País tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína
Metade deles é dependente e substância
inalada é a principal forma de consumo, segundo estudo do Inpad
- iG São Paulo |
05/09/2012
Uma pesquisa divulgada hoje (5) mostra que o
Brasil tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína, sendo metade deles
dependente (1,3 milhão). Deste total, 78% cheiram a substância exclusivamente
(consumida na forma de pó); 22% fumam (crack ou oxi) simultaneamente e 5%
consomem apenas pelos cachimbos, que já viraram marcas registradas das áreas
degradas e conhecidas como cracolândias.
O estudo Levantamento Nacional de Álcool e
Drogas (Lenad), unidade de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), mostra ainda que, do total de usuários, 1,4 milhões (46%) são
moradores da região Sudeste e 27% residem no Nordeste. No ranking de regiões, o
Norte aparece em 3º lugar (10%) empatado com o Centro-Oeste. O sul, com 7% de
concentração, está em último lugar.
“Fizemos as análises por classe econômica e,
diferentemente do esperado, não houve nenhuma diferença estatística. O padrão
de consumo de cocaína, seja aspirada ou fumada, é o mesmo entre os ricos ou
entre os pobres”, afirma uma das autoras do estudo, a psicóloga Clarice Sândi
Madruga. “Uma das hipóteses para este cenário é que o preço da cocaína está
muito mais barato, o que facilita o acesso.”
Para os pesquisadores os achados sugerem que
assim como a cocaína se popularizou e chegou à classe média e média baixa, o
crack também deixou de fazer parte apenas dos problemas da população de rua e
da marginalidade, como era no início da epidemia. A droga hoje afeta todos os
segmentos socioeconômicos.
“Não há no mundo país que venda cocaína de
forma tão barata. Em média, o preço da venda aqui é U$ 2 nos Estados Unidos
custa 10 vezes mais”, completa o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, também autor do
estudo da Unifesp e que investiga o padrão de uso de drogas em todas as nações,
sendo consultor de muitas delas.
“Além disso, os governos não fizeram a lição de
casa nos últimos anos. Não há um combate efetivo do tráfico drogas e, ao mesmo
tempo, não foi ampliada a rede de prevenção dos novos usuários e nem o aumento
da oferta de tratamento para os já dependentes.”
Primeiro do mundo
Marcelo Ribeiro, um dos primeiros pesquisadores
de álcool e drogas do País a estudar o comportamento de usuários de crack,
avalia que o potencial de consumidores destas drogas existentes no Brasil fez
com que, nas últimas duas décadas, o país mudasse de papel na rota dos tráficos
de drogas.
“Por ser muito populoso, o Brasil deixou de ser
só local de passagem das drogas para virar destino final de consumo.”
Pelos dados da Unifesp, 2% da população
brasileira usaram cocaína ou crack no último ano. Apesar de proporcionalmente
parecer pouco, em números absolutos é muita coisa, diz a especialista em álcool
e drogas, Ilana Pinsky.
“Isso sem contar que quando o assunto é
sensível, como o caso da dependência química, as pessoas tendem a não ser
totalmente verdadeiras nas respostas. Com quase toda certeza, a população
usuária de drogas é maior do que a identificada na pesquisa”, avalia Ilana.
Mesmo que subestimada, os 2,6 milhões de
brasileiros que se declaram, sendo 1 milhão deles consumidor de crack, já somam
20% do total de consumidores mundiais de cocaína, segundo dados da Organização
Mundial de Saúde (OMS) utilizados pela Unifesp. “Em números absolutos, nos
mostram os dados da OMS, o Brasil é o segundo mercado de cocaína do mundo,
atrás apenas dos Estados Unidos, e provavelmente o primeiro do mundo de crack,
já que os outros países não separam a forma de consumo, aspirada ou fumada”,
ressaltou a psicóloga Clarice Madruga.
Mais letal
Apesar da cocaína em forma de pó ser a mais
prevalente entre os dependentes, os especialistas ressaltam que quando
consumido na versão crack os efeitos são mais rápidos na degradação do
cérebro.
“O crack está mais associado à
mortalidade e ao envolvimento com a criminalidade”, afirma Laranjeira. “O
uso da cocaína é mais escondido, embaixo do pano, mas nos números mostram que
eles são muito altos e prevalentes. Na Europa toda há um declínio da utilização.
No Brasil, percorremos caminho inverso”, lamenta.
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