domingo, 30 de setembro de 2012

Dor de cabeça em criança pode ser enxaqueca e precisa ser tratado

Pesquisa inédita mostra que 7,9% das crianças brasileiras têm enxaqueca

O Estado de São Paulo
Levantamento em 87 cidades de 18 Estados atesta que queixas frequentes de dores de cabeça em crianças devem ser levadas a sério

Queixas frequentes de dor de cabeça em crianças devem ser levadas a sério. Um estudo recente concluiu que 7,9% das crianças brasileiras de 5 a 12 anos têm enxaqueca. O levantamento, apresentado este mês no 26.º Congresso Brasileiro de Cefaleia, é o primeiro a avaliar a prevalência da enxaqueca infantil no País.
"Ao contrário do que o leigo geralmente pensa, criança tem enxaqueca e é uma doença que traz prejuízos. Quando não recebe atendimento adequado, essa criança pode desenvolver dificuldades emocionais", diz o autor do estudo, o neurologista Marco Antonio Arruda, diretor do Instituto Glia de Cognição e Desenvolvimento. Outra conclusão é que crianças com cefaleia têm o desempenho escolar prejudicado. Os resultados completos serão publicados na edição de outubro da revista científica Neurology.

Apenas 17,9% das crianças brasileiras nunca se queixaram de dores de cabeça, de acordo com a investigação. E, além dos 7,9% que têm enxaqueca episódica, 0,6% apresenta a forma crônica da doença, que se caracteriza por dores em mais de 15 dias por mês.


Quanto ao impacto nas atividades escolares, o levantamento descobriu que, na população com enxaqueca, o risco de ter dificuldade em prestar atenção na aula é 2,8 vezes maior do que entre as crianças saudáveis. Já o risco de ter um desempenho abaixo da média é 32,5% maior entre as com enxaqueca episódica e 37,1% maior entre as com enxaqueca crônica.


O problema também é motivo de faltas: 32,5% das crianças com enxaqueca episódica perdem dois ou mais dias de aula por causa da dor. Além disso, os sintomas de depressão e ansiedade têm um risco 5,8 vezes maior de aparecerem nas crianças com enxaqueca.


Arruda coordena uma comunidade acadêmica que integra neurologistas e educadores. Em 2008, foram recrutados 124 professores que faziam parte dessa comunidade e estavam dispostos a participar da pesquisa. Eles foram treinados para a aplicação de questionários e a colheita da amostragem ideal. No total, foram avaliadas 5.671 crianças de 18 Estados e 87 cidades brasileiras.
Para identificar os sintomas relativos à cefaleia, os professores aplicaram um questionário validado cientificamente para os pais das crianças. Já a avaliação do desempenho escolar foi preenchida pelos próprios professores. Em seguida, esses dados foram cruzados para se encontrar a relação entre a enxaqueca e os estudos.


De acordo com o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein Mario Fernando Prieto Peres, os principais sinais de que a criança pode estar sofrendo de enxaqueca, além das queixas frequentes de dor de cabeça, são enjoo, vômito, incômodo com luz ou barulho, relato de alteração visual e de dores pulsantes.


O neuropediatra Carlos Takeuchi, do Hospital Infantil Sabará, observa que, no caso das crianças, gatilhos comuns para a cefaleia são excesso de sol, longos períodos de jejum e o consumo de alguns alimentos.


Atualmente, o tratamento para enxaqueca infantil segue três passos: analgésicos para as crises, alteração de hábitos que desencadeiam a dor e, caso as mudanças não sejam suficientes para cessar o problema, aplica-se também um tratamento profilático com medicamento de uso contínuo.

domingo, 23 de setembro de 2012

Entregar o carro para alcoolizado vai virar crime


Para STJ, quem entrega carro a bêbado pode responder por homicídio doloso

Jornal O Estado de S. Paulo

5ª turma diz que, em caso de morte, o simples repasse de chave caracterizaria coautoria; para os especialistas, é um avanço à lei seca

BRUNO RIBEIRO, LUÍSA MELO, ESPECIAL PARA O ESTADO - O Estado de S.Paulo
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, ao analisar um caso de morte no trânsito, que o simples ato de entregar a chave de um veículo para um motorista alcoolizado pode caracterizar homicídio qualificado com dolo eventual - quando a pessoa assume o risco de provocar uma morte, mesmo sem intenção. Conforme especialistas, na prática estabeleceu-se um avanço na lei seca, punindo até manobristas ou qualquer pessoa que coloque um embriagado ao volante.
A decisão, da 5.ª turma do STJ, foi tomada durante julgamento de um pedido de habeas corpus de um médico de 42 anos, de Pernambuco, que emprestou seu Toyota Corolla para uma amiga. O caso foi na madrugada de 2 de fevereiro de 2010. Ambos tinham ingerido álcool e o acidente foi logo depois de ele deixar de dirigir e passar a condução do carro para a amiga.
De acordo com o relatório da ministra Laurita Vaz, a defesa do dono do carro argumentou que o médico estava sendo acusado incorretamente. Ele teria cometido só uma infração ao artigo 310 do Código de Trânsito Brasileiro - emprestar o carro a alguém embriagado e não o homicídio qualificado. Por isso, pedia o habeas corpus para trancar o processo.
Ainda segundo o relatório, o Tribunal de Justiça de Pernambuco usou o artigo 41 do Código Processual Penal - que determina como as acusações à Justiça devem ser feitas, com exposição do ato criminoso, identificação do acusado, a classificação do crime e, se for possível, quem são as testemunhas - para validar a denúncia do Ministério Público.
O STJ seguiu esse entendimento e negou o habeas corpus. "O réu defende-se dos fatos objetivamente descritos na denúncia e não da qualificação jurídica atribuída pelo Ministério Público ao fato delituoso", disse a relatora. "Ressalto que se deve evitar o entendimento demagógico de que qualquer acidente de trânsito que resulte em morte configura homicídio doloso, dando elasticidade ao conceito de dolo eventual absolutamente contrária à melhor exegese do Direito", afirmou também a ministra Vaz. No entanto, ressalta que no caso do médico as circunstâncias do acidente podem, sim, caracterizar o dolo eventual.
Repercussão. Advogados especialistas em Direito do trânsito ouvidos pelo Estado concordam com a decisão do STJ . "Sou até a favor da prisão em flagrante de quem entrega as chaves de um veículo a uma pessoa que está alcoolizada", diz o presidente da comissão de trânsito da OAB de São Paulo, Maurício Januzzi.
O advogado especialista em trânsito, Marcos Pantaleão, explica que emprestar o carro para alguém bêbado já é crime previsto no Código de Trânsito, mas que a decisão do STJ de considerar o crime como homicídio qualificado com dolo eventual pode facilitar a punição. "A decisão trabalha com a coautoria do crime. Se uma pessoa habilitada percebe que a outra não está em condições de dirigir, ela tem a obrigação de assumir a direção. E, quando ela não assume e acontece um acidente, também é responsável", afirma.
A novidade pode trazer ainda, segundo os especialistas, um avanço importante à lei seca. "Com certeza vão diminuir acidentes de trânsito se, por exemplo, houver fiscalização em bares e restaurantes para evitar que manobristas entreguem chaves dos veículos para clientes alcoolizados", ressalta Januzzi.

Traficantes batizam cocaína e crack com forte anestésico


Traficantes batizam droga com forte anestésico

A Tribuna - Santos
Eduardo Velozo Fuccia

O estouro de um laboratório de refino de drogas, às 9h30 desta sexta-feira 21/09/12, na Zona Noroeste de Santos, merece atenção das autoridades das áreas da Saúde e da Segurança Pública. Traficantes estão misturando à cocaína e ao crack, principalmente, o mesmo anestésico que causou a morte do popstar Michael Jackson, em junho de 2009.
Entre os entorpecentes e vários produtos destinados ao batismo  de drogas que foram apreendidos em uma casa do beco 89 do Caminho da Capela, no Jardim Rádio Clube, policiais do 5º DP de Santos encontraram três frascos do medicamento Fresofol, cujo princípio ativo é o propofol.
Condenado pela Justiça norte-americana por homicídio culposo (decorrente de imprudência, imperícia ou negligência), o médico particular de Michael Jackson, Conrad Murray, disse que o artista era viciado em propofol. No Brasil, o anestésico é de uso exclusivo hospitalar. Quando consumido sem o devido monitoramento, pode causar parada cardior-respiratória.
Denúncia anônima
Sob o comando do delegado Antonio Carlos de Castro Machado Júnior e do investigador Marcelo França, os policiais Luiz Nascimento e Marcos Alves foram checar denúncia anônima de que na casa do beco 89, a moradora chamada Andressa guardava entorpecentes para André Luiz da Silva Ferreira, o Andrezinho.
Recentemente, Andrezinho teve a prisão preventiva decretada em processo de associação para o tráfico do qual é um dos réus. Nesta semana, os mesmos policiais se dirigiram ao Caminho São José para apurar informação de que o acusado lá estaria e foram recebidos a tiros por capangas de Andrezinho. Ninguém ficou ferido e os criminosos fugiram.
Identificada posteriormente como Andressa Santos de Oliveira, de 23 anos, a moradora da casa do Caminho da Capela não estava, mas os policiais entraram no imóvel porque ele estava com a porta aberta. Durante revista, foi achada no quarto uma sacola com 260 pedras de crack, 230 cápsulas de cocaína e 290 porções de maconha de vários tamanhos.
Produtos químicos
Além das drogas, dentro da sacola havia uma máscara de proteção com filtro e diversos produtos para serem misturados às drogas, como o anestésico à base de propofol, três litros de éter, um frasco de acetona e um saco contendo um pó branco ainda ignorado.
Uma vizinha da moradia foi chamada pelos policiais para, na condição de testemunha, acompanhar a apreensão dos entorpecentes e demais produtos. Por aproximadamente uma hora, os agentes permaneceram no local, mas Andressa não apareceu.
O delegado Machado Júnior deverá intimá-la nos próximos dias para que preste esclarecimentos. Segundo ele, é provável que a jovem seja indiciada por tráfico e, eventualmente, pelo crime autônomo de associação para o tráfico.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"Em dez anos, a maconha pode gerar US$ 1 trilhão para os EUA",


"Em dez anos, a maconha pode gerar US$ 1 trilhão para os EUA", diz Fine

O jornalista que já escreveu para o Washington Post diz que a legalização do cultivo pode ser um salto para a recuperação norte-americana e gerar US$ 35 bilhões por ano em impostos


Mayara Teixeira , iG São Paulo

Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos, incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais (como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.

Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas (destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.

Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.

Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity, todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta, com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.


Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade, insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de trabalho.


Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.


Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos biocombustíveis.

Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.


Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1 trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga planta.


Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg, talvez.

Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo 29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma delas”.


Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é preciso unir a vida temporal com a energia divina.
O jornalista norte-americano, Doug Fine, chamou atenção com o lançamento de seu novo livro “Too High to Fail – Cannabis and the New Green Economic Revolution” (em tradução livre, Chapado Demais para Fracassar - Maconha e a Nova Revolução Econômica Verde, Editora Penguim/Gotham). Basicamente, Fine que já escreveu para o Washington Post afirma que o cultivo de maconha pode ser um importante aliado na recuperação econômica dos Estados Unidos.
Para escrever o livro, ele passou um ano no condado de Mendocino, ao norte da Califórnia, onde o plantio para fins medicinais era permitido mediante pagamento de taxa. Cada produtor podia plantar no máximo 99 mudas, e ao fim de um ano a maconha foi responsável por 80% da economia local, um montante de US$ 8 bilhões. Porém, neste ano, o licenciamento do cultivo foi interrompido por pressão federal.
O governo americano considera a maconha uma droga ilegal,viciante e sem valor algum para tratamentos médicos, por isso lidera uma guerra contra os 17 estados que a liberaram para uso medicinal. Ainda este ano, nas eleições de novembro, três estados norte-americanos votarão sobre a legalização do uso recreativo para adultos.
Segundo Fine, se o cultivo fosse legalizado, os EUA poderiam arrecadar US$ 35 bilhões por ano em impostos, “uma boa quantia para uma antiga planta”. 

 Leia a entrevista:
iG: A maconha realmente pode ser um salto para a recuperação da economia norte-americana? Como? 
Doug FIne: Esse já é a colheita número um dos Estados Unidos, praticamente isenta de impostos. As pessoas gostam da planta (100 milhões de americanos, incluindo os últimos três presidentes), inclusive para propósitos industriais (como óleo nutricional). Somente no condado da Califórnia que pesquisei para o livro, a planta gera US$ 6 bilhões por ano para os agricultores. São números grandes. Se pensarmos na história da proibição do álcool nos EUA, antes da Lei Seca o álcool já chegou a gerar cerca de 70% da receita federal.

iG: Muitos produtores de maconha não são formalmente registrados. Você acredita que eles oficializariam suas produções se o cultivo para fins medicinais fosse permitido pelo governo?
Fine: Quando a proibição do álcool terminou, os contrabandistas (destiladores do mercado negro) desapareceram. Então, sim, acredito que a indústria vai, assim, tornar-se uma indústria.

iG: Não é possível que grandes empresas nacionais de cerveja ou tabaco monopolizem o mercado da maconha? 
Fine: Talvez, mas os EUA também possui um mercado multibilionário de cerveja artesanal. Acredito que o mesmo modelo lucrativo irá se aplicar aos produtores de maconha. Mas também são possíveis versões industriais do cultivo, que talvez sejam ainda mais lucrativas, principalmente como fonte de etanol.

iG: Com a legalização, a oferta provavelmente será maior. Não é possível que os preços caiam e o cultivo deixe de ser tão rentável? 
Fine: Sim, alguns temem a queda de preço para a maconha medicinal. Mas se a região do Triângulo da Esmeralda (condados de Mendocino, Humboldt e Trinity, todos na Califórnia) se estabelecerem como os melhores fornecedores da planta, com o maior crescimento, a história mostra que terão lucro de fato. Basta olhar para o condado ao lado, Napa é mundialmente famosa por seus vinhos.

iG: Alguns pesquisadores dizem que apenas 5% do cultivo de maconha é utilizado para fins medicinais. Estimular o plantio, não é indiretamente estimular o uso ilegal da droga? 
Fine: A maconha é muito menos maléfica à saúde do que o álcool, o tabaco ou alguns medicamentos de prescrição. Geralmente, adultos saudáveis a utilizam com responsabilidade para manutenção da saúde, sociabilidade e espiritualidade, insônia e letargia ocasionais, ou outros motivos. Isso deveria ser visto pela sociedade da mesma forma do que tomar um copo de vinho após um longo dia de trabalho.

iG: Você é favorável apenas à legalização do cultivo para fins medicinais ou para uso civil também? 
Fine: Acredito que a maconha deveria ser inteiramente removida da lei federal de substâncias controladas. Assim, os estados poderiam individualmente regular seu uso, como o álcool para adultos responsáveis. Os benefícios dessa medida serão em torno de US$ 35 bilhões por ano.

iG: Quais seriam os benefícios da legalização para o país? 
Fine: Bilhões seriam arrecadados todo ano através dos impostos. Também seria o fim da mais longa guerra de nossa nação, que é em grande parte uma guerra civil. A colheita número um do país sairia do mundo da ilegalidade e haveria declínio do crime organizado ligado à venda de entorpecentes. A população teria acesso a uma planta fantástica com atributos medicinais largamente reconhecidos. E também ganharíamos independência do petróleo através dos biocombustíveis.

iG: Qual é o tamanho da produção de maconha nos EUA? 
Fine: Ninguém sabe o quão grande o plantio é. Porém, estima-se que seja o maior de nossa nação. Há uma citação interessante que inclui no livro, segundo a avaliação do cultivo doméstico de maconha feita pelo Departamento de Justiça Nacional dos EUA em 2009: “A quantidade de maconha disponível para distribuição nos EUA é desconhecida. Uma estimativa precisa sobre essa quantidade é inviável. E apesar dos esforços para erradicar a cultura, sua disponibilidade permanece relativamente elevada, com rompimento limitado na oferta ou preço”.

iG: A dívida pública norte-americana foi recentemente estimada em pelo menos US$ 16 trilhões. Você acredita que a receita proveniente dos impostos sobre a produção da maconha teria impacto significativo sobre esse valor? 
Fine: Alguns economistas dizem que em dez anos o impacto seria de US$ 1 trilhão. Isso corresponde de 6 a 7% da dívida pública, nada mal para uma antiga planta.

iG: Você é muito bem-humorado em entrevistas. O título do seu livro e seu website também são divertidos. Você não teme não ser levado a sério? 
Fine: Eu quero fazer as pessoas rirem. Acredito que sou provedor de uma espécie de escrita não ficcional que chamo de “Jornalismo Investigativo Comédia”. Se você não pode rir, tem problemas. Eu também gosto de representar, então encaro as entrevistas que dou como uma audição. Para o próximo épico de Spielberg, talvez.

iG: Você fuma maconha? 
Fine: Eu já usei e acredito que é uma boa planta. Como qualquer outra coisa, de aspirina a álcool e produtos farmacêuticos sob prescrição, pode ser usada com abuso. Mas, minha opinião sobre ela é espiritual. Sou um seguidor da Bíblia, e ela não é vaga sobre isso. Está no Genesis, capítulo um, versículo 29: “vocês terão todas as plantas, sementes e ervas para usar”. Não está escrito “a não ser que um dia Richard Nixon decida que ele não gosta de uma delas”.

iG: Você acredita que a maconha tem o potencial de aumentar a criatividade? Já escreveu quando estava “chapado”? 
Fine: Para mim, a alquimia que permite a criatividade tem origem divina. E eu agradeço todos os dias por isso. Como muito do universo, para alcançá-la é preciso unir a vida temporal com a energia divina.


Estresse infantil existe.


Estresse infantil: existe e é mais frequente do que pensamos

Boletim Plenamente - Silvia P. Ruschel; Maria Alice Fontes

Crianças podem se estressar como os adultos?
A rigor, pela definição, sim, até mesmo as crianças podem sofrer de estresse. “O estresse é uma reação do organismo diante de situações ou muito difíceis ou muito excitantes, que pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de idade, raça, sexo e situação econômica” (Lipp, 2003). O problema é quando alguma adversidade se perpetua por períodos longos, ou mesmo períodos curtos, mas com tanta intensidade que acabam causando um desequilíbrio psicológico ou físico do indivíduo. Diagnosticado anteriormente como uma reação em adultos, atualmente, sabe-se que estresse também ocorre em crianças.
O estresse excessivo pode ser considerado uma doença infantil?
Segundo Lipp (2003) o estresse infantil não é, em si mesmo, uma doença, mas quando a reação ao estresse se torna intensa ou prolongada demais, ela pode enfraquecer o organismo, levando-o a uma condição que propicia uma queda no funcionamento do sistema imunológico de tal porte que vários sintomas e doenças podem manifestar-se.
Quais as causas do estresse infantil?
Podemos identificar fatores externos e internos como desencadeadores de estresse. Dentre os fatores externos, Lipp (2003) e outros pesquisadores apontam:
-mudanças significativas ou constantes na rotina de vida;
-responsabilidades em excesso;
-excesso de atividades, incluindo as atividades extra-escolares, ou mesmo a demanda no horário escolar;
-brigas ou separações dos pais;
-hospitalização, doenças ou mortes na família;
-nascimento de irmãos;
-rejeição por parte de amigos ou colegas na escola.
Além desses fatores, há fatores internos que também podem gerar estresse na criança, como:
-timidez;
-medo de fracassar;
-ansiedade;
-desejo de agradar;
-insegurança.
Como identificar se uma criança está estressada?
Em geral, as crianças não conseguem verbalizar com toda clareza quais as situações e/ou eventos que a deixam sob estresse prolongado, entretanto, podemos ficar atentos aos sinais que manifestam. O estresse pode se manifestar através de diferentes sintomas, sejam físicos ou psicológicos, que em algumas situações se sobrepõem. Dentre os mesmos encontram-se: agressividade, desobediência exacerbada, choro excessivo, ansiedade, depressão, pesadelos, insônia, problemas respiratórios, doenças dermatológicas, etc.. De acordo com Lipp (2003), algum desses sintomas ou problemas isolados não pode ser interpretado como indicativo de estresse excessivo, pois o que deve servir de base para o diagnóstico é o conglomerado de sintomas.
Como os pais podem ajudar as crianças a reagir ao estresse?
Os pais podem ajudar as crianças a reagir ao estresse de formas saudáveis. Algumas atitudes que podem colocar em prática incluem:
·         Proporcionar um lar seguro e confiável com momentos de convívio calmo e relaxados com as crianças;
·         Incentivá-las a fazer perguntas e expressarem suas apreensões, preocupações e medos;
·         Escutar a criança sem criticá-la fortemente;
·         Fomentar a auto-estima da criança. Usar de incentivo e afeto. Tentar envolvê-la em situações nas quais possa sair-se bem;
·         Incentivá-la positivamente ao invés de com um castigo, quando a criança (apesar de ter estudado e se preparado) tira notas ruins na escola ou vai mal em alguma atividade;
·         Permitir que a criança tenha oportunidade de fazer escolhas e ter algum controle sobre a própria vida;
·         Incentivar a prática de alguma forma de atividade física;
·         Conversar com a criança sobre situações e acontecimentos que sejam estressantes para ela. Isso diz respeito a novas experiências, medo de resultados imprevisíveis, sensações desagradáveis, desejos e necessidades não satisfeitos e perdas, reconhecendo sinais de estresse não resolvido na criança;
·         Manter a criança informada quanto a mudanças antecipadas e necessárias;
·         Buscar ajuda ou aconselhamento profissional quando os sinais de estresse não diminuem ou não desaparecem normalmente.
Qual o tratamento/encaminhamento que deve ser dado para o estresse?
Em primeiro lugar, é preciso detectar a causa dos sintomas da criança, sem simplesmente tentar eliminar o sintoma manifesto. Assim, se ela está extremamente agressiva, é preciso verificar qual é o estressor (fonte de causa do estresse excessivo) ao invés de simplesmente tentar deixá-la mais tranquila. Além de detectar o estressor, é preciso ensinar estratégias de enfrentamento para a criança, lembrando sempre que fontes externas de estresse têm efeito maior ou menor em cada indivíduo, dependendo da própria resistência individual. Muitas vezes, mesmo com a orientação da própria criança, pais e professores, pode ser benéfico o acompanhamento da criança por um psicólogo.
Podemos prevenir o estresse excessivo na infância?
Segundo Bignotto (2003), o papel dos pais contribui na prevenção do estresse infantil, que deve ter início pela realização de uma análise sobre o estilo de educação que se transmite à criança, ajudando a proporcionar-lhe uma boa qualidade de vida, mediante equilíbrio e bem-estar, bem como por meio de um ambiente que possibilite um desenvolvimento adequado. Obviamente, não podemos superproteger as crianças sem prepará-las para o mundo de hoje, nem tampouco deixá-las expostas a estressores em demasia ou grandes demais para elas de modo que não tenham oportunidade de adquirir estratégias de enfrentamento de modo gradual (Lipp, 2003). Portanto, equilíbrio é a palavra chave quando se fala em estresse!
Fontes consultadas:
BIGNOTTO, M. M.; TRICOLI, V. A. C. Aprendendo a se estressar na infância. In: Lipp, M. E. (org). O stress está dentro de você. 5ª ed. São Paulo: Contexto, 2003.
LIPP, M. E. N. Crianças estressadas: causas, sintomas e soluções. 2ª ed. Campinas:Editora Papirus, 2003.

Chocolate atua como ópio no cérebro

Chocolate faz cérebro produzir 'entorpecente' parecido com o ópio

G1 - Bem Estar
 Estudo nos EUA mostra por que vontade de comer doce é tão irresistível.
Alimento ativa mesma área cerebral em obesos e dependentes químicos.
Os pesquisadores também identificaram que a quantidade de encefalina, uma droga natural secretada pelo cérebro, semelhante à morfina, aumentou quando os ratos começaram a consumir os pedaços de doce. Isso não significa que essa substância faça os bichos comerem mais, apenas que aumentam o desejo e o impulso pelo alimento.

A vontade quase incontrolável de comer chocolate está ligada à produção de uma substância química no cérebro semelhante ao ópio, entorpecente extraído de uma flor chamada papoula, que também é matéria-prima da heroína.
A descoberta foi feita em ratos por um novo estudo da Universidade de Michigan, nos EUA, publicado na revista científica "Current Biology".
Segundo a pesquisadora Alexandra DiFeliceantonio, o cérebro tem sistemas de recompensa por consumo excessivo mais complexos do que se pensava e essa pode ser uma explicação para o atual aumento na ingestão de doces e gorduras pela população mundial.
No trabalho, as cobaias receberam uma droga que ativa uma região no meio do cérebro denominada "estriado", que controla os movimentos e também os hábitos. Depois disso, os animais comeram mais que o dobro de confeitos de chocolate que o normal.

De acordo com Alexandra, a descoberta pode ajudar a entender melhor a compulsão em humanos, pois o estriado é a mesma área cerebral envolvida quando pessoas obesas se deparam com alimentos ou dependentes químicos veem drogas.
A expectativa dos cientistas agora é descobrir o que acontece com a mente quando um indivíduo passa em frente ao seu restaurante de fast food favorito e sente aquela vontade súbita de parar e fazer uma "boquinha".



Santo Daime e religiosidade auxiliam na abstinência de drogas


Umbanda e Santo Daime influenciam saúde mental e física
Agência USP de Notícias
 Por Mariana Grazini

Estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP apresentou a relação entre religiosidade e saúde ao analisar duas religiões brasileiras: Santo Daime, que faz uso sacramental da bebida psicoativa Ayahuasca, e a Umbanda, ambas com rituais fundamentados em práticas de estados diferenciados de consciência.
A psicanalista Suely Mizumoto, em sua dissertação de mestrado Dissociação, religiosidade e saúde: um estudo no Santo Daime e na Umbanda, fez suas observações a partir das condições de saúde e de indicadores de bem estar psicológico e social dos membros envolvidos na pesquisa.
Constatações
Entre diversas constatações, adeptos do Santo Daime e da Umbanda apresentaram diferenças significativas quanto à redução da frequência de mudanças de humor e de sentimentos contraditórios, e quanto ao aumento de domínio sobre essas alterações. As diferenças foram baseadas nas experiências anteriores e posteriores à participação nos rituais de cada religião. Quando comparados a um grupo controle, os adeptos mostraram ter maior equilíbrio de humor e emoção. Os praticantes do Santo Daime ainda revelaram ter maior domínio sobre quadros de base depressiva. Já na Umbanda, o aumento de domínio foi mais aparente em experiências de alteração de identidade.
A comunidade religiosa, provedora de apoio emocional, material e afetivo, pode também ser compreendida como uma comunidade terapêutica para as condições psicológicas estressantes. Os adeptos podem encontrar em suas comunidades suporte em momentos de fragilidade. É comum a quem desconhece a questão do transe mediúnico temer algum tipo de aumento na mediunidade ou descontrole. No entanto, Suely diz que, “na verdade, o aprendizado que essas religiões proporcionam podem ensinar seus adeptos a ter um domínio maior quanto ao enfrentamento espiritual dessas questões, diminuindo experiências mediúnicas traumatizantes”.
Ayahuasca
A dissertação de Suely ainda tratou da polêmica em torno da utilização do psicoativo Ayahuasca. Geralmente condenado, o uso do psicodélico mostrou associar a experiência de cura espiritual, desfrutada por participar aos rituais, a mudanças no estilo de vida dos usuários. A ruptura de velhos padrões com a adoção de outros novos e saudáveis causou reflexo no combate ao risco de dependências da nicotina, álcool, cannabis sativa e cocaína. O ritual com a Ayahuasca aumentou, em altas porcentagens, a recuperação declarada quanto ao abuso e risco de dependência para usuários das substâncias citadas.
Na esfera da afetividade, a Ayahuasca serviu como uma espécie de antidepressivo, ou como a psicóloga conta, “aqueles que faziam parte dos rituais com o psicoativo diziam ter os períodos muito longos de tristeza cada vez menores e mais raros, como se a Ayahuasca fosse equivalente a um ‘banho de serotonina’”. Segundo Suely, “é possível que a busca por uma religião que faça uso da ayahuasca possa resultar em efeitos terapêuticos para aqueles vulneráveis a quadros bipolares ou à depressão”.
Método e alguns dos resultados
A dissertação contou com a orientação do professor Wellington Zangari e foi baseada em questionários e escalas aplicadas a um grupo de 106 pessoas; 42 dos voluntários eram adeptos do Santo Daime, 44 da Umbanda e houve também o grupo controle composto por 20 pessoas. O grupo controle serviu para comparar a influência da religiosidade nos participantes. Além disso, tanto no grupo de Santo Daime como no de Umbanda havia a presença de praticantes novatos e experientes.
A psicóloga empregou um questionário que abordava o perfil social, a religiosidade e a saúde, tanto física como mental, dos voluntários. Dados sociodemográficos evidenciaram poucas diferenças entre os grupos, principalmente entre gênero, idade, grau de instrução, faixa salarial e condição de moradia. “Os resultados obtidos dos perfis sociais, saúde e religiosidade e das escalas revelaram indicadores de bem estar que confirmam índices de saúde inteiramente satisfatórios e até melhores quando comparados aos resultados do grupo controle”, relata a pesquisadora.
Contribuições
Não há, até o momento, a precisão da verificação dos resultados apresentados e correlacionados nas comunidades estudadas. Com o tema de sua dissertação, Suely espera incentivar os estudos acerca do psicoativo Ayahuasca e os benefícios a ele associados, em especial, ao seu potencial terapêutico para o tratamento de dependências. Ela buscou amenizar os preconceitos com as religiões afro brasileiras. A Umbanda é um exemplo de religião que trabalha exclusivamente na arte do ensino da prática mediúnica, não faz uso de psicoativos, mas mesmo assim pode ser não bem interpretada. Não havendo nocividade nestas práticas, a relação entre religião e saúde, mais bem esclarecida por esta pesquisa, pode ajudar a desconstruir muito do senso comum que envolve a religiosidade no País.

Heroína contaminada com Antrax causa pânico no Reino Unido

Heroína contaminada com Antrax causa pânico no Reino Unido




Folha de S. Paulo

AMELIA HILL
DO "GUARDIAN"

Quando Cath injetou heroína em sua veia sem saber que a droga estava contaminada por Antrax, seu pulso imediatamente começou a inchar e enrubescer. A dor foi chocante. Mas a única coisa que ela sentia era raiva e irritação.
"Eu queria o barato que a droga costumava me dar", conta. "Fui viciada em heroína por 23 anos. Sabia que tinha me injetado corretamente. Não conseguia entender por que a droga não estava fazendo efeito".
Por isso, ela se injetou uma segunda vez. E isso fez com que todo seu braço inchasse. A cor vermelha se intensificou, chegando a ficar púrpura. O inchaço subiu em direção ao cotovelo e desceu aos dedos. A dor se intensificou, mas o barato da droga ainda assim não chegou.
Isso aconteceu em 2010, e Cath havia se intoxicado no ápice do maior surto de fonte única de Antrax humano a ser registrado no Reino Unido em mais de 50 anos. As mortes se espalharam pela Europa: 126 casos foram identificados, na contagem final, entre os quais 119 no Reino Unido. Pelo menos 14 pessoas morreram.
Esta semana, especialistas em saúde pública informaram que um segundo usuário de drogas morreu por Antrax em Blackpool, no noroesta da Inglaterra, semanas depois da primeira morte na cidade.
Durante o surto de 2010, todos conheciam o risco, na comunidade de Cath. A clínica onde ela obtinha agulhas limpas tinha cartazes alertando que o uso de heroína contaminada com Antrax podia matar, e oferecendo uma lista de sintomas. Notícias de mortes e amputações causadas pela doença começaram a se espalhar como rumores entre os usuários de drogas. Mas Cath não se importou. "Eu desviava o olhar dos cartazes", conta. "Não considerava meu corpo como algo que eu precisasse manter vivo. Era só uma porção de pele com veias nas quais eu podia injetar a droga".
Naquele dia, enquanto ela contemplava seu braço escurecendo, de púrpura a preto, a única coisa que ela sentia era irritação, porque a droga não fazia o efeito esperado. Cath se injetou pela terceira vez. E por fim começou a fazer efeito.
Quando acordou, horas mais tarde, estava suando demais e sentia uma dor fortíssima no braço. "Ainda assim não me ocorreu que a heroína estivesse contaminada", disse. "Pensei que era só outro abscesso".
Cath estava tão acostumada a abscessos que mal se incomodava em procurar o hospital para tratá-los, não se importando com o fato de que os médicos consideraram a hipótese de amputar seus braços e pés em mais de uma ocasião.
SORTE
Passados três dias, porém, ela não conseguia mais suportar a dor. Quando o Antrax foi diagnosticado, ela passou a ser tratada com aplicação intravenosa de antibióticos, e a única veia praticável para a sonda estava em seu pescoço. Cath foi informada de que uma amputação era a opção mais provável, mas que havia possibilidade de morte.
"Eu não conseguia racionalizar que tinha Antrax", conta. "Para mim, Antrax era coisa de guerra, terrorismo. Tudo que me preocupava era que, se amputassem meu braço direito, teria de aprender a me injetar com o esquerdo".
Cath teve sorte. Os antibióticos conseguiram derrotar a infecção, e por isso no quarto dia de tratamento ela recebeu uma dose diária de 28 pílulas para duas semanas de tratamento e teve alta. A primeira coisa que fez ao sair do hospital foi ligar para o traficante.
Na semana passada, pela primeira vez desde o surto de 2010, o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças e o Centro Europeu de Monitoração de Drogas e Vício em Drogas admitiram que a Europa estava de novo sob o efeito de um surto de Antrax, provavelmente vinculado a heroína contaminada.
Desde o começo de junho, dez casos foram identificados na Europa. A recomendação oficial da Agência de Proteção à Saúde (HPA) britânica é a de que um aumento no número de casos deve ser esperado.
"É provável que sejam identificados novos caso entre as pessoas que injetam heroína, como parte do surto que vem acontecendo nos países da União Europeia", disse o Dr. Fortune Ncuba, especialista em vírus transmitidos pelo sangue na HPA.
"O Departamento da Saúde alertou o Serviço Nacional de Saúde quanto à possibilidade de que as pessoas que usam drogas injetáveis procurem prontos-socorros e clínicas com sintomas que sugerem Antrax."
Determinar de que maneira o Antrax chegou à heroína é algo que vem intrigando a polícia e os especialistas em saúde. Em 2010, a contaminação no Reino Unido terminou por ser rastreada a um lote infectado com esporos de Antrax provenientes de um bode ou couro de bode infectado, em algum lugar do percurso entre o Afeganistão ou Paquistão e a Escócia, provavelmente na Turquia.
Há outras causas possíveis. A heroína pode ser contaminada naturalmente, caso as papoulas sejam colhidas em terra na qual um animal vítima de Antrax tenha sido sepultado. Também pode ser infectada caso ossos de animais infectados sejam usados no processo de curagem.
CONSELHOS
Qualquer que seja a fonte, os especialistas criticam vigorosamente os conselhos dados aos usuários de drogas nos últimos 15 dias.
Muitas vezes, quando há temores de saúde entre os usuários, os conselhos do governo, via agências de tratamento, envolvem o uso de drogas de modo mais seguro. No caso do HIV, por exemplo, os usuários de drogas são encorajados a recorrer a postos que fornecem agulhas limpas.
Desta vez, o conselho era mais simples: deixar de usar heroína e buscar ajuda nos centros locais de tratamento, que podem oferecer apoio na forma de medicamentos substitutos.
De acordo com os especialistas, essa é uma ideia impraticável. Eles afirmam que, em um ambiente no qual um usuário pode levar seis meses para obter acesso a substitutos de heroína como a metadona ou o Subutex, pedir que os usuários deixem de usar a droga é inútil.
A Agência Nacional de Tratamento para Abuso de Drogas contesta esse prazo. Diz que o tempo médio de espera para obter tratamento na Inglaterra é de cinco dias --o mais baixo de todos os tempos-- e que em casos de emergência o prazo é ainda menor.
"A campanha da HPA presume que os usuários saibam o que estão fazendo", diz Mark Styles, diretor dos centros de tratamento DetoxPlus e Pierpoint, em St-Annes-on-Sea, perto de Blackpool. "Mas isso é supor demais".
Styles já tratou de meia dúzia de casos de contaminação por Antrax, nos 16 anos de experiência que tem com usuários de heroína. "Eles não se preocupam com o risco de injetar Antrax", afirma. "Dizer a um viciado em drogas que ele precisa parar de usar a droga é como me dizer que não posso beber água".
Scott March concorda. Viciado por 16 anos, ele passou por uma desintoxicação bem-sucedida no ano passado. March conhece pelo menos quatro pessoas que morreram por conta de heroína contaminada com Antrax.
"Usar drogas era apavorante, sabendo que podiam conter Antrax, mas a vontade de usar é tão forte que não existe medo suficientemente intenso para detê-lo", diz. "Mesmo que você saiba que há heroína contaminada em sua seringa, o medo talvez não seja suficiente. A negação é mais forte".
No improvável caso de que um usuário esteja de fato preocupado com infecção, acrescenta Styles, não seria comum que ele percebesse a infecção no começo. "Os sintomas de Antrax são fracos, se comparados aos horríveis efeitos físicos do uso da heroína. Os usuários sofrem tanto, de qualquer modo, que nem perceberão a diferença", disse.
Cath sabia que podia se infectar de novo com Antrax, depois de deixar o hospital. "As drogas contaminadas continuavam a circular", diz. "Não parei de imediato, depois do Antrax, mas a doença mudou alguma coisa em mim, de modo sutil".
Ela está livre de drogas há dois anos, o que inclui mais de um ano em tratamento, e está treinando para ser massagista e aromaterapeuta. "Se eu consegui deixar a droga, qualquer um conseguirá --com determinação e um bom tratamento", diz.
"Me contaminei com Antrax, fui viciada por 23 anos, e tive de chegar ao ponto de deixar de ser humana. Estava apodrecendo. Vivia como um cachorro viralata e raivoso. Mas agora amo a vida e minha família tem orgulho de mim. Quando me olha, minha mãe não tem mais angústia no olhar".
Tradução de PAULO MIGLIACCI.