Cláudio
Lembo - Terra.com.br - De São Paulo
Nenhuma notícia na imprensa pátria. Desconhecimento absoluto. Como se
nada houvesse acontecido. No entanto, ocorreu. Uma onda de suicídios de
executivos varre a França.
A França é o país europeu onde mais se verificam atos de morte
voluntária. Todos os anos, mais de cento e sessenta mil pessoas atentam
contra a própria vida. Doze mil morrem.
O caso francês, com situações correlatas em outros países da União
Europeia, indica uma situação social de anormalidade. A Europa encontra-se
esgotada.
O velho continente já não aponta para novas conquistas intelectuais ou
materiais. Está em processo de fragilização. No entanto, muitos brasileiros
ainda ficam extasiados quando se referem à Europa.
São incapazes de perceber que o vento do novo sopra sobre a América
Latina, apesar das aparências por vezes em contrário. É neste continente -
exatamente o Novo Mundo - onde se realizam as grandes mudanças.
Após anos de colonização direta e mental, os latino-americanos
compreenderam a importância de se debruçar sobre as próprias raízes e captar
a seiva que vem desta experiência.
Já não há menosprezo para os autóctones. Ser descendente dos
colonizadores ibéricos já não é importante. Leva-se em consideração, na
atualidade, o saber viver os valores locais.
Durante séculos, a História dos povos latino-americanos foi contada de
acordo com a ótica do colonizador. Tudo era visto, a partir das descrições
dos padres missionários.
A situação mudou. Os antigos manuais utilizados nos confessionários
foram postos de lado. O pesado complexo de culpa que era disseminada na
sociedade foi superado.
Hoje, nos trópicos e subtrópicos vive-se mais espontaneamente. De
acordo com a natureza e de conformidade com valores elaborados, por aqui, no
decorrer dos séculos.
Os surtos de melancolia que percorrem a Europa não atingem as praias
do Atlântico Sul ou do Pacífico austral. Novas formas de convivência brotaram
abaixo do Equador, de maneira acentuada no Brasil.
Não recebemos os acordes tristes do fado. Ficamos com os ritmos
vibrantes da África. Admiramos a capoeira e a transformamos no balé das
terras do Sol.
Tudo isto parece mero ufanismo. Talvez seja. É incontestável, contudo,
que se vive, nestas terras ensolaradas, de maneira diferente de nossos
ancestrais europeus.
Eles trouxeram as velhas tradições de culto aos mortos. Ergueram
cemitérios grandiosos. A morte se encontrava presente em todos os aspectos do
cotidiano.
Nada, porém, menos presente nos costumes nacionais que a morte.
Diferente de outros povos, onde o culto à morte é fundamental, os brasileiros
amam a vida.
Querem viver e deixar viver. A dramática onda de suicídio presente na
França, dificilmente ocorreria por aqui. As pessoas contam, aqui, com tantos
desafios. Estes geram otimismo espontâneo.
É importante que os brasileiros, especialmente aqueles que se orgulham
de suas posições acadêmicas, exponham mais sobre o Brasil e suas qualidades.
São poucos os mestres que buscam na História do Brasil base para suas
aulas. Gostam de mostrar erudição. Citar autores nacionais parece pouco
qualificado.
São os intelectualmente colonizados. Precisam se libertar das amarras
com o velho continente sem vigor. A nostalgia não é sentimento presente na
alma brasileira.
Aqui se vive intensamente. Os corpos possuem a vibração vinda da
própria atmosfera. É preciso entender as exigências de nossa sociedade sob
pena de alienação.
Os dramáticos suicídios disseminados entre os franceses demonstram um
esgotamento de energia no espaço europeu. Vamos aproveitar a energia de nossa
gente e construir novas formas de convivência.
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