quinta-feira, 19 de setembro de 2013

País tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína

Metade deles é dependente e substância inalada é a principal forma de consumo, segundo estudo do Inpad

Fernanda Aranda - iG São Paulo | 
05/09/2012 

Uma pesquisa divulgada hoje (5) mostra que o Brasil tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína, sendo metade deles dependente (1,3 milhão). Deste total, 78% cheiram a substância exclusivamente (consumida na forma de pó); 22% fumam (crack ou oxi) simultaneamente e 5% consomem apenas pelos cachimbos, que já viraram marcas registradas das áreas degradas e conhecidas como cracolândias.
O estudo Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), unidade de pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra ainda que, do total de usuários, 1,4 milhões (46%) são moradores da região Sudeste e 27% residem no Nordeste. No ranking de regiões, o Norte aparece em 3º lugar (10%) empatado com o Centro-Oeste. O sul, com 7% de concentração, está em último lugar.
“Fizemos as análises por classe econômica e, diferentemente do esperado, não houve nenhuma diferença estatística. O padrão de consumo de cocaína, seja aspirada ou fumada, é o mesmo entre os ricos ou entre os pobres”, afirma uma das autoras do estudo, a psicóloga Clarice Sândi Madruga. “Uma das hipóteses para este cenário é que o preço da cocaína está muito mais barato, o que facilita o acesso.”
Para os pesquisadores os achados sugerem que assim como a cocaína se popularizou e chegou à classe média e média baixa, o crack também deixou de fazer parte apenas dos problemas da população de rua e da marginalidade, como era no início da epidemia. A droga hoje afeta todos os segmentos socioeconômicos.
“Não há no mundo país que venda cocaína de forma tão barata. Em média, o preço da venda aqui é U$ 2 nos Estados Unidos custa 10 vezes mais”, completa o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, também autor do estudo da Unifesp e que investiga o padrão de uso de drogas em todas as nações, sendo consultor de muitas delas.
“Além disso, os governos não fizeram a lição de casa nos últimos anos. Não há um combate efetivo do tráfico drogas e, ao mesmo tempo, não foi ampliada a rede de prevenção dos novos usuários e nem o aumento da oferta de tratamento para os já dependentes.”
Primeiro do mundo
Marcelo Ribeiro, um dos primeiros pesquisadores de álcool e drogas do País a estudar o comportamento de usuários de crack, avalia que o potencial de consumidores destas drogas existentes no Brasil fez com que, nas últimas duas décadas, o país mudasse de papel na rota dos tráficos de drogas.
“Por ser muito populoso, o Brasil deixou de ser só local de passagem das drogas para virar destino final de consumo.”
Pelos dados da Unifesp, 2% da população brasileira usaram cocaína ou crack no último ano. Apesar de proporcionalmente parecer pouco, em números absolutos é muita coisa, diz a especialista em álcool e drogas, Ilana Pinsky.
“Isso sem contar que quando o assunto é sensível, como o caso da dependência química, as pessoas tendem a não ser totalmente verdadeiras nas respostas. Com quase toda certeza, a população usuária de drogas é maior do que a identificada na pesquisa”, avalia Ilana.
Mesmo que subestimada, os 2,6 milhões de brasileiros que se declaram, sendo 1 milhão deles consumidor de crack, já somam 20% do total de consumidores mundiais de cocaína, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) utilizados pela Unifesp. “Em números absolutos, nos mostram os dados da OMS, o Brasil é o segundo mercado de cocaína do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, e provavelmente o primeiro do mundo de crack, já que os outros países não separam a forma de consumo, aspirada ou fumada”, ressaltou a psicóloga Clarice Madruga.
Mais letal
Apesar da cocaína em forma de pó ser a mais prevalente entre os dependentes, os especialistas ressaltam que quando consumido na versão crack os efeitos são mais rápidos na degradação do cérebro. 

 “O crack está mais associado à mortalidade e ao envolvimento com a criminalidade”, afirma Laranjeira. “O uso da cocaína é mais escondido, embaixo do pano, mas nos números mostram que eles são muito altos e prevalentes. Na Europa toda há um declínio da utilização. No Brasil, percorremos caminho inverso”, lamenta.

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