As doenças que mais venderão em
2012
ADMIN – 16/12/2011
“Se há um remédio capaz de gerar lucros, deve haver
consumidores”. O que as corporações querem que você compre agora?
Martha Rosenberg escreve sobre o impacto das indústrias farmacêuticas, alimentícias
e de armamentos na saúde pública.
Por Martha Rosenberg*, no AlterNet | Tradução: Daniela Frabasile
Como a indústria
farmacêutica conseguiu que um terço da
população dos Estados Unidos tome antidepressivos, estatinas,
e estimulantes? Vendendo doenças como depressão, colesterol alto e refluxo
gastrointestinal. Marketing impulsionado pela oferta, também conhecido como
“existe um medicamento – precisa-se de uma doença e de pacientes”. Não apenas
povoa a sociedade de hipocondríacos viciados em remédios, mas desvia os
laboratórios do que deveria ser seu pepel essencial: desenvolver remédios reais
para problemas médicos reais.
Claro que nem todas as doenças são boas para tanto. Para
que uma enfermidade torne-sc campeã de vendas, ela deve: (1) existir de
verdade, mas ser constatada num diagnóstico que tem margem de manobra, não
dependendo de um exame preciso; (2) ser potencialmente séria, com “sintomas
silenciosos” que “só pioram” se a doença não for tratada; (3) ser “pouco reconhecida”, “pouco relatada” e com “barreiras” ao tratamento; (4)
explicar problemas de saúde que o paciente teve anteriormente; (5) precisar de
uma nova droga cara que não possui equivalente genérico.
Aqui estão algumas potenciais doenças da moda, que a indústria
farmacêutica gostaria que você desenvolvesse em 2012:
Déficit de atenção
com hiperatividade em adultos
Problemas
cotidianos rotulados como “depressão” impulsionaram os laboratórios nas últimas
duas décadas. Você não estava triste, bravo, com medo, confuso, de luto ou até
mesmo sentindo-se explorado. Você estava deprimido, e existe uma pílula para isso. Mas a depressão chegou a
um ápice, como a dieta Atkins e Macarena. Com sorte, existe o transtorno de
déficit de atenção com hiperatividade (DDAH) em adultos. Ele dobrou em mulheres
de 45 a 65 anos e triplicou em homens e
mulheres com 20 a 44 anos, de acordo com o Wall Street Journal.
Assim como a
depressão, a DDAH em adultos é uma categoria que pode englobar tudo. “É DDAH ou
menopausa?” pergunta um artigo na Additude, uma revista
voltada exclusivamente à doença DDAH. “DDA e Alzheimer: essas doenças estão
relacionadas?” pergunta outro artigo da mesma revista.
“Estou deprimida, pode ser DDAH?” diz um anúncio na Psychiatric News, mostrando uma mulher bonita, mas triste. Na mesma
publicação, outro anúncio diz “promessas quebradas – adultos com DDAH têm quase
duas vezes mais chances de se divorciar”, enquanto estimula médicos a checar a
presença de DDAH pacientes para DDAH em seus pacientes.
Adultos com DDAH são normalmente “menos responsáveis, confiáveis,
engenhosos, focados, autoconfiantes, e eles encontram dificuldades para
definir, estabelecer e propor objetivos pessoais significativos”, diz um artigo
escrito pelo dr. Joseph Biederman, psiquiatra infantil de Harvard, que leva os
créditos por colocar “disfunção bipolar pediátrica” no mapa. Eles “mostram
tendências de ser mais fechados, intolerantes, críticos, inúteis, e
oportunistas” e “tendem a não considerar direitos e sentimentos de outras
pessoas”, diz o artigo, numa frase que poderia ser usada por muitas pessoas
para definir seus cunhados.
Adultos com DDAH terão dificuldade em se manter em um emprego e pioram se
não forem tratados, diz WebMD, apontando para o seguindo requisito para as
doenças campeãs de venda – sintomas que se agravam sem medicação. “Adultos com
DDAH podem ter dificuldade em seguir orientações, lembrar informações,
concentrar-se, organizar tarefas ou completar o trabalho no prazo”, de acordo
com o site, cujo parceiro original era Eli Lilly.
Como as empresas farmacêuticas conseguiram fazer com que cinco
milhões de crianças, e agora talvez seus pais, tomem remédios para DDAH?
Anúncios em telas de 9 metros por 7, quatro vezes por hora na Times Square não
vão fazer mal. Perguntam: “Não consegue manter o foco? Não consegue ficar
parado? Seu filho pode ter DDAH?” (Aposto que ninguém teve problemas em se
focar neles!).
Porém, convencer adultos que eles não estão
dormindo pouco, nem entediados, mas têm DDAH é apenas metade da batalha. As
transnacionais farmacêuticas também têm que convencer crianças que cresceram
com o diagnóstico de DDAH a não pararem de tomar a medicação, diz Mike Cola, da
Shire (empresa que produz os medicamentos para DDAH: Intuniv, Addreall XR,
Vyvanse e Daytrana). “Nós sabemos que perdemos um número significativo de
pacientes com mais ou menos vinte anos, pois saem do sistema por não irem mais
ao pediatra”.
Um anúncio da Shire na Northwestern University diz “eu lembro de ser uma
criança com DDAH. Na verdade, eu ainda tenho”, a frase está escrita em uma foto
de Adam Levine, vocalista do Maroon 5. “É sua DDAH. Curta”, era a mensagem
subliminar. (O objetivo seria: “continue doente”?).
Claro, pilhar crianças (ou qualquer um, na verdade) não é muito difícil.
Por que outra razão traficantes de metanfetamina dizem que “a primeira dose é
grátis”? Mas a indústria está tão empenhada em manter o mercado pediátrico de
DDAH que criou cursos para médicos. Alguns exemplos: “Identificando,
diagnosticando e controlando DDAH em estudantes”. Ou “DDAH na faculdade:
procurar e receber cuidado durante a transição da infância para a idade
adulta”.
Para assegurar-se de
que ninguém pense que a DDAH é uma doença inventada, WebMD mostra ressonâncias
magnéticas coloridas de cérebros de pessoas normais e de pacientes com DDAH (ao
lado de um anúncio de Vyvanse). Mas é duvidoso se as duas imagens são realmente
diferentes, diz o psiquiatra Dr. Phillip Sinaikin, autor de Psychiatryland. E mesmo que
forem, isso não prova nada.
“O ponto central do problema é que simplesmente não
existe um entendimento definitivo de como a atividade neural está relacionada à
consciência subjetiva, a antiga relação não muito clara entre corpo e mente”,
Sinaikin contou ao AlterNet. “Não avançamos muito além da frenologia, e esse
artigo do WebMD é simplesmente o pior tipo de manipulação da indústria
farmacêutica a fim de vender seus produtos extremamente caros. Nesse caso, um
esforço desesperado da Shire para manter uma parte do mercado quando o Addreall
tiver versão genérica”.
Artrite Reumatóide
A Artrite Reumatoide (AR) é uma doença
séria e perigosa. Mas os supressores do sistema imunológico que a indústria farmacêutica
oferece como alternativa – Remicade, Enbrel, Humira e outros – também são.
Enquanto a AR ataca os tecidos do corpo, levando à inflamação das articulações,
tecidos adjacentes e órgãos, os supressores imunológicos podem abrir uma brecha
para câncer, infecções letais e tuberculose.
Em 2008, a agência norte-americana para alimentação e medicamentos
(FDA) anunciou que 45 pessoas que tomavam Humira, Enbrel, Humicade e Cimzia
morreram por doenças causadas por fungos, e investigou a relação do Humira com
linfoma, leucemia e melanoma em crianças. Esse ano, a FDA avisou que as drogas
podedm causar “um raro tipo de câncer nas células sanguíneas brancas” em
jovens, e o Journal of the American Medical
Association (JAMA) advertiu o aparecimento de “infecções potencialmente
fatais por legionela e listeria”.
Medicamentos que suprem o sistema imunológico também são perigosos
para os bolsos. Uma injeção de Remicade pode custar US$ 2.500; o suprimento de
um mês de Enbrel custa US$ 1.500; o custo anual do Humira é de US$ 20 mil.
Há alguns anos, a AR era diagnosticada com base na presença do
“fator reumatóide” e inflamações. Mas, graças ao marketing guiado pela oferta
da indústria farmacêutica, bastam hoje, para o diagnóstico, enrijecimento e
dor. (Atletas e pessoas que nasceram entes de 1970, entrem na fila, por favor).
Além do espaço de manobra para o diagnóstico e um bom nome, a AR
possui outros requisitos das doenças campeãs de vendas. “Só vai piorar” se não
for tratada, diz WebMD, e é frequentemente “subdiagnosticada” e pouco relatada,
diz Heather Mason, da Abbott, porque “as pessoas costumam não saber o que têm,
por algum tempo”.
Uma doença tão perigosa que o tratamento custa US$20 mil por ano,
mas que é tão súbita que você pode não saber que tem? AR desponta como uma
doença da moda.
Fibromialgia
Outra doença pouco relatada é a fibromialgia, caracterizada
dores generalizadas e inexplicadas no corpo. Fibromialgia é “quase a definição
de uma necessidade médica não atendida”, diz Ian Read, da Pfizer, que fabrica a
primeira droga aprovada para fibromialgia, o medicamento anticonvulsivo Lyrica.
A Pfizer doou US$ 2,1 milhões a grupos sem fins lucrativos em 2008 para
“educar” médicos sobre a fibromialgia e financiou anúncios de serviço da
indústria farmacêutica que descreviam os sintomas e citavam a droga. Hoje, a
Lyrica lucra US$ 3 bilhões por ano.
Mesmo assim, a Lyrica concorre com Cymbalta, o primeiro
antidepressivo aprovado para fibromialgia. A Eli Lilly propôs o uso de Cymbalta
para a “dor” física da depressão, em uma campanha chamada “depressão machuca”
antes da aprovação do tratamento para fibromialgia. O tratamento de pacientes
com fibromialgia com Lyrica ou Cymbalta custa cerca de US$10 mil, segundo
diários médicos.
A indústria farmacêutica e Wall Street podem estar
felizes com os medicamentos para fibromialgia, mas os pacientes não. No site de
avaliação de medicamentos, askapatient.com, pacientes que
usam Cymbalta relatam calafrios, problemas maxilares, “pings” elétricos
em seus cérebros, e problemas nos olhos. Nesse ano,
quatro pacientes relataram a vontade de se matar, um efeito colateral frequente
do Cymbalta. Usuários de Lyrica relatam noaskapatient perda de memória, confusão, ganho extremo de
peso, queda de cabelo, capacidade de dirigir automóveis comprometida,
desorientação, espasmos e outros ainda piores. Alguns pacientes tomam os dois
medicamentos.
Disfunções do sono: Insônia no meio da noite
Disfunções do sono são uma mina de ouro
para os laboratórios porque todo mundo dorme – ou assiste TV, quando não
consegue. Para agitar o mercado de insônia, as corporações criaram
subcategorias de insônia, como crônica, aguda, transitória, inicial, de início
tardio, causada pela menopausa, e a grande categoria de sono não reparador.
Nesse outono [primavera no hemisfério Sul], as apareceu uma nova versão do
Ambien para insônia “no meio da noite”, chamado Intermezzo – ainda que Ambien
seja, paradoxalmente, indutor de momentos conscientes durante o sono. As
pessoas “acordam” em um blackout do Ambien e andam, falam, dirigem, fazem
ligações e comem.
Muitos ficaram sabendo desse efeito do Ambien quando Patrick
Kennedy, ex-parlamentar de Rhode Island, dirigiu até Capitol Hill para “votar”
às 2h45min da manhã em 2006, sob efeito do remédio, e bateu seu Mustang. Mas
foi comer sob o efeito do Ambien que trouxe a pior discussão sobre o
medicamento. Pessoas em forma acordavam no meio de montanhas de embalagens de
pizza, salgadinhos e sorvete – cujo conteúdo tinha sido comido pelos seus
“gêmeos maus”, criados pelo remédio.
Sonolência excessiva e transtorno do sono por turno
de trabalho
Não é preciso dizer: pessoas com
insônia não estarão com os olhos brilhando e coradas no dia seguinte – tanto
faz se elas não tiverem dormido, ou se tiverem, em seu corpo, resíduos de
medicamentos para dormir. Na verdade, essas pessoas estão sofrendo da pouco
reconhecida e pouco relatada epidemia da Sonolência Excessiva durante o Dia. As
principais causas da SED são apnéia do sono e narcolepsia. Mas no ano passado,
as corporações farmacêuticas sugeriram uma causa relacionada ao estilo de vida:
“transtorno do sono por turno de trabalho”. Anúncios de Provigil, um
estimulante que trata SED, junto com Nuvigil, mostram um juiz vestindo um
roupão preto, no trabalho, com a frase “lutando para combater o nevoeiro?”.
Obviamente, agentes estimulantes contribuem com a insônia, que
contribui com problemas de sonolência durante o dia, em um tipo de ciclo farmacêutico
perpétuo. De fato, o hábito de tomar medicamentos para insônia e para ficar
alerta é tão comum que ameaça a criação de um novo significado para “AA” –
Adderal e Ambien.
Insônia que é depressão
Disfunções do sono também deram nova
vida aos antidepressivos. Médicos agora prescrevem mais antidepressivos para
insônia que medicamentos para insônia, de acordo com a CNN. É também comum que
eles combinem os dois, já que “insônia e depressão frequentemente ocorrem
conjuntamente, mas não fica claro qual é a causa e qual é o sintoma”.
WebMD concorda com o uso das duas drogas. “Pacientes deprimidos
com insônia que são tratados com antidepressivos e remédios para dormir se saem
melhor que aqueles tratados apenas com antidepressivos”, escreve.
De fato, muitas das novas doenças de massa, desde DDAH em adultos
e AR até fibromialgia são tratadas com medicamentos novos junto com outros que
já existiam e que não estão funcionando. É uma invenção das corporações
polifarmácia. Isso lembra do dono de loja que diz “eu sei que 50% da minha
propaganda é desperdiçada – só não sei qual 50%”.
Déficit de atenção com hiperatividade em adultos
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