O consumo de álcool é grave e a sociedade fecha os
olhos', alerta o médico José Roberto
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Correio do Estado
No Dia do Bem, entidade tratará
sobre o perigo do excessivo consumo de bebidas alcoólicas
A juventude que bebe demais, pais, mães, parentes e amigos estão
convocados para o Dia do Bem, no próximo dia 23 de março.
Em palestras, workshops (reuniões de trabalho) e atividades diversas, a
Casa da União pretende lançar uma semente de consciência contra o perigo do
excesso de álcool entre os jovens. “O Brasil é hoje o país com o maior número
de jovens dependentes alcoólicos em todo o mundo”, alerta o médico José Roberto
Campos de Souza, na entrevista a seguir:
Correio Pergunta – O que é o Dia do
Bem?
José Roberto
O Dia do Bem é uma ação cívico-social desenvolvida
pelo Centro Espírita União do Vegetal, através do seu braço assistencial, que
se chama Casa da União. Em Campo Grande será no sábado, dia 23 de março, mas
nós pretendemos estender as atividades até maio. Este ano, o foco é a
juventude, principalmente, no que diz respeito ao uso de drogas.
Quem sofre mais: o homem ou a
mulher?
Hoje temos crianças de 11 ou 12 anos, grávidas, e numa grande parte desses
casos existe envolvimento alcoólico. Em função do seu metabolismo, da sua
estrutura, a mulher é mais vulnerável ao álcool, em função de algumas
alterações bioquímicas. Estudo recente publicado nos EUA mostrou uma incidência
de cerca de 70% das jovens com atividade sexual, portando HPV (sigla em inglês
para papiloma vírus humano). Álcool, doenças sexualmente transmissíveis e
gravidez precoce preocupam demais.
O custo é alto mesmo...
O jovem que foi ao
carnaval, embriagou-se e engravidou a menina de 12, 13, 14 anos, acarreta um
grande peso social. Se a família não tiver condições de auxiliar a jovem, a
sociedade é onerada. A mesma coisa num acidente: se ele for decorrente do
álcool e a pessoa fica paraplégica, a sociedade toda paga, seja através de um
benefício social ou de uma internação prolongada, que onera os serviços de
saúde. A
Casa da União está fazendo a
sua parte...
Em 2012, o Dia do Bem
Verde voltou-se para ações de consciência ambiental. Fizemos mais de 60 mil
atendimentos no Brasil, e a meta este ano é chegarmos a 100 mil. Trabalhamos no
Jardim Noroeste e em 2013 pleiteamos o Parque Jacques da Luz, para atender as Moreninhas,
onde há comunidades carentes de apoio e orientação. Lamentavelmente, nós temos
um Estado omisso, e se nos colocarmos à margem, a situação é cômoda, pouco
produtiva. O consumo de álcool é grave, mas a sociedade fecha os olhos. Se você
quer saber se uma coisa é boa para sua vida, ligue a TV: se tem propaganda, não
presta; a gente não vê propaganda assim: “beba água, chupe laranja”. Quanto
mais cara e glamourosa, pior é o produto que ela vende. Arrecadam-se impostos
com o álcool e o cigarro, porém, gasta-se uma quantidade multiplicada para
tratar doenças do tabagismo. Companhias de álcool e de cigarro tentam seduzir
os jovens e garantir um consumidor para o resto da vida, porque o velho que já
foi fisgado tem pouco tempo de vida para continuar consumindo os produtos.
Como
será a mobilização?
Nosso
foco se chama agenda negativa de trabalho: o crack, por exemplo. Segundo
relatos de significativa parcela de usuários, usou a primeira vez, fica
escravo. Nosso zelo é alertar a juventude: não use a primeira vez, porque você
não sabe se vai sair.
Há parcerias? Quem pode colaborar?
Buscamos a participação de clubes de
serviço, entidades, escolas públicas e particulares, Maçonaria e igrejas para
uma agenda positiva: mostrar formas saudáveis de engajamento social, de
inclusão nos esportes, na música, em grupos assistenciais. Nos EUA, um jovem
até 21 anos não pode comprar bebida alcoólica. Existem leis rígidas, e elas são
cumpridas. Não se pode usar bebida alcoólica em público. Nos filmes, vemos o
indivíduo sair com um saco plástico e até beber, porém, escondido. A lei
garante o direito à privacidade, então, o policial sem mandado judicial não
pode fiscalizar o que ele está levando, a menos que haja motivo para suspeita.
Mas o menor não pode adquirir bebida alcoólica, nem consumi-la. Se for pego, as
sanções são severas.
No Brasil, a Lei Seca funciona?
Ela endureceu. Este ano tivemos uma diminuição de quase 20% dos acidentes
no carnaval, e perto disso, do índice de mortes. Imaginemos que fosse1%, e esse
percentual fosse o teu filho, teremos outra dimensão. Uma das maiores
especialistas no Brasil em dependência química, a professora Helena Gasparini
alerta: não podemos fechar os olhos para a hipocrisia da sociedade, que prega
contra as drogas com um copo de cerveja numa das mãos e o cigarro na outra. O
álcool é a única droga com a qual a pessoa, sob o domínio dela, faz coisas que
não faria em sã consciência. Ele age no lobo frontal, a sede da consciência, da
noção do errado e do certo, por isso, o jovem tímido, retraído, quando bebe
fica desinibido, depois perde a noção do limite e do respeito, começa a falar
alto, fica valente, e chega ao bloqueio completo da inibição. Aquele que mamou
uns gorós a mais, como diz o povo, daqui a pouco está fazendo strip-tease em
cima da mesa do bar. Porque o álcool bloqueia exatamente esse centro, que é a
noção da ética e da moral.
Bebe-se em todo lugar?
Os jovens começam a beber cada vez mais cedo, em torno dos 16 anos; hoje
essa média caiu para 12. Tem criança bebendo! Quase na totalidade dos casos,
começam a beber dentro de casa, ou na casa do amigo, com incentivo, ou no
mínimo, a omissão dos pais. No mundo inteiro civilizado, apesar dos lobbies, da
corrupção, do dinheiro derramado para afrouxar as leis, onde existe um pouco
mais de consciência, elas têm apertado, e uma delas é exatamente contra a
combinação álcool-direção.
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