Trabalhadores sofrem mais de DORT e transtornos
mentais, aponta ambulatório do HC
Posted março 9th, 2012 by Ana Paula - Fonte: Portal UNICAMP
Fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, falta
de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração,
problemas digestivos e depressão são alguns dos sintomas de uma doença
invisível chamada de síndrome do esgotamento profissional ou Sindrome de Burnout (SB) – do inglês
burn out, que significa queimar-se por completo.
Enquanto nas décadas de 1970 os problemas de saúde
do trabalhador mais relevantes eram as doenças profissionais, tais como
silicose ou intoxicação por chumbo e na de 1980 eram as lesões por esforços
repetitivos (LER) e doenças
osseomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), de 1990 em diante os casos
de transtornos
mentais relacionados ao trabalho e as doenças como depressão e SB não pararam
de crescer.
De acordo com Sérgio Roberto de Lucca, professor e
coordenador da área de saúde do trabalhador do Departamento de Saúde Coletiva
da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, os casos de DORT e
transtornos mentais associadas à sindrome do esgotamento mental são uma
tendência demonstrada pelas estatísticas da Previdencia Social e pelos
pacientes atendidos no ambulatório de medicina do trabalho do Hospital de
Clínicas (HC) da Unicamp. Dos 858 casos de DORT atendidos no ambulatório nos
últimos anos, 280 destes casos apresentam como co-morbidade algum tipo de
transtorno mental.
“O novo desafio da medicina do trabalho é a
de preservar a sanidade mental dos trabalhadores. Passamos do risco
tecnológico, possível de controlar, para o risco invisível, difícil de
controlar. Na história clinica há relatos de assédio moral e alguns pacientes
apresentam sintomas que podem caracteriza-se como Síndrome de Burnout. O medo
de perder emprego e os fatores da organização do trabalho são invisíveis e
muito mais complexos de lidar. Este problema é mundial”, disse de Lucca.
Segundo de Lucca, a esse problema foi agravado com
o advento das novas tecnologias e da globalização que impôs uma reestruturação
produtiva. A precarização do trabalho se dá por meio da terceirização,
flexibilização das atividades e instabilidade dos postos de trabalho. E o
Brasil está numa posição reservada.
“As exigências das empresas são tamanhas que o
indivíduo precisa de uma qualificação cada vez mais exigente. A maioria dos
trabalhadores, hoje, não tem essa qualificação. Eles ficarão na periferia do
sistema, em subempregos ou desempregados”, disse.
Milésima reunião clínica
A área de saúde ocupacional começou em 1978, com o
ambulatório de medicina do trabalho, na Liga das Senhoras Católicas de
Campinas. O fundador foi o professor René Mendes, do então Departamento de
Medicina Preventiva e Social da FCM. Desde 1987, após o ambulatório mudar-se do
centro de Campinas para o recém construído Hospital de Clínicas (HC) da
Unicamp, alunos do quinto ano de graduação em medicina, médicos residentes e
professores passaram a se reunir regularmente às quartas feiras nas reuniões
clinicas de discussão dos casos de pacientes atendidos no ambulatório de
medicina do trabalho. Em 34 anos, mais de três mil pacientes foram atendidos,
constituindo-se em casos clínicos e fontes de pesquisa.
No dia 7 de março, a área de saúde do trabalhador
do Departamento de Saúde Coletiva da FCM realizou a sua milésima reunião
clínica. Para comemorar esta marca, aconteceu uma sessão solene às 19 horas, no
anfiteatro 1 do conjunto de salas de aula da FCM, com a palestra “A importância
do ensino e formação na atenção à saúde do trabalhador “, proferida por René
Mendes, hoje consultor e professor aposentado da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Mendes foi quem instituiu as reuniões clínicas semanais da área.
“O René Mendes participou da evolução histórica da
medicina do trabalho. Seu livro mais conhecido é “Patologias do trabalho”. Ele
vai falar sobre o que aconteceu nesses últimos 25 anos no mundo do trabalho em
particular na atenção á saúde dos trabalhadores”, explicou de Lucca.
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