Emagrecedores
e Prozac são usados juntos no país
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Associação
Paulista de Medicina (APM)
Combinação das drogas potencializa efeitos nocivos, como letargia e apatia Uso casado dos tipos de substâncias só é indicado em alguns casos específicos, afirmam especialistas
Folha.com
- JOHANNA NUBLAT DE BRASÍLIA- Folha de
S. Paulo – Saúde
A
análise do consumo de redutores de apetite e do antidepressivo fluoxetina
(princípio ativo do Prozac) sugere que as duas substâncias vinham sendo
usadas de forma combinada, conduta que não é recomendada se o objetivo é só
emagrecer.
A
associação das drogas é defendida por alguns médicos para pacientes obesos e
com depressão ou compulsão por comida. Por outro lado, a combinação dos
remédios pode indicar um uso abusivo com foco na redução do peso, explicam
especialistas.
Problemas
com esse tipo de associação foram objeto de pesquisa realizada pelo Cebrid
(Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas) há três anos.
Agora,
a união entre os moduladores de apetite anfepramona, mazindol e femproporex
(banidos pelo governo no ano passado) e da sibutramina (mantida com novas
regras) com o antidepressivo fluoxetina foi medida em estudo publicado na
edição de fevereiro da "Revista da Associação Médica Brasileira".
A
pesquisa, que mediu as vendas dos remédios no país, dá fortes indícios de que
o consumo casado vinha sendo prática corrente. No entanto, o trabalho não
verificou as receitas em si.
Foram
analisadas várias situações que poderiam estar relacionadas ao uso dos
emagrecedores em 2009, ano de coleta dos dados, como ser do sexo feminino,
ter maior renda e escolaridade ou consumir certas substâncias.
"Para
nossa surpresa, a variável mais significativa foi a relação entre a
fluoxetina e os moduladores de apetite, o que não é recomendado nem pelo
Conselho Federal de Medicina nem pela Anvisa", explica Daniel Mota,
técnico especializado em regulação e vigilância sanitária da Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária) e autor da pesquisa feita de forma
independente da agência.
O
estudo, feito com um modelo econométrico que agrega a venda nacional dos
medicamentos e a população adulta brasileira, conclui que cada 1 mg/per
capita de aumento no consumo do antidepressivo produz a elevação do consumo
de moduladores em 1,66 mg/per capita.
Walmir
Coutinho, do departamento de obesidade da Sbem (Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia), diz que não recomenda o uso associado dos
remédios por faltarem estudos que atestem sua segurança.
Ele
explica que o consumo isolado da fluoxetina leva à perda de peso, mas esse
efeito acaba sendo revertido depois. Por isso o antidepressivo não é usado
como emagrecedor. Para Coutinho, a mistura de vários elementos em fórmulas
para emagrecer é a venda de uma "ilusão".
Cláudia
Cozer, uma das diretoras da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da
Obesidade), afirma que a combinação das drogas pode causar letargia e apatia,
mas relativiza os danos quando o uso é por tempo limitado com acompanhamento
médico.
Um dos
usos benéficos da combinação, diz Cozer, é no controle da ansiedade e da
compulsão alimentar.
Para o
endocrinologista Alfredo Halpern, o problema está no uso casado em fórmulas
para emagrecer. "Vi fórmulas absurdas, que juntam não só anfepramona e
femproporex com fluoxetina mas diurético, hormônio de tireoide. É condenável.
Por outro lado, o indivíduo pode precisar de uma fluoxetina porque é ansioso
ou deprimido, não há por que proibir."
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