quinta-feira, 14 de março de 2013

Internação compulsória pode ser forma de tortura diz relator da ONU


Internação compulsória e discriminação na saúde podem ser formas de tortura, diz especialista da ONU


março 11, 2013 em Destaques por Gabriele Carvalho
disponível em Frente Nacional Drogas e Direitos Humanos

da ONU Brasil

Relator especial apresentou relatório em Genebra alertando para práticas abusivas em todo mundo como detenção compulsória em condições médicas, violações dos direitos reprodutivos, negação de tratamento contra a dor e discriminação contra pessoas com deficiência psicossocial e outros grupos marginalizados.

 Os chamados centros de tratamento de drogas ou centros de ‘reeducação através do trabalho’ podem se tornar locais para a prática da tortura e de maus-tratos, além de serem em muitos casos instituições controladas por forças militares ou paramilitares, forças policiais ou de segurança, ou ainda empresas privadas.
O alerta foi feito nesta terça-feira (5) pelo Relator Especial da ONU sobre a tortura, Juan. E. Méndez, que propôs um debate internacional sobre os abusos em cuidados de saúde, que podem atravessar um limiar de maus-tratos equivalentes à tortura ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
“É comum a internação compulsória de usuários de drogas em supostos centros de reabilitação. Em alguns países, há relatos de que uma vasta gama de outros grupos marginalizados, incluindo crianças de rua, pessoas com deficiência psicossocial, profissionais do sexo, pessoas desabrigadas e pacientes com tuberculose, sejam detidos nesses centros”, afirmou Méndez.
“Cuidados médicos que causam grande sofrimento sem nenhuma razão justificável podem ser considerados um tratamento cruel, desumano ou degradante, e se há envolvimento do Estado e intenção específica, é tortura”, alertou Méndez durante a apresentação do seu mais recente relatório para o Conselho de Direitos Humanos da ONU, que ilustra algumas dessas práticas abusivas de cuidados de saúde e lança luz sobre práticas abusivas muitas vezes não detectadas apoiadas por políticas de saúde.
O relatório inovador analisa todas as formas de abuso rotulados como “tratamento de saúde”, que tentam ter como premissa ou justificativa políticas de saúde. Ele também identifica o âmbito das obrigações do Estado de regular, controlar e fiscalizar as práticas de cuidados de saúde, com objetivo de prevenir maus-tratos sob qualquer pretexto, as políticas que promovem essas práticas e as lacunas de proteção existentes.
“Existem desafios únicos em parar os maus-tratos nos tratamentos de saúde devido, entre outras coisas, a uma percepção de que, apesar de nunca justificadas, certas práticas de cuidados de saúde podem ser defendidas pelas autoridades por motivos de eficiência administrativa, modificação de comportamento ou necessidade médica”, ressaltou o especialista.
Em seu relatório, Méndez explora um entendimento novo de diferentes formas de abusos contra os pacientes e indivíduos sob supervisão médica. Saiba abaixo:

 

Detenção compulsória em condições médicas

“É comum a internação compulsória de usuários de drogas em supostos centros de reabilitação. Às vezes chamados de centros de tratamento de drogas ou de centros ou campos de ‘reeducação através do trabalho’, estas são instituições geralmente controladas por forças militares ou paramilitares, forças policiais ou de segurança, ou empresas privadas.”
“Em alguns países, há relatos de que uma vasta gama de outros grupos marginalizados, incluindo crianças de rua, pessoas com deficiência psicossocial, profissionais do sexo, pessoas desabrigadas e pacientes com tuberculose, sejam detidos nesses centros.”

Violações dos direitos reprodutivos

“Os exemplos de tais violações incluem o tratamento abusivo e humilhação em contextos institucionais de esterilização involuntária; negação de serviços de saúde legalmente disponíveis, como aborto e pós-aborto; esterilizações e abortos forçados; mutilação genital feminina; violações de sigilo e confidencialidade médica em contextos de saúde, como denúncias de mulheres feitas por pessoal médico quando uma evidência de aborto ilegal é encontrada; e a prática de tentar obter confissões como condição de potencialmente fornecer tratamento médico para salvar vidas após um aborto.”

Negação de tratamento contra a dor

“Os governos devem garantir medicamentos essenciais – que incluem, entre outros, analgésicos opioides – como parte de suas obrigações mínimas essenciais sob o direito à saúde, bem como tomar medidas para proteger as pessoas sob sua jurisdição de tratamento desumano e degradante.”

Pessoas com deficiência psicossocial

“Abusos graves, como negligência, abuso físico e mental e violência sexual, continuam a ser cometidos contra pessoas com deficiência psicossocial e pessoas com deficiência intelectual em situações de cuidados de saúde.”
“Não pode haver nenhuma justificativa terapêutica para o uso de confinamento solitário e restrição prolongada para pessoas com deficiência em instituições psiquiátricas; tanto a reclusão prolongada quanto a contenção podem constituir tortura e maus-tratos.”
“A institucionalização não consensual, imprópria ou desnecessária de indivíduos pode constituir tortura ou maus-tratos, bem como o uso da força para além do que é estritamente necessário.”

Grupos marginalizados

“Há relatos de pessoas que vivem com HIV/aids sendo recusadas por hospitais, sumariamente exoneradas, tendo acesso negado a serviços médicos a menos que aceitem a esterilização, e tendo recebido atendimento médico tanto de má qualidade quanto degradante e prejudicial para o seu já frágil estado de saúde.”
“Uma forma particular de maus-tratos e possivelmente tortura a usuários de drogas é a negação de tratamento de substituição por opiáceos, inclusive como uma forma de extrair confissões criminosas através da indução de sintomas dolorosos de abstinência.”
“Há uma abundância de relatos e depoimentos de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e transsexuais tendo tratamento médico negado, sendo submetidas a abuso verbal e humilhação pública, avaliação psiquiátrica, uma variedade de procedimentos tais como a esterilização forçada, exames anais forçados patrocinados pelo Estado para confirmar suspeitas de atividades homossexuais, e exames de virgindade invasivos realizados por profissionais de saúde, terapias hormonais e cirurgias genitais normalizadoras sob o pretexto de chamadas ‘terapias reparativas’.”
“As pessoas com deficiência são particularmente afetadas por intervenções médicas forçadas e continuam a ser expostas a práticas médicas não consensuais. As mulheres que vivem com deficiência, com rótulos psiquiátricos em particular, estão sob risco de múltiplas formas de discriminação e abuso em cuidados de saúde.”
Para o relator especial, o significado de categorizar os abusos em tratamentos de saúde como a tortura e maus-tratos, assim como examinar estes abusos a partir de uma ótica de proteção à tortura, “oferece a oportunidade para solidificar o entendimento dessas violações e destacar as obrigações positivas que os Estados têm de prevenir, reprimir e corrigir tais violações”.
O relatório será discutido em um evento paralelo sobre “Prevenção a tortura e maus-tratos em cuidados de saúde”.
Acesse o relatório na íntegra, em inglês, em http://bit.ly/ZcZXRm

60% das mortes por armas nos USA é por suicídio


Mais de 60% das mortes por armas de fogo nos EUA são suicídios

BBC Brasil

O massacre de dezembro passado em uma escola de Newton, no Estado de Connecticut, nordeste dos Estados Unidos, lançou no país um novo debate sobre a relação entre o acesso facilitado a armas de fogo e a violência com armas.
Mas algumas entidades aproveitaram o debate nacional para destacar uma realidade que muitas vezes passa despercebida: o número anual de pessoas que cometem suicídio usando armas de fogo é muito maior do que o número de vítimas de homicídios cometidos com essas armas.
Uma preocupação adicional das autoridades e profissionais de saúde é o alto nível de eficácia das pistolas e fuzis se comparados com outros métodos: um total de 85% das tentativas de suicídio com essas armas no país resultam em morte, enquanto que apenas 2% das tentativas de suicídio realizadas com comprimidos têm êxito.Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, cerca de 19 mil das 31 mil mortes por armas de fogo que acontecem anualmente nos Estados Unidos, ou 61,3%, são suicídios.

Motivos

Psiquiatras e psicólogos enfatizam que, ainda que se deva examinar os motivos que levaram alguém a querer tirar a própria vida, também é importante analisar como a pessoa tentou se suicidar.
É por isso que a Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard criou o projeto Means Matter (“Os Meios Importam”, em tradução livre), que visa destacar o papel de armas de fogo em suicídios.
''Existe uma tremenda disparidade na porcentagem de mortes em decorrência do método que se escolheu para um suicídio. Não é tão fácil morrer em tentativas de suicídio, e as armas, sem dúvida, tornam isso mais fácil'', disse à BBC Catherine Barber, diretora da Means Matter.
De acordo com Barber, a maioria dos que querem tirar a própria vida dedicam pouco tempo ao planejamento do suicídio. Tudo é feito muitas vezes de impulso, e se o método eleito é uma arma, há poucas chances que o suicida tenha a chance de se arrepender de sua decisão.
''Já analisei centenas de suicídios, e o que mais chama a atenção é que em muitos casos de suicídio, no dia em que ele se deu, ocorreu um evento que atuou como gatilho, como uma separação, uma discussão doméstica, problemas na escola'', comenta.
''Os pensamentos suicidas não costumam durar muito tempo. Aparecem e logo pode ser que não regressem. Só uma minoria de pessoas permanece em estado suicida durante um longo período de tempo'', afirma Barber.
Em um estudo de 2005 feito com um grupo de pessoas que sobreviveram a um enfarte ou a uma tentativa de suicídio, 25% dos entrevistados disse ter planejado o ato suicida durante pelo menos cinco minutos.
Analistas destacam ainda que nos Estados americanos em que há maior número de proprietários de pistolas e fuzis, ocorrem mais suicídios.
''Suicídios acontecem em todos os Estados Unidos, mas Estados com mais armas têm níveis mais altos de suicídios, como Wyoming, Montana, Alasca e Nevada - enquanto que os nove Estados com menor número de proprietários de armas têm cifras de suicídio significativamente mais baixas", afirmou à BBC Kenneth Duckworth, psiquiatra e diretor médico da Aliança Nacional para Doenças Mentais.

Alcoolismo entre jovens: Brasil está em 1° lugar


O consumo de álcool é grave e a sociedade fecha os olhos', alerta o médico José Roberto

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Correio do Estado 
No Dia do Bem, entidade tratará sobre o perigo do excessivo consumo de bebidas alcoólicas
A juventude que bebe demais, pais, mães, parentes e amigos estão convocados para o Dia do Bem, no próximo dia 23 de março.
Em palestras, workshops (reuniões de trabalho) e atividades diversas, a Casa da União pretende lançar uma semente de consciência contra o perigo do excesso de álcool entre os jovens. “O Brasil é hoje o país com o maior número de jovens dependentes alcoólicos em todo o mundo”, alerta o médico José Roberto Campos de Souza, na entrevista a seguir:  
Correio Pergunta – O que é o Dia do Bem?
José Roberto 
O Dia do Bem é uma ação cívico-social desenvolvida pelo Centro Espírita União do Vegetal, através do seu braço assistencial, que se chama Casa da União. Em Campo Grande será no sábado, dia 23 de março, mas nós pretendemos estender as atividades até maio. Este ano, o foco é a juventude, principalmente, no que diz respeito ao uso de drogas.

Quem sofre mais: o homem ou a mulher? 
Hoje temos crianças de 11 ou 12 anos, grávidas, e numa grande parte desses casos existe envolvimento alcoólico. Em função do seu metabolismo, da sua estrutura, a mulher é mais vulnerável ao álcool, em função de algumas alterações bioquímicas. Estudo recente publicado nos EUA mostrou uma incidência de cerca de 70% das jovens com atividade sexual, portando HPV (sigla em inglês para papiloma vírus humano). Álcool, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce preocupam demais.

O custo é alto mesmo...
O jovem que foi ao carnaval, embriagou-se e engravidou a menina de 12, 13, 14 anos, acarreta um grande peso social. Se a família não tiver condições de auxiliar a jovem, a sociedade é onerada. A mesma coisa num acidente: se ele for decorrente do álcool e a pessoa fica paraplégica, a sociedade toda paga, seja através de um benefício social ou de uma internação prolongada, que onera os serviços de saúde. A

Casa da União está fazendo a sua parte...
Em 2012, o Dia do Bem Verde voltou-se para ações de consciência ambiental. Fizemos mais de 60 mil atendimentos no Brasil, e a meta este ano é chegarmos a 100 mil. Trabalhamos no Jardim Noroeste e em 2013 pleiteamos o Parque Jacques da Luz, para atender as Moreninhas, onde há comunidades carentes de apoio e orientação. Lamentavelmente, nós temos um Estado omisso, e se nos colocarmos à margem, a situação é cômoda, pouco produtiva. O consumo de álcool é grave, mas a sociedade fecha os olhos. Se você quer saber se uma coisa é boa para sua vida, ligue a TV: se tem propaganda, não presta; a gente não vê propaganda assim: “beba água, chupe laranja”. Quanto mais cara e glamourosa, pior é o produto que ela vende. Arrecadam-se impostos com o álcool e o cigarro, porém, gasta-se uma quantidade multiplicada para tratar doenças do tabagismo. Companhias de álcool e de cigarro tentam seduzir os jovens e garantir um consumidor para o resto da vida, porque o velho que já foi fisgado tem pouco tempo de vida para continuar consumindo os produtos.

 Como será a mobilização? 
Nosso foco se chama agenda negativa de trabalho: o crack, por exemplo. Segundo relatos de significativa parcela de usuários, usou a primeira vez, fica escravo. Nosso zelo é alertar a juventude: não use a primeira vez, porque você não sabe se vai sair. 

Há parcerias? Quem pode colaborar? 
Buscamos a participação de clubes de serviço, entidades, escolas públicas e particulares, Maçonaria e igrejas para uma agenda positiva: mostrar formas saudáveis de engajamento social, de inclusão nos esportes, na música, em grupos assistenciais. Nos EUA, um jovem até 21 anos não pode comprar bebida alcoólica. Existem leis rígidas, e elas são cumpridas. Não se pode usar bebida alcoólica em público. Nos filmes, vemos o indivíduo sair com um saco plástico e até beber, porém, escondido. A lei garante o direito à privacidade, então, o policial sem mandado judicial não pode fiscalizar o que ele está levando, a menos que haja motivo para suspeita. Mas o menor não pode adquirir bebida alcoólica, nem consumi-la. Se for pego, as sanções são severas.

No Brasil, a Lei Seca funciona?
Ela endureceu. Este ano tivemos uma diminuição de quase 20% dos acidentes no carnaval, e perto disso, do índice de mortes. Imaginemos que fosse1%, e esse percentual fosse o teu filho, teremos outra dimensão. Uma das maiores especialistas no Brasil em dependência química, a professora Helena Gasparini alerta: não podemos fechar os olhos para a hipocrisia da sociedade, que prega contra as drogas com um copo de cerveja numa das mãos e o cigarro na outra. O álcool é a única droga com a qual a pessoa, sob o domínio dela, faz coisas que não faria em sã consciência. Ele age no lobo frontal, a sede da consciência, da noção do errado e do certo, por isso, o jovem tímido, retraído, quando bebe fica desinibido, depois perde a noção do limite e do respeito, começa a falar alto, fica valente, e chega ao bloqueio completo da inibição. Aquele que mamou uns gorós a mais, como diz o povo, daqui a pouco está fazendo strip-tease em cima da mesa do bar. Porque o álcool bloqueia exatamente esse centro, que é a noção da ética e da moral.

Bebe-se em todo lugar?
Os jovens começam a beber cada vez mais cedo, em torno dos 16 anos; hoje essa média caiu para 12. Tem criança bebendo! Quase na totalidade dos casos, começam a beber dentro de casa, ou na casa do amigo, com incentivo, ou no mínimo, a omissão dos pais. No mundo inteiro civilizado, apesar dos lobbies, da corrupção, do dinheiro derramado para afrouxar as leis, onde existe um pouco mais de consciência, elas têm apertado, e uma delas é exatamente contra a combinação álcool-direção.

Os perigos do Ecstasy (bala)


Os perigos do ecstasy    

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·         Correio Braziliense – Ciência
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Pesquisadora da Unifesp entrevista ex-usuários da droga para descobrir o que os fez abandonar o consumo. Dores no corpo, ressaca e depressão são alguns dos motivos apontados
Felipe Canêdo
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Belo Horizonte — O uso de ecstasy, droga ainda pouco estudada no Brasil, está intimamente relacionado ao contexto em que a substância é ingerida, e muitas vezes ligado à rotina da vida universitária.
A metilenodioximetanfetamina, conhecida como MDMA, ou simplesmente “bala”, é uma substância cara, usada principalmente por jovens de classe média e, diferentemente do que se pensava, não está presente somente em festas de música eletrônica, mas também em churrascos e outros eventos sociais. É o que afirma a pesquisadora Maria Angélica de Castro Comis, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que fez uma investigação qualitativa sobre o consumo do produto ilícito para sua tese de mestrado no Departamento de Psicobiologia. Ela entrevistou 53 pessoas que fizeram uso da substância para tentar descobrir, principalmente, os motivos que as levaram a parar de usá-la.
“Esse trabalho pode ser utilizado para auxiliar ações de conscientização, projetos de prevenção do uso e de redução de danos em festas. Existe pouca coisa escrita sobre ecstasy no Brasil. A droga chegou ao país em 1995. Ainda não havia sido descrito na literatura, por exemplo, que seu uso não ocorre somente em raves”, afirma Comis.
Na pesquisa, os entrevistados foram divididos em três grupos: 23 não usuários que tiveram oportunidades de ingerir a droga, 12 ex-usuários leves e 18 ex-usuários moderados. Eles foram escolhidos pela técnica chamada bola de neve, em que os próprios entrevistados indicam outras pessoas para participar da pesquisa.
Entre os que experimentaram até cinco vezes e estavam há pelo menos um ano sem consumir ecstasy, os principais motivos eram influências religiosas e morais, o fato de terem passado mal com o uso, ou não terem gostado dos efeitos causados. Já os entrevistados que usaram mais de cinco vezes antes de parar disseram a decisão se deu devido a ressacas fortes, depressão, dores após o uso e afastamento do contexto em que a droga era usada. “Muitos deles assumiram novas responsabilidades, começaram a trabalhar, se casaram ou se formaram”, conta Comis.
Outro fato que inibe o uso da pílula colorida no Brasil, segundo a pesquisadora, é a qualidade da droga, que geralmente é muito ruim. “As pessoas não sabem o que há no comprimido, então esperam um efeito, mas podem sentir outro. Você pode encontrar aspirina, vermífugos e outras coisas no produto, e isso causa insegurança. Muitos comprimidos nem contêm o MDMA mesmo.” A ressaca do dia seguinte é um motivo importante para interromper o uso. Entre os sintomas, Maria Angélica cita amnésia, dores no corpo e depressão. “Quando uma pessoa toma ecstasy em uma festa, ela acaba sentindo um bem-estar muito intenso, mas, depois que passa o efeito, ela fica esgotada”, afirma.
A pesquisadora acredita que a divulgação dos riscos e das consequências do uso continuado também pode ajudar na inibição da ingestão de MDMA. “Há um risco grande, a pessoa pode ter uma crise de hipertensão e arritmia cardíaca,  que pode evoluir para um ataque cardíaco, além de crises de ansiedade intensas. Tem gente que quebra o dente, porque força o maxilar de forma exagerada. E pode haver sobrecarga renal, porque a pessoa não toma água suficiente, ou então ela pode acabar tomando água demais”, diz.
Mistura 
Para dimensionar o problema, ela cita um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) que apontou o crescimento do consumo de substâncias sintéticas na América Latina. A pesquisadora alerta para uma outra questão grave: a mistura do ecstasy com álcool. “Há pessoas  que misturam o ecstasy com álcool achando que vai hidratar, e aí está um grande perigo, porque isso sobrecarrega o fígado e a pessoa pode ter um colapso em vários órgãos”, alerta.
Segundo Comis, o contexto vivido pelos usuários também é relevante para o consumo da droga quando se leva em conta que, na maioria das vezes, ela é ingerida em festas que são afastadas da cidade e têm grande duração. Então, quem usa precisa ter tempo para ir e para se recuperar depois. Por isso, diz a pesquisadora, quando os usuários começam a se preocupar com o emprego e com outras responsabilidades, muitos param de usar a droga.
“Como as pessoas ficam muito eufóricas e em pé, dançando por muito tempo, é comum elas ficarem com dores no dia seguinte e com o raciocínio mais lento. Muitos ficam com medo de não conseguir ter um bom desempenho no trabalho no dia seguinte”, explica. “Um outro dado relevante é que, apesar de apenas um dos entrevistados ter relatado maior dificuldade de parar com o ecstasy, muitas pessoas que entrevistei usavam outras drogas. O ecstasy não é uma droga usada no dia a dia. Ela significa, para muitos deles, uma maneira de fugir dos problemas ou aproveitar melhor as festas”, acrescenta Comis.
História
A metilenodioximetanfetamina, ou MDMA, tem uma história conturbada, envolvendo um grande laboratório farmacêutico alemão. A versão mais conhecida sobre a origem da droga remonta a 1912, quando ela teria sido desenvolvida para ser um supressor de apetite. Na década de 1970, a substância teria sido difundida para uso recreativo, sendo proibida nos Estados Unidos em 1987. No Brasil, a MDMA começou a se popularizar em 1995.

Cocaína: Por que alguns viciam e outros não?


Vício a cocaína pode estar ligado ao formato do cérebro

Jornal Folha de S. Paulo  12 março 2013
DOUGLAS QUENQUA DO "NEW YORK TIMES"
Por que algumas pessoas podem usar cocaína sem ficarem viciadas? Um novo estudo sugere que a resposta pode estar no formato dos seus cérebros.
Usuários esporádicos de cocaína tendem a ter um lobo frontal região associada ao autocontrole maior do que os dependentes, segundo o estudo publicado na revista "Biological Psychiatry".
Os cientistas, da Universidade de Cambridge, reuniram tomografias cerebrais e testes de personalidade de pessoas que haviam usado cocaína durante anos -algumas dependentes e outras não.
Embora os não dependentes demonstrassem tendência a comportamentos de risco, o maior volume de matéria cinzenta parecia lhes ajudar a resistir à dependência, exercendo mais o autocontrole.
"Eles podiam pegar ou largar", disse Karen Ersche, que conduziu o estudo.
Os pesquisadores acreditam que a diferença no formato cerebral antecede o uso de drogas, em vez de resultar dele.
Ersche disse que as descobertas reforçam a ideia, popular entre especialistas, de que a dependência tem mais a ver com a constituição biológica do que com o caráter.
"Não é a abordagem do basta dizer não, se não mais dia ou menos dia você vai ficar viciado", disse. "A forma como as drogas funcionam e o quanto você está sob risco depende de que tipo de pessoa você é e que tipo de cérebro você tem." 

Prefeitura cancela convenio com hospital para internação de dependentes em SP.


Prefeitura deixa vazio melhor hospital público de SP para dependentes involuntários e compulsórios

Jovem Pan - Publicado em 12 de março de 2013 por Izilda Alves - post 12 março 2013
Um hospital público com 80 vagas em São Paulo  para internar usuários de drogas em estado grave.  MAS ONDE ESTÃO INTERNADOS  APENAS DOIS PACIENTES. Por quê? Porque o doente tem que ser encaminhado pela Central  de Vagas do Município. E,  há três meses, a Central  não manda  doentes para internação no  SAID- SERVIÇO DE ATENÇÃO INTEGRAL  AO  DEPENDENTE , hospital público mantido pelo convênio Prefeitura e Hospital Samaritano, na zona Sul da capital,  e definido por especialistas  como  O ÚNICO DA REDE PÚBLICA DA CIDADE ESPECIALIZADO NO TRATAMENTO DE DEPENDENTES QUÍMICOS INVOLUNTÁRIOS (POR ORDEM DA FAMÍLIA) OU COMPULSÓRIOS(POR ORDEM JUDICIAL).
O SAID   é hoje um hospital vazio em São Paulo, onde  famílias sofrem as consequências da epidemia causada pelo uso de drogas até por crianças.Mães imploram pela internação de seus filhos  na rede pública   pela dependência  de maconha, cocaína ou crack . Adolescentes, homens e mulheres dependentes que não aceitam internação  e que já estão colocando em risco suas vidas e  a de suas famílias.  
O hospital Samaritano já anunciou que deixa a parceria no final do mês, no dia 31 de março. Mas a Prefeitura publicou, somente em 4 de março,  edital procurando nova parceria. A apresentação de propostas , chamada  pregão presencial, está marcada para quinta-feira, dia 14,às 9h, na sede da Autarquia Hospitalar Municipal, na rua Frei Caneca, 1402.
  Cem funcionários do SAID já foram demitidos. Documento da Associação dos Funcionários foi entregue à Prefeitura contestando vários pontos do edital. Entre as críticas, a diminuição do número de funcionários—a Prefeitura mantém 80 vagas mas diminui o número de profissionais —e a redução no tempo de internação: de 68 dias, o edital prevê internação de 10 a 20 dias. Até agora, não houve resposta no pedido de mudanças no edital.
O maior grupo de atendimento a usuários de drogas e suas famílias, o AMOR EXIGENTE, enviou carta ao Secretário Municipal da Saúde pedindo esclarecimentos sobre o futuro do SAID.  Foi no dia 3 de março. O AMOR EXIGENTE enfatizou:  “Em nome das famílias com dependentes que necessitam de internação– e são muitas, Senhor Secretário, porque São Paulo vive a epidemia causada pelo uso de drogas- agradecemos sua especial atenção  com o
AMOR EXIGENTE e aguardamos, com urgência,  sua resposta”.  A Secretaria ainda não respondeu ao grupo que representa 100 mil pessoas em todo o país.


Acesse o site para ver a reportagem da CBN, com o  secretário da saúde do municipio de SP, sobre o rompimento do convênio com a Prefeitura. Pelo que tudo indica, os pacientes não eram bem atendidos, mas os gastos eram muito grandes.

http://cbn.globoradio.globo.com/Player/player.htm?audio=2013%2Fnoticias%2Fentsaid_130228&OAS_sitepage=cbn%2Fcomentarios%2F

Doenças psiquiátricas podem estar no DNA


A biologia e as “doenças inventadas”


O mais completo estudo genético sobre transtornos mentais revela o que a depressão, a hiperatividade e outras doenças têm em comum


Um dos mais completos estudos sobre a biologia dos transtornos mentais foi publicado nesta semana na revista científica The Lancet. O trabalho é resultado de um esforço internacional de 19 países, financiado em parte pelo governo americano. Os autores declararam não ter vínculos com a indústria farmacêutica ou outros conflitos de interesse.
O estudo apontou o que há em comum, do ponto de vista genético, entre cinco doenças: depressão, transtorno bipolar, autismo, esquizofrenia e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
É mais uma valorosa contribuição ao combate da ignorância e do preconceito que penalizam as famílias que convivem com doenças psiquiátricas. É também mais um claro sinal de que essas não são “doenças inventadas”.
Os cientistas analisaram o genoma completo de 33 mil portadores desses distúrbios. Eles foram comparados a 28 mil pessoas não-afetadas pelas doenças. Em quatro diferentes regiões do DNA, foram identificadas variações genéticas que aumentam o risco de desenvolvimento de qualquer um dos cinco transtornos.
“Os resultados sugerem que é possível ir além da classificação baseada nos sintomas e focar nas causas biológicas das doenças psiquiátricas”, diz Jordan Smoller, do Massachussetts General Hospital, principal autor do estudo.
Duas das quatro variantes identificadas estão envolvidas na regulação dos canais de cálcio, o que é crucial para o funcionamento adequado das células nervosas. “Eles são fundamentais ao trabalho dos neurônios”, disse à revista Time Bryan King, diretor do departamento de psiquiatria da criança e do adolescente da Universidade de Washington. “O balanço de cálcio e cloreto é crítico para a adequada atividade elétrica dos neurônios”.
Essas descobertas genéticas são um primeiro passo. Falta compreender por que um problema nos canais de cálcio pode levar ao autismo em uma pessoa e, em outra, ao transtorno bipolar. Esse conhecimento pode contribuir para que a comunidade científica repense as doenças psiquiátricas que compartilham a mesma arquitetura genética.
Uma coisa precisa ficar clara: ter essas variações não é certeza de desenvolvimento de qualquer uma dessas doenças. Posso mandar analisar o meu genoma e descobrir que herdei essas variações. E daí? O que faço com essa informação? Por enquanto, nada.
Essas variações aumentam o risco de surgimento dessas doenças, mas não representam uma sina. Segundo o que se sabe até hoje, essas são doenças provocadas por alterações genéticas, fatores bioquímicos e ambientais (estresse, ambiente hostil etc). Os genes são apenas um pedaço da história, mas um pedaço importante.
Pode não parecer grande coisa, do ponto de vista prático, mas esse estudo é relevante. É assim, de grão em grão, fazendo ciência de qualidade, que o conhecimento avança.
É assim que a ciência comprova que transtornos psiquiátricos não são “doenças inventadas”. Eles existem, de fato. Negá-los é produzir confusão, é impingir sofrimento desnecessário aos doentes e às famílias.
Existe uma profusão de diagnósticos errados? É verdade. Prescrições inadequadas, banalização do uso de drogas psiquiátricas, crença de que elas possam ser a melhor solução para acalmar crianças irrequietas, cumprir as metas da empresa ou trazer a felicidade...Tudo isso existe, é gravíssimo e precisa ser combatido.
A evolução da medicina relegou a um segundo plano a subjetividade do paciente. As soluções aparecem em forma de comprimido. Com isso, muita gente se vê desobrigada de procurar as raízes da tristeza, do mal-estar, do desajuste.
Muita gente (em especial as crianças e os adolescentes) têm recebido medicamentos psiquiátricos, quando, na verdade, têm um problema psicológico – ou nem isso.
Por outro lado, estudos genéticos como o publicado nesta semana, o avanço do conhecimento sobre a química do cérebro e novas ferramentas de diagnóstico por imagem permitem detectar transtornos psiquiátricos genuínos em pessoas que antes poderiam passar a vida inteira sofrendo e sem receber a devida atenção. 
O que faz a diferença é a qualidade do diagnóstico. Se for correto, salva vidas. Se for errado, as destrói.
Por que, então, é tão difícil fazer um bom diagnóstico?
A Organização Mundial da Saúde reconhece a existência de todos os transtornos mentais citados neste texto. Nenhum deles é “doença inventada”. Para identificá-los, a maioria dos médicos se baseia num manual preparado pela Associação Americana de Psiquiatria, chamado DSM-IV. Ele lista os sintomas de todas as enfermidades psiquiátricas existentes.
O objetivo desse manual é padronizar os critérios entre os profissionais, mas essa não é uma ferramenta perfeita. O ponto central do bom diagnóstico é a história do paciente. O médico precisa saber ouvir, ter tempo – tudo o que é impossível fazer numa consulta de dez minutos.
Tudo seria mais fácil se fosse possível detectar um transtorno com um exame preciso como o de glicemia, que detecta diabetes. Infelizmente, isso não é possível. Infelizmente, a vida é mais complicada. Mas acreditar na existência de “doenças inventadas” não melhora a realidade.
Se pudesse, a indústria farmacêutica criaria uma doença por dia. Se pudesse, adotaria estratégias de vendas ainda mais nocivas e agressivas do que as praticadas hoje. Tudo isso precisa ser conhecido. Todos os abusos precisam ser denunciados.
No entanto, não me parece que as condições da humanidade tenham piorado depois que a vida moderna foi “medicalizada”. Ainda prefiro viver num mundo que dispõe de penicilina, vacinas, analgésicos, quimioterápicos... E também de drogas psiquiátricas para quem precisa.
E você? O que achou desse estudo? Transtornos mentais são “doenças inventadas”? Conhece alguém que usa drogas psiquiátricas? Conte pra gente. Queremos ouvir sua história.
(Cristiane Segatto escreve às sextas-feiras)