Crack
vira problema crônico de saúde pública em Salvador
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A Tarde
Online Hieros Vasconcelos Rego
A
ausência de políticas públicas para o tratamento de usuários de crack e
outras drogas em Salvador tem causado desperdício de dinheiro pelo poder
público e afetado o cidadão, o turismo e a segurança pública. Espalhados
pelas ruas, pontos turísticos e sinaleiras da capital baiana, os usuários
impõem medo aos transeuntes, levam comerciantes a fecharem as portas mais
cedo e afastam turistas, afetando, indiretamente, a economia da cidade em
locais como o Centro Histórico, Barra e Rio Vermelho, por exemplo.
Num
universo de, no mínimo, 2.400 usuários de crack morando nas ruas cerca de 80%
dos três mil moradores de rua contabilizados pela Secretaria de Trabalho e
Assistência Social do Município (Setad), existem em Salvador apenas três
Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPs AD), dois deles
municipais e um estadual. Juntos, eles custam aos cofres públicos anualmente
cerca de R$ 2.825.076,48, sendo R$ 507.088,68 dos municipais
e R$ 2.317.987,80 do estadual. Nesses valores estão inclusos
apenas manutenção predial, pagamentos de luz, água, materiais de limpeza, consertos
de encanamento e alguns procedimentos médicos, como consulta, hidratação e
atendimento de enfermaria.
Já no
âmbito estadual, não existem leitos para tratamento de dependentes químicos
nos hospitais gerais, e os usuários que dão entrada para processo de
desintoxicação são atendidos de forma improvisada em centros de internação
psiquiátricos. Após tratados, retornam às drogas nas ruas. O problema da
reincidência, segundo especialistas, poderia ser resolvido com a criação de
unidades de acolhimento temporário, onde os pacientes seriam acompanhados no
processo de recuperação por profissionais como psicólogos, psiquiatras e
enfermeiros. Essas unidades não existem no Estado.
“O
governo gasta com internação, com psiquiatria, mas não gasta com assistência
pós-tratamento e com leito específico para desintoxicação. Recebemos esses
pacientes, gastamos com eles material, remédio e depois eles retornam com os
mesmos problemas. É um gasto à toa”, afirma o clínico geral do Hospital das
Clínicas, Marcos Luna.
“Eu
gosto da rua” - Apesar da boa intenção dos CAPs AD, muitos usuários só vão
até lá em busca de infraestrutura. Pelo menos é o que faz Rogério dos Santos
(nome fictício). Logo após sua saída do CAPs AD Gregório de Mattos
(estadual), no Pelô, Rogério tirou do bolso sua garrafa de água mineral
contendo cachaça. Na Praça da Sé, ele se concentrou com os “amigos”, apontou
para eles e disse: “Ali, tudo cachaceiro. Não tem mais jeito, não.
Eu só vou
para o CAPs para tomar banho e pegar algumas roupas. Mas largar a bebida e a
droga, não me ajuda, não”, declarou. Rogério afirma ter família: mãe, pai e
até mesmo um quarto próprio, no bairro de Pau da Lima. “Quando cai a ficha,
eu vou para lá. Mas não demoro muito e volto. Eu gosto da rua”, comenta.
Para a
promotora do Grupo de Atuação Especial de Defesa dos Direitos das Pessoas com
Deficiência, Silvana Almeida, o ideal seria que existisse em Salvador pelo
menos 18 unidades de acolhimento para acompanhar o processo de
recuperação dos pacientes.
“Sem o número suficiente de CAPs, sem
a assistência necessária o trabalho de agora vai ser como dar murro em ponta
de faca. Você gasta com CAPs, com internação em leitos improvisados, mas
depois o usuário volta às ruas e se torna reincidente. Estado e município
estão omissos em relação ao problema”, diz.
Conforme
a coordenadora do Programa de Saúde Mental do Município, Célia Rocha, o
número mínimo ideal de CAPs AD seriam 12. “A demanda é muito grande
para apenas três CAPs AD em uma cidade com três milhões de habitantes.
Deveríamos ter pelo menos 12”, afirma.
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