Adultos jovens são os
principais usuários de crack, indica Fiocruz
Por iG São Paulo | 19/09/2013 11:35 - Atualizada às 19/09/2013 12:14
Pesquisa revela que
cerca de 80% dos usuários da droga são homens e não brancos. Maioria também é
solteiro
Os usuários de crack no Brasil são principalmente adultos
jovens, com idade média de 30 anos, homens (78,7%), não brancos (80%) - o que
inclui pretos, pardos e indígenas, por exemplo - e solteiros (60,6%). Além
disso, têm, na maior parte dos casos, baixa escolaridade, sendo que apenas dois
em cada dez cursaram ou concluíram o ensino médio. Em relação ao ensino
superior, a proporção é ainda menor: cerca de 0,3% cursou ou concluiu esse
nível de escolaridade.
Os dados fazem parte da pesquisa Perfil dos Usuários de
Crack e/ou Similares no Brasil, divulgada nesta quinta-feira (19) pelos
ministérios da Justiça e da Saúde. Encomendado pela Secretaria Nacional de
Políticas Sobre Drogas (Senad) à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o
levantamento revela as principais características epidemiológicas dos usuários
de crack e outras formas similares de cocaína fumada - pasta-base, merla e oxi
- no país.
A pesquisa também
aponta uma expressiva proporção de usuários em situação de rua, com
aproximadamente 40% deles nessa condição. Nas capitais o percentual é mais
elevado e chega a 47,3%, enquanto nos demais municípios do país 20% dos
usuários regulares de crack relataram essa condição. Os pesquisadores
ressaltaram que não significa que esse contingente necessariamente more nas
ruas, mas que nelas passa a maior parte de seu tempo.
A maioria dos usuários
(65%) obtém dinheiro por meio de trabalhos esporádicos ou autônomos. Atividades
ilícitas, como tráfico de drogas e furtos, por exemplo, foram relatadas por uma
minoria dos usuários (6,4% e 9% respectivamente). Embora o percentual não tenha
sido alto, com apenas 7,5% dos usuários apontando o sexo em troca de dinheiro
ou de drogas, os pesquisadores consideraram a frequência elevada se comparada à
população geral, já que nesse caso a proporção de profissionais de sexo é
inferior a 1%.
"O sexo comercial
é uma fonte relevante de renda nessa população, embora não em harmonia com
algumas informações equivocadas que chegam a atribuir à prática de sexo
comercial o financiamento integral do hábito de consumo entre as
mulheres", diz o texto.
Para coletar os dados,
cerca de 500 profissionais como pesquisadores, assistentes sociais e
psicólogos, foram a locais de consumo da droga, mapeados com a ajuda de fontes
locais - secretarias de Saúde, Assistência Social e Segurança, além de
organizações não-governamentais e lideranças comunitárias. Nesses locais, as
equipes identificaram usuários, que foram entrevistados entre novembro de 2011
e junho de 2013. Ao todo, 7.381 usuários de crack em 112 municípios de portes
variados - incluindo todas as capitais brasileiras - responderam às perguntas.
Tratamento
O estudo ainda mostram
que 78,9% dos usuários da droga desejam se tratar. No entanto, é baixo o acesso
deles aos serviços disponíveis, como postos e centros de saúde, procurados por
apenas 20% dos usuários nos 30 dias anteriores à pesquisa; unidades que
fornecem alimentação gratuita (17,5%) ou instituições que fazem acolhimento, a
exemplo de abrigos, casas de passagem, e os centros de Referência de
Assistência Social (Cras), buscados por 12,6% dos usuários.
Em relação aos
serviços para tratamento ambulatorial da dependência química nos 30 dias
anteriores à pesquisa, o Centro de Atenção Psicossocial para atendimento a
usuários de álcool,crack e outras drogas (Caps-AD) foi o mais acessado, ainda
que por apenas 6,3% dos usuários. De acordo com os pesquisadores da Fiocruz,
esse fato reforça "a premente necessidade de ampliação e fortalecimento
desses equipamentos no âmbito da rede de saúde, assim como as pontes (serviços
intermediários, agentes de saúde, redes de pares, consultórios de rua) entre as
cenas de uso e os serviços já instalados".
A
pesquisa também revela que os usuários manifestaram interesse por serviços
associados à assistência social e por serviços de atenção à saúde não
necessariamente voltados ao tratamento da dependência química, como os ligados
à higiene, à distribuição de alimento, ao apoio para conseguir emprego, escola
ou curso e atividades de lazer. Esses aspectos foram citados por mais de 90%
dos entrevistados como fundamental para facilitar o acesso e o uso de serviços
de atenção e tratamento.
O levantamento aponta
ainda que aproximadamente metade dos usuários de crack e/ou similares já foi
presa ao menos uma vez, sendo que 41,6% foram detidos no último ano. Entre os
motivos da detenção, destacaram-se o uso ou posse de drogas (13,9%); assalto ou
roubo (9,2%); furto, fraude ou invasão de domicílio (8,5%) e tráfico ou produção
e drogas (5,5%).
Outro dado que chamou
a atenção dos pesquisadores é que cerca de 10% das mulheres usuárias relataram
estar grávidas no momento da entrevista. Além disso, mais da metade das
usuárias de crack já haviam engravidado ao menos uma vez desde que iniciaram o
uso da droga. "Trata-se de achado preocupante devido às consequências
importantes do consumo do crack durante a gestação sobre o desenvolvimento
neurológico e intelectual das crianças expostas", apontam no texto.
A pesquisa indica, ainda,
que 44,5% das mulheres entrevistadas relataram já ter sofrido violência sexual
na vida, enquanto entre os homens o percentual foi 7%. Em relação ao tempo
médio de uso, o estudo aponta que nas capitais se estende por aproximadamente
91 meses (cerca de oito anos), enquanto nos demais municípios esse tempo foi 59
meses (5 anos). Mais da metade dos usuários tem padrão de consumo diário, sendo
que cada usuário consome em média 16 pedras de crack por dia nas capitais e nos
demais municípios, 11 pedras. Quando consideradas as diferenças entre os
gêneros, nota-se que os homens usam crack por tempo mais prolongado, em média
por 83,9 meses, enquanto as mulheres fazem uso por aproximadamente 72,8 meses.
O consumo diário, no entanto, é mais intenso entre elas: 21 pedras de crack. Já
os homens consomem 13 pedras por dia.
Para fazer o
levantamento, cerca de 500 profissionais, como pesquisadores, assistentes
sociais e psicólogos, foram a locais usados para consumo da droga, mapeados com
ajuda de fontes locais - secretarias de Saúde, Assistência Social e Segurança,
além de organizações não governamentais e lideranças comunitárias. Nesses
locais, as equipes identificaram usuários, que foram entrevistados entre
novembro de 2011 e junho de 2013. Ao todo, 7.381 usuários de crack em 112
municípios de portes variados - incluindo todas as capitais brasileiras -
responderam às perguntas.
* Com informações da Agência Brasil