Enfrentamento
- A chave do sucesso
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- Enfrentando o crack
Professor
colaborador do Departamento de Neurologia, Psicologia e Psiquiatria da
Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp), o psiquiatra José Manoel Bertolote
ocupou, durante 20 anos, o cargo de coordenador da equipe de transtornos
mentais e neurológicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Genebra.
Consultor da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD),
pesquisador e especialista na prevenção e tratamento de usuários de drogas
psicotrópicas, nesta entrevista ele fala sobre as reais chances de
recuperação de dependentes de crack, avalia a importância da reinserção
social e mostra porque é preciso mais que a desintoxicação para reduzir o
índice de recaídas. “A desintoxicação, apenas, tem seu papel, no sentido de
reduzir os danos a que o usuário está sujeito, mas é uma contribuição
modesta”, avalia.
É possível abandonar a dependência de crack por conta própria, sem
ajuda especializada?
Teoricamente, sim. Porém, isso
depende de vários fatores, entre os quais o grau de dependência e o nível de
apoio social e familiar que o dependente possui. O sucesso de qualquer tipo
de tratamento para uma dependência química passa, em grande parte, pela vontade
do usuário de se manter afastado da droga (abstinência). Sem isso, nenhuma
proposta terapêutica funcionará. Entretanto, há que se considerar o fenômeno
da comorbidade, ou seja, a coexistência no mesmo indivíduo de outros
transtornos mentais (por exemplo, depressão, psicoses, dependências de
álcool, transtornos graves de personalidade etc.) que, caso não sejam
tratados concomitantemente, podem comprometer a recuperação Um diagnóstico
adequado permitirá traçar uma abordagem terapêutica mais eficaz, que esteja
ajustada às características do paciente.
É possível levar uma vida normal após o tratamento? O dependente pode
freqüentar os mesmos locais que freqüentava antes e manter o mesmo círculo de
amizades, por exemplo?
Sim. Se o "antes" se
referir a antes do uso do crack, certamente. Entretanto, freqüentar os mesmos
ambientes e manter contato com as mesmas pessoas com quem usava o crack
inviabiliza a recuperação.
Como a família deve proceder antes, durante e ao término do
tratamento? Como agir em situações sociais, como festas familiares?
A família deve estar ao lado
do usuário, apoiando-o - sem se submeter a chantagens e tampouco submetê-lo a
pressões indevidas e ameaças infundadas. A firmeza e coerência de atitudes
dos familiares são essenciais. Mas não existe uma fórmula que se possa
oferecer para um usuário de crack ou para a família. Tirar o indivíduo das
companhias e do ambiente é uma solução, mas não a única. Se o dependente
permanece em sua residência durante o tratamento dificilmente será possível afastar-se
totalmente, pois vai precisar muito acompanhamento da família, muito
monitoramento, o que nem sempre é possível.
O dependente em tratamento pode fazer uso moderado de álcool, em
situações sociais?
Em princípio, sim, desde que
não coexista também uma síndrome de dependência do álcool. Desde que ele não
seja dependente de álcool, ele consegue tomar uma dose e parar por ali. Isso
não leva necessariamente o indivíduo a usar crack. A questão é que grande
parte dos usuários de crack é dependente ou usuário pesado de álcool
Um dependente de crack consegue se recuperar completamente da
dependência? Quais são as chances reais de sucesso do tratamento?
A dependência envolve
complexos mecanismos cerebrais, psicológicos e sociais. Com o tratamento
adequado a cada caso, e em presença de uma real vontade de deixar de usar a
droga, a recuperação é perfeitamente viável.
O que fazer quando o dependente não quer parar de usar a droga e não
aceita ajuda?
Não se pode submeter ninguém a
um tratamento involuntário, a menos que esteja intoxicado e representando uma
ameaça e um risco para si mesmo e para os demais. Nestes casos pode-se
conseguir uma ordem judicial de tratamento e, eventualmente, internação.
Qual a razão do alto índice de recaídas entre usuários de crack? Quais
fatores ou situações levam o dependente em tratamento a recaídas, mesmo após
a fase de desintoxicação?
Não há estudos suficientes que
permitam estimar as taxas de recaída entre usuários de crack, em geral, nem
por tipos específicos de tratamento. O que se sabe é que a ausência de um
sistema sócio-sanitário articulado que responda às necessidades desses
usuários pode contribuir para baixas taxas de sucesso terapêutico. A
desintoxicação, apenas, tem seu papel, no sentido de reduzir os danos a que
está sujeito o usuário, mas é uma contribuição modesta. Um sólido sistema de
apoio médico, psiquiátrico, social e psicológico é essencial para o sucesso
de um programa terapêutico, de reabilitação e reinserção social.
Como avaliar os resultados de um tratamento? Como saber se o usuário
está recuperado da dependência?
O resultado do tratamento do
crack é baseado em dois critérios fundamentais: a abstinência da droga e o
grau de reinserção social.
Qual é o segredo, a chave do sucesso para uma superação real?
A vontade
de se afastar e permanecer afastado da droga, o apoio social (da família e
dos amigos), psicoterapia e um bom sistema sócio-sanitário, que responda às reais
necessidades do dependente.
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sou usuaria de drogas e nao consigo parar por favor me ajude
ResponderExcluirOlá querida, procure a unidade de saúde mais próxima da sua casa, converse e peça o endereço de um caps alcool e drogas na sua cidade ou bairro. Assim iniciará o seu tratamento. Boa sorte!
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