Médico se desculpa por artigo contrário ao uso medicinal da
maconha
Do UOL Em São Paulo 08/08/2013 19h02
O neurocirurgião
americano Sanjay Gupta, chefe dos correspondentes para assuntos médicos da CNN,
divulgou um artigo nesta quinta-feira (8) no site de
notícias da rede em que pede desculpas por ter publicado, em 2009, um artigo
contrário ao uso medicinal da maconha na revista Time.
- Martin Bernetti/AFPO médico, que trabalha em um documentário sobre o uso medicinal da maconha, diz que é irresponsável não oferecer o melhor cuidado aos pacientes com sintomas que podem ser aliviados com o uso da erva
Gupta, que está
trabalhando em um documentário chamado "Weed" ("Erva
Daninha", em português), diz que passou o último ano entrevistando
especialistas, produtores, autoridades e pacientes em diversos países. "O
que eu descobri foi impressionante", relata.
Ele diz que
havia feito uma revisão da literatura científica dos EUA na ocasião em que
escreveu o artigo, intitulado "Por que eu votaria contra a maconha".
Mas admite que não havia pesquisado o bastante, nem buscado estudos de
qualidade de laboratórios menores, de outros países. Além de ter desprezado o
coro, "legítimo", de pacientes que apresentaram redução significativa
em seus sintomas com o uso da erva.
O neurocirurgião
cita um exemplo comovente de uma menina de 3 anos, Charlotte Figi, do Colorado,
que tinha cerca de 300 convulsões por semana apesar dos medicamentos. Com o uso
da maconha, ela passou a ter apenas duas ou três ao mês. "Tenho visto mais
pacientes como Charlotte, passado tempo com elas, e concluí que é irresponsável
não oferecer o melhor cuidado possível a eles, cuidado esse que pode envolver o
uso da maconha", diz o médico no artigo.
Ele também cita
um estudo recente em que 76% dos médicos responderam que aprovariam a
administração de maconha em mulheres com dores decorrentes do câncer de
mama.
Gupta questiona
o fato de a droga fazer parte da categoria das mais perigosas nos EUA, mais até
que a cocaína. No entanto, ela provoca dependência em cerca de 9% dos usuários,
enquanto que, para a cocaína, a proporção é de 20%, e para o tabaco, de 30%.
Ele acrescenta
que a abstinência da erva não produz sintomas tão graves quanto a do álcool,
que pode até levar à morte. E, apesar de ter procurado muito, ele garante que
não encontrou ninguém que tenha morrido por overdose de maconha. Por outro
lado, uma pessoa morre a cada 19 minutos nos EUA em decorrência do abuso de
remédios prescritos por médicos.
Ele esclarece
que a classificação da maconha foi estabelecida em 1970 pelo médico Roger
Egeberg, então secretário de saúde, não por haver estudos contundentes sobre os
riscos da maconha, mas pelo fato de que não havia estudos, na época, capazes de
avaliá-los. Segundo ele, a maior parte dos trabalhos sobre a droga se destina a
investigar seus efeitos negativos, e não seus eventuais benefícios - ele
analisou mais de 20 mil trabalhos recentes.
A justificativa
para isso, o médico explica, é que não é nada fácil obter autorização, muito
menos conseguir a droga, que é ilegal, para conduzir esse tipo de teste.
"Temos sido terrivelmente e sistematicamente enganados por quase 70 anos
nos Estados Unidos, e peço desculpas por meu próprio papel nisso",
declara. Gupta diz esperar que o artigo, assim como o documentário, sirvam como
correção.
O neurocirurgião
deixa claro, no entanto, que a maconha tem efeitos deletérios à saúde,
especialmente para os jovens, que ainda estão com o cérebro em formação. Ele
cita evidências de que a droga reduz o desempenho em testes de QI e pode
deflagrar psicose em indivíduos com predisposição. "Da mesma maneira que
eu não deixaria meus filhos beberem álcool, eu não permitiria que usassem
maconha até que chegassem à idade adulta", pondera
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