terça-feira, 27 de março de 2012

Segundo o pai, ex-baixista da Legião Urbana vira morador de rua, devido ao uso de drogas.

Ex-baixista da Legião Urbana vira morador de rua

Renato Rocha diz viver há cinco anos como sem-teto no centro do Rio de Janeiro, e que nunca foi dependente de drogas


Foto: Ricardo Junqueira e Marcelo Benzaquém
Renato Rocha durante as gravações do álbum "Que País é Este", em 1987

Renato Rocha, ex-baixista da Legião Urbana, está vivendo há cinco anos como sem-teto nas ruas do Rio de Janeiro.

O músico foi encontrado pela reportagem do programa Domingo Espetacular, da Rede Record, sentado em frente a uma agência bancária no centro da cidade.

Rocha, que entrou para a banda a convite do cantor Renato Russo, foi despedido alguns anos depois. Segundo um vídeo da época, o baixista foi expulso, de acordo com Dado Villa-Lobos, por "ser muito louco".

Falando do grupo, Renato Rocha diz sentir saudade dos tempos de sucesso: "Adoro ouvir Legião no rádio"; e sobre Russo: "Ele era uma pessoa muito inteligente. E (quando estava) sóbrio, era fácil de conviver; só que ele bebia sem limites".

Ainda sobre drogas e álcool, o músico afirma nunca ter sido dependente: "Às vezes você toma um calmante e é considerado droga. Eu preferia tomar um calmante para controlar o nervosismo". Mas falando sobre as festas, admite: "Depois (dos shows) pode liberar tudo".

Procurado pela reportagem do programa, o pai de Renato, Sebastião Rocha - advogado com 84 anos de idade - disse que soube do filho há poucos dias, e que o baixista chegou nessa situação devido à dependência de drogas, que teve início após o fim de seu casamento. Sebastião planeja também ir ao Rio para tirar o filho das ruas.


Foto: Reprodução
Renato Rocha na reportagem do programa Domingo Espetacular



Falando sobre o dinheiro ganho com os direitos autorais das músicas da Legião Urbana, Renato Rocha reclama: "Como pode um disco vender mais de 12 milhões de cópias e eu ficar na rua?"

Procurado, o ECAD afirmou que o músico recebeu nos último dez anos quase R$ 110 mil, em uma média de aproximadamente R$ 900 por mês.


Marcelo Bonfá

Ex-baterista da Legião Urbana, Marcelo Bonfá comentou o caso no Twitter. "Nós da banda sempre tentamos ajudar o Renato Rocha, mesmo quando ele ainda era um músico ausente dentro na banda. Depois disso ele se distanciou e se envolveu em problemas que iam além das nossas possibilidades de ajudá-lo."

"Muito depois,o Dado,que tem um estúdio, tentou ajudá-lo oferecendo-o uma participação numa gravacao.Mas o RR não conseguiu realizá-la. Algumas pessoas aqui estão bastante equivocadas sobre a ideia de qualquer culpa que possamos ter, eu e Dado, na vida que ele escolheu para si. Posso dizer que eu faço a minha parte quanto a ajudar pessoas dentro do meu raio de acão e que ainda assim vão além da minha própria família."

Droga para tratar alcoolismo é bem sucedida em teste.


Droga para tratar alcoolismo é bem sucedida em teste preliminar




Correio Braziliense- France Presse 

Droga para tratar alcoolismo é bem sucedida em teste preliminar

Paris - Uma droga projetada para tratar espasmos nervosos conseguiu superar um importante teste preliminar em um projeto com vistas a ver se é capaz também de curar o alcoolismo, afirmaram médicos franceses em estudo publicado nesta terça-feira (20/3).
O baclofen nome laboratorial de um medicamento comercializado como Kemstro, Lioresal e Gablofen, passou com sucesso em um teste preliminar, realizado com um pequeno grupo de alcoólicos, um resultado que abre o caminho para testes clínicos formais, afirmaram os cientistas.
A história do medicamento remonta a 50 anos. Ele foi originalmente projetado para tratar a epilepsia, antes de ser licenciado para tratar a espasticidade, mas os cientistas agora estão interesssados em usá-lo para aliviar a abstinência do álcool.
Em 2008, o livro 'O Último Copo', do cardiologista Olivier Ameisen, despertou interesse, pois no texto o médico afirmou ter tratado a si próprio de alcoolismo com altas doses de Baclofen.
O novo teste foi realizado com 132 bebedores contumazes que ingeriram baclofen em altas doses durante um ano. Oitenta por cento ficam abstêmios ou se tornaram bebedores moderados. Comparativamente, duas drogas comumente usadas para tratar alcoólicos, naltrexona e a acamprosato, tiveram uma taxa de sucesso entre 20% e 25%.
Os efeitos colaterais incluíram fadiga, sonolência, insônia, tontura e problemas digestivos.
O principal autor da pesquisa, Philippe Jaury, da Universidade de Paris-Descartes, disse que o resultado abriu as portas para testes clínicos com duração de um ano, cujo início deve começar em maio, em que 320 alcoólicos seriam divididos em dois grupos.
Uma parte receberá baclofen, com doses que aumentariam gradativamente até que os sintomas de abstinência desapareçam, enquanto a outra receberá um placebo.
O sistema de saúde francês paga 750 mil euros (US$ 469.000) do custo de 1,2 milhão de euros (US$ 1,45 milhão) do teste e um doador não identificado paga o restante, explicou Jaury à AFP.
O estudo é publicado no periódico especializado Alcohol and Alcoholism.


Até hoje somente 1% dos alcoolistas conseguem se tornar um "bebedor moderado" após tratamento, sem entrar em compulsão e ingerir doses cavalares de alcool. No entanto, todos os alcoolistas (sem exceção) adorariam conseguir essa proeza. Tenho muito receio da ilusão que uma notícia dessas pode causar. Cuidado são apenas testes

quarta-feira, 14 de março de 2012

DORT e transtornos mentais relacionados ao trabalho




Trabalhadores sofrem mais de DORT e transtornos mentais, aponta ambulatório do HC
Posted março 9th, 2012  by Ana Paula - Fonte: Portal UNICAMP
Fortes dores de cabeça, tonturas, tremores, falta de ar, oscilações de humor, distúrbios do sono, dificuldade de concentração, problemas digestivos e depressão são alguns dos sintomas de uma doença invisível chamada de síndrome do esgotamento profissional ou Sindrome de Burnout (SB) – do inglês burn out, que significa queimar-se por completo.
Enquanto nas décadas de 1970 os problemas de saúde do trabalhador mais relevantes eram as doenças profissionais, tais como silicose ou intoxicação por chumbo e na de 1980 eram as lesões por esforços repetitivos (LER) e doenças osseomusculares relacionadas ao trabalho (DORT), de 1990 em diante os casos de transtornos mentais relacionados ao trabalho e as doenças como depressão e SB não pararam de crescer.
De acordo com Sérgio Roberto de Lucca, professor e coordenador da área de saúde do trabalhador do Departamento de Saúde Coletiva da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, os casos de DORT e transtornos mentais associadas à sindrome do esgotamento mental são uma tendência demonstrada pelas estatísticas da Previdencia Social e pelos pacientes atendidos no ambulatório de medicina do trabalho do Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp. Dos 858 casos de DORT atendidos no ambulatório nos últimos anos, 280 destes casos apresentam como co-morbidade algum tipo de transtorno mental.
 “O novo desafio da medicina do trabalho é a de preservar a sanidade mental dos trabalhadores. Passamos do risco tecnológico, possível de controlar, para o risco invisível, difícil de controlar. Na história clinica há relatos de assédio moral e alguns pacientes apresentam sintomas que podem caracteriza-se como Síndrome de Burnout. O medo de perder emprego e os fatores da organização do trabalho são invisíveis e muito mais complexos de lidar. Este problema é mundial”, disse de Lucca.
Segundo de Lucca, a esse problema foi agravado com o advento das novas tecnologias e da globalização que impôs uma reestruturação produtiva. A precarização do trabalho se dá por meio da terceirização, flexibilização das atividades e instabilidade dos postos de trabalho. E o Brasil está numa posição reservada.
“As exigências das empresas são tamanhas que o indivíduo precisa de uma qualificação cada vez mais exigente. A maioria dos trabalhadores, hoje, não tem essa qualificação. Eles ficarão na periferia do sistema, em subempregos ou desempregados”, disse.
Milésima reunião clínica
A área de saúde ocupacional começou em 1978, com o ambulatório de medicina do trabalho, na Liga das Senhoras Católicas de Campinas. O fundador foi o professor René Mendes, do então Departamento de Medicina Preventiva e Social da FCM. Desde 1987, após o ambulatório mudar-se do centro de Campinas para o recém construído Hospital de Clínicas (HC) da Unicamp, alunos do quinto ano de graduação em medicina, médicos residentes e professores passaram a se reunir regularmente às quartas feiras nas reuniões clinicas de discussão dos casos de pacientes atendidos no ambulatório de medicina do trabalho. Em 34 anos, mais de três mil pacientes foram atendidos, constituindo-se em casos clínicos e fontes de pesquisa.
No dia 7 de março, a área de saúde do trabalhador do Departamento de Saúde Coletiva da FCM realizou a sua milésima reunião clínica. Para comemorar esta marca, aconteceu uma sessão solene às 19 horas, no anfiteatro 1 do conjunto de salas de aula da FCM, com a palestra “A importância do ensino e formação na atenção à saúde do trabalhador “, proferida por René Mendes, hoje consultor e professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mendes foi quem instituiu as reuniões clínicas semanais da área.
“O René Mendes participou da evolução histórica da medicina do trabalho. Seu livro mais conhecido é “Patologias do trabalho”. Ele vai falar sobre o que aconteceu nesses últimos 25 anos no mundo do trabalho em particular na atenção á saúde dos trabalhadores”, explicou de Lucca.

domingo, 11 de março de 2012

Vínculo entre álcool e fumo aumentam risco de câncer.


O GRANDE INJUSTICEIRO


O câncer é tragicamente igualador e todos temos alguma ligação com ele, diz oncologista-escritor


Lúcia Guimarães - O Estado de S.Paulo - 11 de março de 2012

No filme Desconstruindo Harry, de 1997, o neurótico Harry Block, vivido por Woody Allen, declara que "as palavras mais bonitas da língua inglesa não são 'eu te amo', e sim 'é benigno'". Mas, no ano passado, 1 milhão e 600 mil americanos tiveram que se contentar apenas com o "I love you".
Em suas múltiplas encarnações como hipocondríaco, Woody Allen poderia perder o ímpeto piadista num primeiro encontro com o oncologista Siddhartha Mukherjee. O autor de O Imperador de Todos os Males: Uma Biografia do Câncer (Companhia das Letras), vencedor do Prêmio Pulitzer de 2011 na categoria não ficção, chega junto com a repórter ao lobby do moderno edifício no Harlem. Não fosse pelo letreiro que anuncia o Columbia Cancer Center, o visual do médico o remeteria a uma galeria de arte em Chelsea. De botas pretas, blazer da Osklen ("só compro blazer dessa grife brasileira") e cabelo cuidadosamente espigado, ele é puro cool. No escritório, oferece um café de qualidade ("aqui há muito médico europeu, o café é melhor") e se lança às respostas com o apetite e a clareza de quem não acredita em escrita com perfil de consultório. "Escrever é escrever", diz.
Best-seller nos Estados Unidos e traduzido em sete línguas, o livro de estreia do indiano nascido em Nova Délhi há 41 anos conta a história do mal que não é um, mas vários. O que a palavra câncer descreve em comum é o crescimento anormal de células. Não existe uma cura universal para o câncer, explica o autor, porque não existe o tumor geneticamente universal.
A prosa de Mukherjee é elegante e sua crônica de 4 mil anos plena de citações literárias, que incluem Aleksandr Soljenitsyn (Pavilhão de Cancerosos), Susan Sontag (A Doença como Metáfora) e uma inédita aplicação médica para a famosa abertura de Anna Karenina sobre famílias e infelicidade: "As células normais são identicamente normais; as células malignas se tornam infelizmente malignas de maneira única".
O câncer, lembra Mukherjee, é a mais antiga das doenças. A ideia de que seja moderno faz sentido: é um mal da longevidade. Daí sua explosão a partir do século 20, com o súbito aumento da expectativa de vida. "O câncer é minha nova normalidade", diz uma paciente de Mukherjee, com a qual ele concorda. À medida que a incidência de certos tipos de câncer em alguns países já é de 1 para 2, ele encara a doença como inevitável. Mas conta que escrever o livro tirou seu medo de encarar tal destino.
O presidente venezuelano Hugo Chávez faz segredo total sobre o tratamento de um câncer na região da pélvis e, por esse motivo, seus boletins são em geral desacreditados. Já Luiz Inácio Lula da Silva, nosso ex-presidente e figura determinante na política do País, decidiu abrir o jogo sobre a evolução do câncer da laringe, descoberto em outubro. Em que medida a superexposição prejudica ou ajuda o tratamento?
É importante compreender que as doenças afetam a todos. São tragicamente igualadoras, você não está imune porque é presidente, assim como não está imune porque mora na favela. E, de alguma forma, todo mundo tem alguma ligação com o câncer. Então acho que a figura pública beneficia os pacientes anônimos, aumenta a visibilidade da doença e afeta a maneira como se levantam fundos para a pesquisa. Essa é uma consequência muito importante porque boa parte do dinheiro é devotado à pesquisa, o que nos permite tratar de futuras gerações de pacientes.
Em sua experiência no tratamento de pessoas de países diferentes, notou  distinções culturais importantes na forma como os pacientes lidam com a doença?  E quando eles têm religiões diferentes?
Descobri que as diferenças culturais são menos importantes que as diferenças interpessoais. A reação do ser humano ao câncer ou a outra doença dessa magnitude é tão diferente de pessoa para pessoa que supera o fator cultural, ainda que ele tenha peso. Nos Estados Unidos, certos grupos têm uma suspeita grande quanto ao sistema de saúde - não sem razão. Os afro-americanos, por exemplo, sempre estiveram em desvantagem, especialmente nos casos de câncer. Entre dois pacientes com o mesmo status social, um americano negro e um branco vão receber cuidados médicos diferentes, desde o começo. Então a suspeita contra o establishment médico é justificada. Já quanto à religião, encontrei algumas dificuldades. Um exemplo: testemunhas de Jeová criam obstáculos para a químio em pacientes com leucemia, especialmente por causa da transfusão de sangue. A situação se torna muito complicada porque você quer respeitar as convicções dos outros, mas a necessidade de transfusão costuma ser imediata. É muito difícil lidar com isso.
O senhor atribui as derrotas da 'guerra ao câncer' declarada pelo presidente Richard Nixon em 1971 ao fato de que não havia um conhecimento científico servindo de munição. Na conclusão do livro, entre as novas armas, o senhor afirma que o projeto do genoma do câncer será mais importante do que foi o
Projeto Genoma. Qual é o novo caminho para a vitória contra o câncer?
Hoje entendemos a célula do câncer num nível biológico e mecânico que não existia há dez anos. A diferença é enorme. Temos, afinal, a capacidade de começar a resolver o problema da gênese da doença e possivelmente do tratamento e da cura potencial de certos tipos de câncer. Obviamente, esta não é uma doença só, mas várias.
O senhor está usando a expressão 'cura potencial'.
Sim, porque há muito que realizar. Mesmo o projeto do genoma do câncer, que nos daria uma visão incrivelmente detalhada da anatomia anormal da doença, ainda não atingiu seu potencial máximo. Sabemos hoje o que são alguns dos genes do câncer, mas não sabemos o que fazem. É saber da existência de algo, sem compreender o seu mecanismo. Mesmo quando descobrirmos o que esses genes alterados vão fazer, ainda teremos que descobrir uma estratégia de prevenção e tratamento com foco nos genes alterados. E isso não será possível em todos os casos, só em alguns. Dito isso, já existe um número crescente de exemplos em que o conhecimento dessa anatomia levou a mecanismos de prevenção e tratamento. O caso do melanoma maligno metastático é um bom exemplo. Se estivesse localizado, o único tratamento era a cirurgia. Se tivesse se espalhado, não havia nenhuma droga aprovada em experiências clínicas. Agora existem duas ou três que parecem fazer efeito. Usadas individualmente, têm resultado modesto e o paciente desenvolve resistência a elas em pouco tempo. Mas podemos combiná-las. O desenvolvimento dessas drogas abre um universo de medicamentos novos. Para você ter uma ideia, quando eu era fellow em Boston, há nove anos, era quase impossível encontrar um colega que escolhesse o melanoma como especialidade. Hoje sei, como membro do comitê de admissões, que um em cada quatro ou cinco candidatos escolhe esse campo. O otimismo cresce graças a essas descobertas. Há um panorama em transformação.
Como o fator econômico afeta as decisões sobre quais tipos de câncer recebem mais atenção nos EUA? E como as instituições públicas ajudam a corrigir distorções?
As instituições públicas são fundamentais. Só a pesquisa usada no meu livro mostra o papel importantíssimo do National Institute of Cancer e do National Institute of Health. São eles que dão a plataforma nacional para a pesquisa que é avaliada pelos colegas de profissão, relativamente livre do interesse econômico. Mas nada é 100% imune à contaminação. Mesmo nos anos 90 havia grande resistência por parte da indústria farmacêutica em desenvolver drogas para o que então chamávamos de tipos raros de câncer, como a leucemia mieloide crônica. Mesmo assim, um dos maiores exemplos de sucesso na compreensão da genética do câncer foi o desenvolvimento do Glivec (mesilato de imatinibe). Considero a chegada dessa droga um fato histórico porque ela não apenas nos permitiu entender que, se você mira numa célula cancerosa, pode obter resultados impressionantes, mas também mudou o paradigma para a produção de drogas de maneira geral. Há drogas novas para câncer de mama que estão para chegar ao mercado e são primas químicas do Glivec. Então, se você estuda algo em profundidade, acaba se abrindo para um universo mais amplo. Novas drogas para câncer de mama não teriam aparecido se não estivéssemos combatendo uma forma rara de leucemia.
De que maneira as pesquisas sobre o câncer contribuíram para os tratamentos paliativos em outros tipos de doença?
Os benefícios são enormes. Alguns remédios destinados ao câncer não surtiram efeito e se tornaram muito eficazes em outras doenças. O Avastin, por exemplo, está no centro de uma grande controvérsia nos Estados Unidos por causa do debate sobre sua eficácia no tratamento do câncer de mama. Ocorre que o Avastin é muito eficaz na prevenção de certo tipo de cegueira em idosos, uma variação da degeneração da mácula. Gosto de citar o exemplo do velcro. Ele foi desenvolvido para a Nasa a fim de facilitar as caminhadas espaciais dos astronautas e hoje está em tudo que é lugar. Produtos farmacêuticos também podem ser usados de múltiplas formas, além do campo original do câncer.
O senhor mostra no livro o aumento da incidência de câncer provocado pelo fumo e o papel exercido nos Estados Unidos pela indústria do tabaco. Qual é a parte da mensagem 'não fume' que o público ainda não compreende?
Não tenho como enfatizar o bastante a importância de combater o cigarro. O obstáculo ao tratamento já é tão alto que sentimos enorme frustração, diante da complexidade do que vamos enfrentar, quando coisas simples como não fumar nos escapam. Você só precisa passar dez minutos no pavilhão do hospital-escola do outro lado da rua para entender as consequências do fumo. Não é só o câncer de pulmão. É o câncer de lábios, laringe, esôfago. O câncer do esôfago é um ótimo exemplo porque não temos um só remédio para tratar dele fora a cirurgia, que debilita profundamente a pessoa. É interessante notar, do ponto de vista epidemiológico, como as companhias de cigarro dirigem seus comerciais. Sabemos que, se você atingir os jovens, estará recrutando fumantes para o resto da vida. Não é comum começar a fumar aos 40 anos, mas, quem começa nessa idade, dificilmente ficará dependente. Se os médicos estão lendo os estudos, as fábricas de cigarro também estão e sabem exatamente como dirigir sua propaganda. Observe os anúncios de cigarro (nos EUA ainda são permitidos anúncios de tabaco em jornais, revistas e outdoors; no Brasil estão totalmente proibidos) e veja como eles falam aos jovens, mostrando o fumo como algo sensual.
O vínculo entre álcool e câncer é mais recente e, portanto, menos conhecido?
O álcool é um carcinogênico. Seu efeito se faz junto com o fumo. Estudos inquestionáveis mostram que o álcool somado ao fumo aumenta em grande parte o risco do câncer do esôfago. Já sabíamos que o álcool era um fator de risco para o câncer de fígado.

Quais são os tipos de câncer mais comuns que podem ser evitados?
Se levarmos em conta substâncias carcinogênicas como o tabaco, poderíamos evitar o câncer de pulmão, lábios, laringe, boca e esôfago. O câncer de pâncreas também tem sido ligado ao fumo de maneira expressiva, assim como o câncer de bexiga. O álcool, como dissemos, é um cofator no câncer de esôfago. E há vírus como o papiloma humano, que pode levar ao câncer cervical e a tumores de boca e garganta.

Em que estágio nos encontramos na identificação das causas ambientais do câncer?
É uma pergunta complexa. Quando temos um fator de risco raro que provocou uma alta expressiva de casos de câncer é mais fácil detectar a causa. Caso clássico é o do amianto e sua ligação com o câncer de pulmão. O mais difícil é encontrar fatores comuns de risco que provocam um número pequeno de casos. Um exemplo seria a terapia de reposição hormonal em mulheres. Havia uma grande população de mulheres em tratamento hormonal, sabíamos que ele aumentava o risco de câncer de mama, mas de forma moderada. Essas situações oferecem o maior desafio. Se tivermos uma substância nociva na água ou no ar que respiramos e ela não provocar câncer em massa, é difícil provar a origem dos casos.

Qual a importância de se investigar os fatores ambientais no risco de câncer?
Isso é muito importante porque não sabemos o suficiente sobre os riscos. No passado dizíamos: "Que horror, estas pessoas que foram expostas a essa ou aquela substância correram mais risco de câncer". Olhar para trás não é o método preferencial. Para olhar para frente e impedir que as pessoas sejam expostas ao risco é preciso compreender o comportamento das células cancerosas, como se vem fazendo. Se conhecermos os caminhos que foram ou não ativados nas células, poderemos fazer experiências de laboratório antes de expor seres humanos a certos produtos químicos. E a ciência poderá prever se um produto é carcinogênico e em que escala. Mudar o foco das amostras humanas do passado para a previsão em laboratório não só protege mais gente. É também mais barato e eficaz. O National Institute of Health desenvolve uma grande pesquisa sobre os criptocarcinogênicos, as substâncias cancerosas difíceis de detectar.
Como foi a reação dos pacientes ao seu livro?
Tentei manter os dois mundos separados. Se um paciente perguntava sobre ele, eu respondia. E me recusei a ficar envolvido em aspectos comerciais, de venda do livro.
Havia casos de pacientes graves que faziam o senhor torcer para eles não tocarem no assunto?
Não. Uma das razões pela qual a medicina é uma arte e uma ciência é que você precisa ter uma percepção psicológica do seu paciente, da mesma forma que o paciente precisa entender a psicologia do médico. Sei que o livro pode ser duro para alguns. Mas fico gratificado quando alguém chega e diz: o processo de desmistificar o câncer foi, em si mesmo, uma terapia, um paliativo.
Não é raro atribuir ao paciente a culpa pela doença, como se ele tivesse fabricado a proliferação das células por algum tipo de comportamento 'errado'.
É muito importante enfrentar essa culpa. A ideia de que você se deu um câncer é exemplo clássico de culpar a vítima. Fizemos isso com as mulheres que sofreram de câncer, especialmente câncer da mama, e isso acontece ainda hoje.
Isso acontece porque o seio é um símbolo de maternidade e sensualidade feminina?
Sim, isso à maneira como encaramos o corpo da mulher e como as mulheres encaram seu corpo. O seio é um símbolo de nutrição, de sexo e de feminilidade. Livros e livros foram escritos sobre a relação complexa entre a medicina e o câncer de mama. Outro aspecto importante nesse jogo de culpa é o da psique: você teve câncer porque é uma pessoa negativa. Sim, a maneira como você enfrenta um tratamento e se cura é influenciada pela sua psique. Mas não se deve responsabilizar a vítima por uma doença. É preciso lembrar que o câncer é uma doença dos genes, e não necessariamente herdada. É verdade que você precisa compreender como o aspecto psicológico pesa na evolução das células. Mas é preciso passar antes por conjecturas implausíveis. Essa conexão percorre um longo caminho.

O senhor fala dos efeitos do câncer também nas famílias dos pacientes. Escrever o livro afetou sua vida familiar?
Sim e não. A situação é incomum porque, como oncologista, o médico vive sob um temor perpétuo de que a doença aflija as pessoas que mais ama. É preciso controlar esse medo, senão viro um pai meio maluco. Mas, por outro lado, escrever o livro dissolveu meu medo de ter câncer. 

segunda-feira, 5 de março de 2012

Projeto veta ingerir álcool na rua ou lugares abertos



Após fumo, projeto veta álcool na rua


Agência Estado

Depois de proibir o fumo em ambientes fechados no Estado, a Assembleia Legislativa deve apresentar na próxima semana um novo projeto de lei que já tem causado polêmica em São Paulo. Agora, os deputados vão discutir a proibição da venda e do consumo de álcool nos espaços abertos.
Caso o projeto de autoria de Campos Machado (PTB) seja aprovado e sancionado por Geraldo Alckmin (PSDB), ficarão proibidos a venda e o consumo de bebida alcoólica em ambientes públicos, como praias, calçadas, postos de gasolina e estádios, entre outros lugares.
Como ocorre em províncias canadenses e Estados americanos, ainda haverá restrição ao porte de bebida nas ruas. Carregar garrafas só será permitido em público com embalagens que escondam o rótulo.
Campos tem corrido atrás de apoio. Ele mandou cartas para senadores e deputados de todo o Brasil. "Queremos criar um clima de apoio na sociedade antes de aprovar o projeto. Vereadores e deputados de outros Estados já entraram em contato para apresentar projetos semelhantes", disse o deputado.
O debate em torno do tema começou desde que o deputado fez os primeiros discursos em defesa do projeto na Assembleia, na semana passada. Na quarta-feira, um grupo de jovens criou no Facebook a página Sampa Pró-Fun, atualmente com 71 integrantes, que passou a discutir algumas das restrições já existentes em São Paulo.
A empresária Mariana Moretti, dona do Ô de Casa Hostel, na Vila Madalena, na zona oeste, foi uma das criadoras do grupo. Ela também é integrante do bloco carnavalesco João Capota na Alves, que sai há cinco anos pelas ruas do bairro. No sábado de carnaval, cerca de 2,5 mil pessoas estavam presentes, mas o bloco foi impedido de seguir. "São Paulo está ficando restritiva àqueles que usam as ruas da cidade. Lutamos para reverter esse quadro."
Entidades e associações de bares e restaurantes, além de grupos que atuam para restringir o uso de álcool e drogas, por outro lado, defendem o projeto. "O primeiro passo importante foi a proibição de venda de álcool para menores de 18 anos. A restrição de venda e consumo em espaços públicos é outro avanço", defende o advogado Cid Vieira de Souza Filho, presidente do Comitê Estadual sobre Educação e Prevenção de Drogas e Afins da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP). "Não creio que a medida atinja os direitos individuais. Trata-se de um tema para ser avaliado pelo Supremo Tribunal Federal caso seja aprovado." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Droga tira 17 mil do trabalho no RS


Droga tira 17 mil do trabalho no RS


Gaúchos estão entre os que mais obtiveram auxílios-doença do INSS em 2011 por transtornos causados pela dependência

Zero Hora Porto Alegre – RS - HUMBERTO TREZZI 
A Previdência Social gastou R$ 107,5 milhões em 2011 para custear afastamentos do trabalho por dependência de drogas. Um contingente de 124.947 trabalhadores recebeu auxílio-doença tendo como causa o uso de substâncias químicas, o que inclui produtos ilícitos (como cocaína) e lícitos (caso do álcool).
Nesse universo, o Rio Grande do Sul apresentou destaque negativo. Foi o terceiro Estado com maior quantidade absoluta de afastamentos por causa de drogas, atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais, muito mais populosos. Quase 17 mil gaúchos deixaram de trabalhar em 2011, em média por três meses, devido a transtornos causados pela dependência.
Proporcionalmente à população, o impacto da dependência química entre os gaúchos se revela bastante acima da média nacional o que coloca em questão se o uso de entorpecentes está mais disseminado no Estado. O Rio Grande do Sul respondeu por 13,4% dos auxílios-doença concedidos a dependentes químicos no país, apesar de ter apenas 5,6% da população. Com um afastamento para cada 638 habitantes, ficou em segundo lugar entre as unidades da federação com maior incidência de auxílios por dependência, atrás apenas de Santa Catarina (um afastamento por 469 pessoas).
Incidência entre gaúchos supera a de Estados maiores.
O presidente nacional do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o gaúcho Mauro Luciano Hauschild não se surpreende que o Rio Grande do Sul esteja entre os líderes no ranking de benefícios bancados a usuários.
O ranking pode estar refletindo empregabilidade, mercado de trabalho, ambiente urbano e industrialização, situações em que o Rio Grande do Sul é destaque. Nem sempre tem a ver com o número de usuários ou com tamanho do Estado,  acredita.
No entanto outros Estados mais urbanizados, populosos e industrializados não apresentaram incidência tão grande de afastamentos relacionados ao uso de drogas. Em São Paulo, por exemplo, foi concedido um auxílio-doença por mil habitantes. Em Minas, um por 1.156. No Rio, um por 2.450.
Hauschild diz que o problema atinge trabalhadores no auge da produtividade. Um dos dados de levantamento da Previdência aponta que o afastamento pelo uso de drogas ilícitas foi oito vezes maior do que por drogas lícitas.