Mais da metade dos cânceres é
evitável, diz estudo
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Número de casos poderia ser reduzido se fossem adotados hábitos saudáveis e colocados em prática os conhecimentos que já se têm sobre a doença. Mais da metade de todos os cânceres poderia ser evitada, afirmaram cientistas americanos em um estudo publicado na revista Science Translational Medicine, nesta quarta-feira. Para que a redução aconteça, argumenta o artigo, é preciso adotar estilos de vida mais saudáveis, baseados nos conhecimentos já públicos sobre como prevenir a doença.
O tabagismo, por exemplo, é responsável por um terço de todos os casos
de câncer nos Estados Unidos e até três quartos dos casos de câncer de pulmão
no país. E, mesmo sabendo dos riscos envolvidos no ato de fumar, as pessoas
mantêm o hábito que pode dar origem à doença.
Estudos científicos já demonstraram que muitos outros tipos de câncer
também podem ser evitados com medidas relativamente simples. O HPV
(papilomavírus humano) e a hepatite, que podem provocar câncer de colo do
útero e de fígado, respectivamente, podem ser prevenidos com vacinas. O
câncer de pele, um dos cânceres mais comuns (é o mais comum no Brasil), pode
ser evitado com o uso de protetores solares ou simplesmente observando os
horários corretos para se expor ao sol.
"A sociedade deve reconhecer a necessidade destas mudanças e
levá-las a sério na tentativa de desenvolver hábitos mais saudáveis",
afirmaram os pesquisadores. "É hora de começarmos a aplicar o que
sabemos", disse a coordenadora do artigo, Graham Colditz,
epidemiologista do Centro Oncológico Siteman da Universidade de Washington em
St. Louis, Missouri.
Obstáculos — Praticar exercícios, comer bem e não fumar são hábitos
chave para evitar quase a metade das 577.000 mortes por câncer nos Estados
Unidos previstas para este ano, um número superado apenas pelas doenças
cardíacas, acrescentou o estudo. No Brasil, segundo estimativa do Instituto
Nacional do Câncer (Inca), serão 520.000 casos em 2012.
Mas os especialistas destacaram uma série de obstáculos para as
mudanças de hábito em uma sociedade na qual, segundo estimativas, foram
diagnosticados mais de 1,6 milhão de casos de câncer este ano. Entre os
percalços, destacaram o ceticismo de que o câncer pode ser evitado e o hábito
de intervir tarde demais para deter ou prevenir um tumor maligno já
instalado.
Além disso, grande parte das pesquisas sobre o câncer se concentra no
tratamento em vez da prevenção, e tende a ter uma visão de curto prazo em vez
de um enfoque de longo prazo. "Os seres humanos são impacientes e esta
característica humana, em si, é um obstáculo para a prevenção do
câncer", ressaltou o estudo.
As grandes diferenças de renda entre as classes sociais altas e as
baixas, que fazem com que os pobres tendam a ficar mais expostos a fatores de
risco do que os ricos, complicam ainda mais o panorama. "Assim como nos
outros países, a estratificação social nos Estados Unidos exacerba as
diferenças de estilo de vida, como o acesso a cuidados de saúde, a prevenção
especial e os serviços de detecção precoce", destacou o estudo. "As
mamografias, os exames de cólon, o apoio para a dieta e a nutrição, os
recursos para parar de fumar e os mecanismos de proteção solar simplesmente
estão menos disponíveis para os pobres", acrescentaram os pesquisadores.
Ainda assim Colditz apontou o sucesso de alguns programas, como o que
ajudou a eliminar de forma relativamente rápida a gordura trans dos alimentos
nos EUA e o declínio no número de fumantes após a adoção de leis que
restringiram o consumo de tabaco. No Brasil foi observado fenômeno
semelhante. O número de pessoas que fumam dois ou mais maços de cigarro por
dia na cidade de São Paulo caiu 31% entre 2009 e 2010, depois que a lei antifumo
foi promulgada.
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