Mais de 60% das mortes por armas de fogo nos EUA são
suicídios
BBC Brasil
O massacre de dezembro passado em uma escola de Newton, no Estado de Connecticut, nordeste dos Estados Unidos, lançou no país um novo debate sobre a relação entre o acesso facilitado a armas de fogo e a violência com armas.
Mas algumas entidades aproveitaram o debate nacional para destacar uma
realidade que muitas vezes passa despercebida: o número anual de pessoas que
cometem suicídio usando armas de fogo é muito maior do que o número de vítimas
de homicídios cometidos com essas armas.
Uma preocupação adicional das autoridades e profissionais de saúde é o
alto nível de eficácia das pistolas e fuzis se comparados com outros métodos:
um total de 85% das tentativas de suicídio com essas armas no país resultam em
morte, enquanto que apenas 2% das tentativas de suicídio realizadas com
comprimidos têm êxito.Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de
Doenças dos Estados Unidos, cerca de 19 mil das 31 mil mortes por armas de fogo
que acontecem anualmente nos Estados Unidos, ou 61,3%, são suicídios.
Motivos
Psiquiatras e psicólogos enfatizam que, ainda que se deva examinar os
motivos que levaram alguém a querer tirar a própria vida, também é importante
analisar como a pessoa tentou se suicidar.
É por isso que a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard criou
o projeto Means Matter (“Os Meios Importam”, em tradução livre), que
visa destacar o papel de armas de fogo em suicídios.
''Existe uma tremenda disparidade na porcentagem de mortes em decorrência
do método que se escolheu para um suicídio. Não é tão fácil morrer em
tentativas de suicídio, e as armas, sem dúvida, tornam isso mais fácil'', disse
à BBC Catherine Barber, diretora da Means Matter.
De acordo com Barber, a maioria dos que querem tirar a própria vida
dedicam pouco tempo ao planejamento do suicídio. Tudo é feito muitas vezes de
impulso, e se o método eleito é uma arma, há poucas chances que o suicida tenha
a chance de se arrepender de sua decisão.
''Já analisei centenas de suicídios, e o que mais chama a atenção é que em
muitos casos de suicídio, no dia em que ele se deu, ocorreu um evento que atuou
como gatilho, como uma separação, uma discussão doméstica, problemas na
escola'', comenta.
''Os pensamentos suicidas não costumam durar muito tempo. Aparecem e logo pode
ser que não regressem. Só uma minoria de pessoas permanece em estado suicida
durante um longo período de tempo'', afirma Barber.
Em um estudo de 2005 feito com um grupo de pessoas que sobreviveram a um
enfarte ou a uma tentativa de suicídio, 25% dos entrevistados disse ter
planejado o ato suicida durante pelo menos cinco minutos.
Analistas destacam ainda que nos Estados americanos em que há maior número
de proprietários de pistolas e fuzis, ocorrem mais suicídios.
''Suicídios acontecem em todos os Estados Unidos, mas Estados com mais
armas têm níveis mais altos de suicídios, como Wyoming, Montana, Alasca e
Nevada - enquanto que os nove Estados com menor número de proprietários de
armas têm cifras de suicídio significativamente mais baixas", afirmou à
BBC Kenneth Duckworth, psiquiatra e diretor médico da Aliança Nacional para
Doenças Mentais.
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