"Em dez anos, a
maconha pode gerar US$ 1 trilhão para os EUA", diz Fine
O
jornalista que já escreveu para o Washington Post diz que a legalização do
cultivo pode ser um salto para a recuperação norte-americana e gerar US$ 35 bilhões
por ano em impostos
Mayara Teixeira , iG São Paulo
Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente
isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos,
incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais
(como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o
livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números
grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei
Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.
Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas
(destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a
indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.
Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja
artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores
de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez
sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.
Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a
região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity,
todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta,
com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar
para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.
Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou
alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com
responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade,
insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela
sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de
trabalho.
Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal
de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular
seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida
serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.
Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o
fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra
civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria
declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria
acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente
reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos
biocombustíveis.
Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o
maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo
a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça
Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição
nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é
inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade
permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.
Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1
trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga
planta.
Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie
de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se
você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro
as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg,
talvez.
Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra
coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser
usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da
Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo
29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está
escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma
delas”.
Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu
agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é
preciso unir a vida temporal com a energia divina.
O jornalista norte-americano, Doug Fine, chamou atenção com o lançamento
de seu novo livro “Too High to
Fail – Cannabis and the New Green Economic Revolution” (em tradução livre, Chapado Demais
para Fracassar - Maconha e a Nova Revolução Econômica Verde, Editora
Penguim/Gotham). Basicamente, Fine que já escreveu para o Washington Post
afirma que o cultivo de maconha pode ser um importante aliado na recuperação econômica
dos Estados Unidos.
Para escrever o
livro, ele passou um ano no condado de Mendocino, ao norte da Califórnia, onde
o plantio para fins medicinais era permitido mediante pagamento de taxa. Cada
produtor podia plantar no máximo 99 mudas, e ao fim de um ano a maconha foi
responsável por 80% da economia local, um montante de US$ 8 bilhões. Porém,
neste ano, o licenciamento do cultivo foi interrompido por pressão federal.
O governo
americano considera a maconha uma droga ilegal,viciante e sem valor algum para
tratamentos médicos, por isso lidera uma guerra contra os 17 estados que a
liberaram para uso medicinal. Ainda este ano, nas eleições de novembro, três
estados norte-americanos votarão sobre a legalização do uso recreativo para
adultos.
Segundo Fine, se o cultivo fosse
legalizado, os EUA poderiam arrecadar US$ 35 bilhões por ano em impostos, “uma
boa quantia para uma antiga planta”.
Leia a
entrevista:
iG: A maconha realmente
pode ser um salto para a recuperação da economia norte-americana? Como?
Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente
isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos,
incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais
(como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o
livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números
grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei
Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.
iG: Muitos produtores
de maconha não são formalmente registrados. Você acredita que eles
oficializariam suas produções se o cultivo para fins medicinais fosse permitido
pelo governo?
Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas
(destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a
indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.
iG: Não é
possível que grandes empresas nacionais de cerveja ou tabaco monopolizem o
mercado da maconha?
Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja
artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores
de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez
sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.
iG: Com a
legalização, a oferta provavelmente será maior. Não é possível que os preços
caiam e o cultivo deixe de ser tão rentável?
Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a
região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity,
todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta,
com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar
para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.
iG: Alguns
pesquisadores dizem que apenas 5% do cultivo de maconha é utilizado para fins
medicinais. Estimular o plantio, não é indiretamente estimular o uso ilegal da
droga?
Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou
alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com
responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade,
insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela
sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de
trabalho.
iG: Você é
favorável apenas à legalização do cultivo para fins medicinais ou para uso
civil também?
Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal
de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular
seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida
serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.
iG: Quais seriam os
benefícios da legalização para o país?
Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o
fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra
civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria
declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria
acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente
reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos
biocombustíveis.
iG: Qual é o tamanho
da produção de maconha nos EUA?
Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o
maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo
a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça
Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição
nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é
inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade
permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.
iG: A dívida
pública norte-americana foi recentemente estimada em pelo menos US$ 16
trilhões. Você acredita que a receita proveniente dos impostos sobre a produção
da maconha teria impacto significativo sobre esse valor?
Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1
trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga
planta.
iG: Você é muito
bem-humorado em entrevistas. O título do seu livro e seu website também são divertidos. Você não teme não ser levado a
sério?
Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie
de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se
você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro
as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg,
talvez.
iG: Você fuma maconha?
Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra
coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser
usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da
Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo
29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está
escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma
delas”.
iG: Você acredita
que a maconha tem o potencial de aumentar a criatividade? Já escreveu quando
estava “chapado”?
Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu
agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é
preciso unir a vida temporal com a energia divina.