quinta-feira, 14 de março de 2013

Os perigos do Ecstasy (bala)


Os perigos do ecstasy    

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·         Correio Braziliense – Ciência
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Pesquisadora da Unifesp entrevista ex-usuários da droga para descobrir o que os fez abandonar o consumo. Dores no corpo, ressaca e depressão são alguns dos motivos apontados
Felipe Canêdo
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Belo Horizonte — O uso de ecstasy, droga ainda pouco estudada no Brasil, está intimamente relacionado ao contexto em que a substância é ingerida, e muitas vezes ligado à rotina da vida universitária.
A metilenodioximetanfetamina, conhecida como MDMA, ou simplesmente “bala”, é uma substância cara, usada principalmente por jovens de classe média e, diferentemente do que se pensava, não está presente somente em festas de música eletrônica, mas também em churrascos e outros eventos sociais. É o que afirma a pesquisadora Maria Angélica de Castro Comis, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que fez uma investigação qualitativa sobre o consumo do produto ilícito para sua tese de mestrado no Departamento de Psicobiologia. Ela entrevistou 53 pessoas que fizeram uso da substância para tentar descobrir, principalmente, os motivos que as levaram a parar de usá-la.
“Esse trabalho pode ser utilizado para auxiliar ações de conscientização, projetos de prevenção do uso e de redução de danos em festas. Existe pouca coisa escrita sobre ecstasy no Brasil. A droga chegou ao país em 1995. Ainda não havia sido descrito na literatura, por exemplo, que seu uso não ocorre somente em raves”, afirma Comis.
Na pesquisa, os entrevistados foram divididos em três grupos: 23 não usuários que tiveram oportunidades de ingerir a droga, 12 ex-usuários leves e 18 ex-usuários moderados. Eles foram escolhidos pela técnica chamada bola de neve, em que os próprios entrevistados indicam outras pessoas para participar da pesquisa.
Entre os que experimentaram até cinco vezes e estavam há pelo menos um ano sem consumir ecstasy, os principais motivos eram influências religiosas e morais, o fato de terem passado mal com o uso, ou não terem gostado dos efeitos causados. Já os entrevistados que usaram mais de cinco vezes antes de parar disseram a decisão se deu devido a ressacas fortes, depressão, dores após o uso e afastamento do contexto em que a droga era usada. “Muitos deles assumiram novas responsabilidades, começaram a trabalhar, se casaram ou se formaram”, conta Comis.
Outro fato que inibe o uso da pílula colorida no Brasil, segundo a pesquisadora, é a qualidade da droga, que geralmente é muito ruim. “As pessoas não sabem o que há no comprimido, então esperam um efeito, mas podem sentir outro. Você pode encontrar aspirina, vermífugos e outras coisas no produto, e isso causa insegurança. Muitos comprimidos nem contêm o MDMA mesmo.” A ressaca do dia seguinte é um motivo importante para interromper o uso. Entre os sintomas, Maria Angélica cita amnésia, dores no corpo e depressão. “Quando uma pessoa toma ecstasy em uma festa, ela acaba sentindo um bem-estar muito intenso, mas, depois que passa o efeito, ela fica esgotada”, afirma.
A pesquisadora acredita que a divulgação dos riscos e das consequências do uso continuado também pode ajudar na inibição da ingestão de MDMA. “Há um risco grande, a pessoa pode ter uma crise de hipertensão e arritmia cardíaca,  que pode evoluir para um ataque cardíaco, além de crises de ansiedade intensas. Tem gente que quebra o dente, porque força o maxilar de forma exagerada. E pode haver sobrecarga renal, porque a pessoa não toma água suficiente, ou então ela pode acabar tomando água demais”, diz.
Mistura 
Para dimensionar o problema, ela cita um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) que apontou o crescimento do consumo de substâncias sintéticas na América Latina. A pesquisadora alerta para uma outra questão grave: a mistura do ecstasy com álcool. “Há pessoas  que misturam o ecstasy com álcool achando que vai hidratar, e aí está um grande perigo, porque isso sobrecarrega o fígado e a pessoa pode ter um colapso em vários órgãos”, alerta.
Segundo Comis, o contexto vivido pelos usuários também é relevante para o consumo da droga quando se leva em conta que, na maioria das vezes, ela é ingerida em festas que são afastadas da cidade e têm grande duração. Então, quem usa precisa ter tempo para ir e para se recuperar depois. Por isso, diz a pesquisadora, quando os usuários começam a se preocupar com o emprego e com outras responsabilidades, muitos param de usar a droga.
“Como as pessoas ficam muito eufóricas e em pé, dançando por muito tempo, é comum elas ficarem com dores no dia seguinte e com o raciocínio mais lento. Muitos ficam com medo de não conseguir ter um bom desempenho no trabalho no dia seguinte”, explica. “Um outro dado relevante é que, apesar de apenas um dos entrevistados ter relatado maior dificuldade de parar com o ecstasy, muitas pessoas que entrevistei usavam outras drogas. O ecstasy não é uma droga usada no dia a dia. Ela significa, para muitos deles, uma maneira de fugir dos problemas ou aproveitar melhor as festas”, acrescenta Comis.
História
A metilenodioximetanfetamina, ou MDMA, tem uma história conturbada, envolvendo um grande laboratório farmacêutico alemão. A versão mais conhecida sobre a origem da droga remonta a 1912, quando ela teria sido desenvolvida para ser um supressor de apetite. Na década de 1970, a substância teria sido difundida para uso recreativo, sendo proibida nos Estados Unidos em 1987. No Brasil, a MDMA começou a se popularizar em 1995.

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