sábado, 30 de abril de 2011

Vídeo: A Viagem do Homem na Frente do Espelho

O Curta Premiado é uma crônica da situação do uso da cocaína. Através de uma linguagem moderna, acessível e original, desperta uma reflexão sobre as consequências do Consumo dessa Droga.

Argumento e Roteiro: Máximo Nascimento
Direção: Joel Almeida
Elenco: Daniel Oliveira
Produção: Maximo Nascimento
Fotografia: Lico / Wilson Militão
Produção Gráfica: Siriguela
Edição: Lia Mattos Trilha: Fábio Marc

Patrocínio: Chesf FAZCULTURA Governo da Bahia

Apóio.: www.ciadiversaoartes.com.br

Seminário de enfrentamento ao crack realizado em São Paulo em abril/2011


youtu.be
Seminário de Enfrentamento ao CracK e outras Drogas promovido na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Teste on-line traça perfil psicológico e psiquiátrico.

Teste on-line traça perfil psicológico e psiquiátrico


Folha de São Paulo
Um teste on-line com cerca de 900 perguntas, criado por psiquiatras, pretende traçar o perfil psicológico e supostos transtornos psiquiátricos dos internautas dispostos a completá-lo. 

As perguntas estão no site
www.temperamento.com.br, desenvolvido pelo grupo de pesquisa Bases Neurobiológicas e Tratamento de Transtornos Neuropsiquiátricos, do Programa de Pós-Graduação em Biologia Molecular e Celular da PUC do Rio Grande do Sul.

O teste é dividido em duas fases -psicológica e psiquiátrica- e as perguntas vão de medos e traumas na infância a números de tatuagens e parceiros sexuais, para citar alguns exemplos. 

Depois de responder às perguntas, o participante recebe o resultado por e-mail, dizendo qual é seu temperamento afetivo. Na segunda fase do teste, a avaliação diz quais são os transtornos psiquiátricos que a pessoa pode ter. A lista inclui 19 problemas mentais. 

Mais de 30 mil pessoas já responderam às perguntas, de forma anônima. 

O objetivo do teste, segundo o psiquiatra Diogo Lara, um de seus criadores, é poder avaliar como o temperamento das pessoas está relacionado aos transtornos psiquiátricos e usar os resultados em artigos científicos. 

Alguns já foram publicados em periódicos como "Journal of Affective Disorders" e "Psychopathology". 

O cruzamento de informações permite afirmar, por exemplo, que 25% das mulheres com depressão têm temperamento ciclotímico (ou seja, com altos e baixos). 

Nesses casos, o tratamento não é feito com antidepressivos, e sim com estabilizadores de humor. 

É aí que está outra utilidade do site, segundo Lara. "O tratamento pode ganhar muito se o paciente é visto a partir do seu temperamento. Uma depressão com ansiedade é diferente de uma com temperamento apático." 

As perguntas e os 12 tipos de temperamento foram inspirados em classificações já existentes na literatura científica, segundo Lara. 

"Cerca de 80% das pessoas afirmaram, no final, que acharam o teste muito útil e que o perfil de temperamento correspondia à realidade."




AUTOCONHECIMENTO 
O temperamento, afirma, é 60% genético e 40% definido por fatores ambientais, principalmente relacionados à infância. É a natureza emocional que define como a pessoa age no dia a dia. 

Para ele, a avaliação pode levar ao autoconhecimento. "Se sei o que me atrapalha, posso pensar em melhorar a minha maneira de ser." 

O professor de psiquiatria da Unifesp José Alberto Del Porto concorda. "O site traça um perfil, e isso ajuda. Os participantes podem até levar esse perfil a um especialista. Se o resultado disser que sou muito instável, será que não tenho ciclotimia, um transtorno de humor?" 

Para Del Porto, o serviço não tem a pretensão de servir como um diagnóstico, mas pode motivar a pessoa a procurar tratamento especializado, o que é positivo. 

Segundo Lara, 30% das pessoas têm transtornos psiquiátricos, mas nem todos recebem tratamento. Os motivos para isso, afirma, incluem o preconceito em relação às doenças mentais e o serviço público deficiente.

"Com o teste, pelo menos a pessoa pode perceber se tem algum problema."

CURIOSIDADE 

Para Marcio Bernik, coordenador do Ambulatório de Transtornos de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria da USP, o mérito do site é usar a internet para coletar dados e usá-los em pesquisas. 

"A utilidade para a pessoa é relativa, é mais uma curiosidade. Já do ponto de vista científico é muito útil." 

Bernik questiona, porém, se a amostra é representativa da população. 

Del Porto toca no mesmo ponto. "O site é válido, considerando suas limitações. Mas não podemos generalizar as respostas porque quem responde está hipermotivado, já deve ter queixas. Quem não tem interesse não vai responder a tantas questões." 

Fonte: Folha de São Paulo

Dependente de Crack deve ser internado a força?

Psiquiatra defende Internação forçada para viciados em crack


Segundo especialista, usuário perde a noção sobre o que é bom para si mesmo 

ABEAD
Um avô conseguiu na Justiça o direito de internar a neta viciada em crack, mesmo contra a vontade da jovem. No entendimento do juiz Ricardo Coimbra Barcellos, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Rio, a mulher estaria com a liberdade restrita por conta da droga, o que permitiria à família decidir por ela. Novidade nos tribunais, a decisão pela internação forçada é comum nas clínicas especializadas. E, nos casos graves, a única porta de saída da dependência.

“Quando o sujeito está numa repetição de uso de uma substância de ação curta e intensa como o crack, ele tem pouca chance de fazer escolhas em prol da saúde”, explica o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (Abead). “Ele passa dias numa roda viva em busca de droga. A capacidade de julgar atos como assaltar ou machucar alguém fica quase nula.”

A droga compromete o discernimento mesmo nos intervalos entre as jornadas de consumo da substância. Por isso, fica ainda mais difícil que o usuário procure ajuda por si próprio. “Nos intervalos, o indivíduo está extenuado, deprimido. Logo em seguida já começa a sentir falta da droga. Ele segue com a vida voltada para o uso da substância. O juízo crítico fica alterado às vezes por meses, mesmo com a interrupção do consumo”, diz Salgado.

Estudos mostram um resultado muito semelhante para tratamentos iniciados voluntaria e involuntariamente. O paciente que vai à clínica por vontade própria começa alguns passos adiante, pela motivação em se tratar, mas está tão sujeito a recaídas quanto os demais. Com um agravante: quando o ingresso é voluntário, o paciente pode interromper o tratamento quando quiser. Para conter as desistências, as clínicas costumam solicitar que um familiar do dependente também assine o pedido de internação, dividindo a responsabilidade com o paciente.

“A vontade do dependente de ficar internado flutua ao longo do tratamento. Em função do desejo pela droga, na fissura, ele pode pedir sua alta”, diz o psiquiatra. O combate à dependência de crack costuma exigir sucessivas internações involuntárias até que o usuário consiga controlar a fissura pela droga e aderir ao tratamento. “Para interromper o ciclo do vício, a família ou o estado podem contribuir com a proteção inicial do indivíduo. A partir de uma internação o sujeito, desintoxicado, tem a chance de ser motivado para a mudança”, explica Salgado.

Por que internar – A internação é recomendada em casos graves e depende da avaliação da família e do médico. Faltam no país leitos especializados para o tratamento para dependentes químicos. “Só são internados casos de prioridade máxima”, diz Carlos Salgado. “Há uma grande demanda e uma grande escassez de leitos.”

A primeira providência após a internação é ensinar o paciente a lidar com a compulsão pela droga. Algumas vezes são necessários sedativos, para ajudar o usuário a lidar com a fissura, que pode trazer agressividade e até a fuga da clínica. “Ele precisa aprender a reconhecer a fissura e entender que ela dá e passa. Se o paciente não usar droga ela vai ficando mais suave”, explica o psiquiatra.

O paciente passa também por uma avaliação de seu quadro geral de saúde. O usuário de crack costuma estar desnutrido e exposto a doenças sexualmente transmissíveis. Segue-se uma análise do quadro psiquiátrico, para verificar se ele sofre de outras doenças, como depressão ou transtornos de comportamento.

O psiquiatra Carlos Salgado compara a atitude do avô que foi à Justiça para internar a neta com a de um neto que vê seu avô definhando na cama e se negando a procurar tratamento médico. “É só imaginar um avô nosso, desnutrido, deprimido, recusando aceitar sua condição. O que a gente faz? Junta da cama e leva para o médico. Interna involuntariamente”, diz. “Por que não fazer o mesmo com um jovem envolvido em uma conduta de risco?”

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Tratamento do Doente Mental: internar ou não internar?

"Um grito pela internação"
(Prof. Dr. Valentim Gentil Filho)


Um dos autores do livro Clínica Psiquiátrica, Valentim Gentil é contra a 
desativação de hospitais psiquiatras. "Se tem risco, precisa internar".

Ivo Patarra - DIÁRIO SP

Uma semana após Wellington Menezes de Oliveira matar 12 crianças na escola de Realengo, no Rio, especialistas discutem o que fazer com pessoas que sofrem de doenças mentais. "Se o sujeito está alterado, não sabe o que faz e representa risco, tem de ser internado", afirma o psiquiatra Valentim Gentil, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor titular da Faculdade de Medicina da USP, um dos 
autores do livro Clínica Psiquiátrica (Editora Manole).
 

Outro caso alarmou São Paulo na segunda-feira, quando o morador de rua José Francisco da Silva esfaqueou dois pedestres na Avenida Paulista. O doutor Gentil é contra a política que vem desativando hospitais psiquiatras no Brasil nos últimos 20 anos. "A antipsiquiatria é absolutamente anacrônica desde que a especialidade atingiu os níveis atuais de conhecimento e eficácia terapêutica", sustenta o médico. "Infelizmente, alguns movimentos e pessoas em posições influentes parecem não admitir isso."

O Ministério da Saúde, por sua vez, divulga dados que, para o governo, mostram a eficácia da reforma psiquiátrica nos últimos anos, que procura não internar os doentes: em 2002, 75% dos gastos com saúde mental eram para internação; em 2009, apenas 32%. Por outro lado, em 2002 os procedimentos ambulatoriais receberam 24% dos recursos da área, sendo que em 2009 esse percentual chegou a 67%.

A coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Drogas da Prefeitura de São Paulo, Rosângela Elias, concorda com a política do Ministério da Saúde. "Antes, as pessoas com transtornos mentais eram esquecidas nos manicômios. Mas as doenças mentais são tratáveis. Se os doentes forem segregados, como poderão ser incluídos novamente na sociedade?"

O psiquiatra Gentil rebate: "Quem sofreu as consequências da política que reduziu o poder do médico e gerou desassistência e riscos injustificáveis aos doentes foram, exatamente, os mais necessitados".

Para a coordenadora da Prefeitura, a internação pode ser parte do tratamento, "mas não o tratamento". Sobre a Cracolândia, no centro de São Paulo, onde centenas de pessoas consomem drogas e ficam jogadas nas ruas, Rosângela não aceita um programa voltado para interná-las. "Elas podem até ter transtornos mentais, mas não são necessariamente violentas ou inimigas públicas".

Reprodução





O GRITO
Edward Munch








Os números falam por si. Em quase dois anos, a Prefeitura fez 8.794 encaminhamentos e apenas 409 internações de frequentadores da Cracolândia. Para Rosângela, as chances de sucesso no tratamento ocorrem quando o doente mental é convencido a buscar ajuda. "Não tem solução mágica e não queremos uma caça às bruxas."

Com a política antimanicomial dos últimos anos, os doentes psiquiátricos que não podem ser reabilitados em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e precisam de internação são cuidados em hospitais-gerais. Gentil discorda: "Essa postura antipsiquiátrica, de que a doença é social e não médica, desestruturou os equipamentos de saúde". 

O psiquiatra explica que ninguém esperava, há 20 anos, uma epidemia de crack como a atual. "Os hospitais-gerais não dispõem de condições para atender casos graves. Como países europeus e os Estados Unidos estão fazendo, temos de criar hospitais psiquiátricos."

NOVO VÍDEO /A Polícia do Rio divulgou outro vídeo recuperado do computador de Wellington Menezes de Oliveira. Mostra que o plano violento existia desde julho de 2010. Ele diz que se vingaria em nome "daqueles que são humilhados, agredidos e desrespeitados, principalmente em escolas e colégios, pelo fato de serem diferentes".

Van Gogh
Pintor holandês, durante toda a vida vendeu um só quadro. Travou uma  batalha contra a pobreza, o alcoolismo e a insanidade. Chegou a cortar a orelha para dar de presente a uma prostituta. Suicidou-se aos 37 anos, em 1890. Dez anos depois, a genialidade de sua obra foi reconhecida pelo mundo das artes.

domingo, 24 de abril de 2011

Redução de Danos


Redução de danos


Folha de São Paulo - DRAUZIO VARELLA

A questão da vida saudável desvia a medicina de sua função: aliviar o sofrimento humano


OS BRASILEIROS engordam cada vez mais. Em 13 anos estarão tão obesos quanto os americanos de hoje. Em pouco mais de uma década a paisagem humana de nossas cidades será a mesma que choca os turistas quando levam os filhos à Disneylândia.
É paradoxal: de um lado, nunca fomos expostos a tanta informação de qualidade sobre a conveniência de adotar a assim chamada alimentação saudável, beber com moderação, praticar atividade física e não fumar; de outro, adotamos o estilo de vida oposto.
O fenômeno é mundial, poupa apenas os países muito pobres em que há falta de comida e de acesso ao conforto que a tecnologia proporciona.
Se toda a humanidade se comporta dessa maneira, sou forçado a questionar o papel da medicina no mundo moderno.
Há mais de 40 anos repito para meus pacientes que o corpo humano é uma máquina desenhada para o movimento, que a rotina sedentária e o excesso de calorias ingeridas apressam o envelhecimento e encurtam a duração da vida. Pareço o sacerdote no púlpito a insistir que os fiéis resistam às tentações da carne, diante da igreja surda.
A questão da vida saudável transforma o médico num defensor involuntário da moral e dos bons costumes e desvia a medicina de sua função primordial: aliviar o sofrimento humano. Explico o que quero dizer, caríssimo leitor.
Um homem me procura porque bebe demais. O que posso fazer para ajudá-lo? Aconselhá-lo a beber com moderação? Explicar que a bebida faz mal? Receitar os poucos medicamentos que a medicina desenvolveu para enfrentar de forma pífia uma tragédia pessoal dessa magnitude? Ou encaminhá-lo para os Alcoólicos Anônimos?
A experiência me ensinou a confiar mais nos Alcoólicos Anônimos, por uma razão simples: os resultados são melhores. Existe exemplo mais ilustrativo da incompetência médica do que curar menos do que um grupo de auto ajuda?
Na cadeia, atendo mulheres que imploram tratamento para largar da cocaína. Chegam desesperadas, cheias de dívidas que lhes ameaçam a integridade física. O que a medicina tem para oferecer-lhes além de aconselhá-las a dizer não às drogas?
De que armas o médico dispõe para tratar as compulsões que infernizam aqueles que assaltam geladeiras na calada da noite, fumam, jogam, bebem, compram sem parar ou usam crack?
No início da epidemia de Aids, atendi um policial de 40 anos, pai de três filhos, que me pedia para encaminhá-lo a um cirurgião que o castrasse. Contou que não conseguia passar duas ou três semanas sem usar cocaína. Sob a ação da droga, invariavelmente ia atrás dos travestis que trabalham nas ruas, e acabava a noite nos hoteizinhos mais sórdidos da cidade. Nesses locais, já havia sido espancado e assaltado mais de uma vez.
Ingênuo como eu era na época, expliquei que a causa de sua desventura não era a sexualidade, mas a cocaína. Respondeu que estava cansado de saber, o problema é que não conseguia evitar as recaídas; se pelo menos a libido lhe desse trégua, seria possível reduzir os danos que a droga lhe causava.
Tentei inutilmente convencê-lo a desistir da ideia da castração, cirurgia de consequências irreversíveis, mas ele estava tão decidido que sugeri uma medida alternativa: tomar uma injeção de uma droga que bloqueia a produção de testosterona durante três meses, período que lhe daria mais tempo para reflexão.
Dois meses mais tarde, ele retornou, feliz com o resultado. Não havia abandonado a cocaína, mas estava livre da compulsão sexual.
O exemplo é didático. Não é papel do médico julgar comportamentos de acordo com seus critérios morais, nem é aceitável que a medicina atribua ao doente a culpa moral por ser portador da enfermidade que o aflige.
A ciência médica moderna deveria abandonar a ficção ridícula de transformar seres humanos preguiçosos, compulsivos, cheios de defeitos e vícios que prejudicam o organismo, em rebanhos de cidadãos bem comportados que passem a existência dedicados a cuidar da saúde acima de tudo, porque sempre haverá aqueles que acharão sem graça viver dessa maneira.
O que nos falta são tratamentos eficazes e recursos técnicos para reduzir os danos da obesidade, do sedentarismo, da dependência química e das compulsões autodestrutivas que nos atormentam.

O corpo por uma pedra

O corpo por uma pedra


Fernanda Aranda, iG São Paulo 


Os médicos contam que desfecho da dependência do crack é mais lento na ala feminina. “As pacientes mulheres ainda chegam em menor número, mas sempre mais arrasadas fisicamente e psicologicamente do que os homens”, afirma Daniel Cordeiro, psiquiatra da única unidade pública de tratamento de dependência de drogas o Estado de São Paulo – mantida pelo governo e pela Unifesp – em São Bernardo do Campo (no ABC).
Epidemia: No centro de São Paulo, região é chamada de cracolandia e abriga mais mulheres

Isso porque eles, para sustentar o vício do crack, roubam, traficam, brigam. A violência contra o outro pode ser um resgate forçado da dependência, já que a cadeia e a prisão – vez ou outra – convocam a uma tentativa de recuperação. Já elas recorrem à prostituição. “O corpo por uma pedra”, propôs uma que vagava (com talvez 19 anos), de short e camiseta rasgada em uma tarde fria paulistana, ao taxista que percorria a área central da capital chamada de cracolândia. “Se não tem dinheiro então sai andando”.

Se não se prostituem propriamente, se vendem de outras formas. As dependentes topam apanhar cotidianamente de companheiros violentos, desde que as surras rendam pedra, como já contaram tantas meninas e mulheres que passaram pelo “oásis do tratamento químico” existente em São Bernardo do Campo.

O empréstimo do corpo feminino para conseguir droga as torna “merecedoras do castigo, que é a dependência”, avalia o psiquiatra Daniel Cordeiro. “As mulheres chegam à clínica em um ciclo difícil de romper. São culpadas por fumar crack e fumam para aliviar a culpa”, completa.

Crack - Epidemia Nacional

Crack - Epidemia nacional

Fernanda Aranda, iG São Paulo 


Na clínica de São Bernardo, mostrou levantamento divulgado semana passada, 73% das internações são por crack (homens e mulheres). Há 10 anos, a pedra não chegava a 5% dos atendimentos clínicos. Em Minas Gerais, o centro de toxicologia contabilizou escalda de mulheres dependentes da pedra. Em nove anos, o aumento foi de 76%.

O fenômeno é nacional. A droga – que é uma variação mais barata da cocaína – conquistou primeiro os moradores de rua paulistanos há 20 anos e hoje representam 39% das internações de todo País, segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). “Informações preliminares que obtivemos este ano, com base em dados dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, mostram que o crack, depois do álcool, é a droga que mais leva as pessoas para o tratamento”, descreve o cenário o Ministério da Saúde.

Olhos no espelho

Para se manter nas estatísticas de usuários de crack, Elaine, 21 anos destruiu os joelhos. “Troquei o emprego de vendedora para ser traficante. Corri tanto da polícia que, uma hora, não conseguia mais andar.”

Ela vendia para usar, usava para vender, dormia na rua, fugia dos pais. O que o pó não tinha feito em sete anos de uso contínuo, a pedra conseguiu em seis meses. “A cocaína não me convenceu a buscar ajuda. O crack exigiu isso de mim.”

Ela chegou à clínica da Unifesp sem identidade, 12 quilos mais magra e, a convite da psicóloga Juliana de Almeida Castro Marinho, olhou-se no espelho. Por causa do aumento de mulheres que buscam tratamento no local, a especialista criou uma oficina da beleza. “As mulheres precisam resgatar o cuidado próprio. É isso que propomos com o espelho.”

Semana passada, após 44 dias internada na clínica, Elaine já havia entendido que espelho é retrovisor do passado, reflexo de presente e projetor de futuro. O Delas acompanhou os “últimos retoques” na nova imagem – um rímel nos olhos – antes dela encontrar o abraço dos pais e encarar a vida sem crack fora do portão. O primeiro desafio pode parecer trivial, mas provocava um frio na espinha da jovem: beijar o namorado. “Ele ainda é usuário, sabe. Tenho medo de sentir o gosto da droga”, falou.

Se Elaine temia o carinho de sempre ao virar sobrevivente, o receio de Felipe, 20 anos, era esbarrar com o primeiro amor. Ele enfrentou uma década de uso de crack (sim, começou aos 10) e, por causa da pedra, nunca namorou, não sabe o que é se apaixonar por alguém.

“Tenho muita curiosidade de saber como é, e um pouco de medo também. Vou cuidar de mim primeiro, mas acho que agora consigo saber o que é namorar”, disse, ele momentos antes da alta e de correr para os braços de uma senhora de 50 e poucos que sempre o esperou. “Minha mãe sofreu comigo cada dia da minha dependência. Acho que ela está mais feliz do que eu.”

"I fell good"
Aos novatos na turma de sobreviventes do crack, Mel – antiga Maria Eugênia – diz que o caminho será longo, a lembrança da droga vai voltar com frequencia e algumas noites vão parecer eternas. Mas antes de qualquer hipótese de arrependimento ameaçar manchar a história de sobrevivência da droga, o telefone da Mel toca, com o toque que ela elegeu para ser a trilha sonora da sua nova vida. “I fell good”, dança e cantarola os versos de James Brown, vindos do telefone celular.

“Não troco o meu pior dia sóbria, pelo meu melhor dia louca”, diz, embalada pelo som. O telefonema era para avisar o horário, 17h30. Estava na hora de buscar os filhos na escola.

Mulheres, sobreviventes do Crack


Sobreviventes do crack



Elas contam como é enfrentar a droga devastadora para o sexo feminino

Fernanda Aranda, iG São Paulo 


Maria Eugenia agora é Mel e saboreia a maternidade
Uma pedra que escraviza, destrói a vaidade e leva embora até mesmo o instinto materno tem cruzado a vida das mulheres brasileiras.

O crack, droga que saiu da marginalidade das ruas paulistanas e bateu à porta da classe média de todo Brasil, consegue ser ainda mais devastador no sexo feminino. Quem atesta são as raras sobreviventes da combustão do cachimbo. O Delas foi ouvi-las e encontrou jovens, ainda com sonhos de meninas, que diariamente brigam com a sedução do vício.

“Foi o meu primeiro amor”, confirma Maria Eugênia Lara, 31 anos, usuária por 16, mãe de três filhos, todos gerados na “fissura”.

A pedra foi a primeira mas, com muito esforço e tratamento, não foi a última paixão da vida de Maria Eugênia. Neste domingo, dia 18, ela completa “um ano limpa”, sem dar uma única pitada no crack. O hábito já foi tão enraizado em sua rotina que intercalava o café da manhã, almoço, jantar, banho, sono. Ela não estudou, não trabalhou, não sonhou. Pariu, é fato. Mas só agora consegue sentir de forma plena o amor de mãe.

“O vazio que a droga deixou dentro de mim nunca será preenchido. Mas é uma felicidade imensa ter todas as outras áreas do meu coração agora ocupadas pelo amor próprio, pelo amor da minha família, dos meus filhos e pela vontade de ter uma carreira”, conta ela que, não faz muito tempo, ouviu o caçula dos três a chamar de mãe pela primeira vez.

Ela o rejeitou durante meses. Dizia querer entregar o mais novo para alguma vizinha, por encará-lo como “a representação da destruição do crack”. O menino nasceu quando Maria Eugênia estava no fundo do poço. “Chorei por horas quando ele me olhou limpa e me reconheceu como mãe”.

Ao mesmo tempo em que descobre a maternidade (as crianças têm 8, 3 e 1 ano), ela aprende o que é ser filha. Dos 14 aos 30, Maria Eugênia foi um borrão confuso para a família Lara. Era a razão da insônia e a prova da impotência dos seus pais, vivenciadas nos dias que ela deixava o conforto da casa de classe média para fumar ao relento, na rua.

Metamorfose rara

Neste último ano de resgate da lucidez, Maria Eugênia viu as feridas que cobriam a boca – sequela das inúmeras tragadas, violentas e diárias – darem lugar a vontade de passar batom novamente. No aniversário de 365 dias de sobriedade completados este domingo, ela renasce chamada de Mel (letras iniciais de seu nome e sobrenome), uma tática para celebrar a nova vida.

Apesar de feliz, ela sabe que é exceção. A maioria das Marias Eugênias brasileiras não consegue a metamorfose para Mel, já atestou pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo tentou acompanhar 131 usuários de crack, 12 anos após a passagem por um hospital nos anos 90. No total, 67% deles não venceram: 17% continuavam dependentes, 20% desapareceram, 10% estavam presos e 20% mortos (metade assassinados).

sábado, 23 de abril de 2011

Cíume normal ou patológico?

 Ciúme Patológico 


Sobre o Ciúme, transcrito do artigo de Laine Furtado, publicado na revista Linha Aberta, ano VIII.
 "Geraldo J. Ballone, especialista em psiquiatria pela ABP e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCCAMP de 1980 à 2001, afirma que "em questões de ciúme, a linha divisória entre imaginação, fantasia, crença e certeza freqüentemente se torna vaga e imprecisa. "No ciúme as dúvidas podem se transformar em idéias supervalorizadas ou francamente delirantes.Depois das idéias de ciúme, a pessoa é compelida à verificação compulsória de suas dúvidas. O ciumento verifica se a pessoa está onde e com quem disse que estaria, abre correspondências, ouve telefonemas, examina bolsos, bolsas, carteiras, recibos, roupas íntimas, segue o companheiro, contrata detetives particulares". Toda essa tentativa de aliviar sentimentos, além de reconhecidamente ridícula até pelo próprio ciumento, não ameniza o mal estar da dúvida.

Os ciumentos estão em constante busca de evidências e confissões que confirmem suas suspeitas mas, ainda que confirmada pelo companheiro, essa inquisição permanente traz mais dúvidas ainda ao invés de paz. Depois da capitulação, a confissão do companheiro nunca é suficientemente detalhada ou fidedigna e tudo volta à torturante inquisição anterior.

Existem alguns princípios e conceitos que podem ser de ajuda para a grande maioria de pessoas. A psicóloga Célia Bezerra, de Orlando, afirma que, de modo geral, o ciúme é uma emoção comum. De tempos em tempos somos levados a experimentar esse sentimento no campo do que poderíamos chamar "normal". E por ser uma emoção comum, se toma difícil em muitos casos distinguir entre o normal e o patológico. De modo geral resumimos o ciúme como um conjunto de emoções desencadeadas por sentimentos que ameaçam a estabilidade ou qualidade de um relacionamento íntimo valorizado, explicou. Ela disse que existem muitas definições de ciúme, mas geralmente encontramos três elementos em comum:

1) Ser uma reação frente a uma ameaça percebida. 
2) haver um rival real ou imaginário 
3) A reação visa eliminar os riscos da perda do " objeto" amado.

O psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, autor do livro Ciúme, o medo da perda, que está sendo sucesso de vendas no Brasil, disse que existem quatro tipos de ciumentos: o zeloso, o enciumado, o ciumento e o delirante, capaz de matar caso se sinta traído. Ele afirma que se analisarmos mais detalhadamente o ciúme, podemos perceber, logo de início, que não se trata de um sentimento voltado para o outro, mas sim voltado para si mesmo, para quem o sente, pois é, na verdade, o medo que alguém sente de perder o outro ou sua exclusividade sobre ele. É um sentimento egocentrado, que pode muito bem ser associado à terrível sensação de ser excluído de uma relação. O normal, mais comum, é a pessoa sentir-se enciumada em situações eventuais nas quais, de alguma forma, se veja excluído ou ameaçado de exclusão na relação com o outro.

Eduardo afirma que em um grau maior de comprometimento emocional, quando há uma instabilidade neurótica ou de autoafirmação, a pessoa pode apresentar-se como ciumento. Neste caso, a sensação permanente de angústia e instabilidade, a insegurança em relação a si mesmo e ao outro, além da fragilidade da relação afetiva, podem levar a pessoa a manter um permanente "estado de tensão", temendo ser traído ou abandonado. Qualquer sinal do outro pode significar algo e a angústia da dúvida corrói a alma de quem é ciumento. Em uma terceira situação, ainda mais grave sob o ponto de vista de comprometimento do psiquismo, podem ocorrer situações delirantes em que a desconfiança do ciumento cede lugar a uma certeza infundada de que está mesmo sendo traído ou abandonado.

Mas como saber se o ciúme é normal ou doentio? O ciúme normal e transitório é baseado em fatos. O maior desejo seria preservar o relacionamento. No ciúme patológico há geralmente o desejo inconsciente da ameaça de um rival. Para algumas pessoas o ciúme é visto como zelo, sinal de amor ou valorização do parceiro; para outros é uma prova de insegurança e baixa auto-estima. Em ambos os casos existe uma gama de sofrimento para ambos os lados envolvidos. 

Mas quando se trata do ciúme patológico é necessária uma intervenção profissional, porque existem muitos casos de mortes e tragédias familiares que apresentam como pano de fundo esta enfermidade.

Segundo Geraldo Ballone, o ciúme patológico é um grande desejo de controle total sobre os sentimentos e comportamento do companheiro. Há ainda preocupações excessivas sobre relacionamentos anteriores, as quais podem ocorrer como pensamentos repetitivos, imagens intrusivas e ruminações sem fim sobre fatos passados e seus detalhes. "O Ciúme Patológico é um problema importante para a psiquiatria, que envolve riscos e sofrimentos, podendo ocorrer em diversos transtornos mentais. Na psicopatologia o ciúme pode se apresentar de formas distintas, tais como idéias obsessivas, idéias prevalentes ou idéias delirantes sobre a infidelidade. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o ciúme surge como uma obsessão, normalmente associada a rituais de verificação", explicou o psiquiatra.

Segundo ele, o ciúme considerado normal dá-se num contexto interpessoal, entre o sujeito e o objeto, enquanto o ciúme no Transtorno Obsessivo-Compulsivo seria intrapessoal, só dentro do sujeito. O ciúme normal envolveria sempre duas pessoas, e os pacientes melhorariam quando sem relacionamentos amorosos. No Ciúme Patológico o amor do outro é sempre questionado e o medo da perda é continuado, enquanto no amor normal (ou ideal) o medo não é prevalente e o amor não é questionado. No Transtorno Obsessivo-Compulsivo há sempre dúvida patológica com verificações repetidas, mesmo fenômeno que se observa no Ciúme Patológico. O medo da perda é também um sintoma proeminente no TOC, tanto quanto no Ciúme Patológico. Neste, a perda do ser amado não diz respeito à perda pela morte, como ocorre num relacionamento normal, mas o temor maior, o sofrimento mais assustador é a perda para outro.

Célia Bezerra afirma que, geralmente o que move o "ciumento" é um desejo de controle total sobre a outra pessoa. Mas, por mais controle que consiga nunca é suficiente. A pessoa que sofre deste "mal" está sempre à procura de confirmações para suas suspeitas através principalmente de confissões que nunca deixa satisfeita a pessoa ciumenta porque sempre surgem outras suspeitas. O ciumento vive um eterno sofrimento, e acaba experimentando stress, descontrole emocional, terminando por causar um tremendo clima de tensão e desajuste familiar, aliando a este clima cenas públicas constrangedoras para ela e para a família. Esse tipo de ciúme, nas palavras do médico e escritor Eduardo Ferreira Santos, é conhecido como "Síndrome de Otelo", em referência ao personagem shakespeariano que sofria deste mal, e pode levar a pessoa a cometer atos de extrema agressividade física, configurando aqueles casos que recheiam as crônicas policiais de suicídios e homicídios passionais.

Enquanto os casos mais brandos de ciúme podem ser uma manifestação de má estruturação da auto-estima, os intermediários refletirem estados neuróticos, os casos da "Síndrome de Otelo" são, indiscutivelmente causados por patologias psiquiátricas graves, as chamadas psicoses ou, ainda, por problemas neuropsiquiátricos como os diversos tipos de disritmia cerebral descritas na medicina.

Diante desse fato, como podemos nos prevenir da Síndrome de ateio e como podemos ajudar pessoas que sofrem com o excesso de ciúme? De qualquer forma, o complexo sentimento de ciúme, longe de ser aquele "condimento" que toma a relação amorosa mais "apetitosa", é um sentimento que leva, via de regra, ao sofrimento de quem o sente e, principalmente, de quem padece nas mãos de um ciumento desconfiado e agressivo. Nas palavras do escritor Eduardo Ferreira Santos, o ciúme é, em última análise, um SINAL DE ALERTA! É uma "luz vermelha" que se acende no painel da vida, indicando que algo está falhando. Seja em um ou no outro, seja na relação, algum "ruído" está denunciado pelo ciúme. 

Quanto mais intenso e menos controlável maior o problema. Quanto maior a intensidade desse sentimento, mais estaremos ultrapassando os limites da normalidade, para, aos poucos, podermos ser devorados por uma obsessão capaz de destruir qualquer relacionamento."

(De fato, o Ciúme Delirante está relacionado ao Transtorno Delirante Persistente e pode ser conhecido por Amor Obsessivo. Esse tipo de Transtorno Delirante Persistente, apesar de bem conhecido é raro, com incidência estimada em menos de 0,1% (Bogerts, 2005) e predomina em mulheres. Outro quadro onde a presença de Ciúme Patológico é constante é o alcoolismo crônico, bem como nas dependências químicas (Jiménez-Arriero, 2007).)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Oxi, já pode estar em São Paulo !

Oxi, droga extraída da cocaína, pode estar mais perto de São Paulo


Bom Dia Brasil São Paulo - SP

O crack e o oxi são muito parecidos. Por isso, policiais e também peritos estão sendo orientados a identificar essa droga nas ruas da cidade.

O oxi, uma droga ainda mais letal e viciante que o crack, pode estar circulando em São Paulo. Não há um combate especifico para essa droga, até porque não se consegue resolver nem o problema do crack, que já circula há pelo menos duas décadas no Brasil.

O crack conseguiu invadir boa parte do Centro de São Paulo. Começou com algumas dezenas de pessoas sentadas nas calçadas fumando pedras de crack com cachimbos improvisados. Esse número cresceu bastante, principalmente de uma década para cá.

Na Praça Júlio Prestes, fica um dos pontos turísticos de São Paulo, as pessoas enfrentam alguma violência porque muito perto, a alguns quarteirões, fica a chamada Cracolândia. Do alto, é possível ver como funciona a Cracolândia. Pessoas sentadas e deitadas na calçada fumam o crack. Esse número durante o dia costuma ser muito maior: chega a 400 pessoas.

Duas semanas atrás, a polícia fez a última operação e prendeu cinco traficantes. São microtraficantes que chegam de bicicleta, escondem drogas em orelhões e abastecem a droga na região. Os traficantes presos já foram substituídos, e eles acabam mantendo o comércio do crack no Centro de São Paulo sempre ativo, dia e noite.

Segundo o Departamento de Narcóticos de São Paulo (Denarc), não houve nenhuma apreensão oficial do oxi, mas acredita-se que a droga esteja chegando a São Paulo. Não houve apreensão justamente por causa da semelhança do crack com o oxi. Os dois são feitos de cocaína, são muito parecidos. Por isso, policiais e também peritos estão sendo orientados a identificar essa droga.

A diferença entre o oxi e o crack é a composição química. “A diferença está na forma de extração. O crack é extraído com substâncias, por exemplo, o bicarbonato. O oxi é extraído da pasta de cocaína com substâncias como querosene e cal virgem. Possivelmente, isso leva a um produto mais concentrado. Por essa concentração, o oxi é mais agressivo do que o crack. Causa efeitos mais rapidamente e tem um potencial de abusos maior ainda do que o crack”, explica o psiquiatra Ivan Mario Braun.


quarta-feira, 20 de abril de 2011

Acaba limitação de dias para internação em clínica do dependente químico!


Decisão do TJ que afasta limitação de dias para internação em clínicas para casos de dependentes químicos


Abaixo segue matéria veiculada no site do Tribunal de Justiça: www.tjrj.jus.br

"O desembargador Marcelo Buhatem, da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio, proibiu a Unimed-Rio de limitar a internação de um dependente químico em apenas 15 dias por ano. Segundo ele, não há prazo para internação para este tipo de doença. A decisão foi proferida na apelação cível proposta pela empresa de saúde contra sentença da 42ª Vara Cível da Capital, que já havia determinado a continuidade do tratamento do paciente.  Representado no processo por sua mãe, o autor está internado em uma clínica psiquiátrica para tratamento da sua dependência química. Devido à complexidade do caso e da maneira compulsiva que ele vinha fazendo uso de maconha e cocaína, colocando em risco sua integridade física e emocional, os médicos disseram que o paciente necessitaria de um prazo maior de internação.

A Unimed alegou, no entanto, que cláusula do contrato firmado entre as partes limita em 15 dias por ano as internações de segurado portador de intoxicação ou abstinência provocada por alcoolismo ou outras formas de dependência química. Após este prazo, o plano custeará apenas 50% do valor da despesa.

Com base em decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o desembargador disse que são abusivas as cláusulas de contrato de plano de saúde limitativas do tempo de internação.

Insere-se, assim, no conceito de desvantagem exagerada a cláusula que limita a 15 dias por ano a internação de segurado portador de quadros de intoxicação ou abstinência provocadas por alcoolismo ou outras formas de dependência química, porque além de se mostrar excessivamente onerosa para o consumidor, restringe direitos e obrigações fundamentais ao contrato de plano de saúde, que tem como fim maior o restabelecimento da saúde do segurado, considerou o desembargador Marcelo Buhatem.

Ele disse também que a Lei 9.656/98 determinou que a cobertura dos planos de saúde deve abranger todas as enfermidades previstas na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Ainda de acordo com o magistrado, a lei proibiu a limitação de consultas médicas, exames, internações hospitalares, inclusive em leitos de alta tecnologia (CTI ou UTI).

O desembargador considerou ainda que, por se tratar de relação de consumo, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) também incide no caso. Para ele, a cláusula é nula. Nos termos do artigo 51, IV, do CDC são nulas de pleno direito, entre outros, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade,

Processo nº 0432104942008.8.19.0001

Discussão: tratamento a usuários de Crack!

Conselho Federal de Medicina discute assistência integral a usuários de crack


O Liberal – Acontece

O uso do crack, e a dependência química que ele provoca, bem como os problemas de ordem social e de saúde e o fato dos profissionais de saúde ainda não saberem lidar com a situação são os temas em discussão, hoje (19), no seminário Crack: Construindo um Consenso, que o Conselho Federal de Medicina (CFM) promove em Brasília. O objetivo é formular as bases de um protocolo de assistência integral ao dependente.

De acordo com o vice-presidente do CFM, Carlos Vital, o objetivo é conscientizar e capacitar médicos para lidar com a dependência química e a tratá-la como uma doença que tem consequências, mentais, físicas e sociais.

Segundo Vital, há uma carência de tratamento na área de dependência química. Além disso, são poucos os centros de Atendimento Psicossocial (Caps), o que dificulta o acesso do dependente químico. “O crack atinge uma dimensão continental, [está nos] os centro urbanos e [no] o interior, enquanto os Caps atendem apenas a algumas localidades”, disse. Para ele, é preciso criar uma rede de atendimento eficaz. “O problema deve ser [focado no] o diagnóstico ainda nas emergências dos hospitais”, explicou.

Segundo o consultor da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas, José Manuel Bertolete, é preciso uma reorganização das estruturas de atendimento aos usuários e capacitação dos profissionais de saúde de todas as áreas. “Muitas vezes, o médico identifica o caso, mas não sabe o que fazer, pois faltam leitos psiquiátricos para internação do paciente”, observou.

Outra dificuldade no combate ao crack é a falta de dados oficiais sobre o número de vítimas e o perfil dos usuários. Atualmente, há um levantamento em curso, a pedido do Ministério da Saúde. O governo federal enfrenta o problema em duas frentes, repressão à venda com a fiscalização da fronteira e prevenção e tratamento dos usuários.

Para o coordenador do Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria, Ronaldo Laranjeira, é preciso que criar um sistema de recuperação que trabalhe de forma integrada desde a prevenção até a recuperação do usuário. “O Estado tem que reconhecer que o consumo de crack é um problema de saúde pública, é preciso oferecer atendimento à família e ao usuário”, disse o especialista.

Da Agência Brasil

Bullying deve ser notificado!

O silêncio do bullying 

 EM REALENGO 

O Globo – Rio de Janeirop – Ruben Berta 

Apesar de lei determinar, escolas não notificam casos em conselhos tutelares ou na polícia. 

Mãe de um menino hoje com 11 anos, uma psicopedagoga, moradora da Zona Norte, conta que passou, entre 2009 e 2010, por um dos períodos mais difíceis de sua vida. Poucos meses após ter matriculado o filho numa nova escola, percebeu as primeiras marcas de agressão na criança. A situação foi se agravando e, apesar dos apelos, ela diz ter sofrido com o descaso do colégio. O relato exemplifica aquele que ainda parece ser um tabu em muitas salas de aula: o bullying. Apesar de uma lei estadual, sancionada em setembro do ano passado, determinar que as instituições de ensino públicas e particulares notifiquem todos os casos de bullying à polícia ou aos conselhos tutelares, um levantamento feito pelo GLOBO mostra que a regra não tem sido obedecida na prática. 

- Meu filho chegou ao ponto de ter uma crise renal em consequência do que sofria na escola. Descobrimos que outros alunos não o deixavam ir ao banheiro, alegando que assim ele estaria cumprindo uma prova para poder pertencer a um grupo. Levando em conta que o bullying resulta em lesões corporais, ofensas morais e danos psicológicos, a escola não poderia ter ficado inerte aos fatos - reclama a psicopedagoga, que teve que trocar o colégio da criança e está finalizando um livro contando os problemas por que passou. 

Prática é ligada a vários delitos
. 

Sem encontrar eco na instituição de ensino, um dos caminhos adotados pela mãe foi procurar o Conselho Tutelar da região. A partir da lei do ano passado, a iniciativa obrigatoriamente deveria ser das próprias escolas, sob pena de multa de até 20 salários-mínimos, mas não é o que tem ocorrido. O GLOBO entrou em contato com os dez conselhos da capital. Em oito, a informação foi a mesma: com raríssimas exceções, os relatos de bullying sempre chegam somente através dos pais. Um conselho não quis passar informações sobre as notificações e no outro, ninguém atendeu às ligações. 

O delegado Fábio Corsino, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav), também afirma que não tem sido informado pelos colégios. 

- Seria importante que essas notificações chegassem; a escola tem a obrigação de agir. O bullying em si não é tipificado como um crime, mas pode haver uma série de delitos envolvidos nessa prática, como lesão corporal ou constrangimento ilegal. O ideal é que possamos fazer uma avaliação caso a caso - diz Corsino, ressaltando que a unidade conta com profissionais de apoio, como psicólogos. 

Apesar de a lei estar em vigor há mais de seis meses, o deputado autor do texto, André Corrêa (PPS), atual líder do governo na Alerj, admite que a regra não vingou. Até agora, segundo o parlamentar, nenhuma escola foi multada: 

- Realmente, ainda há um desconhecimento muito grande da lei. 

O bullying não é novidade nas escolas, mas a discussão em torno do problema voltou à tona nos últimos dias após a divulgação de relatos em que Wellington Menezes de Oliveira, responsável pelo massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, utiliza agressões sofridas no colégio como uma das justificativas para a carnificina. Autor do livro "Manual antibullying", o psiquiatra Gustavo Teixeira afirma que, isoladamente, a prática não pode ser considerada responsável pela tragédia: 

- O bullying pode ter sido um dos gatilhos, mas para uma pessoa que já tinha uma doença psiquiátrica. O que pode ter ocorrido é que a prática acabou fazendo com que aquela loucura fosse ambientada na escola, como ocorreu. 

Com ampla experiência no tratamento de casos de bullying, o psiquiatra acredita que a melhor fórmula de atacar o problema é a união entre a família e a instituição de ensino: 

- Não é algo que vá se resolver por lei ou por decreto. O que se mostra eficiente é a parceria entre o colégio e os pais, além de uma política pública sistemática, que hoje não existe. 

Teixeira ressalta que o bullying é definido por um comportamento agressivo de forma continuada entre estudantes, em que a vítima não tem condições de se defender. Os primeiros sinais podem ser uma maior introspecção da criança ou medo de ir à escola. 

Na rede pública, não há dados estatísticos sobre o bullying, mas tanto estado quanto prefeitura garantem estar preocupados com a questão. A Secretaria estadual de Educação informou, através de sua assessoria de imprensa, que desenvolveu um formulário específico para a notificação dos casos. Foram disponibilizados ainda dois telefones para informações: (021)2333-0753 e (021) 2333-0754. 

A Secretaria municipal de Educação informou que, em abril do ano passado, lançou o Regimento Escolar, que proíbe a prática do bullying, seja através de agressões físicas, verbais ou mesmo pela internet. Foi feita uma campanha, cujo vídeo está disponível no site youtube (www.youtube.com/multiriosme), de alerta para a discussão do tema. 

- Temos ainda a previsão para os próximos meses da contratação de mais funcionários de apoio para as escolas, o que tende a facilitar a identificação dos casos. Também começaremos em maio um projeto de Justiça Restaurativa em 151 unidades. A ideia é, por exemplo, que um aluno que tenha feito uma charge humilhando um colega faça um poema para a turma com um conteúdo oposto - acrescenta a secretária municipal de Educação, Claudia Costin. 

Consumo: Álcool sobe e Tabaco cai!

Abuso de álcool cresce e tabagismo cai


Folha de S. Paulo - ANGELA PINHO - Brasília - Caderno Saúde

 Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que consumo excessivo de bebida está aumentado mais entre as mulheres.
Levantamento ouviu 54 mil pessoas; número de homens fumantes está em queda e o de mulheres, estável.
O consumo abusivo de álcool está crescendo no Brasil, principalmente entre as mulheres. A constatação é de pesquisa divulgada ontem pelo Ministério da Saúde.
O levantamento foi feito a partir de 54 mil entrevistas por telefone com pessoas de mais de 18 anos nas 27 capitais do país. O percentual de brasileiros que bebem em excesso passou de 16,1% em 2006 para 18% em 2010.
O problema atinge mais os homens. Em 2010, 26,8% deles abusavam de álcool. Em 2006, eles eram 25,5%.
Foi entre as mulheres, no entanto, que se deu o aumento mais expressivo: a taxa passou de 8,2% para 10,6% nos últimos quatro anos. Com base em critérios da OMS (Organização Mundial da Saúde), o ministério considerou como consumo excessivo a ingestão de pelo menos cinco doses em uma mesma ocasião por mês para homens ou pelo menos quatro doses para mulheres.
Para Amadeu Roselli Cruz, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), o aumento do consumo de álcool na população feminina está ligado à inserção das mulheres no mercado de trabalho e nas universidades.
"A igualdade de gênero se estende a campos positivos e negativos. Comportamentos que eram tidos como tipicamente masculinos passam a ser adotados pela mulher."
De acordo com Amandio Fernandes, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, pesquisas mostram que o álcool aumenta o risco de câncer de mama, esôfago, boca, faringe e laringe.
TABAGISMO
A pesquisa do Ministério da Saúde mostra ainda que o tabagismo continua em declínio no país, mas tem encontrado resistência maior entre as mulheres, ainda que o número de fumantes seja superior entre os homens.
Entre 2006 e 2010, a proporção de fumantes caiu de 16,2% para 15,1%. Em 1989, quando o IBGE realizou uma pesquisa semelhante, o percentual era de 34,8%.
Nos últimos anos, no entanto, a queda se deu apenas entre os homens -de 20,2% para 17,9% de 2006 a 2010. Entre as mulheres, o número ficou estável em 12,7%.
Entre elas, aumentou o percentual das que fumam mais de um maço por dia -de 3,2% para 3,6%. Entre os homens, houve queda.
O tabagismo também preocupa entre a população com menor instrução. Pessoas que têm só o ensino fundamental são as que mais fumam -18,6%, contra 10,2% das que têm nível superior.