais de consumo de crack.

Preconceito contra transtornos pode virar crime

Psiquiatras querem tornar crime preconceito contra transtornos

Jornal Folha de S. Paulo
DENISE MENCHEN
A Associação Brasileira de Psiquiatria quer tornar crime o preconceito contra pessoas com transtorno ou deficiência mental, batizado de psicofobia. Encampada pelo senador Paulo Davim (PV-RN), a proposta foi apresentada em agosto como emenda ao projeto do novo Código Penal, que tramita no Congresso.
Pela proposta, a psicofobia integrará o mesmo capítulo que trata do racismo e do preconceito de gênero. Assim, passaria a ser considerada crime, sujeita à prisão de dois a quatro anos, série de ações motivadas pela presença de transtornos ou deficiências mentais, como impedir nomeação a cargo público, demitir de empresa ou vetar acesso a transporte ou estabelecimentos comerciais.
O texto prevê pena maior, de três a seis anos, para os casos em que a presença de deficiência ou transtorno resulte no impedimento de inscrição em estabelecimento de ensino ou na dificuldade de acesso aos recursos necessários para a aprendizagem.
"O Ministério da Saúde estima que o Brasil tenha 46 milhões de pessoas que padecem de transtornos mentais", diz Davim. "O preconceito contra essa população deve ser tratado da mesma forma que o de raça ou gênero."
Para o presidente da ABP, Antonio Geraldo da Silva, a discriminação piora o quadro de saúde mental no país. "O preconceito faz com que as pessoas deixem de procurar tratamento", afirma.
Denise Ghigiarelli, 46, diz já ter vivido essa dificuldade com o filho, Emanuel, 15, diagnosticado com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. "Quando ele era menor, os colegas diziam que ele era retardado porque tinha que tomar remédio. Acabava que muitas vezes ele jogava o medicamento fora."
Ghigiarelli é favorável à inclusão da psicofobia no Código Penal. Ela diz que, se o crime já existisse, teria denunciado a professora que tentou impedir a presença do menino em feira de ciências.
"Ela disse que ele era muito estabanado e não ia participar. Tive que ir lá para intervir", afirma ela, que decidiu trocar o filho de escola.
EMPREGO
Já o vigilante Marcos Aliank, 27, atribui ao preconceito sua demissão do trabalho em abril deste ano, menos de cinco meses após ter sido contratado.
Segundo ele, a decisão foi tomada depois que o chefe tomou conhecimento de que ele estava em tratamento para dependência química no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) da cidade.
"Eu nunca tinha tido nenhuma reclamação sobre meu serviço lá dentro", afirma Aliank, que começou a usar cocaína e crack em 2009.
"O pior é que a cidade é pequena e a história se espalhou. Não consigo mais emprego, mesmo já não usando mais drogas", diz ele.

Cientistas criam bafômetro que identifica câncer

Cientistas criam bafômetro que identifica câncer

IG

EQUIPAMENTO É CAPAZ DE DIAGNOSTICAR CASOS NO PULMÃO E NOS RINS E REDUZ A NECESSIDADE DE EXAMES INVASIVOS E DOLOROSOS


Estados Unidos -  Um estudo conduzido pelo Instituto de Tecnologia de Israel desenvolveu um bafômetro que pode identificar casos de câncer de pulmão e de rim. O modelo seria capaz de detectar se um nódulo no pulmão ou na região renal tem potencial para se transformar em tumor, no futuro.
O aparelho analisou compostos químicos e conseguiu distinguir nódulos malignos dos benignos. Além disso, ele foi capaz de identificar o tipo de tumor e se a doença já estava em estágio avançado.
A técnica representa um grande avanço já que as tomografias feitas hoje são capazes de encontrar um nódulo, mas não de caracterizá-lo. Para isso, os pacientes têm que passar por procedimentos invasivos e dolorosos.
Além de evitar testes agressivos para o corpo, o bafômetro traz m um diagnóstico mais rápido, possibilitando a antecipação do início do tratamento.

No combate ao câncer, quanto mais cedo o tratamento começar, maior a chance de ter sucesso.
Segundo os autores do estudo, os resultados podem ter impacto signficante na redução de investigações desnecessárias e na diminuição no risco de cirurgias. O invento pode também dar mais agilidade à intervenção médica, economizando tempo clínico em exames mais demorados que teriam os mesmos resultados que os do bafômetro.
O aparelho foi testado em 74 pacientes americanos entre março de 2009 e maio 2010. Desde então, esses pacientes foram acompanhados para uma identificação mais precisa dos nódulos. Os que não evoluíram ao longo de dois anos foram considerados benignos.

A droga invade a faculdade

A droga invade a faculdade

Correio Braziliense

Quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados no país admitem ter usado entorpecentes.
No DF, a situação se repete, segundo professores e alunos. Com medo de represálias, docentes se calam. A Secretaria de Justiça e Cidadania pretende ensiná-los a lidar com o problema.

Saulo Araújo/Ariadne Sakkis


"Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos" Rodrigo de Paula,presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares.
"Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados".
Luiz Alexandre Gratão, delegado-chefe da Cord
O flagelo das drogas não se restringe ao universo das escolas. Nas faculdades públicas e privadas do Distrito Federal, o problema se repete. Em muitas delas, combater o consumo é mais complicado do que nos centros educacionais. Por lidar com um público adulto e que paga pelos estudos, a maioria dos professores tem dificuldade para controlar a entrada de substâncias ilícitas em sala de aula.

A mais recente pesquisa feita pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) mostra que quase 50% dos 18 mil universitários entrevistados admitiram ter usado algum tipo de entorpecente. O estudo não faz um recorte por unidade da Federação, mas especialistas, professores e alunos ouvidos pelo Correio confirmam a realidade na capital. Numa faculdade privada de Taguatinga, a polícia teve de agir para acabar com o tráfico explícito na entrada da instituição. O episódio ocorreu em janeiro. Na ocasião, dois homens, sendo um estudante, foram presos acusados de vender maconha e cocaína.

O presidente do Sindicato dos Professores das Entidades de Ensino Particulares (Sinproep), Rodrigo de Paula, confirma a rotina de medo. Segundo ele, é comum alunos sob efeito de drogas ameaçarem servidores. Mas, por medo de represálias, a maioria dos trabalhadores prefere não comunicar o episódio à polícia e ao sindicato da categoria. “Parece uma coisa distante do universo universitário, mas não é. São recorrentes os casos de professores ameaçados por tentarem enfrentar estudantes dependentes químicos. O problema é que ficamos sabendo desses episódios por meio do boca a boca, pois é natural que eles (professores) fiquem com receio de fazer uma denúncia formal”, explica Rodrigo.

Na tentativa de mudar essa realidade, a entidade sindical, em parceria com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), abriu inscrições para um curso no qual educadores aprenderão como lidar ao se deparar com alunos drogados. A primeira turma deve ser formada em outubro. “Percebemos que muitos professores não sabem o que fazer diante de um problema tão sério. Com uma abordagem direcionada e correta, acreditamos que as soluções para esses conflitos possam ser encontradas de forma mais tranquila”, frisou Rodrigo de Paula.

Festas badaladas
As universidades mais tradicionais e caras de Brasília não estão livres das drogas. Cientes do alto poder aquisitivo dos estudantes, traficantes seduzem jovens para festas badaladas promovidas em mansões situadas em bairros nobres. Nesses eventos, predomina o consumo de drogas sintéticas, como o ecstasy e o LSD. A cocaína escama de peixe, quase 100% pura, também é bastante procurada por estudantes universitários com bom padrão financeiro.
No primeiro semestre deste ano, a Coordenação de Repressão às Drogas (Cord) apreendeu 397 kg de cocaína. Desse total, aproximadamente 4kg eram do tipo escama de peixe. O quilo desse pó chega a custar R$ 100 mil nos bairros nobres. Nas cidades mais pobres, o preço cai para R$ 40 mil pela mesma quantidade. Parte desse narcótico é consumido por aspirantes a médicos, engenheiros, administradores, entre outros profissionais. “Volta e meia, prendemos um estudante universitário envolvido com quadrilhas especializadas em tráfico de drogas. É triste para os pais, que ficam muito surpresos e decepcionados quando descobrem que seus filhos estão envolvidos com esses grupos”, afirma o delegado-chefe da Cord, Luiz Alexandre Gratão.

Estudo interrompido
Foi justamente numa festa de fim de ano promovida por estudantes do curso de publicidade que o jovem Luiz*, 26 anos, entrou no submundo das drogas. Começou com a maconha, passou para a cocaína e, por muito pouco, não chegou ao fundo do poço com o crack. “Teve um dia que cheirei (cocaína) tanto que criei coragem para experimentar coisas novas. Estava disposto a conhecer o crack e só não comprei uma pedra porque um amigo meu que cheirava comigo impediu”, afirma.

O vício fez Luiz interromper uma promissora carreira. Os pais trancaram a matrícula do rapaz no terceiro semestre e o internaram numa clínica de reabilitação. Há seis meses, ele não usa nenhum tipo de substância ilícita, mas ainda não se sente preparado para voltar a estudar e encontrar os amigos que lhe ofereceram a primeira carreira de pó. “Acho melhor esperar mais um tempo. Quero me desligar dessa turma, sair dessa faculdade e começar uma vida nova”, vislumbra Luiz.

Para a titular da Promotoria de Educação, Márcia Pereira da Rocha, a prevenção ao uso de drogas deveria ocorrer desde os primeiros anos da criança na escola, com uma participação bem mais ativa do Estado e da família. “A escola, no Brasil, é um palco da visualização da violência que ocorre na cidade. Não foi ela (escola) que estimulou o uso e ela não é culpada pelo que está ocorrendo dentro dela. Se não houver uma ação multidisciplinar para o enfrentamento desse problema, não podemos esperar que apenas os professores tenham condições de mudar esse cenário”, analisa a promotora.
*Nome fictício a pedido do entrevistado
Memória
Alunos da UnB detidos
Em novembro de 2008, uma operação desencadeada pela Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), da Polícia Civil, terminou com a prisão de sete pessoas, entre elas dois estudantes da Universidade de Brasília (UnB). Pedro Ivo Vianna e Rogério Fenner Santos foram apontados como integrantes de uma quadrilha envolvida com o tráfico de drogas interestadual. O grupo compraria os entorpecentes no Rio de Janeiro e em Mato Grosso do Sul e revenderia no Distrito Federal, inclusive dentro da UnB. Estima-se que o comércio movimentava pelo menos 10kg de haxixe por semana, além de LSD e ecstasy. Pedro Ivo foi condenado a 15 anos de prisão. O processo de Rogério ainda tramita no Superior Tribunal de Justiça

Maconha pode provocar câncer nos testículos

Estudo indica ligação entre maconha e câncer nos testículos

Terra.com.br
Um estudo da Universidade do Sul da Califórnia (USC) publicado na revista especializada online Cancer indica uma ligação entre o consumo de maconha e o aumento no risco de desenvolver câncer nos testículos. Segundo a pesquisa, o risco existe até no uso dos derivados da droga com propósitos terapêuticos em homens jovens.
O subtipo é a forma mais comum de câncer entre homens dos 15 aos 45 anos e está cada vez mais comum, o que os cientistas acreditam que seja resultado do aumento à exposição a causas ambientais desconhecidas. Os pesquisadores avaliaram 163 casos de homens jovens com tumor nos testículos e compará-los com 292 homens saudáveis de mesma faixa etária, etnia e raça.
Segundo o estudo, aqueles que usaram maconha tinham duas vezes mais chances de ter alguns subtipos mais perigosos do câncer de testículo. É a terceira pesquisa que indica uma ligação entre a droga e o câncer de testículo.
"Nós não sabemos o que a maconha ativa nos testículos que pode levar à carcinogênese, apesar de especularmos que ela possa estar atuando através do sistema endocanabinoide - a rede celular que responde ao princípio ativo da maconha -, pois este sistema se mostrou influente na formação do esperma", diz Victoria Cortessis, da USC.

Efeitos da abstinência da Cocaína no cérebro

Estudo explica os efeitos da abstinência de cocaína no cérebro

Correio Braziliense

France Presse

Washington - Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos descobriu parte do que acontece no cérebro, em nível celular, e que faz com que os dependentes em cocaína se sintam tão mal quando sofrem síndrome de abstinência, segundo estudo publicado nesta segunda-feira (10/9).
Os resultados oferecem uma compreensão maior sobre os mecanismos que criam uma avassaladora sensação depressiva naqueles que param de usar a droga e dar pistas aos cientistas que querem mitigar estes sintomas, evitando assim que o usuário em tratamento sofra uma recaída.
Estudando ratos geneticamente modificados, os pesquisadores se concentraram em uma molécula, chamada receptor canabinoide tipo 1 ou CB1, que diminui a comunicação entre células nervosas.
Esta molécula é particularmente importante na área do cérebro conhecida como núcleo accumbens, que comanda as emoções e as motivações.
Já se sabia que a cocaína provoca forte efeito nesta área do cérebro. Mas este é o primeiro estudo a demonstrar o impacto da cocaína na produção de CB1 e o que isto representa na área do núcleo accumbes durante e depois de uma elevação provocada pela cocaína.
Quando uma pessoa tem uma sensação motivadora produzida pela cocaína "tudo se acelera e (ela) te empurra a um estado emocional altamente gratificante", afirmou o principal autor do estudo, Bradley Winters.
Nos ratos, a cocaína induziu a produção excessiva de CB1, o que efetivamente afetou a contenção de hiperatividade no núcleo accumbes. "É parecido com descer uma colina íngreme. É preciso pisar fundo no freio", explicou Winters em um comunicado.
O problema é que o cérebro não parece saber como soltar o freio assim que o efeito da cocaína desaparece.
"Você continua pisando forte no freio. Agora, está descendo uma colina normal, de baixa elevação, mas continua a 3 km por hora porque o teu pé continua grudado no freio", comparou.
"O estado é similar a 'me sinto muito mal e não quero fazer nada'" continuou o cientista, acrescentando que "isto é o que faz com que você volte a usar a droga porque quer se sentir melhor e a droga é a única coisa que te motiva".
O estudo foi publicado na edição desta segunda-feira das Atas da Academia Nacional de Ciências

Abuso de álcool causa AVC

Estudo mostra conexão entre abuso de álcool e AVC hemorrágico

Agência FAPESP – 

Uma nova pesquisa realizada na França mostra que indivíduos que bebem mais de três doses de bebidas alcoólicas por dia podem correr o risco de sofrer acidentes vasculares cerebrais (AVC) com uma antecedência de quase 15 anos em comparação com as pessoas que não fazem uso pesado de álcool.

O estudo foi publicado nesta terça-feira (11/9), na edição impressa da revista Neurology, editada pela Academia Norte-Americana de Neurologia. De acordo com uma das autoras do estudo, Charlotte Cordonnier, da Universidade de Lille-Nord (França), o estudo teve foco nos efeitos a longo prazo do uso abusivo de álcool, em relação à ocorrência de AVCs hemorrágicos.
“O consumo pesado de álcool tem sido identificado de forma consistente como fator de risco para este tipo hemorrágico de AVC, que é causado por um sangramento no cérebro, em vez de um coágulo de sangue como ocorre no AVC isquêmico", disse uma das autoras do estudo, Charlotte Cordonnier, da Universidade de Lille-Nord (França).
O estudo incluiu entrevistas sobre os hábitos de consumo de 540 pessoas com idade média de 71 anos que haviam sofrido AVC com hemorragia intracerebral. Os médicos também entrevistaram os cuidadores e familiares a respeito dos hábitos de consumo dos participantes.
Um total de 137 pessoas – ou 25% do total – apresentou comportamento de consumo pesado de álcool. A definição de consumo pesado corresponde ao consumo de três ou mais doses de bebidas alcóolicas por dia, ou o equivalente a 47,3 mililitros diários de álcool puro. Os participantes também foram submetidos a exames cerebrais de tomografia computacional e seus prontuários médicos foram revisados.
O estudo revelou que os indivíduos que fizeram consumo pesado de álcool sofreram AVC com uma idade média de 60 anos – cerca de 14 anos antes da idade média de idade dos participantes que não faziam consumo pesado de álcool.
Entre os indivíduos com menos de 60 anos que sofreram um AVC na parte profunda do cérebro, os bebedores pesados tinham maior probabilidade de morrer no período de dois anos de acompanhamento do estudo, em comparação com os que não faziam uso pesado do álcool.
"É importante destacar que o consumo de grandes quantidades de álcool contribui para uma forma mais grave de AVC em idade precoce em pessoas que não tinham histórico médico significativo", disse Cordonnier.
O artigo de Charlotte Cordonnier e outros, pode ser lido por assinantes da Neurology emwww.neurology.org/

Dependência de crack é maior entre as mulheres

Dependência de crack é maior entre as mulheres, aponta estudo

Dados inéditos mostram que entre elas índice do vício é de 54%, contra 42% neles. Especialistas explicam que hormônio feminino reforça ação prazerosa da droga e acelera a dependência.


Fernanda Aranda, iG São Paulo
Dados inéditos da pesquisa nacional que mapeou o consumo de crack e cocaína no Brasil mostram que as mulheres acabam mais dependentes do pó e das pitadas no cachimbo do que os homens.
O levantamento feito pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que o País soma 2,6 milhões de usuários destas subastâncias, consumidas de forma aspirada ou fumada.
Apesar dos homens serem líderes na taxa de uso de crack e cocaína, entre as mulheres usuárias o índice de dependência foi de 54%. Já no sexo masculino, os pesquisadores detectaram que 46% são viciados, diferença de oito pontos porcentuais entre os gêneros.
Os especialistas afirmam que o organismo delas é mais vulnerável à ação dos entorpecentes. Isso explica por que elas são mais numerosas nos índices de dependência. A mesma razão também está por trás de outras estatísticas encontradas no estudo da Unifesp: 40% das usuárias relataram usar as drogas mais de duas vezes por semana contra 24% dos homens. Além disso, duas em cada dez mulheres já injetaram cocaína (20%), mais do que o dobro de usuários do sexo masculino que recorrem a esta forma de uso (8%).
Para identificar quantos usuários se enquadram nos quesitos de dependência, que envolvem sintomas psicológicos (como compulsão e depressão) e sinais físicos (tremedeira, dores de cabeça e no corpo), os pesquisadores aplicaram questionários com 42 perguntas em 4 mil moradores de todas as regiões do País, de todas as classes sociais e escolaridades. Por serem representativos do Brasil, os achados podem ser estendidos a toda população brasileira.
A psicóloga Clarice Madruga, uma das autoras do mapa do uso do crack e cocaína no Brasil, diz que “é sabido que a progressão da dependência é mais rápida entre mulheres.”
Segundo ela, estudos anteriores já mostram quem os hormônios femininos (principalmente o estrogênio) podem estar envolvidos nesta maior vulnerabilidade.
“Este hormônio potencializa os efeitos da droga, pois a torna mais prazerosa e, portanto, aumenta o poder de dependência”, define Clarice.
A estrutura hormonal feminina já apareceu como uma das razões para as jovens entre 24 e 35 anos serem líderes em consumo exagerado de álcool, conforme detectou estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) feito com mulheres brasileiras e divulgado há quatro meses. Por causa dos hormônios, a conexão das drogas com o cérebro é mais rápida. Elas “precisam de menos quantidade e menos tempo de uso de tóxico para ficarem viciadas”, explicou Camila Silveira, pesquiatra do Centro de Informações Sobre Álcool e Drogas (Cisa) e autora do estudo da OMS feito no Brasil.
Associadas aos fatores fisiológicos estão as questões comportamentais que favoreceram o uso de crack, cocaína e outras drogas pelas mulheres. Até 30 anos atrás, pontuam os estudiosos, não era socialmente aceito que a população feminina consumisse qualquer tipo de droga.
Na época, a razão registrada pelos centros de atendimento era de 5 homens usuários para cada mulher. Hoje, no grupo etário menor de 30 anos, a proporção já é de 1 caso masculino para 1 feminino, indicou levantamento feito pelo Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).
Outros números que atestam o crescimento feminino na utilização de drogas são os do DataSUS, banco virtual do Ministério da Saúde, abastecido pelos hospitais públicos e privados do País. Entre 2008 e 2001, as internações de mulheres devido o uso de substâncias psicoativas (entram na lista álcool, maconha, crack, cocaína, ansiolíticos e remédios para emagrecer, por exemplo) cresceram 21,1%, passando de 13.876 casos para 16.804, segundo levantamento feito pelo iG Saúde.
Se elas já estão mais numerosas, ainda enfrentam barreiras para procurar ajuda especializada. Nos grupos de estudo da USP e da Unifesp, as mulheres chegam com até 10 anos mais de uso crônico de drogas do que os homens. Entre as justificativas apontadas estão: vergonha, preconceito e também limitações como, por exemplo, impossibilidade de deixar os filhos em casa para ser submetida a uma internação de 3 meses.
Na primeira clínica pública de São Paulo destinada ao tratamento de drogas, inaugurada pelo governo de São Paulo em São Bernardo do Campo, até o início do ano passado, 46%  dos leitos  exclusivos para mulheres estavam vazios devido à baixa procura.
“Sabemos que demanda existe, mas espontaneamente elas ainda não chegam até nós”, comentou na época a psiquiatra, então responsável pelo serviço, Alessandra Diehl, atualmente membro da Associação Brasileira de Estudo sobre Álcool e Drogas (Abead).
Em resposta, algumas políticas públicas para as mulheres dependentes já começaram a ser lançadas. No Rio Grande do Sul, as agentes sociais tentam fazer o trabalho de recuperação com a paciente, quase sempre a chefe da família e das crianças.
Em São Paulo, o Hospital Leonor Mendes de Barros, referência de maternidade para a área central, onde está a cracolândia, foi criada uma enfermaria específica para grávidas usuárias de crack.

Demissão por justa causa x alcoolismo








Comissão da Câmara aprova projeto que proíbe demissão por justa causa em casos de alcoolismo


Marcos Chagas
Repórter da Agência Brasil
Brasília - O trabalhador dependente de álcool só poderá ser demitido por justa causa quando recusar tratamento médico, inclusive os oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso é o que prevê o projeto de lei aprovado hoje (12) na Comissão de Assuntos Sociais do Senado que, agora, será votado na Comissão de Constituição e Justiça antes de ser remetido à Câmara dos Deputados.
Hoje, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê a embriaguez habitual ou em serviço como uma das hipóteses passíveis de demissão por justa causa. Pela proposta, os casos de alcoolismo passam a ser tratados como doença.
'É urgente a atualização da norma para que ela passe a refletir aquilo que a sociedade como um todo já compreendeu e assimilou: o alcoolismo é doença e não desvio de caráter', ressaltou o relator do projeto de lei Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
O parlamentar ressaltou ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Justiça brasileira, quando acionada, reconhecem que ao trabalhador dependente de álcool não se aplica a demissão por justa causa. Rollemberg acrescentou que pelo entendimento dos juízes, essa 'demissão sumária' agrava ainda mais a baixa estima do dependente.
Também foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais projeto de lei que estabelece que pacientes portadores de câncer maligno terão prioridade no tratamento do SUS especialmente em casos de necessidade de controle da dor. A matéria tem como relatora a senadora Ana Amélia (PP-RS) e estabelece que o paciente, para usufruir dessa prioridade, deve estar cadastrado em programa especial de controle da dor oncológica.
Esses pacientes terão acesso a medicamentos fornecidos pela saúde pública. De acordo com o projeto, após a aprovação pelo Congresso, o governo federal terá um prazo de 90 dias para regulamentar a matéria.
Edição: Talita Cavalcante

Tabagismo favorece o aparecimento de esclerose múltipla



Tabagismo é um fator de risco ambiental associado ao desencadeamento da esclerose múltipla


Clica Brasília 

No mês de conscientização sobre a esclerose múltipla, a Academia Brasileira de Neurologia chama, mais uma vez, a atenção da sociedade civil para os fatores associados ao desenvolvimento da doença.
 Somente fatores genéticos não são suficientes para manifestar a enfermidade. Fatores ambientais são também associados à doença. Destacamos aqui a contribuição do tabagismo, um fator ambiental que pode ser modificado apenas com uma mudança de hábito.

A atual coordenadora do Departamento de Neuroimunologia da Academia Brasileira de Neurologia, Dra. Doralina Guimarães Brum, destaca que vários estudos epidemiológicos apontam o tabagismo como um agravante na manifestação da esclerose múltipla desde os anos 60. Alguns estudos encontraram uma correlação entre o tempo de tabagismo e o número de cigarros fumados com o risco de aparecimento da doença. "A interação do tabagismo com os fatores genético necessitam de mais estudos para esclarecer os mecanismos envolvidos, mas já há evidências suficientes para alertar os pacientes com EM e seus familiares sobre a influência negativa do tabagismo sobre a doença", explicou a Neurologista.

A doença

Equivocadamente a esclerose múltipla pode ser associada à terceira idade, porém mulheres, entre 20 e 40 anos, são as principais atingidas pela doença. Segundo a Dra. Suzana Nunes Machado, membro da Academia Brasileira de Neurologia, a incidência é de 18 em cada 100 mil pessoas apenas nas regiões Sul e Sudeste.

O diagnóstico da doença, no entanto, ainda é confundido devido aos sintomas constantemente associados a outras doenças. Quando o diagnóstico é equivocado, compromete o tratamento.

"A esclerose múltipla vem, na maior parte das vezes, de forma súbita e pode haver recuperação espontânea. Frequentemente ocorrem outros períodos de piora, às vezes, com sintomas diferentes do anterior. Dores podem ocorrer e algumas queixas podem ser confundidas com problemas na coluna", explica Dra. Suzana.

O diagnóstico, por sua vez, é confirmado com exame clinico e, além disso, ressonância magnética do encéfalo e da medula espinhal. Entre os principais indícios da doença, de acordo com a neurologista, estão a fraqueza de um ou mais membros, dificuldade para falar e caminhar, falta de coordenação motora, visão dupla e até mesmo perda de visão repentina e dormências em partes do corpo.

Tratamento

A esclerose múltipla ainda não tem cura, mas já existem alguns tratamentos medicamentos capazes de melhorar a qualidade de vida do paciente. E muitos dos medicamentos utilizados já estão disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Entre os direitos do paciente com esclerose múltipla estão:

- Acesso a medicamentos de alto custo;
- Passe livre fornecido pelo governo federal, isto é, gratuidade no transporte coletivo interestadual convencional por ônibus;
- Acesso a estacionamento especial para portadores de deficiência física ou com mobilidade reduzida;
- Direito ao auxílio-doença;
- Direito à aposentadoria por invalidez;
- Isenção de imposto de renda;
- Descontos em IPI, ICMS e IPVA, na compra de carros zero quilômetro.

Efeito do chá do Santo Daime - Ayahuasca - no cérebro

Chá do Santo Daime ativa áreas da visão e da memória, aponta estudo           


G1
Cientistas apresentam no interior de SP efeitos da ayahuasca no cérebro.
Bebida alucinógena é usada em rituais religiosos em quase 40 países.
Luna D'AlamaDo G1, em São Paulo
Os efeitos sobre o cérebro causados pela substância alucinógena ayahuasca, mais conhecida como "chá do Santo Daime", viraram tema de uma apresentação científica neste sábado (25/08) em Águas de Lindoia, no interior de São Paulo. Quatro pesquisadores mostraram seus estudos sobre a bebida na 27ª Reunião Anual das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), que ocorre na cidade desde quarta-feira (22/08).
Um dos estudos, conduzido pela Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, analisou a atividade cerebral de cinco homens e cinco mulheres, entre 24 e 48 anos, antes e após 40 minutos da ingestão do chá. Cada voluntário passou por dois exames de ressonância magnética.
Segundo o professor adjunto do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Tiago Sanchez, que foi co-autor da pesquisa, liderada entre 2007 e 2011 pelo professor Draulio de Araújo, hoje na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), a bebida ativa uma região do cérebro relacionada à memória e outra ligada à visão, mesmo se a pessoa estiver com os olhos fechados.
Isso poderia esclarecer, por exemplo, as visões ou imagens de caráter espiritual que os praticantes relatam.
"Esse fenômeno, assim como um sonho lúcido, poderia explicar o caráter realístico e místico das visões durante os rituais com ayahuasca", afirma Sanchez.
De acordo com ele, estudos anteriores já mostraram que o chá atua nas mesmas conexões da serotonina, neurotransmissor ligado às sensações de prazer e bem-estar.
Substâncias do Santo Daime
Outro palestrante presente no debate sobre os efeitos do chá do Santo Daime no corpo foi o neurocientista e pesquisador da Unifesp Eduardo Schenberg, que pretende iniciar uma pesquisa sobre o tema até o fim do ano, com 18 voluntários.
Schenberg deve analisar as variações nos níveis de cortisol, o hormônio do estresse, após a ingestão da ayahuasca. Além disso, quer observar como o organismo humano metaboliza , ou seja, aproveita as substâncias contidas no chá.
Para isso, será feita uma eletroencefalografia, exame que põe eletrodos no couro cabeludo e analisa as correntes elétricas do cérebro, após cada participante ingerir uma cápsula de chá desidratado ou de placebo, que não tem efeitos químicos sobre o corpo.
"A bebida tem uma farmacologia bem complexa, que inclui pelo menos quatro substâncias importantes. Três delas atuam no sistema de transmissão da serotonina e a quarta, chamada de dimetiltriptamina ou DMT, ativa a área do cérebro que induz a visões de caráter realista", ressalta Schenberg.
Segundo o neurocientista, a bebida já foi "exportada" pelo Brasil para 38 países, onde funcionam unidades das igrejas do Santo Daime, da União do Vegetal e da Barquinha.
O pesquisador ainda procura voluntários para o estudo, e os interessados podem entrar em contato com o Departamento de Psiquiatria da Unifesp. É preciso ter mais de 21 anos, já estar iniciado nesse ritual, não usar drogas, antidepressivos nem ter doenças psiquiátricas ou neurológicas.
Além dos dois trabalhos, apresentaram-se na Fesbe, neste sábado, os pesquisadores Luis Eduardo Luna e Suely Mizumoto, que falaram, respectivamente, sobre antropologia e história da ayahuasca e sobre escalas para avaliar as imagens mentais geradas por ela.

Álcool: ingestão moderada causa prejuízo ao organismo

Mesmo a ingestão moderada de álcool causa prejuízo ao organismo


Jornal O Estado de Minas
Terceira causa de óbitos no mundo, consumo excessivo de álcool tem ação devastadora no organismo até mesmo quando as ingestões da bebida são moderadas, dizem cientistas
Roberta Machado - Correio Braziliense
 Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o consumo de álcool é a terceira causa de mortes no mundo, matando 2,5 milhões de pessoas todos os anos. No entanto, as vidas que são tiradas pelo consumo irresponsável dessa droga vão além dos acidentes de trânsito, dos abortos e dos danos ao fígado. As consequências da ingestão da bebida são alvo de pesquisas que, ao longo dos últimos anos, têm sido capazes de mostrar que ela é nociva para diversas áreas do organismo, como o sistema cardiovascular, o cérebro e o coração. Mesmo teorias antigas, como a ligação entre o álcool e o câncer, têm sido reforçadas com experimentos inéditos que destacam a mensagem de que a droga pode ser mortal.


A relação entre a ingestão de bebidas alcoólicas e o surgimento de tumores é discutida há 30 anos, mas somente agora o processo foi testado em humanos. A pesquisa foi divulgada na semana passada, durante o Encontro Nacional da Sociedade Americana de Química. Sabe-se há algum tempo que o álcool, quando é metabolizado pelo corpo, transforma-se em uma substância chamada acetaldeído, um composto com potencial cancerígeno. Para mostrar pela primeira vez como o processo é danoso ao organismo, a pesquisadora Silvia Balbo, do Instituto do Câncer da Universidade de Minnessota, deu doses de vodca a 10 voluntários e analisou seus genes poucas horas depois.

Ela notou que o DNA deles apresentava uma grande quantidade de aductos, uma espécie de ligação que causa mutações no código genético. Essas combinações eram feitas justamente com o acetaldeído, formado a partir do álcool. A proteção contra esse processo está na enzima álcool desidrogenase (ADH), que converte o acetaldeído e impede que as ligações causem mutações. Mas não é possível depender da ANH em casos de bebedeira extrema. “Conforme aumentávamos as doses de bebida, observávamos mais aductos. Portanto, quanto mais a pessoa beber, mais tempo vai levar para o corpo eliminar os aductos e o álcool, e mais acetaldeído ficará no corpo”, resume Silvia.

O mecanismo de proteção também falha em pessoas com uma variante ineficiente da ADH, em sua maioria asiáticos e pessoas de sangue indígena. “Tudo acontece num balanço de ativação de danos e reparos feitos por essas enzimas, mas há pessoas que ativam ou reparam mais. É óbvio que, no primeiro caso, existe maior risco de câncer”, ilustra Gilberto de Castro Jr., oncologista do Instituto de Câncer de São Paulo (Icesp). Estima-se que 1,6 bilhão de pessoas estejam no grupo étnico de risco e que 10% dos casos de câncer sejam relacionados ao abuso do álcool. “Mas ninguém vai saber exatamente qual é o risco da pessoa, pois alguns desses mecanismos ainda são desconhecidos. Logo, a exposição deve ser evitada”, alerta Gilberto.

De acordo com Silva Balbo, o consumo de álcool já é ligado a casos de câncer de fígado, de esôfago, de cólon, de mama e de cabeça e pescoço. Pesquisadores da Associação Norte-Americana para a Pesquisa do Câncer apontaram que quem bebe muito pode ter até 75% mais chances de desenvolver um tumor gástrico. Já a Associação Médica Americana (AMA) mostrou que há mais riscos de câncer de pâncreas para as pessoas que bebem mais de três drinques por dia, basta a mesma quantidade por semana para que uma mulher tenha 15% a mais de probabilidade de ter câncer de mama, e duas doses por dia para aumentar essa chance para 51%.

Riscos variados 
Além do câncer, efeitos da bebida são vistos também nos sistemas cardiovascular, gastrointestinal e nervoso central. De acordo com especialistas, mesmo o consumo moderado pode causar danos permanentes no corpo. “Quanto mais gente em uma população beber álcool, mais problemas esse país terá, independentemente da moderação do hábito”, resume Ilana Pinsky, psicóloga e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). O problema é ainda maior se o hábito for precoce. “É importante adiar o máximo possível o início do consumo. Estudos mostram que quanto mais cedo o jovem inicia a ingestão de bebida alcoólica, maior a probabilidade de ele ter dependência na faixa dos 20 anos”, alerta Ilana.

Segundo a psicóloga, a bebida pode atrapalhar também a formação do cérebro do adolescente. A teoria foi comprovada em estudos como o da médica Alicia Ann Kowalchuk, que mostra que o consumo exagerado de álcool, mesmo isolado, afeta permanentemente o córtex pré-frontal, cujo desenvolvimento só termina aos 25 anos. “O álcool é neurotóxico e mata ainda mais células cerebrais sob altas concentrações de álcool no fluido cerebrospinal. No caso dos jovens, as conexões novas do córtex pré-frontal são mais suscetíveis aos efeitos tóxicos do álcool que as dos adultos”, explica Alicia.

Efeitos mais imediatos podem ser sentidos por pessoas que sofrem de problemas cardíacos, como a fibrilação atrial. Batizada de síndrome do coração de feriado, a combinação entre essa condição e a bebida excessiva resulta em uma chance 4,5 vezes maior de surgimento da palpitação cardíaca acelerada, que pode causar hipertensão. Outro experimento, realizado com ratos, aponta ainda que o álcool afeta a mitocôndria do coração, responsável por fornecer energia ao órgão. Isso ocorreria porque a substância aproxima a organela do retículo endoplasmático, sobrecarregando a mitocôndria com cálcio. Ainda há estudos indicando que a bebida alcoólica atrapalha a resposta imune do corpo, atrasando a recuperação de ossos quebrados ou desencadeando alergias.

Mas, o sinal mais claro dos efeitos negativos do álcool no corpo talvez seja o mal-estar digestivo. De acordo com um estudo divulgado pelo Colegiado Norte-Americano de Gastroenterologia, basta apenas um drinque por dia para que uma pessoa sofra sintomas como gases, dores abdominais ou diarreia. De 198 pacientes estudados com esses sinais, 95% consumiam álcool com frequência.

Isso ocorre porque a substância leva a um crescimento de bactérias no intestino delgado, condição que pode levar à má nutrição. “O álcool rompe vários dos mecanismos de defesa do intestino delgado, que mantém a quantidade de bactérias sob controle. Quando essas defesas são quebradas, as concentrações de bactérias podem aumentar”, ensina o autor do estudo, o médico Scott Gabbard. As consequências da bebida, aponta ele, são similares às da síndrome do intestino irritado. “Se um paciente reclama de excesso de gases, inchaço e diarreia, é razoável considerar se abster do álcool para ver se há uma diminuição dos sintomas”, completa.