Plano nacional de enfrentamento às drogas feito “às
pressas”
Última Instância - Luiz Flávio Gomes e Mariana Cury Bunduky
De acordo com o “Relatório sobre segurança cidadã nas Américas em 2012”,
lançado em julho de 2012 pela OEA (Organização dos Estados Americanos), com um
total de 900 mil usuários, o Brasil representa o maior mercado consumidor de
cocaína da América do Sul.
Já segundo o 2º LENAD (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas),
realizado pelo INPAD (Instituto Nacional de Políticas Públicas de Álcool e
Outras Drogas) da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), 3% da população
adulta brasileira (mais de 3 milhões de pessoas) usam maconha frequentemente.
Em razão da repercussão do tema das “drogas”, o governo federal, por meio
do decreto n.º 7637/11, instituiu o “Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack
e outras drogas”, cujo objetivo é a integração com os estados e municípios,
visando-se investir em políticas públicas e em setores como educação, saúde,
segurança pública e assistência social para a devida resolução do problema.
Contudo, para atender rapidamente o clamor social, o Plano começou a ser
executado às pressas, sem a devida cautela e seriedade na captação de dados
referente ao uso e ao tráfico de drogas, que são essenciais no direcionamento
dessas políticas e no repasse de verbas federais.
Nesse sentido, conforme veiculou uma notícia do jornal O Estado de São
Paulo, o Plano Integrado se baseou em dados de apenas 4 estados (que se referem
somente à quantidade de pontos de vendas e de usuários de crack), de maneira
que os comandantes das polícias militares dos 23 demais estados, nos quais se
incluem São Paulo, Rio de Janeiro, Minas, Paraná e Mato Grosso, não forneceram
tais estatísticas.
Assim sendo, o relatório do Ministério da Justiça concluiu que há uma
ausência de mapeamento de dados dos estados sobre a quantidade real de usuários
de crack, havendo apenas dados de quantidades de drogas apreendidas, de prisões
efetuadas e dados estimados de usuários, até porque usuários e traficantes, na
prática, não são diferenciados pela polícia.
Na opinião do professor de psiquiatria da IUnifesp (Universidade Federal
de São Paulo), Dartiu Xavier, o retrato do crack no país só poderia ser traçado
por uma pesquisa séria e especializada, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz,
que, inclusive, estava em andamento, mas foi atropelada por ações policiais que
dissolveram as comunidades nos estados.
Assim, embora digna
de aplausos a iniciativa do governo federal em direcionar esforços a um tema
tão crucial e relevante feito as drogas, não é suficiente. Se o escopo é
verdadeiramente enfrentar tal polêmica, é imprescindível que o Plano seja
elaborado com cautela, não “às pressas”, sem qualquer sintonia do governo com
os estados. De medidas imediatistas e populistas o Brasil já está abarrotado;
roga-se, agora, por ações bem elaboradas efetivas e concretas para que se
inicie um trabalho grandioso e próspero.
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