quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

HC testa método para prevenir TOC em crianças


HC testa método para prevenir transtorno obsessivo compulsivo

Novo tratamento vai cuidar das famílias com TOC para evitar a doença em crianças

AE | 29/02/2012 14:3




Foto: André GiorgiAmpliar
Luciana Vendramini: a atriz venceu o TOC
A atriz Luciana Vendramini venceu o TOC

Quem tem parentes de primeiro grau com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) apresenta um risco maior de desenvolver a doença. O motivo está relacionado não apenas à herança genética, mas sobretudo à influência comportamental que os pacientes podem exercer sobre seus familiares. Por isso, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HC-FMUSP) está recrutando famílias para testar um método de treinamento com o objetivo de prevenir o surgimento do problema em crianças que tenham parentes diagnosticados.

Se na população em geral a prevalência do TOC é de 2,5%, entre os familiares de primeiro grau de um paciente essa taxa chega a 17%, de acordo com os especialistas. Entre os sintomas mais conhecidos estão o excesso de higiene, o hábito de alinhar objetos a e a adoção de alguns rituais - situações que trazem prejuízo significativo na vida dessas pessoas, chegando a atrapalhar as atividades de rotina, a escola, o trabalho e os relacionamentos.

Coordenadora da pesquisa do HC, a psicóloga Priscila Chacon afirma que atualmente existe um grande esforço acadêmico e clínico para identificar sinais precoces do TOC. “Boa parte das pessoas com TOC já apresentava sinais desde a infância e adolescência”, diz. Quanto mais cedo ocorrer a intervenção terapêutica, maiores as chances de sucesso do tratamento.

Para o estudo, a instituição está recrutando crianças e adolescentes de 2 a 17 anos que tenham pais ou irmãos com TOC. Em metade das famílias, os pais receberão orientações de estratégias para minimizar os sintomas e diminuir a probabilidade de a criança vir a ter a doença. Os filhos serão avaliados periodicamente durante um ano. No final do período, os pesquisadores vão comparar o desenvolvimento dessas crianças com as do grupo no qual os pais não receberam o treino. Interessados devem ligar para 0XX11 2661-7594, deixar recado com nome, telefone e melhor horário para contato, ou enviar um e-mail (priscilachacon@usp.br). Inscrições apenas por telefone ou e-mail.

As informações são do Jornal da Tarde.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012


Ansiedade é transtorno mais comum na Grande São Paulo


Folha de São Paulo
Uma pesquisa que mapeou a frequência de doenças mentais na Grande São Paulo mostra que os transtornos de ansiedade, como estresse pós-traumático, fobias e síndrome de pânico, lideram e estão presentes em 20% da população. 

Depois vêm os transtornos de humor, como depressão (11%), de controle de impulsos (4,3%) e por consumo de drogas (3,6%). 

Os dados são do projeto São Paulo Megacity, um estudo realizado pelo IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo com 5.037 residentes dos 39 municípios da região. 


A amostra é representativa das cidades, e as entrevistas foram feitas pessoalmente entre 2005 e 2007. 

Dados preliminares já haviam sido apresentados em 2009, mas agora a pesquisa completa, que faz parte de um grande estudo mundial, foi publicada na revista científica "PLoS ONE".

Segundo a psiquiatra Laura Helena Andrade, coordenadora do estudo, a pesquisa procura entender o contexto relacionado a essa prevalência maior. 

A violência urbana ajuda a explicar a forte presença dos transtornos mentais na população --54% dos entrevistados relataram ter vivido uma experiência ligada a crimes, como ser vítima ou testemunha de assaltos e sequestros. 

Pessoas que vivem em áreas mais pobres e periféricas da cidade também tiveram maior risco de desenvolver os transtornos. 
"Cada fator inerente à vida na metrópole, como transporte, violência e acesso a serviços de saúde, tem uma parcela de participação nesse resultado", afirma Paulo Rossi Menezes, professor associado da USP e epidemiologista psiquiátrico que não participou do estudo. 

GRAVIDADE 
A pesquisa mostrou que 10% da população em São Paulo tem doenças psiquiátricas graves. Esse índice está acima da média de outros 14 países, segundo a Organização Mundial da Saúde. Nos EUA, a prevalência é de 5,7%. 
Só um terço dos brasileiros com transtornos graves recebeu tratamento nos 12 meses anteriores às entrevistas. 
"Os transtornos mentais são frequentes, mas pouco reconhecidos e tratados. A sociedade sabe pouco a respeito e há um estigma ligado às doenças", diz Menezes.

Afastamentos por uso de drogas preocupam INSS


Afastamentos por uso de drogas preocupam INSS


Folha de São Paulo Andreza Matais Simone Iglesias de Brasília

Problemas decorrentes do uso de drogas proibidas, como crack, bateram às portas do INSS. Em 2011, a Previdência concedeu 124.947 auxílios-doença e dependentes químicos, a um custo de R$107,5 milhões.

“Essa conta está entre os grandes desafios que temos pela frente porque tende a aumentar", disse o ministro Garibaldi AlvesAuxílio-doença a drogados já preocupa a Previdência 

Afastamento por uso de drogas gerou prejuízo de R$ 107, 5 milhões em 2011. Em 2 anos, Previdência liberou mais de 350 mil benefícios; as drogas ilícitas afastam mais do que álcool e cigarro

Problemas decorrentes do uso de drogas já bateram às portas do INSS e começam a preocupar o governo. No ano passado, a Previdência concedeu 124.947 auxílios-doença a dependentes químicos.

O afastamento pelo uso de drogas proibidas, como crack, cocaína, anfetaminas e maconha chega a ser oito vezes maior do que pelo consumo de álcool e cigarro. Os dados foram levantados pelo Ministério da Previdência a pedido da Folha.

A conta para o governo com essa despesa foi de, no mínimo, R$ 107,5 milhões em 2011. A Previdência tem dificuldades para calcular o valor exato devido à complexidade desses pagamentos.

O auxílio-doença varia de um salário mínimo a R$ 3.916. O valor médio pago aos dependentes é de R$ 861.

O número é crescente. De 2009 para cá, a Previdência concedeu mais de 350 mil auxílios a pessoas que precisaram se afastar do trabalho por uso de drogas.

"Essa conta já está chegando para a Previdência e está hoje entre os grandes desafios que temos pela frente porque tende a aumentar. São pessoas em idade produtiva consumidas pelas drogas. Ao invés de estarem contribuindo para a Previdência, as estamos perdendo", disse o ministro Garibaldi Alves.

SEM CONTROLE
O auxílio-doença é pago a pedido do segurado, mediante laudo médico. Não há exigência de que comprove o uso do dinheiro para tratamento. "Há o risco de o usuário ir receber [o dinheiro] e continuar [a usar droga], inclusive, com o dinheiro do governo. Mas como vamos fiscalizar? A Previdência não pode isoladamente fazer alguma coisa se não contar com a mobilização do governo e da sociedade", afirmou.

O uso de drogas psicoativas -como crack e cocaína- respondeu por mais de 70 mil pedidos de afastamento do trabalho nos últimos três anos de um total de 350 mil. Só em 2011, foram concedidos 27.714 benefícios especificamente por causa disso.

São Paulo é o Estado que teve o maior número de contribuintes afastados.

EXPLOSÃO
O número de atendimentos aos usuários de drogas explodiu na rede pública.

Nos últimos oito anos, o SUS (Sistema Único de Saúde) registrou um aumento de 900% nesse tipo de procedimento.

Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2003, foram realizados 299.786 atendimentos a dependentes químicos no SUS. No ano passado, mais de 3 milhões.

Colaborou Márcio Falcão

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Brasileiro tem direito a atendimento médico gratuito em 7 países


Brasileiro tem direito a atendimento médico gratuito em 7 países


Folha de São Paulo - TATIANA RESENDE

Itália, Portugal, Grécia, Chile e Cabo Verde condicionam assistência a contribuição ao INSS
Os brasileiros que contribuem para a Previdência Social, além de seus dependentes, têm direito a atendimento médico gratuito na Itália, em Portugal, no Chile, na Grécia e em Cabo Verde
O dado mais recente disponível no Ministério do Turismo aponta que mais de 770 mil viajaram para os três primeiros países em 2010.
Na Argentina e no Uruguai nem é preciso ser segurado do INSS para ter o benefício
O seguro-viagem, que muitas vezes é comprado com a passagem, traz outras coberturas - logo não é possível mensurar quanto o turista poderia economizar.
"O mais simples inclui morte, invalidez por acidente e perda de bagagem", afirma Alexandre Penner, gerente da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).
De acordo com Edmar Bull, vice-presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens, "quase 100% dos pacotes das operadoras já incluem a assistência-viagem".
Para quem quiser apenas ter assistência farmacêutica, odontológica, ambulatorial e hospitalar na rede pública nesses cinco países, é preciso obter o Cdam (Certificado de Direito à Assistência Médica), emitido gratuitamente pelo Ministério da Saúde, com a apresentação do passaporte e de comprovantes de contribuição ao INSS, entre outros documentos.
No ano passado, o órgão emitiu 13.895 certificados, número 27,1% menor do que o registrado em 2010. São Paulo, Rio e Minas Gerais lideraram as solicitações.
Um dos motivos da queda nessa comparação foi a saída da Espanha, em junho passado, da lista de países que têm acordo com o Brasil. O número não é maior porque os visitantes são atendidos na rede pública brasileira sem nenhuma exigência.
"Os estrangeiros já têm acesso a todo o sistema de saúde pública", afirma Adalberto Fulgêncio, diretor do Denasus (Departamento Nacional de Auditoria do SUS), órgão responsável pela emissão dos certificados.
O Chile também contribuiu para a retração, já que suspendeu o atendimento na erupção do vulcão Puyehue.

Com o fim da exigência de emissão do Cdam para ser atendido nos vizinhos Argentina e Uruguai no ano passado, os números desses países também diminuíram.
Segundo Fulgêncio, a validade do documento varia "de acordo com a necessidade do viajante", mas tem prazo máximo de um ano, com possibilidade de renovação.

Mães relatam experiência com filhas dependentes


Mães relatam experiências com filhos usuários de crack, em Ribeirão



Usuária da droga diz que vendia fraldas e leite dos filhos em troca do crack.
Clínica para mulheres tenta recuperar sentimentos maternos em internas.

Do G1 Ribeirão e Franca
O uso de crack não é um vício que atinge apenas o usuário da droga. Mães da região de Ribeirão Preto relataram suas experiências com filhos viciados em crack ao Jornal da EPTV.
A empresária Márcia Marisa Macei internou seu filho em clínicas de tratamento dez vezes. Durante a experiência, Márcia encontrou aliados e criou uma associação de pais de dependentes químicos, em Ribeirão Preto. “Meu filho chegou a pular da janela, mas eu não desisto dele, quando acontece uma recaída eu busco e o interno novamente", afirma.
Em Ribeirão Preto, a dona de casa Dolores de Souza cria três netos gerados por sua filha de 31 anos, viciada em crack. Uma das crianças, de 5 anos tem problemas mentais causados pelo uso da droga durante a gravidez.
Segundo Dolores, a filha perambula pela cidade se prostituindo para manter o vício, ficando grávida frequentemente e abandonando os bebês no hospital.
Atualmente, a dona de casa busca uma cirurgia de laqueadura para sua filha dependente, que está esperando um filho novamente. “Sofri muito por causa dela, cheguei a parar no hospital, mas cuidar das crianças acaba me envolvendo”, diz.
O psiquiatra da USP de Ribeirão Preto Erickson Furtado afirma que a situação é cada vez mais comum, já que durante sua experiência com saúde mental ele percebeu que é cada vez maior o número de grávidas que usaram ou ainda usam crack. “ A criança nasce com baixo peso, antes da hora e na idade escolar pode apresentar dificuldades na aprendizagem”, diz.
Na Cadeia Feminina de Franca, a equipe do Jornal da EPTV não encontrou dificuldades para encontrar mulheres que começaram a fumar crack ainda meninas e por causa da droga perderam a liberdade e o direito de criar os filhos.
Uma usuária da cidade que prefere não se identificar tem 28 anos e perdeu a guarda dos três filhos de 9, 5 e 7 anos está grávida de seis meses. Ela não usa a droga há um ano e afirma que tentará recuperar a custódia das crianças. A mulher admite que levava os filhos pequenos em pontos de vendas de drogas e que vendia objetos deles para comprar o crack. “Vendia fralda, leite e roupinhas se alguém se interessava”, diz
De acordo com a conselheira tutelar de Franca Gláucia Limonti, o órgão precisa encontrar lares para os filhos de mulheres viciadas em crack diariamente. “O Conselho Tutelar precisa proteger a criança e com a mãe usuária de crack a criança está em risco”, afirma.
Segundo o fundador de uma clínica de tratamento voltada para mulheres que fica em Ribeirão Preto, José Maurício Maniglia, mesmo com o tratamento, grande parte das mulheres acabam voltando ao vício.
No local, trabalhos de terapia tentam trazer de volta às usuárias os sentimentos maternos. Uma das internas afirma que sente falta dos filhos e que se empenhará no tratamento para tentar recuperá-los. “Vou pegar meus filhos de volta”, diz.

Overdose por drogas bate record no país


Overdose por drogas bate recorde no País


IG
Os casos de intoxicação por drogas bateram recorde no País. Levantamento feito pelo iG Saúde no sistema de notificação da FioCruz mostra que, em 10 anos, o aumento foi de 2,5 vezes.
Em 1999, primeiro ano de análise do Sistema de Informações Tóxico Farmacológicas (Sinitox), foram notificados por médicos e atendentes de saúde de todo o Brasil 2.654 registros de overdose. Já em 2009, último ano disponível e mapeado recentemente, o número subiu para 6.944 casos, um recorde na série histórica de acompanhamento.
Casos de overdose notificados
No ano de 2009, as notificações bateram recorde histórico
O Sinitox é abastecido pelos centros de toxicologia nacionais, acionados sempre que os especialistas têm alguma dúvida em como tratar o paciente que dá entrada em uma unidade de saúde – públicas e privadas – com suspeitas de envenenamento ou intoxicação.
A população em geral também pode fazer a consulta nestes estabelecimentos antes do primeiro atendimento médico, para saber como agir.
Por isso, ao mesmo tempo em que o crescimento de registro pode espelhar uma melhora da comunicação de atendimento por parte dos profissionais, o aumento também detecta um fenômeno já descrito pelas unidades que tratam de dependentes químicos.
Segundo os especialistas em álcool e outras drogas, é crescente o número de viciados de múltiplas substâncias. Quando procuram atendimento para desintoxicação, os pacientes relatam ser usuários, de forma simultânea, de cocaína, álcool, maconha e crack.
A mistura de entorpecentes deixa o organismo mais vulnerável à overdose, já alertou o psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, Ronaldo Laranjeira. Outro prejuízo é que o tratamento para o coquetel de drogas viciantes também é mais complexo, já que são necessárias várias abordagens terapêuticas diferentes.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Salivômetro que identifica uso de cocaína - Suiça


Suíços desenvolvem 'salivômetro' para cocaína


Revista Veja- Drogas

Aparelho vai detectar o consumo da droga através da saliva. Pesquisadores desenvolveram técnica para flagrar motoristas infratores
Popularmente conhecida como Lei Seca no Brasil, a Lei 11.705 não proíbe o motorista de dirigir sob a influência apenas do álcool, mas de qualquer outra substância psicoativa. Os bafômetros utilizados pelas polícias e agentes dos Detrans estaduais, porém, não conseguem detectar a presença de nenhuma outra droga a não ser o álcool. Para isso, são necessários exames laboratoriais que demoram para ficar prontos, o que impossibilita o objetivo da lei, que é tirar o condutor infrator da rua. O mesmo problema se repete no mundo inteiro, mas, ao menos para a detecção de cocaína, pode estar acabando na Suíça.
Cientistas da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH, na sigla em alemão), estão em estágio final de desenvolvimento de um sensor que detecta o uso da droga, inalada ou fumada como crack, por meio de uma amostra de saliva. O teste é instantâneo.
O 'salivômetro' não faz uma análise química da saliva, mas visual. O aparelho usa a faixa infravermelha do espectro visual invisível para o olho humano para detectar o comprimento de onda deixado pela droga. Foram necessários três anos de testes para isolar o sinal visual da cocaína do de outras substâncias, como cafeína e analgésicos.
Os pesquisadores estimam que o aparelho deve estar pronto para a produção em massa nos próximos três anos. "É preciso construir um aparelho compacto que possa ser usado pelos policiais nas ruas", explicou Markus Sigrist, cientista responsável pelo projeto, em entrevista ao site da ETH. "Desenvolvemos o sensor, agora é necessário que um parceiro industrial fabrique o aparelho", concluiu.
VERSÃO BRASILEIRA
Cientistas da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto estão em fase final de desenvolvimento de um aparelho que pode detectar moléculas de cocaína e também de maconha no ar. A máquina usa sensores de quartzo para filtrar o ar. E não é necessário que a pessoa sopre no aparelho, pois ele indica a existência de moléculas de drogas no ambiente. Além de ajudar a fiscalizar o trânsito, a invenção poderá ajudar cães farejadores a encontrar entorpecentes em aeroportos, rodoviárias e estradas. O professor de química forense Marcelo Firmino de Oliveira, responsável pelo projeto, já entrou com o pedido de patente da tecnologia.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Dependência de remédios supera a de cocaína, entre as mulheres


Alguns remédios têm efeito parecido com álcool em motorista

Governo desiste de colocar mensagens sobre os riscos de dirigir nas embalagens dos medicamentos perigosos

Fernanda Aranda, iG São Paulo | 17/02/2012 06:59

Por trás das 35 mil mortes registradas todos os anos no Brasil podem estar motoristas entorpecidos por medicamentos que nem imaginavam o perigo de misturar direção e remédio.
Pesquisas internacionais vêm mostrando que as drogas terapêuticas, em especial as para tratar depressão, insônia, diabetes e Parkinson, têm efeitos nocivos na concentração, na coordenação motora e no aumento da sonolência, danos similares aos provocados pela ingestão de bebida alcoólica.
“Ainda assim, este é assunto pouco explorado por médicos, farmacêuticos e autoridades do trânsito no Brasil”, afirma o toxicologista forense Tarso Bortolini, que pesquisa justamente os efeitos dos medicamentos na condução de veículos.
“Não há estatísticas nacionais sobre os acidentes no tráfego que envolvem usuários de medicamentos. Não há informação para a população e nem campanhas suficientes sobre os riscos.”
No País, afirma o diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves, algumas características potencializam ainda mais o perigo dos remédios para os condutores.
“Uma delas, é a automedicação, mesmo quando se trata de drogas controladas. Isso faz com que o usuário nem receba a orientação médica ou farmacêutica sobre o dano e não pondere isso antes de pegar as chaves do carro”, diz Alves.
Outro fator é o aumento, considerado exagerado por parte dos especialistas, do consumo de antidepressivos, tranquilizantes e calmantes. Em 4 anos, mostra levantamento feito a pedido do iG, a ampliação da venda para os brasileiros foi de 49%. Entre as mulheres do País, a dependência de remédios supera a de cocaína, detectou pesquisa feita pelo Instituto de Psiquiatria da USP.
“Sem contar que as pessoas costumam misturar drogas e álcool, o que é um coquetel letal para quem dirige”, completa Alves.
“Há muitos anos pedimos que esta questão dos medicamentos ganhe mais espaço nas campanhas. Mas ainda não tivemos a reivindicação atendida.”
Na gaveta
Em 2009, o governo brasileiro até ensaiou regulamentar o tema, mas o projeto não andou. Na época, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) abriu consulta pública para que a mensagem “se tomar este remédio não dirija” viesse estampada na embalagem de todas as medicações que impõem risco à direção de veículos – e não apenas em letras miúdas nas bulas – para aumentar a conscientização sobre o tema. O mesmo projeto propunha uma imagem (pictograma) parecida com o símbolo de “não fume” para acompanhar estes medicamentos.
Procurada pela reportagem, a Anvisa informou, por email: “o grupo entendeu que a criação de pictogramas de alerta é uma atividade bastante complexa para o tempo disponível para a revisão da norma (das embalagens)”.
“Além disso, teríamos a necessidade de avaliar a compreensão dos pictogramas pela população, através de uma pesquisa de campo, o que demandaria a elaboração de um projeto específico e financiamento para o mesmo. Por esse motivo, nesta revisão, a questão dos pictogramas não foi tratada”, completou a nota.
O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), simultaneamente ao lançamento da proposta da Anvisa, também quis trazer o alerta à tona mas tampouco prosseguiu com a ideia. O então Ministro das Cidades, Márcio Fortes – pasta que coordena o Denatran – declarou na época que uma espécie de “lei seca” para usuários de medicações estava em análise.
Para isso, o órgão responsável pela malha viária brasileira iria acionar o Ministério da Saúde para que este fizesse uma lista com os medicamentos mais perigosos aos motoristas, o primeiro passo para uma possível regulamentação.
O Denatran afirmou agora, via assessoria de imprensa, que três anos depois “a pasta da saúde não chegou a ser demandada porque em reuniões técnicas não ficou clara a viabilidade de uma fiscalização.”
Vários remédios
Se não houve consenso entre as autoridades brasileiras sobre como reforçar os alertas para o risco de tomar remédios e dirigir, pesquisas internacionais endossam a problemática e a necessidade de providências.
Duas análises – publicadas no ano passado no PubliMed, uma das referências em pesquisas em saúde – reuniram dados sobre acidentes de trânsito catalogados em todos ensaios científicos feitos entre 1966 e 2010.
Elas mostraram que os medicamentos benzodiazepínicos (calmantes) aumentam em 80% o risco de colisões graves. Os achados alertaram os especialistas que fazem parte do Instituto Internacional de Segurança no Trânsito. O mesmo ensaio mostrou que quando as drogas são misturadas ao álcool, o risco de batidas e atropelamentos é 7,7 vezes maior do que o implicado para motoristas sóbrios.
Não é apenas este grupo de remédios tranquilizantes que oferece risco à direção segura, complementa o diretor do Centro Brasileiro de Informação sobre Medicamentos (Cebrim), Rogério Hoefler, entidade ligada ao Conselho Federal de Farmácia (CFF).
“Antidepressivos (ex.: fluoxetina, amitriptilina), ansiolíticos e sedativos (ex.: diazepam, lorazepam), antialérgicos, anti-histamínicos (ex.: dexclorfeniramina) e anticonvulsivantes (ex.: carbamazepina, fenobarbital) também podem oferecer risco aos usuários que dirigem”, elenca Hoefler.
“Usuários de medicamentos que reduzem os níveis de glicose no sangue (ex.: glibenclamida, gliclazida) podem ter episódios de hipoglicemia, o que também altera o nível de consciência e pode oferecer risco de acidente automobilístico”, completa o especialista.
Para agravar o cenário, atualmente 1,07 milhões dos motoristas habilitados no País têm mais de 50 anos – mostra levantamento do Denatran – faixa-etária em que o consumo de medicamentos é mais recorrente do que em idades mais jovens.
O toxicologista Tarso Bortolini é taxativo: em países onde há tradição em apurar os riscos dos medicamentos para os motoristas, como Bélgica, Holanda, Noruega e Espanha, esta decisão foi tomada após a constatação de que as legislações mais severas para motoristas alcoolizados não surtiram o efeito esperado.
 “Mesmo apertando a fiscalização e aumentando as penas para os flagrados que misturaram álcool e direção, as estatísticas de acidentes de trânsito não reduziram. As autoridades passaram então a investigar a associação das colisões com o uso de drogas lícitas e ilícitas e encontraram relação muito forte”, diz Bortolini.
No Brasil, ainda que os testes em laboratório para identificar a influência dos medicamentos na direção de risco não seja uma prática comum (e nem possível já que não há tecnologia suficiente, diz Bortolini), o fato é que a Lei Seca não conseguiu reverter a ascensão de danos no tráfego.
A legislação que determinou tolerância zero para a presença de álcool no sangue dos motoristas – e que disseminou por todos os Estados as blitze de policiais com bafômetros em punho – foi implementada em 2009.
Ainda assim, o ano de 2011 fechou com 170.596 internações em hospitais públicos e privados por conta de acidentes no trânsito. O número, resultante do levantamento do iG no banco de dados do Ministério da Saúde (DATASUS), é 6,7% maior do que os 159.854 registros de 2010. Comparando com 2009, a ampliação foi ainda mais acentuada, de 27,3%, quando foram 133.981 internações por acidentes.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Novo manual de diagnóstico causa 'guerra' na psiquiatria


Novo manual de diagnóstico causa 'guerra' na psiquiatria


Folha de S. Paulo – Saúde
Revisão na obra que serve de base para tratamentos está em debate nos EUA
Criação de novos transtornos mentais é criticada porque deve aumentar número de pessoas em tratamento
CLÁUDIA COLLUCCI -  DE SÃO PAULO e RAFAEL GARCIA - DE WASHINGTON
O processo de revisão do mais influente manual de psiquiatria do mundo ganhou contornos de guerra nos últimos meses.
Abrindo a possibilidade de que pessoas consideradas saudáveis passem a ser classificadas como portadoras de transtornos mentais, a obra despertou a ira de psicólogos, que já recolheram 11 mil assinaturas em uma petição contra as mudanças.
Psicólogos brasileiros devem aderir ao movimento, que começa a ganhar apoio de psiquiatras proeminentes.
O DSM (Manual de Diagnósticos e Estatísticas) da Associação Americana de Psiquiatria é referência para tratamento e cobertura das doenças pelos planos de saúde.
Entre as principais preocupações está o relaxamento dos critérios para que pessoas se encaixem como portadores de problemas como depressão, esquizofrenia e ansiedade.
Isso abre a possibilidade para que mais gente seja medicada e exposta a efeitos colaterais. Antidepressivos, por exemplo, podem causar redução do desejo sexual e problemas de sono.
"Há um retrocesso. Eles estão aumentando a patologização de situações comuns na vida das pessoas, como o luto", afirma Humberto Verona, presidente do Conselho Federal de Psicologia.
A atual versão do manual exclui do diagnóstico de depressão quem está em luto por até dois meses, considerando que a tristeza é uma reação normal. A proposta é abandonar a exclusão.
"O luto é uma condição da vida, não uma doença. Não precisa ser “medicalizado",  afirma Theodor Lowenkron, professor de psiquiatria da UFRJ e membro do departamento de diagnóstico e classificação da Associação Brasileira de Psiquiatria.
Para ele, o avanço da neurociência e a pressão da indústria farmacêutica têm levado à priorização do tratamento com remédios em vez das terapias psicossociais.
Ele considera importante, porém, a inclusão no novo manual de alguns transtornos que não tinham uma categoria própria, como a compulsão alimentar. "Encontramos esses casos com frequência na prática clínica."
Os psiquiatras americanos responsáveis pelo novo manual afirmam que os novos diagnósticos não vão mudar a incidência das doenças que já existem.
Quanto aos novos transtornos incluídos no manual, dizem eles, muitos seriam só diagnósticos mais adequados para casos hoje enquadrados em outras categorias.
O psiquiatra Cláudio Banzato, professor da Unicamp, diz que há uma expectativa exagerada em relação ao DSM. "Tomá-lo como 'livro de receita' que pode ser empregado de forma ingênua e irrefletida é um erro grave."
Segundo ele, nesse embate, há bons argumentos dos dois lados. "Deve haver preocupação tanto com a medicalização excessiva e o tratamento desnecessário como com a falta de diagnósticos."
A versão final do novo manual deve estar pronta em maio do ano que vem.
Proposta é 'inconsequente', diz ex-editor
DE WASHINGTON
Há 15 anos, o psiquiatra americano Allen Frances coordenou a 4ª edição do DSM (manual de diagnóstico da Academia Americana de Psiquiatria) e ajudou a elaborar critérios que resultaram em uma "epidemia" de doenças mentais, como a do deficit de atenção e hiperatividade.
Em entrevista à Folha, Frances explica por que acha as propostas de mudança do DSM "inconsequentes".
Folha - A força-tarefa que faz o manual está cedendo à pressão das farmacêuticas?
Allen Frances - As pessoas encarregadas das mudanças estão preocupadas com o risco de deixar pacientes sem apoio. Mas a indústria tem um marketing agressivo para explorar as mudanças. Muitos são ingênuos ao desconsiderar como suas propostas podem ser deturpadas.
Os critérios do manual não podem ser mais objetivos?
Diagnósticos psiquiátricos são baseados em critérios subjetivos, e pequenas mudanças podem incorrer em enormes variações entre quem é diagnosticado e quem é considerado normal.
Não seria melhor abandonar o manual?
Não. O problema é que os transtornos moderados são propensos a sofrer abuso. O DSM-5 é inconsequente ao sugerir propostas que vão rotular pessoas como portadoras de transtornos que elas provavelmente não têm. Nenhum dos novos transtornos está cientificamente estabelecido. Alguns podem ter uma incidência de 5% ou 10%. Num país com o Brasil, 7 milhões seriam diagnosticados com "transtorno misto de ansiedade-depressão".
O que mudou no jeito de elaborar o manual?
As pessoas na força-tarefa do DSM-5 trabalham em ambientes fechados de pesquisa e não têm ideia de como suas sugestões são deturpadas na vida real. Os clínicos gerais são muito influenciáveis pelo marketing da indústria farmacêutica, e a maior parte das drogas psiquiátricas nos EUA são receitadas por clínicos, não por psiquiatras.