segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Pesquisa pode servir para curar dependência de cocaína.


Pesquisa pode servir para curar vício em cocaína


Por Isobel Leybold-Johnson, swissinfo.ch Adaptação: Alexander Thoele
Cientistas da Universidade de Genebra divulgaram uma pesquisa cujos resultados poderiam ser utilizados no combate à dependência de cocaína.
Eles desenvolveram um método que apaga os traços deixados pela droga no cérebro de ratos e normaliza o comportamento do viciado.
A cocaína é uma substância com grande risco de causar dependência. Ela oferece uma sensação positiva, mas depois que o efeito passa o usuário necessita de mais doses. Sabe-se que ela deixa vestígios no cérebro, o que significa que uma recaída pode ocorrer depois de meses ou até anos apesar da pessoa ter parado de usar a droga.
Em um artigo publicado na revista científica "Nature", a equipe do Departamento de Neurociência da Universidade de Genebra demonstrou como utilizou ratos para provar que os vestígios do consumo de cocaína podem ser eliminados no cérebro. E isso não é tudo.

"Foi a primeira vez em que conseguimos manipular especificadamente a conexão entre duas células nervosas para modificar o comportamento da dependência", explica o chefe da equipe, Christian Lüscher.

Áreas do cérebro
As áreas em questão foram o córtex pré-frontal e o núcleo acúmbens, que desempenham um papel importante no sistema de recompensa do cérebro: a regulação e o controle dos comportamentos através da sensação de prazer e, portanto, o vício.

A fim de efetuar a modificação, os pesquisadores aplicaram um processo relativamente novo denominado "optogenética", descrito por Lüscher como "uma técnica verdadeiramente revolucionária e que pode mudar muita coisa."

"Basicamente pegamos uma proteína, um canal iônico que seja sensível à luz, e os colocamos artificialmente dentro dos neurônios que queremos controlar. A partir do momento em que isso é feito, você pode então chegar com a fibra ótica e controlar os neurônios através da luz."

A equipe observou que, após o procedimento, os ratos expostos à cocaína reagiram a uma nova dose do entorpecente como se eles nunca tivessem a experimentado anteriormente.

A nova técnica poderia ser uma esperança para os dependentes de cocaína, já que a pesquisa mostra que as mudanças no comportamento causadas pela cocaína são reversíveis, o que por sua vez reduziria as chances de recaída.

Aplicação em seres humanos
Mas Lüscher explica que é necessário realizar mais pesquisas antes de poder aplicar a técnica em seres humanos. "O que fazemos com os ratos é uma experimento muito controlado dos primeiros efeitos da cocaína. Nós aplicamos de uma a cinco injeções. Já seres humanos se tornam  dependentes após anos de uso crônico da droga. É uma situação muito diferente", declara.

"Mas do ponto de vista do princípio, é uma ideia interessante que pode servir certamente para aplicações clínicas no futuro."

O Serviço Suíço de Informações sobre Dependência considerou os resultados da pesquisa bastante interessantes. "Seguramente tratam-se de princípios básicos que podem ser pioneiros na compreensão da fisiologia da dependência", declarou o porta-voz Simon Frey. Como Lüscher, ele também considera que será necessário realizar mais pesquisas antes de aplicar a técnica em seres humanos e utilizá-la em terapias.


Problema da cocaína

Questionado sobre a amplitude do problema em relação ao consumo de cocaína na Suíça, Frey ressaltou que não existem valores absolutos. "O que podemos dizer é que uma pesquisa entre pessoas das faixas etárias de 15 a 39 anos em 2007, 4,4% delas declararam já ter consumido cocaína durante a sua vida, enquanto que apenas 2,9% declararam o mesmo em 2002. Assim é possível verificar um certo aumento no consumo."

Mas esses números não são totalmente confiáveis: consumidores "acíduos" são dificilmente questionados em pesquisas de opinião realizadas por telefone e as pessoas também não costumam compartilhar todas suas experiências com entorpecentes em pesquisas semelhantes, considera o porta-voz do órgão.

No entanto, Frey ressalta que a cocaína é uma droga com grande potencial de causar dependência. Ele acrescenta que os usuários podem se recuperar do vício, mas o risco de recaída é bastante elevado. "Se eles são confrontados com uma situação (de risco), são mais propensos a consumir a droga do que uma pessoa que nunca a experimentou anteriormente."

Em relação ao futuro, Lüscher considera que qualquer esforço para aplicar o seu trabalho com ratos em seres humanos depende de quanto a sociedade está disposta a apoiar pesquisas futuras na área de dependências.

"Embora a dependência seja frequentemente considerada como uma doença, ela é muitas vezes vista como uma doença 'órfã' por várias razões. A indústria privada hesita em desenvolver novas terapias, pois é um mercado muito difícil. Trata-se de pessoas que não são muito confiáveis nos estudos clínicos precisamente por serem viciados", diz.

"Esperamos que, ao apresentar algumas novas ideias das ciências básicas, poderemos ajudar a ter novas iniciativas nessa direção."



Fique esperto: Os aspectos físicos podem ser apagados mas os psicológicos precisarão ser tratados sempre, pois é necessário entender o processo interno que incentivou o uso da droga e o comportamento diário adquirido com a dependência. Isso raramente os cientistas falam.

Complexo em SP irá acolher usuários de Crack


Galpão abrigará usuários de crack


Jornal Agora São Paulo 

A prefeitura vai inaugurar em janeiro um complexo para acolher usuários de crack a cerca de um quilômetro da cracolândia, no final da rua Prates, no Bom Retiro (centro de SP). Com 12 mil m², área equivalente a três campos de futebol, o local será o primeiro a agrupar unidades de assistência social e de saúde em um só lugar.
Terá centro de convivência com quadra poliesportiva oficial, biblioteca e outros jogos, albergue para 120 pessoas, uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) e Caps-AD (Centro de Apoio Psicossocial Álcool e Drogas).
Entre reformas e construções, a Secretaria da Assistência Social diz ter investido no projeto R$ 5 milhões.
A AMA e o Caps terão 120 profissionais da saúde e 11 leitos para internação e observação. Funcionarão 24h.
Segundo a secretária de Assistência Social, Alda Marco Antônio, o centro de convivência tem capacidade para 1.200 pessoas.
"Se todos da cracolândia quiserem vir, esse espaço tem condição."
Etapas
Esse centro, segundo Alda, tem o objetivo de atrair os usuários, tentar identificá-los e convencê-los a tomar banho e a permitir acompanhamento psicossocial.
A segunda etapa é convencer os viciados a dormir no albergue e, depois disso, entrar em contato com a família e tentar uma reaproximação.
Se a pessoa for de outra cidade, o governo do Estado vai ajudar a fazer o contato.
Agentes nas ruas vão tentar levar usuários ao local. "A decisão de entrar e sair é do usuário", diz Alda. Mas médicos do Caps têm a liberdade de decidir se o caso é de internação involuntária --quando a pessoa é uma ameaça à própria vida ou aos outros. Basta que emitam laudo e comuniquem o Ministério Público.

Caps 24 horas com 50 leitos serão abertos em Porto Alegre


Mais 225 leitos para usuários de crack


Correio do Povo

Vagas serão criadas pelo Ministério da Saúde em Porto Alegre até 2014
Porto Alegre terá até 2014 mais 225 leitos exclusivos para o enfrentamento da epidemia do crack. Eles serão criados por meio de portaria do Ministério da Saúde (MS), que será publicada nos próximos dias. Do total de leitos, 30 serão instalados em Centros de Atenção Psicossocial (Caps), 70 em enfermarias especializadas e 125 em unidades de acolhimento. Além disso, para a expansão da rede de enfrentamento do MS no RS até 2014 está estimado investimento de R$ 116,8 milhões.
Segundo o coordenador de Saúde Mental do MS, Roberto Tykanori, uma das maneiras de se enfrentar a epidemia é formando uma rede com condições de atender o paciente e dar o suporte necessário para o seu tratamento. Entre as ações imediatas no RS, que têm Porto Alegre como a cidade-polo, está o reforço e a ampliação da rede atual. Para isso, haverá o aumento imediato de custeio para 50 leitos, construção de quatro Caps que funcionem 24 horas, sendo, um somente para atendimentos relacionados ao consumo de álcool e drogas, uma para acolhimento adulto e um consultório de rua.
Segundo ele, o consultório de rua é uma das inovações do projeto, já que permite o atendimento no local onde o paciente está, como os espaços de uso público de drogas, denominadas cracolândia. Para isso, o serviço contará com equipes volantes. Para as ações imediatas, os investimentos previstos estão na ordem de R$ 1,3 milhão.
Para Tykanori, os Caps são importantes para o enfrentamento do crack. "Esses centros contam com equipes multidisciplinares que proporcionam atendimento mais completo e específico, levando em considerações o grau de dependência e seu estágio."
Os Caps disponibilizam leitos diurnos e noturnos, permitindo assim o acompanhamento clínico do paciente. A forma de atendimento também é diferenciada, levando em consideração o perfil do público, como adulto, crianças e usuários de álcool e drogas; o contingente populacional, que pode ser pequeno, médio ou de grande porte; e, por fim, o período de funcionamento, diurno ou 24 horas.
Dentro da lógica de atendimento e suporte, quando o paciente não necessita mais de internação, é encaminhado para as unidades de acolhimento.
O serviço conta com equipe disponível 24 horas por dia para cuidados contínuos. Por um período de até seis meses, as unidades vão cuidar dos pacientes em regime residencial, mantendo a estabilização do paciente e o controle da abstinência.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Cuidado com a recaída - alcoolismo.


Efeitos da naltrexona de liberação prolongada sobre o consumo de álcool em pacientes dependentes dessa substância

Os períodos festivos, como Natal, Ano Novo e Carnaval, são marcados por uma maior aceitação social do consumo de álcool e, assim, torna-se maior o risco de beber mais e esquecer-se das potenciais consequências negativas deste uso, como acidentes de trânsito, brigas e sexo desprotegido. De fato, há diversos estudos que comprovam o aumento do número de acidentes de trânsito com vítimas fatais relacionados ao uso de álcool nesses períodos. 

É importante notar que pacientes em tratamento para dependência alcoólica sofrem um risco maior de recaída durante os períodos comemorativos do que em outras épocas do ano, pois ficam expostos a um contexto em que o beber está relacionado a celebrações e são frequentemente convidados a beber nesses dias.

Para avaliar maneiras de diminuir esse risco de recaídas, um estudo norte-americano investigou a eficácia da naltrexona de liberação prolongada* (um medicamento utilizado para tratamento da dependência alcoólica) combinada com sessões de terapia psicossocial sobre o consumo de álcool em um grupo de pacientes dependentes de álcool. 

Os autores conduziram um estudo com 82 pacientes dependentes alcoólicos, acima de 18 anos de idade, que estavam abstinentes há pelo menos quatro dias antes do início do estudo, provenientes de diversos centros de tratamento. Para evitar qualquer tipo de viés, o estudo foi do tipo “duplo-cego”, no qual os pacientes e médicos pesquisadores não sabiam se o que estava sendo aplicado era a NTX-XR (190 ou 380 mg, n=26 e 28, respectivamente) ou alguma substância semelhante, mas inócua (placebo, n=28). Todos os pacientes receberam tratamento psicossocial ao longo do estudo.

Três parâmetros de consumo de bebidas alcoólicas dos pacientes foram registrados durante 24 semanas, sendo marcados separadamente os feriados dos dias comuns: (a) dias em que beberam, (b) dias em que beberam pesado (4 ou mais doses** para mulheres, 5 ou mais doses para homens), (c) número de doses consumidas por dia.
Os pacientes tratados com naltrexona (190 ou 380 mg) relataram diminuição significativa do consumo de álcool (os três parâmetros analisados) quando comparados com o grupo placebo (que recebeu somente tratamento psicossocial), tanto em feriados quanto em dias comuns. 

Em particular, com relação ao consumo de bebidas alcoólicas durante os dias festivos, os pacientes que receberam a menor dose de naltrexona obtiveram resultados intermediários entre os indivíduos do grupo placebo e os que receberam a maior dose de naltrexona, o que reforça a consistência dos resultados, já que houve uma resposta proporcional à dose do medicamento.

Os autores do estudo enfatizam que muitos dos pacientes dependentes de álcool alcançaram a abstinência durante os períodos festivos quando tratados com naltrexona 380 mg em combinação com a intervenção psicossocial.


*A naltrexona de liberação prolongada age no organismo por um período mais longo e pode melhorar a aderência dos pacientes ao tratamento, pois estende seus efeitos terapêuticos para 30 dias, dispensando a necessidade de doses diárias do medicamento.
**uma dose-padrão de bebida alcoólica (285 ml de cerveja, 120 ml de vinho ou 30 ml de destilado) contém, aproximadamente, 8 a 13 g de álcool puro.

Título: The effects of extended-release naltrexone on holiday drinking in alcohol-dependent patients 

Autores: Lapham S, Forman R, Alexander M, Illeperuma A, Bohn MJ.

Fonte: Journal of Substance Abuse Treatment 36:1-6, 2009.

As doenças que mais venderão em 2012


As doenças que mais venderão em 2012


 ADMIN  16/12/2011

“Se há um remédio capaz de gerar lucros, deve haver consumidores”. O que as corporações querem que você compre agora?

Martha Rosenberg escreve sobre o impacto das indústrias farmacêuticas, alimentícias e de armamentos na saúde pública. 

Por Martha Rosenberg*, no AlterNet | Tradução: Daniela Frabasile

Como a indústria farmacêutica conseguiu que um terço da população dos Estados Unidos tome antidepressivos, estatinas, e estimulantes? Vendendo doenças como depressão, colesterol alto e refluxo gastrointestinal. Marketing impulsionado pela oferta, também conhecido como “existe um medicamento – precisa-se de uma doença e de pacientes”. Não apenas povoa a sociedade de hipocondríacos viciados em remédios, mas desvia os laboratórios do que deveria ser seu pepel essencial: desenvolver remédios reais para problemas médicos reais.

Claro que nem todas as doenças são boas para tanto. Para que uma enfermidade torne-sc campeã de vendas, ela deve: (1) existir de verdade, mas ser constatada num diagnóstico que tem margem de manobra, não dependendo de um exame preciso; (2) ser potencialmente séria, com “sintomas silenciosos” que “só pioram” se a doença não for tratada; (3) ser “pouco reconhecida”, “pouco relatada” e com “barreiras” ao tratamento; (4) explicar problemas de saúde que o paciente teve anteriormente; (5) precisar de uma nova droga cara que não possui equivalente genérico.

Aqui estão algumas potenciais doenças da moda, que a indústria farmacêutica gostaria que você desenvolvesse em 2012:


Déficit de atenção com hiperatividade em adultos

Problemas cotidianos rotulados como “depressão” impulsionaram os laboratórios nas últimas duas décadas. Você não estava triste, bravo, com medo, confuso, de luto ou até mesmo sentindo-se explorado. Você estava deprimido, e existe uma pílula para isso. Mas a depressão chegou a um ápice, como a dieta Atkins e Macarena. Com sorte, existe o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (DDAH) em adultos. Ele dobrou em mulheres de 45 a 65 anos e triplicou em homens e mulheres com 20 a 44 anos, de acordo com o Wall Street Journal.
Assim como a depressão, a DDAH em adultos é uma categoria que pode englobar tudo. “É DDAH ou menopausa?” pergunta um artigo na Additude, uma revista voltada exclusivamente à doença DDAH. “DDA e Alzheimer: essas doenças estão relacionadas?” pergunta outro artigo da mesma revista.
Estou deprimida, pode ser DDAH?” diz um anúncio na Psychiatric News, mostrando uma mulher bonita, mas triste. Na mesma publicação, outro anúncio diz “promessas quebradas – adultos com DDAH têm quase duas vezes mais chances de se divorciar”, enquanto estimula médicos a checar a presença de DDAH pacientes para DDAH em seus pacientes.
Adultos com DDAH são normalmente “menos responsáveis, confiáveis, engenhosos, focados, autoconfiantes, e eles encontram dificuldades para definir, estabelecer e propor objetivos pessoais significativos”, diz um artigo escrito pelo dr. Joseph Biederman, psiquiatra infantil de Harvard, que leva os créditos por colocar “disfunção bipolar pediátrica” no mapa. Eles “mostram tendências de ser mais fechados, intolerantes, críticos, inúteis, e oportunistas” e “tendem a não considerar direitos e sentimentos de outras pessoas”, diz o artigo, numa frase que poderia ser usada por muitas pessoas para definir seus cunhados.
Adultos com DDAH terão dificuldade em se manter em um emprego e pioram se não forem tratados, diz WebMD, apontando para o seguindo requisito para as doenças campeãs de venda – sintomas que se agravam sem medicação. “Adultos com DDAH podem ter dificuldade em seguir orientações, lembrar informações, concentrar-se, organizar tarefas ou completar o trabalho no prazo”, de acordo com o site, cujo parceiro original era Eli Lilly.
Como as empresas farmacêuticas conseguiram fazer com que cinco milhões de crianças, e agora talvez seus pais, tomem remédios para DDAH? Anúncios em telas de 9 metros por 7, quatro vezes por hora na Times Square não vão fazer mal. Perguntam: “Não consegue manter o foco? Não consegue ficar parado? Seu filho pode ter DDAH?” (Aposto que ninguém teve problemas em se focar neles!).
Porém, convencer adultos que eles não estão dormindo pouco, nem entediados, mas têm DDAH é apenas metade da batalha. As transnacionais farmacêuticas também têm que convencer crianças que cresceram com o diagnóstico de DDAH a não pararem de tomar a medicação, diz Mike Cola, da Shire (empresa que produz os medicamentos para DDAH: Intuniv, Addreall XR, Vyvanse e Daytrana). “Nós sabemos que perdemos um número significativo de pacientes com mais ou menos vinte anos, pois saem do sistema por não irem mais ao pediatra”.
Um anúncio da Shire na Northwestern University diz “eu lembro de ser uma criança com DDAH. Na verdade, eu ainda tenho”, a frase está escrita em uma foto de Adam Levine, vocalista do Maroon 5. “É sua DDAH. Curta”, era a mensagem subliminar. (O objetivo seria: “continue doente”?).
Claro, pilhar crianças (ou qualquer um, na verdade) não é muito difícil. Por que outra razão traficantes de metanfetamina dizem que “a primeira dose é grátis”? Mas a indústria está tão empenhada em manter o mercado pediátrico de DDAH que criou cursos para médicos. Alguns exemplos: “Identificando, diagnosticando e controlando DDAH em estudantes”. Ou “DDAH na faculdade: procurar e receber cuidado durante a transição da infância para a idade adulta”.
Para assegurar-se de que ninguém pense que a DDAH é uma doença inventada, WebMD mostra ressonâncias magnéticas coloridas de cérebros de pessoas normais e de pacientes com DDAH (ao lado de um anúncio de Vyvanse). Mas é duvidoso se as duas imagens são realmente diferentes, diz o psiquiatra Dr. Phillip Sinaikin, autor de Psychiatryland. E mesmo que forem, isso não prova nada.
O ponto central do problema é que simplesmente não existe um entendimento definitivo de como a atividade neural está relacionada à consciência subjetiva, a antiga relação não muito clara entre corpo e mente”, Sinaikin contou ao AlterNet. “Não avançamos muito além da frenologia, e esse artigo do WebMD é simplesmente o pior tipo de manipulação da indústria farmacêutica a fim de vender seus produtos extremamente caros. Nesse caso, um esforço desesperado da Shire para manter uma parte do mercado quando o Addreall tiver versão genérica”.

Artrite Reumatóide

A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença séria e perigosa. Mas os supressores do sistema imunológico que a indústria farmacêutica oferece como alternativa – Remicade, Enbrel, Humira e outros – também são. Enquanto a AR ataca os tecidos do corpo, levando à inflamação das articulações, tecidos adjacentes e órgãos, os supressores imunológicos podem abrir uma brecha para câncer, infecções letais e tuberculose.
Em 2008, a agência norte-americana para alimentação e medicamentos (FDA) anunciou que 45 pessoas que tomavam Humira, Enbrel, Humicade e Cimzia morreram por doenças causadas por fungos, e investigou a relação do Humira com linfoma, leucemia e melanoma em crianças. Esse ano, a FDA avisou que as drogas podedm causar “um raro tipo de câncer nas células sanguíneas brancas” em jovens, e o Journal of the American Medical Association (JAMA) advertiu o aparecimento de “infecções potencialmente fatais por legionela e listeria”.
Medicamentos que suprem o sistema imunológico também são perigosos para os bolsos. Uma injeção de Remicade pode custar US$ 2.500; o suprimento de um mês de Enbrel custa US$ 1.500; o custo anual do Humira é de US$ 20 mil.
Há alguns anos, a AR era diagnosticada com base na presença do “fator reumatóide” e inflamações. Mas, graças ao marketing guiado pela oferta da indústria farmacêutica, bastam hoje, para o diagnóstico, enrijecimento e dor. (Atletas e pessoas que nasceram entes de 1970, entrem na fila, por favor).
Além do espaço de manobra para o diagnóstico e um bom nome, a AR possui outros requisitos das doenças campeãs de vendas. “Só vai piorar” se não for tratada, diz WebMD, e é frequentemente “subdiagnosticada” e pouco relatada, diz Heather Mason, da Abbott, porque “as pessoas costumam não saber o que têm, por algum tempo”.
Uma doença tão perigosa que o tratamento custa US$20 mil por ano, mas que é tão súbita que você pode não saber que tem? AR desponta como uma doença da moda.

Fibromialgia

Outra doença pouco relatada é a fibromialgia, caracterizada dores generalizadas e inexplicadas no corpo. Fibromialgia é “quase a definição de uma necessidade médica não atendida”, diz Ian Read, da Pfizer, que fabrica a primeira droga aprovada para fibromialgia, o medicamento anticonvulsivo Lyrica. A Pfizer doou US$ 2,1 milhões a grupos sem fins lucrativos em 2008 para “educar” médicos sobre a fibromialgia e financiou anúncios de serviço da indústria farmacêutica que descreviam os sintomas e citavam a droga. Hoje, a Lyrica lucra US$ 3 bilhões por ano.
Mesmo assim, a Lyrica concorre com Cymbalta, o primeiro antidepressivo aprovado para fibromialgia. A Eli Lilly propôs o uso de Cymbalta para a “dor” física da depressão, em uma campanha chamada “depressão machuca” antes da aprovação do tratamento para fibromialgia. O tratamento de pacientes com fibromialgia com Lyrica ou Cymbalta custa cerca de US$10 mil, segundo diários médicos.
A indústria farmacêutica e Wall Street podem estar felizes com os medicamentos para fibromialgia, mas os pacientes não. No site de avaliação de medicamentos, askapatient.com, pacientes que usam Cymbalta relatam calafrios, problemas maxilares, “pings” elétricos em seus cérebros, e problemas nos olhos. Nesse ano, quatro pacientes relataram a vontade de se matar, um efeito colateral frequente do Cymbalta. Usuários de Lyrica relatam noaskapatient perda de memória, confusão, ganho extremo de peso, queda de cabelo, capacidade de dirigir automóveis comprometida, desorientação, espasmos e outros ainda piores. Alguns pacientes tomam os dois medicamentos.

Disfunções do sono: Insônia no meio da noite

Disfunções do sono são uma mina de ouro para os laboratórios porque todo mundo dorme – ou assiste TV, quando não consegue. Para agitar o mercado de insônia, as corporações criaram subcategorias de insônia, como crônica, aguda, transitória, inicial, de início tardio, causada pela menopausa, e a grande categoria de sono não reparador. Nesse outono [primavera no hemisfério Sul], as apareceu uma nova versão do Ambien para insônia “no meio da noite”, chamado Intermezzo – ainda que Ambien seja, paradoxalmente, indutor de momentos conscientes durante o sono. As pessoas “acordam” em um blackout do Ambien e andam, falam, dirigem, fazem ligações e comem.
Muitos ficaram sabendo desse efeito do Ambien quando Patrick Kennedy, ex-parlamentar de Rhode Island, dirigiu até Capitol Hill para “votar” às 2h45min da manhã em 2006, sob efeito do remédio, e bateu seu Mustang. Mas foi comer sob o efeito do Ambien que trouxe a pior discussão sobre o medicamento. Pessoas em forma acordavam no meio de montanhas de embalagens de pizza, salgadinhos e sorvete – cujo conteúdo tinha sido comido pelos seus “gêmeos maus”, criados pelo remédio.

Sonolência excessiva e transtorno do sono por turno de trabalho

Não é preciso dizer: pessoas com insônia não estarão com os olhos brilhando e coradas no dia seguinte – tanto faz se elas não tiverem dormido, ou se tiverem, em seu corpo, resíduos de medicamentos para dormir. Na verdade, essas pessoas estão sofrendo da pouco reconhecida e pouco relatada epidemia da Sonolência Excessiva durante o Dia. As principais causas da SED são apnéia do sono e narcolepsia. Mas no ano passado, as corporações farmacêuticas sugeriram uma causa relacionada ao estilo de vida: “transtorno do sono por turno de trabalho”. Anúncios de Provigil, um estimulante que trata SED, junto com Nuvigil, mostram um juiz vestindo um roupão preto, no trabalho, com a frase “lutando para combater o nevoeiro?”.
Obviamente, agentes estimulantes contribuem com a insônia, que contribui com problemas de sonolência durante o dia, em um tipo de ciclo farmacêutico perpétuo. De fato, o hábito de tomar medicamentos para insônia e para ficar alerta é tão comum que ameaça a criação de um novo significado para “AA” – Adderal e Ambien.


Insônia que é depressão

Disfunções do sono também deram nova vida aos antidepressivos. Médicos agora prescrevem mais antidepressivos para insônia que medicamentos para insônia, de acordo com a CNN. É também comum que eles combinem os dois, já que “insônia e depressão frequentemente ocorrem conjuntamente, mas não fica claro qual é a causa e qual é o sintoma”.
WebMD concorda com o uso das duas drogas. “Pacientes deprimidos com insônia que são tratados com antidepressivos e remédios para dormir se saem melhor que aqueles tratados apenas com antidepressivos”, escreve.
De fato, muitas das novas doenças de massa, desde DDAH em adultos e AR até fibromialgia são tratadas com medicamentos novos junto com outros que já existiam e que não estão funcionando. É uma invenção das corporações polifarmácia. Isso lembra do dono de loja que diz “eu sei que 50% da minha propaganda é desperdiçada – só não sei qual 50%”.