Comissão sugere descriminalizar uso e plantio de drogas
NÁDIA
GUERLENDA
DE BRASÍLIA – 28/05/2012
A comissão de juristas que discute a reforma do Código Penal no Senado aprovou
nesta segunda-feira (28) incluir na lista de sugestões que será enviada ao
Congresso a descriminalização do plantio, da compra e do porte de qualquer tipo
de droga para uso próprio.
As propostas da
comissão, consolidadas, devem ser encaminhadas até o final de junho. Apenas
após votação nas duas Casas as sugestões viram lei.
Hoje, o consumo
de drogas já não é crime, mas é muito raro que alguém faça isso sem também
praticar uma das outras condutas criminalizadas: cultivar, comprar, portar ou
manter a droga em depósito.
A autora da
proposta, a defensora pública Juliana Belloque, afirmou que se baseou na
tendência mundial de descriminalização do uso e na necessidade de diminuir o
número de prisões equivocadas de usuários pelo crime de tráfico.
Ela citou reportagem
publicada
pela Folha que apontou um crescimento desproporcional do
aprisionamento de acusados de tráfico desde 2006, quando entrou em vigor a
atual lei de drogas: enquanto as taxas de presos por outros crimes cresceram
entre 30% e 35%, o número de punidos por tráfico aumentou 110%. A alta se
explica, de acordo com especialistas, pela confusão entre usuário e traficante.
A comissão
aprovou uma exceção em que o uso de drogas será crime: quando ele ocorrer na
presença de crianças ou adolescentes ou nas proximidades de escolas e outros
locais com concentração de crianças e adolescentes.
Nesse caso, as
penas seriam aquelas aplicadas atualmente ao uso comum: advertência sobre os
efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e o comparecimento
obrigatório a programa ou curso educativo.
Para diferenciar
o usuário do traficante, os juristas estabeleceram a quantidade máxima de droga
a ser encontrada com o acusado: o equivalente a cinco dias de uso. Como a
quantidade média diária varia conforme a droga, o texto estabelece que serão
utilizadas as definições da Anvisa.
A comissão também
aprovou a diminuição da pena máxima para o preso por tráfico. Hoje são cinco a
15 anos de prisão e a proposta estabelece cinco a 10.
Dos nove juristas
presentes de um total de 15 da comissão, apenas o relator, o procurador da
República Luiz Carlos Gonçalves, votou contra a descriminalização.
Para ele, o fato
de o usuário não ser punido acabará estimulando que ele seja considerado pela
polícia e pela Justiça um traficante, o que aumentaria o encarceramento -
exatamente o efeito contrário que a comissão pretende atingir.