quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tratamento do Doente Mental: internar ou não internar?

"Um grito pela internação"
(Prof. Dr. Valentim Gentil Filho)


Um dos autores do livro Clínica Psiquiátrica, Valentim Gentil é contra a 
desativação de hospitais psiquiatras. "Se tem risco, precisa internar".

Ivo Patarra - DIÁRIO SP

Uma semana após Wellington Menezes de Oliveira matar 12 crianças na escola de Realengo, no Rio, especialistas discutem o que fazer com pessoas que sofrem de doenças mentais. "Se o sujeito está alterado, não sabe o que faz e representa risco, tem de ser internado", afirma o psiquiatra Valentim Gentil, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, um dos 
autores do livro Clínica Psiquiátrica (Editora Manole).
 

Outro caso alarmou São Paulo na segunda-feira, quando o morador de rua José Francisco da Silva esfaqueou dois pedestres na Avenida Paulista. O doutor Gentil é contra a política que vem desativando hospitais psiquiatras no Brasil nos últimos 20 anos. "A antipsiquiatria é absolutamente anacrônica desde que a especialidade atingiu os níveis atuais de conhecimento e eficácia terapêutica", sustenta o médico. "Infelizmente, alguns movimentos e pessoas em posições influentes parecem não admitir isso."

O Ministério da Saúde, por sua vez, divulga dados que, para o governo, mostram a eficácia da reforma psiquiátrica nos últimos anos, que procura não internar os doentes: em 2002, 75% dos gastos com saúde mental eram para internação; em 2009, apenas 32%. Por outro lado, em 2002 os procedimentos ambulatoriais receberam 24% dos recursos da área, sendo que em 2009 esse percentual chegou a 67%.

A coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Prefeitura de São Paulo, Rosângela Elias, concorda com a política do Ministério da Saúde. "Antes, as pessoas com transtornos mentais eram esquecidas nos manicômios. Mas as doenças mentais são tratáveis. Se os doentes forem segregados, como poderão ser incluídos novamente na sociedade?"

O psiquiatra Gentil rebate: "Quem sofreu as consequências da política que reduziu o poder do médico e gerou desassistência e riscos injustificáveis aos doentes foram, exatamente, os mais necessitados".

Para a coordenadora da Prefeitura, a internação pode ser parte do tratamento, "mas não o tratamento". Sobre a Cracolândia, no centro de São Paulo, onde centenas de pessoas consomem drogas e ficam jogadas nas ruas, Rosângela não aceita um programa voltado para interná-las. "Elas podem até ter transtornos mentais, mas não são necessariamente violentas ou inimigas públicas".

Reprodução





O GRITO
Edward Munch








Os números falam por si. Em quase dois anos, a Prefeitura fez 8.794 encaminhamentos e apenas 409 internações de frequentadores da Cracolândia. Para Rosângela, as chances de sucesso no tratamento ocorrem quando o doente mental é convencido a buscar ajuda. "Não tem solução mágica e não queremos uma caça às bruxas."

Com a política antimanicomial dos últimos anos, os doentes psiquiátricos que não podem ser reabilitados em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e precisam de internação são cuidados em hospitais-gerais. Gentil discorda: "Essa postura antipsiquiátrica, de que a doença é social e não médica, desestruturou os equipamentos de saúde". 

O psiquiatra explica que ninguém esperava, há 20 anos, uma epidemia de crack como a atual. "Os hospitais-gerais não dispõem de condições para atender casos graves. Como países europeus e os Estados Unidos estão fazendo, temos de criar hospitais psiquiátricos."

NOVO VÍDEO /A Polícia do Rio divulgou outro vídeo recuperado do computador de Wellington Menezes de Oliveira. Mostra que o plano violento existia desde julho de 2010. Ele diz que se vingaria em nome "daqueles que são humilhados, agredidos e desrespeitados, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes".

Van Gogh
Pintor holandês, durante toda a vida vendeu um só quadro. Travou uma  batalha contra a pobreza, o alcoolismo e a insanidade. Chegou a cortar a orelha para dar de presente a uma prostituta. Suicidou-se aos 37 anos, em 1890. Dez anos depois, a genialidade de sua obra foi reconhecida pelo mundo das artes.

2 comentários:

  1. Que coisa, nao?????Depois da luta antimaniconial, vamos a luta prómaniconial?????
    É de se pensar.....
    Forte abraço
    http://vidamornavida.blogspot.com/

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  2. Pois é Maga, que coisa! Na minha opinião não deveria ser 8 e nem 800, prefiro do meio termo. Poderiam ter hospitais psiquiátricos para atendimento como são os atendimentos dos hospitais normais, só que ao invés de alas psiquiátricas seriam hospitais especializados, com atendimento humanizado e liberação após as crises para acompanhamento ambulatorial. Mas para isso seria necessário mais ambulatórios, mais hospitais e uma grande pré-disposição dos governantes do país. Abraço.

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