segunda-feira, 4 de julho de 2011

Alcoolismo: apenas as consequências são registradas em óbitos

Alcoolismo: Notificados 3.429 casos e 10 mortes em 2010 no MS


MS Notícias

A rede de saúde pública de Mato Grosso do Sul notificou 3.429 casos de distúrbios provocados pelo consumo abusivo de álcool com 10 mortes em 2010, segundo a secretária de Saúde do Estado, Beatriz Dobashi. 
     
Ela abriu os paineis de debates da Conferência Estadual promovida pela Comissão Especial de Bebidas Alcoólicas da Câmara Federal, nesta quinta-feira, no Plenário da Assembleia Legislativa. Essa estatística, no entanto, segundo a secretária, pode não refletir a realidade, pois muitos casos são ‘mascarados’ e a notificação de óbitos, às vezes, aponta causas decorrentes do consumo do alcool.

Em relação a 2009, os casos de 2010 representaram aumento de 970 pacientes que passaram por um dos centros de apoio na Capital, segundo Maria Beatriz Almeidinha Maia, Gerente do CAPS – AD (Centro de Atenção Psicossocial de Campo Grande), a segunda palestrante da Conferência. Para o médico Fábio Augusto Moron de Andrade, voluntário da Fazenda Esperança, as drogas lícitas – álcool e tabaco – são a porta de entrada para as drogas ilícitas. Ele falou no terceiro painel da conferência sobre as experiências no atendimento a dependentes químicos e aponta como principais causas do consumo de drogas fatores sociais como insatisfação com a vida, dificuldades financeiras, de relacionamento social e no trabalho e a crise familiar.

Para o relator da Comissão Especial, deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), uma das causas do abuso do álcool se deve, ao apelo social, seja na publicidade, seja na convivência, e considera fundamental tornar mais rigorosa a proibição da venda de bebida a menores. Segundo ele, há 1 milhão de pontos de venda de bebidas alcoólicas no Brasil. A facilidade na venda e exposição, na opinião da deputada estadual Mara Casero, é um problema que deve ser enfrentado em primeiro plano. Para os casos crônicos, defendeu mais apoio público às comunidades terapêuticas. Na opinião dela, a permissividade também é um fator a contribuir com o alcoolismo. Na questão do tratamento, defende a capacitação de agentes do Programa Saúde da Família (PSF) na rede de assistência aos dependentes.

De acordo com Maria Beatriz Almeidinha Maia, os dependentes podem procurar os CAPS-AD sem necessidade de encaminhamento. “Depois de acolhidos, havendo necessidade, os pacientes são encaminhados ao Hospital Regional de Campo Grande, Nosso Lar e Comunidade Terapeutica. Segundo ela, em Campo Grande há Centros de Apoio para casos iniciais (localizado na Rua Joaquim Murtinho), para casos de transtornos mentais severos (Vila Margarida e Vila Planalto), para atendimento a crianças e adolescentes, um ambulatório psiquiátrico e um centro para atenção pós trauma.

Além dos impactos na rede de saúde e os distúrbios sociais, o álcool é, segundo o médico Zelik Trajber Coordenador da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), principal fator da violência nas aldeias. Ele defende a instalação de CAPS dentro da própria reserva, notando que é muito difícil tirar o indígena do seu meio para uma internação na cidade. Ele lembrou, durante exposição na conferência que apesar das estatísticas indicarem diminuição dos casos de suicídios, as ocorrências de homicídios e agressões são constantes.

Para Zelik Trajber, a rede de assistência ainda é muito pequena para atender a comunidade indígena. Na área psiquiátrica, são apenas cinco leitos no Hospital Universitário de Dourados e o Nosso Lar. A seu ver, o grande desafio é evitar a reincidência. “Depois da dexintoxicação o índio volta para a aldeia e aí, sem acompanhamento, temos mais um caso de reincidência”.

O presidente da Comissão Especial, deputado Geraldo Resende (PMDB-MS), mencionou a preocupação com o alcoolismo na comunidade indígena e sua relação com a violência. Resende lembrou da visita que fez à Fazenda Esperança em Guaratinguetá (SP), de onde se derivaram centros para o mundo todo, tendo seu trabalho reconhecido pelo Vaticano. Geraldo Resende também propôs aos parlamentares a elaboração de projetos de controle social e publicidade sobre o comércio de bebida alcoólica.

Números
De acordo com a secretária de Saúde, Beatriz Dobashi, os casos de alcoolismo são mais sérios do que aparentam, pelo fato de as internações e óbitos não demonstrarem a causa real e a contribuição negativa do álcool, sendo comum nos prontuários serem registradas apenas as consequências, ignorando as causas de doenças como transtorno mental e doença hepática.

Dobashi apresentou estatísticas mostrando que no ano passado houve 266 casos de abstinência, 355 intoxicações, 120 transtornos psicóticos, 93 transtornos tardios, 47 síndromes de abstinência com transtornos mentais, 27 casos não especificados, 18 por uso de substância nociva, 15 com síndrome de amnésia, entre outros casos. Esses dados, contudo, escondem a verdadeira estatística porque historicamente muitos casos não chegam à rede pública.

A secretária observou que além dos transtornos mentais, há a doença alcoólica do fígado, com evoluções para a cirrose hepática, que leva a óbito. “A cada ano esse quadro tem se agravado e os números de óbitos chegam a uma proporção preocupante, embora não se discuta o que é mais grave. Segundo ela, por concentrar 40% da população do Estado, Campo Grande apresenta a estatística mais preocupante.

Beatriz Dobashi disse que o governo do Estado está discutindo um programa de proteção à qualidade de vida, com a integração de políticas nos âmbitos das Secretarias de Assistência Social, Educação, Saúde e Justiça e Segurança Pública, buscando instrumentalizar a rede pública com a capacitação e financiamento de programas de atenção básica, ressocialização e reinserção social.

Hoje o Estado dispõe de 458 equipes de saúde da família que recebem treinamento para trabalhar com pacientes que fazem uso de álcool. Ela lembra que a rede de assistência, no entanto, é pequena. São 43 núcleos municipais e 35 centros de apoio em 16 municípios. “A rede é insuficiente, por isso estamos incentivando a instalação de CAPS por meio do cofinanciamento, além de duas residências terapêuticas e dois hospitais – HR em Campo Grande e Paranaiba, 11 ambulatórios psiquiátricos em 27 municípios. Há, porém, 21 municípios sem nenhuma unidade de atenção e assistência ao dependente.

Participantes
Participaram da conferência de Campo Grande, alem do presidente da Comissão Especial, deputado Geraldo Resende, deputado Vanderlei Macris, relator da Comissão, deputado Pastor Eurico, de Pernambuco, membro da Comissão, deputado João Ananias de Vasconcelos Neto, do Ceará, membro da Comissão; deputado federal Henrique Mandetta, os deputados estaduais Lauro Davi (PSB), presidente da Comissão Permanente de Saúde e Seguridade Social da Assembleia Legislativa, e Mara Casero, 3ª vice-presidente da Assembleia Legislativa e vice-presidente da Comissão de Saúde e Seguridade Socia; Beatriz Figueiredo Dobashi, secretária estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul, Maria Beatriz Almeidinha Maia, gerente do CAPS-AD de Campo Grande; Fábio Augusto Moron de Andrade, voluntário da Fazenda da Esperança; Zelik Trajber, coordenador da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) de Dourados;

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